segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

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O amor em Vinícius de Moraes e no Banquete de Platão

Vinícius de Moraes foi um dos artistas mais influentes na música e na poesia brasileira do século XX. Iniciou com Tom Jobim e João Gilberto a Bossa Nova, com Baden Power os Afro-sambas, se aproximando do Candomblé da Bahia, com Toquinho e algumas cantoras, por exemplo Maria Bethânia, Clara Nunes, viajou pelo Brasil e América Latina na época da ditadura, e também com Toquinho fez muitas músicas infantis. Vinicius nasceu em 1913 e aos 19 anos lança seu primeiro livro de poesia. Aos 20 anos forma-se em direito e em 1938 vai para Inglaterra estudar literatura inglesa. Na década de 40 laça outros livros de poesia, torna-se critico de cinema e diplomata. Como representante do Brasil vai para os EUA (em Los Angeles conhece o jazz e Carmem Miranda), Paris, Chile. Em 1956 lança a peça Orfeu da Conceição e logo em seguida começa a trabalhar com Tom Jobim. Dai para frente não para mais de fazer música em parceria, entre seus parceiros estão: Pixinguinha, Carlos Lira, Chico Buarque. Mais informações podem ser acessadas em https://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br. Uma outra forma de  falar sobre vida de Vinícius de Moraes é aproximá-lo de um dos Eros apresentados no diálogo Banquete de Platão: aquele que aparece no discurso de Sócrates. Esse Eros, como Vinícius, nasceu de pais que possuíam interesses opostos. O pai de Vinícius, acadêmico, era prof. de latim, a mãe, musicista, era de família boemia. Na juventude Vinícius ficou mais próximo das características do seu pai e optou pela poesia tradicional. Porém, o amor pulsou nas suas veias e o fez mudar de vida, seguindo o caminho da mãe, tornou-se músico.

Nos discursos sobre o amor em O banquete, podemos encontrar diversas frases de efeito, como se fossem o que, hoje, temos por “ditados populares”. Por exemplo: 
o amante sente vergonha diante do amado
o amor faz que os homens vençam as guerras
é preciso proibir os jovens de se amarem
deve-se amar às claras
deve-se amar a alma mais que o corpo
o amor está em tudo
os amantes buscam as suas metades
amor é desejo , o amor sacia o desejo, se amor é desejo, então quem ama não tem aquilo que ama, logo amor não pode ser belo ou bom, mas algo intermediário
amor está entre a sabedoria e a ignorância
ascensão amorosa: deve-se amar primeiro um corpo, depois todos os corpos, depois os costumes, depois as ciências e depois o ser em si
Segue um texto que fiz com Thiago Franco sobre esse assunto:

Atividade: Escreve um texto sobre as diversas concepções de amor. Para tanto peça uma indicação dos seus pais (filme, música, poema); escolha uma das letras de músicas do Vinícius de Morais e umas das frases acima de Platão. Faça primeiro um texto separado sobre cada uma das visões sobre amor e mostre para o professor; depois escreva um texto relacionando as concepções do amor.

1. Chega de saudade (Tom Jobim e Vinícius)
Vai minha tristeza / E diz a ela que sem ela não pode ser / Diz-lhe numa prece / Que ela regresse / Porque eu não posso mais sofrer / Chega de saudade / A realidade é que sem ela / Não há paz não há beleza / É só tristeza e a melancolia / Que não sai de mim / Não sai de mim Não sai / Mas se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda / Que coisa louca / Pois há menos peixinhos a nadar no mar / Do que os beijinhos / Que eu darei na sua boca / Dentro dos meus braços, os abraços / Hão de ser milhões de abraços / Apertado assim, colado assim, calado assim / Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim / Que é pra acabar com esse negócio / De viver longe de mim (volta ao começo) / Não quero mais esse negócio de você viver assim / vamos deixar desse negócio de você viver sem mim
2.Eu sei que vou te amar (Tom Jobim e Vinícius)
Eu sei que vou te amar / Por toda a minha vida eu vou te amar / Em cada despedida eu vou te amar / Desesperadamente, eu sei que vou te amar /E cada verso meu será / Pra te dizer que eu sei que vou te amar/ Por toda minha vida / Eu sei que vou chorar / A cada ausência tua eu vou chorar / Mas cada volta tua há de apagar / O que esta ausência tua me causou / Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver / A espera de viver ao lado teu /Por toda a minha vida
3.Garota De Ipanema (Tom Jobim e Vinícius)
Olha que coisa mais linda mais  cheia de graça / É ela, menina que vem e que passa / Num doce balanço a caminho do mar / Moça do corpo dourado do sol de Ipanema / O seu balançado é mais que um poema / É a coisa mais linda que eu já vi passar / Ah, por que estou tão sozinho? / Ah, por que tudo é tão triste? / Ah, a beleza que existe / A beleza que não é só minha / Que também passa sozinha / Ah, se ela soubesse / Que quando ela passa / O mundo inteirinho se enche de graça / E fica mais lindo por causa do amor
4.Samba Em Prelúdio (Baden Powell e Vinícius de Moraes)
Eu sem você não tenho porquê / Porque sem você não sei nem chorar / Sou chama sem luz, Jardim sem luar, Luar sem amor, amor sem se dar / E eu sem você sou só desamor /Um barco sem mar, um campo sem flor / Tristeza que vai, tristeza que vem / Sem você, meu amor, eu não sou ninguém / Ah! Que saudade / Que vontade de ver renascer nossa vida / Volta querido / Teus abraços precisam dos meus /Os meus braços precisam dos teus / Estou tão sozinha / Tenho os olhos cansados de olhar para o além / Vem ver a vida / Sem você, meu amor, eu não sou ninguém
5 - Pela luz dos olhos teus
Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar / Ai, que bom que isso é, meu Deus que frio que me dá o encontro desse olhar / Mas se a luz dos olhos teus resiste aos olhos meus só pra me provocar / Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar / Meu amor, juro por Deus que a luz dos olhos meus já não pode esperar / Quero a luz dos olhos meus na luz dos olhos teus sem mais la ra ra ra / Pela luz dos olhos teus /Eu acho, meu amor, que só se pode achar / Que a luz dos olhos meus precisa se casar / (La ra ri ra ra ra) / (La ra ri ra ra ra) (repete)  Precisa se casar (...)
6.Berimbau (Baden Powell e Vinícius de Moraes)
Quem é homem de bem, não trai / O amor que lhe quer seu bem / Quem diz muito que vai, não vai / E assim como não vai, não vem / Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém / O dinheiro de quem não dá
É o trabalho de quem não tem / Capoeira que é bom, não cai
E se um dia ele cai, cai bem! / Capoeira me mandou
Dizer que já chegou, Chegou para lutar / Berimbau me confirmou / Vai ter briga de amor / Tristeza, camará
8.Consolação
Se não tivesse o amor / Se não tivesse essa dor / E se não tivesse o sofrer / E se não tivesse o chorar / Melhor era tudo se acabar / Eu amei, amei demais / O que eu sofri por causa do amor / Ninguém sofreu / Eu chorei, perdi a paz / Mas o que eu sei / É que ninguém nunca teve mais / Mais do que eu
9 - Canto de Ossanha
O homem que diz "dou" Não dá! /  Porque quem dá mesmo Não diz! O homem que diz "vou" Não vai! / Porque quando foi Já não quis! / O homem que diz "sou" Não é! / Porque quem é mesmo "é" Não sou! / O homem que diz "tou" Não tá
Porque ninguém ta Quando quer / Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha Traidor! / Coitado do homem que vai Atrás de mandinga de amor... Vai! Vai! Vai! Vai! Não Vou! (4x) / Que eu não sou ninguém de ir / Em conversa de esquecer / A tristeza de um amor Que passou / Não! Eu só vou se for prá ver / Uma estrela aparecer / Na manhã de um novo amor... / Amigo sinhô. Saravá / Xangô me mandou lhe dizer / Se é canto de Ossanha / Não vá! Que muito vai se arrepender / Pergunte pr'o seu Orixá / O amor só é bom se doer / Pergunte pr'o seu Orixá / O amor só é bom se doer... / Vai! Vai! Vai! Vai! Amar! / Vai! Vai! Vai! Vai! Sofrer! / Vai! Vai! Vai! Vai! Chorar! /Vai! Vai! Vai! Vai! Dizer!... /Que eu não sou ninguém de ir ...
10 - A Felicidade (Vinicius de Moraes)
Tristeza não tem fim / Felicidade sim / A felicidade é como a gota / De orvalho numa pétala de flor / Brilha tranquila / Depois de leve oscila / E cai como uma lágrima de amor / A felicidade do pobre parece / A grande ilusão do carnaval /A gente trabalha o ano inteiro / Por um momento de sonho / Pra fazer a fantasia / De rei ou de pirata ou jardineira / Pra tudo se acabar na quarta-feira / Tristeza não tem fim / Felicidade sim / A felicidade é como a pluma / Que o vento vai levando pelo ar / Voa tão leve / Mas tem a vida breve / Precisa que haja vento sem parar / A minha felicidade está sonhando / Nos olhos da minha namorada / É como esta noite, passando, passando / Em busca da madrugada / Falem baixo, por favor / Pra que ela acorde alegre com o dia / Oferecendo beijos de amor /
11 - Como Dizia o Poeta (Toquinho)
Quem já passou por essa vida e não viveu, Pode ser mais mas sabe menos do que eu / Porque a vida só se dá pra quem se deu, Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu / Quem nunca curtiu uma paixão / Nunca vai ter nada, não / Não há mal pior do que a descrença / Mesmo o amor que não compensa / É melhor que a solidão / Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair / Pra que somar se a gente pode dividir / Eu francamente já não quero nem saber / De quem não vai porque tem medo de sofrer / Ai de quem não rasga o coração / Esse não vai ter perdão / Quem nunca curtiu uma paixão / Nunca vai ter nada, não.
12 - A tonga da mironga do kabuletê
Eu caio de bossa /Eu sou quem eu sou / Eu saio da fossa / Xingando em nagô / Você que ouve e não fala /Você que olha e não vê / Eu vou lhe dar uma pala /Você vai ter que aprender / A tonga da mironga do kabuletê (3x) / Eu caio de bossa / Eu sou quem eu sou / Eu saio da fossa / Xingando em nagô / Você que lê e não sabe / Você que reza e não crê / Você que entra e não cabe  / Você vai ter que viver  / A tonga da mironga do kabuletê (3x) / Você que fuma e não traga / E que não paga pra ver / Vou lhe rogar uma praga / Eu vou é mandar você / A tonga da mironga do kabuletê (3x) /
13 - Regra três
Tantas você fez que ela cansou / Porque você, rapaz / Abusou da regra três / Onde menos vale mais / Da primeira vez ela chorou / Mas resolveu ficar / É que os momentos felizes / Tinham deixado raízes no seu penar / Depois perdeu a esperança / Porque o perdão também cansa de perdoar / Tem sempre o dia em que a casa cai / Pois vai curtir seu deserto, vai / Mas deixe a lâmpada acesa  / Se algum dia a tristeza quiser entrar / E uma bebida por perto  /Porque você pode estar certo que vai chorar

Poema: Soneto de Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento antes 
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure