República – Resumo – Robson Gabioneta. República
de Platão a partir da introdução à República de Platão de Giovanni Casertano:
Livro I - O velho Céfalo conversa com
Sócrates sobre as vantagens e desvantagens da velhice. Eles discutem como a
riqueza pode ajudar ou atrapalhar a vida justa.
Céfalo diz que não se deve ficar em
dívida com os deuses e com os homens. Sócrates o contrapõe dando um exemplo do
louco para mostrar que nem sempre deve-se pagar uma dívida: um louco que te
emprestou uma arma não deve tê-la de volta. Polemarco entra na conversa e diz
que justiça é “fazer bem ao amigo e mal ao inimigo (327a-332b)”. Sócrates diz
que é preciso discutir quem de fato é amigo, daquele que apenas se parece.
Trasímaco defini justiça como “’o útil
do mais forte’, e por mais forte entende-se o governo que detém o poder numa
cidade (332b-339b). Sócrates: o mais forte também pode enganar-se, por isso,
obedecer-lhe pode significar prejuízo para ambos de modo a não fazer aquilo que
lhe é útil.”
Trasímaco diz que como um artesão não
erra também o governador não erra. Assim, cada técnica não visa a satisfação do
executor, mas a perfeição daquilo que é executado. O I livro termina com
Sócrates defendendo que o homem justo é feliz e o injusto é infeliz.
Livro II - É preciso discutir o que é
justiça. Gláucon diz que há três espécies de bens: “os que se desejam por si
mesmos, como, por exemplo, a alegria e os prazeres que dão só alegria; os que
se desejam quer por si mesmos, quer pelas vantagens que nos dão, como, por
exemplo, a saúde e a inteligência; os que se desejam não por si mesmos, mas
pelas vantagens que nos dão, como, por
exemplo, ser curados em caso de doença e exercer as atividades que dão riqueza
material.” (p.15) A justiça está onde? Sócrates acha que é na segunda, Gláucon
na terceira.
Adimanto diz que a maioria e os poetas
pensam que ser justo é difícil e cansativo e por outro lado a injustiça é fácil
e agradável, assim é melhor a injustiça mascarada do que a justiça. Sócrates
pede para parar com a abstração e dizer qual o efeito da justiça e da
injustiça.
Sócrates propõe que examinem a justiça
num quadro maior: em vez de procurar a justiça no individuo, eles devem
procurá-la na cidade. Nenhum homem basta-se a si mesmo. Suas necessidades são:
comida, habitação e vestimenta. Cada cidadão pode (deve) fazer uma atividade.
Gláucon quer uma cidade mais rica, isso
implica que teve haver outros tipos de pessoas. Sócrates diz que é preciso que
haja guerreiros para guardar a cidade. Eles devem ser educados e entre eles, o
melhor, deve ser filósofo e ter uma excelente educação. Este que será o melhor
deverá aprender poesia, música, ginástica, retórica, enfim tudo.
Para educar esses homens é preciso que
os poetas não falem mentiras e que os heróis não tenham vícios, apenas virtudes
para que os melhores dos homens possam imitá-los.
Livro III - Para educar os guardiões na
coragem é preciso eliminar da poesia aquilo que causa o medo da morte, bem como
as representações dos heróis que choram, sofrem e mentem. Só os médicos e os
governantes podem mentir, porém só deve fazer isso para o bem dos pacientes ou
dos governados.
Há três formas de narrativas: o simples,
a imitativa e a mista. Exemplos: 1ª poesia lírica; 2ª tragédias e comédias; 3ª
poemas homéricos (também os próprios diálogos de Platão). Os guardiões só devem
imitar homens virtuosos. “em suma, todos os artistas e os poetas devem imitar
só o bem e o belo, e toda a educação se deverá adequar a um ideal de beleza,
honestidade, harmonia e elegância, porque o fim último da educação musical é
precisamente o amor pelo belo (396e-403c)” (p.18). Assim o poeta que não se
adequar a essa exigência deve ser expulso da cidade.
Mito dos nascidos da terra: “a mãe terra
deu à luz todos os homens de uma cidade, e que portanto são todos irmãos, mas
os deuses misturaram ouro junto com a terra para a geração dos que têm
disposição para defender a cidade, ou misturaram ferro e bronze para os agricultores
e os artesões.” (p.19) aqueles que tem ouro ou prata são os guardiões da cidade
e não devem ter propriedade privada. “a propriedade privada é causa de
submissão, cria senhores e súditos, em vez de irmãos e aliados” (414b-417b)
Livro IV - Depois de Adimanto perguntar
se aqueles que não possuem nada não serão infelizes, Sócrates diz que “o
problema não é garantir a felicidade de uma só classe ou de um grupo de
cidadãos, mas garantir a felicidade de toda a cidade no seu conjunto, e,
portanto, de todos os cidadãos.” (p.20) Na cidade não deve ter os muitos ricos
nem os muito pobres: “a sabedoria é a virtude típica dos guardiões que têm o
dever de governar; a coragem é a virtude típica dos guardiões que têm o dever
de defender a cidade dos perigos externos e internos...; a temperança é a
virtude típica dos agricultores e dos artesãos, mas deve pertencer também às
outras duas classes.” (p.20) Enfim, a justiça “consiste em ‘fazer aquilo que
lhe é próprio’, que significa cumprir o seu próprio dever específico na cidade.”
(p.20) Volta-se para o indivíduo. Como a cidade, também o indivíduo tem três
partes: uma parte racional, uma parte impulsiva e uma parte desiderativa. A
partir dos 5 tipos de almas, há 5 tipos de constituição: o primeiro é a
aristocracia.
Livro V - Sobre a comunidade dos amigos,
Sócrates explica através de três ondas: “a primeira onda diz respeito à
identidade de tarefas e de educação para o homem e para a mulher... a segunda
onda diz respeito à comunhão de mulher e de filhos... a terceira onda diz
respeito à possibilidade de os filósofos governarem a cidade, ou então de os
governantes se tornarem verdadeiros filósofos” (p.22) o filósofo é o único que
ama a verdade na sua totalidade e que é capaz de alcançar o verdadeiro
conhecimento.
Livro VI - “portanto, é o filósofo que
deve governar, porque é o único a conhecer as ideias, isto é, as realidades
externas e sempre semelhantes a si mesmas; além disso deve amar a verdade, ser
sincero, temperante, magnânimo, afável, ter facilidade para estudar e ter harmonia
interior.” Adimanto discorda de Sócrates, os filósofos são inúteis a cidade e
não participam dela. No final do diálogo “é dado o exemplo da linha: há duas
espécies de entes, os do mundo visível, sensível, e os do mundo inteligível,
que constituem os dois segmentos em que se divide esta linha... portanto há
quatro tipos de objetos aos quais correspondem quatro atividades cognitivas: a
imaginação, a crença, o pensamento dianoético e a intelecção. Os primeiros dois
constituem o mundo da opinião, os outros dois, o mundo da ciência e da verdade
(509c-511e)
Livro VII - Alegoria da caverna. Dentro
de uma caverna há pessoas acorrentadas que ficam olhando para a parede de fundo
e conversando sobre as imagens que são projetadas nessa parede. A projeção
ocorre pois na entrada da caverna há fogueira que algumas pessoas usam para
projetar objetos. De repente alguém é solto e sobe em direção a entrada da
caverna, ele vê a fogueira e os objetos que são projetados, já fora da caverna
vê os objetos a partir das suas projeções nos lagos, rios e espelhos. Depois
olha os próprios objetos e depois olha o próprio sol. Depois esta pessoa volta
a caverna e tenta explicar para os que ficaram lá o que ela viu. Há uma
discussão pois quem saiu da caverna não consegue convencer quem está lá dentro
de que eles discutem a partir das imagens.
O dialético é escolhido a partir das
suas qualidades: firmeza, coragem, beleza, nobreza da alma, agudeza e
facilidade na aprendizagem, tenacidade, boa memória, amor pelo trabalho.
Educação do dialético: “até os vinte anos, irão aos cursos propedêuticos,
sobretudo à base de ginástica; depois das ciências, por dez anos. Aos trinta
anos, os melhores serão direcionados cuidadosamente para o estudo da
dialética... dos trinta e cinco aos cinqüenta anos eles ‘voltarão à caverna’ e
farão a experiência prática do governo da cidade. Aos cinqüenta anos, os
melhores, governarão a cidade, dedicando o resto do tempo à filosofia.” (p.25)
Livro VIII - Volta-se a discussão sobre
as outras 4 formas de governo: timocracia, oligarquia, democracia e tirania. “A
timocracia é dominada por homens nos quais prevalece a parte impulsiva da sua
alma. Quando o amor pelo dinheiro prevalece sobre todas as coisas, a cidade
timocrática transforma-se em cidade oligárquica. Da cidade oligárquica passa-se
para a cidade democrática, em geral, graças a uma revolta das classes mais
pobres. O homem democrático caracteriza-se pelo prevalecer do elemento
desiderativo da sua alma. A liberdade torna-se anarquia: prevalecem os desejos
mais diversificados, não só aqueles ligados à necessidade da vida, mas também
os mais supérfluos, e há a tendência geral em satisfazer por qualquer meio. Por
conseguinte, domina a liberdade mais desenfreada e anárquica e esta é a causa
da cidade democrática ser a cidade em que os homens são servos das próprias
paixões... passa-se então para a cidade tirânica. Esta cidade nasce porque o
povo escolhe um protetor contra os ricos sempre mais prepotentes... o tirano
faz muitas promessas... para manter o povo sob controle, tem de conservar
continuamente a cidade em estado de guerra... a conseqüência é que o povo, para
se libertar da escravidão de outros homens livres, cai na pior escravidão: ser
escravo de escravos.” (p.26-27)
Livro IX - “Em cada homem há uma espécie
de desejos tremendos, desenfreados e contrários à lei, mas no homem sábio estes
desejos são controlados pelas leis e pelos desejos melhores ajudados pela
razão, enquanto que no tirano aqueles se impõem sem qualquer lei.... às três
partes da alma correspondem três espécies diversas de prazeres: superioridade
do filósofo e dos prazeres da parte racional, quando esta prevalece sobre as
outras duas – há prazeres ligados à purificação das dores e prazeres que não
purificam; prazeres puros e prazeres misturados às dores; superiores a todos os
tipos de prazer são os prazeres do conhecimento próprios dos filósofos.” (p.28)
Livro X - “volta-se a discorrer sobre a
poesia e a imitação, distinguindo três níveis de realidade: o das ideias, o dos
objetos sensíveis e o das imitações. E dá-se o exemplo da cama: há a ideia de
cama, há a cama sensível que é obra do carpinteiro e há a representação da cama
feita pelo artista. O poeta e o pintor, portanto, são os imitadores da cama
sensível: em geral a arte não imita as coisas que são como são, isto é, em si
mesmas, as ideias das coisas, mas imita as coisas que são tal como aparecem ao
artista, ou seja, as representações dos objetos. Logo, a arte é imitação da
aparência e não da verdade e, por isso, está três vezes longe da verdadeira realidade.”
(p.28) por isso a arte deve ser banida da cidade.
Mito do Er: “ele era um valoroso herói
morto em batalha que, no 12° dia após a sua morte, ressuscitou e contou o que
vira no Hades, isto é, no além. Contou que as almas, depois da morte, são submetidas
a um julgamento e recebem, consoante o tipo de vida que tiveram, prêmios ou
punições; penas particularmente graves estão previstas para os tiranos.
Para uma introdução a Platão e a filosofia grega vocês podem ouvir algumas das aulas que ofereci este ano no cursinho da Moradia da Unicamp (Proceu):
https://soundcloud.com/robson-gabioneta
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