Vamos guardar os segredos de Dorival Caymmi? Dorival Caymmi passou a infância e a juventude em Salvador, Bahia, capital do ‘Brasil’ de 1549 a 1763. Aos 23 anos, em 1938, Dorival vai para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, para cursar Direito. No Rio, por intermédio de um amigo da família já instalado lá, ele consegue um emprego numa agência de anúncios. À noite, para matar a saudade que o consumia, Caymmi criava canções sobre a Bahia. Por obra do destino, ainda em 1938, o cineasta americano Wallace Downey precisava de uma música sobre a Bahia para Carmem Miranda cantar, pois as negociações com Ary Barroso estavam difíceis. Carmem Miranda como todos nós, se encantou por Caymmi. Ele, por sua vez, se encantou por Stella Maris, caloura da rádio Nacional. Caymmi com ela casou-se e teve três filhos que continuariam sua obra: Danilo, Dori e Nana. Caymmi não parou mais de compor, cantar e encantar com suas canções que falam: dele próprio, de sua família, da Bahia, do mar e dos santos do Candomblé. Para termos uma ideia do impacto de suas composições, em 1953 o governo do Estado Da Bahia inaugurou uma praça com o nome Dorival Caymmi. Na inauguração Caymmi voltou a sua terra de origem e cantou para seu povo. Foi um momento emocionante. Mas, é bom lembrar, que Caymmi não trabalhou sozinho, junto com Jorge Amado, Pierre Verger e Caribé, iniciou um movimento conhecido com “renascimento baiano”. Com esse movimento alterou-se a imagem do negro e da África (Vitor Queiroz, 2017)
Apresentação para E.E. Porphyrio
da Paz
Diretora: Idma Claret Barbin Gomes / Apresentador: Robson Gabioneta /
Violinista: Neno leal /Cantora: Mariana Brustolin
1 - Peguei um Ita no norte: Peguei
um Ita no norte / Pra vim pro Rio morar / Adeus meu pai, minha mãe / Adeus
Belém do Pará / Refrão: Ai, ai, ai, ai Adeus Belém do Pará (2x) / Vendi
meus troços que eu tinha / O resto eu dei pra "aguardá" / Talvez eu
volte pro ano / Talvez eu fique por lá / refrão / Mamãe me deu conselhos
/ Na hora de eu embarcar / Meu filho ande direito / Que é pra Deus lhe ajudar /
refrão / Tô há bem tempo no Rio / Nunca mas voltei por lá / Pro mês intera
dez anos / Adeus, Belém de Pará / refrão /
Discussões: Muitos, como
Caymmi, migram para melhorar a vida, como se deu e como se dá a migração no
Brasil? Porque o Brasil mudou tanto de capital: 1.Salvador; 2. RJ; 3. Brasília?
2 - O que é que a baiana tem?: O
que é que a baiana tem? (2x) / Tem torço de seda, tem! Tem brincos de ouro,
tem! corrente de ouro, tem! Tem pano-da-Costa, tem! Tem bata rendada, tem!
Pulseira de ouro, tem! Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem! Tem
graça como ninguém / O que é que a baiana tem? (2x) / Como ela requebra bem! O
que é que a baiana tem? (2x) Quando você se requebrar Caia por cima de mim.
(3x) O que é que a baiana tem? (6x) Tem torço de seda, tem! Tem
brincos de ouro, tem! Corrente de ouro, tem! Tem pano-da-Costa, tem! Tem bata
rendada, tem! Pulseira de ouro, tem! Tem saia engomada, tem! Sandália
enfeitada, tem! Só vai no Bonfim quem tem / O que é que a baiana tem? (2x) / Só
vai no Bonfim quem tem / O que é que a baiana tem? (2x) / Um rosário de ouro,
uma bolota assim / Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim / Quem não tem
balangandãs não vai no Bonfim Oi, não vai no Bonfim (6x)
Discussões: o que precisar
ser e ter para ser baiana? E brasileiro? Como se construiu a imagem do Brasil
nas décadas de 30 e 40? Queiroz (2019)
imagens da Bahia: Jorge Amado, Pierre Verger, Carybé. E hoje? Quais são as
exigências de vestimentas em lugares públicos?
3 – Você já foi à Bahia? Você
já foi à Bahia, nêga? Não? Então vá! Quem vai ao "Bonfim", minha
nêga, Nunca mais quer voltar / Muita sorte teve, Muita sorte tem, Muita sorte
terá / Você já foi à Bahia, nêga? Não? Então vá! / Lá tem vatapá Então vá! Lá
tem caruru, Então vá! Lá tem munguzá, Então vá! Se "quiser sambar".
Então vá! Nas sacadas dos sobrados da velha São Salvador Há lembranças de
donzelas, do tempo do Imperador/ Tudo, tudo na Bahia faz a gente querer bem a
Bahia tem um jeito, que nenhuma terra tem!
Discussões: se a Bahia é
tão boa assim, porque Caymmi saiu de lá? O que ficou na Bahia depois de deixar
de ser capital do Brasil?
4 - Saudade da Bahia: Ai,
ai que saudade eu tenho da Bahia /
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia / "Bem, não vá deixar a sua
mãe aflita / A gente faz o que o coração dita / Mas esse mundo é feito de
maldade e ilusão" / Ai, se eu escutasse hoje não sofria / Ai, esta saudade
dentro do meu peito / Ai, se ter saudade é ter algum defeito / Eu pelo menos,
mereço o direito / De ter alguém com quem eu possa me confessar / Ponha-se no
meu lugar / E veja como sofre um homem infeliz / Que teve que desabafar /
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz / Vejam que situação / E vejam como
sofre um pobre coração / Pobre de quem acredita / Na glória e no dinheiro para
ser feliz
Discussões: quais são os
prazeres e a dores de ser senhor do próprio destino, de sair pelo mundo em
busca da felicidade sem o amparo familiar? Quais eram os desafios e as alegrias
no meio do século passado? E hoje?
5 - É doce morrer no mar: refrão:
É doce morrer no mar. Nas ondas verdes do mar (2x) A noite que ele não veio
foi. Foi de tristeza prá mim. Saveiro voltou sozinho. Triste noite foi prá mim /
refrão / Saveiro partiu de noite foi. Madrugada não voltou. O marinheiro
bonito. Sereia do mar levou / refrão / Nas ondas verdes do mar meu bem.
Ele se foi afogar. Fez sua cama de noivo no colo de Iemanjá / refrão /
Discussões: é doce morrer
no mar é uma frase de Jorge Amado no livro Mar Morto, há diferença entre o
livro e a canção? Como falar da morte? Como morrer? Como as religiões tratam
deste tema?
6 – Milagre: Maurino, Dadá
e Zeca, ô, Embarcaram de Manhã Era quarta-feira santa, Dia de pescar e de
pescador / Era Quarta-feira santa, Dia de pescar e de pescador. (2x) Se sabe
que muda o tempo, Sabe que o tempo vira / Aí o tempo virou / Maurino que é de
guentar, guentou, Dadá que é de labutar,labutou, Zeca esse nem falou / Era
só jogar a rede e puxar, a rede (4x)
Discussões: e como as
religiões tratam da vida? E como a ciência, a filosofia, a sociologia falam
dela? Quem são aqueles que trabalham dia e noite para nos fornecer os
alimentos? Como nos relacionamos com eles?
7 – Vatapá: Quem quiser
vatapá ô, Que procure fazer / Primeiro o fubá Depois o dendê / Procure uma nêga baiana, ô Que saiba mexer
(3x) Procure uma nêga baiana, ô Que saiba mexer (3x) Bota castanha
de caju / Um bocadinho mais Pimenta malagueta / Um bocadinho mais / Bota
castanha de caju / Um bocadinho mais / Pimenta malagueta / Um bocadinho mais /
Amendoim, camarão, rala um coco Na hora de machucar / Sal com gengibre e
cebola, iaiá / Na hora de temperar / Não para de mexer ô / Que é pra não
embolar / Panela no fogo Não deixa
queimar / Com qualquer dez mil réis e uma nêga ô Se faz um vatapá (3x)
Que bom vatapá
Discussões: e aqueles (as)
que cozinham, como nos relacionamos com eles (as)? Quais as receitas que fazem
parte da nossa vida? Como plantamos nossa comida?
8 – Dois de Fevereiro: Dia
dois de fevereiro / Dia de festa no mar / Eu quero ser o primeiro / pra salvar
Iemanjá (2x) Escrevi um bilhete a ela pedindo pra ela me ajudar / Ela então
me respondeu que eu tivesse paciência de esperar / O presente que eu mandei pra
ela de cravos e rosas vingou / Chegou, chegou, chegou / Afinal que o dia
dela chegou (2x)
Discussões: como
conversamos com deus? E com a natureza? Como os povos tradicionais do Brasil
fazem isso? Como os povos que foram trazidos à força da África fazem isso?
9 – Oração de mãe menininha: Ai!
Minha mãe. Minha mãe Menininha / Ai! Minha mãe. Menininha do Gantoise (2x)
/ A estrela mais linda, hein / Tá no gantoise / E o sol mais brilhante, hein /
Tá no gantoise / A beleza do mundo, hein /
Tá no gantoise / E a mão da doçura, hein / Tá no gantoise
O consolo da gente, ai / Tá no gantoise / E a Oxum mais bonita hein /
Tá no gantoise / Olorum quem mandou essa filha de Oxum / Tomar conta da gente e
de tudo cuidar / Olorum quem mandou eô ora iê iê ô (3x) Olorum quem ...
Discussões: como os líderes
religiosos nos orientam? E nos, como nos relacionamos com eles (as)? Há nessa
música e em outras (como Promessa de Pescador de 1939) uma relação profunda com
os tambores de candomblé. Caymmi transfere para o violão os toques de tambor.
Qual a relação do samba, e da música brasileira em geral, com os tambores?
10 – Canção de Partida: Minha
jangada vai sair pro mar / Vou trabalhar, meu bem querer / Se Deus quiser
quando eu voltar do mar / Um peixe bom eu vou trazer / Meus companheiros também
vão voltar / E a Deus do céu vamos agradecer
A estrela Dalva me acompanha / Iluminando o meu caminho / Eu sei que nunca
estou sozinho / Pois tem alguém que está pensando em mim
Discussões: esta canção
oração de Caymmi é longa, como é a sua continuação? Como são as orações de cada
profissão? Quais são os desafios e as alegrias?
11 – Canção da minha terra: refrão:
O samba da minha terra deixa a gente mole, quando se canta todo mundo bole,
quando se canta todo mundo bole (2x) / Eu nasci com o samba e no samba
me criei, e do danado do samba nunca me separei (2x) / refrão / Quem não gosta do samba
bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça ou doente do pé (2x) / refrão /
Discussões: Caymmi,
diferente da sociologia da sua época, discute a questão racial a partir da
identidade do samba, apresenta de maneira delicada o recado: “quem não gosta de
samba não é um dos nossos, tomem cuidado!” Caymmi também aqui dá uma direção ao
samba: nos amolecer!
12 – Maracangalha: Eu vou
prá Maracangalha. Eu vou! Eu vou de uniforme branco. Eu vou! Eu vou de chapéu
de palha. Eu vou! Eu vou convidar Anália. Eu vou! / Se Anália não quiser ir. Eu vou só! Eu vou
só! Eu vou só! / Se Anália não quiser ir Eu vou só! Eu vou só! Eu vou só sem
Anália Mas eu vou!
Discussões: a vida em
sociedade, em especial a sociedade formada pela colonização portuguesa, é
difícil, às vezes queremos ir para outros lugares, quais foram as utopias de
Caymmi? E Hoje?
Outros pontos da obra de Caymmi:
Caymmi fez muitas músicas para novelas e séries, em especial a partir da obra
de Jorge Amado. Caymmi inspirou o movimento da Bossa nova, gênero que projetou
o Rio de Janeiro e o Brasil para o mundo.
“São Dorival / Protetor dos
compositores” “Dorival Caymmi / Protetor dos compositores // ✩30/04/1914
† 16/08/2008 // Tu que soubeste aliar o ócio / e a criatividade e que, / preguiçosamente,
/ construíste uma obra urgente. / Ensina-nos a
desfrutar da frágil / existência atentando ao que é / realmente importante, / a
estrela mais linda, / sossegadamente. / Dá-nos lucidez para encontrar / a
beleza nas pequenas / odes cotidianas, / e não permita que sejamos / engolidos
pela / roda viva do dia-a-dia. / Abençoa-nos na calma da / tua sabedoria
serena. / Amém!” (Queiroz, 2017, p.200, nota 505)
Textos sobre Dorival Caymmi:
http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/322621
https://www.academia.edu/29214694/O_tempo_de_Caymmi_pdf
Atividade musical: escrever um texto relacionando três letras de músicas (a dos pais, a sua e uma das músicas do Dorival Caymmi). Procedimento: faça um resumo das três músicas, encontre os eu líricos (o personagem que conta a história) delas. Identifique o que e para quem os eu líricos estão falando. Procure as relações entre as músicas, o que elas tem de comum. Depois procure quais as diferenças entre elas. Mostre essas relações para o professor e/ou para um amigo e/ou para seus pais. Por fim escreva um texto relacionando as letras das músicas. Lembrem-se, o texto não pode depender da sua presença, ou seja, o leitor do texto precisa entender o que você está escrevendo.