Contos e lendas
afro-brasileiras: a criação do mundo. Reginaldo Prandi. Companhia das Letras,
SP, 2007. Pag. 155 a 218. Apêndice: os deuses da mitologia afro-brasileira.
Introdução ao
candomblé a partir do Apêndice.
Prandi fala dos
deuses africanos (orixás) a partir do povo ioruba, hoje localizado na Nigéria e
Benim.[1]
Esse povo veio para o Brasil e trouxe consigo seus costumes, sua religião.
Porém, esta religião recebeu vários nomes no Brasil: “candomblé na Bahia, xangô
em Pernambuco, tambor-de-mina nagô no Maranhão, batuque no Rio Grande do Sul”
(p.155). O candomblé do Rio de Janeiro quando uniu-se ao espiritismo da França
gerou a Umbanda. Isto no inicio do sec. XX.
O povo ioruba
acredita que os orixás (deuses) dividem entre si a administração do mundo. Como
eles, foram politeístas: os antigos gregos, romanos e egípcios e também os
povos pré-colombianos, como os incas, os maias, os zapotecas e os astecas. De
modo diferente, o judaísmo e as religiões que se originam dele – o cristianismo
e o islamismo – acreditam na existência de um único deus. Ainda que para os
católicos os santos intercedem a deus pelos homens e, de certo modo, dividem a
administração do mundo espiritual.
No Brasil os
orixás do povo ioruba se misturaram com os santos católicos e com os orixás de
outros povos africanos.
Os orixás são
forças da natureza. Além dos orixás, o povo ioruba louvam também seus
ancestrais que fundaram ou foram destaque na sua sociedade (como os santos para
os católicos). Num determinado momento estas duas crenças se fundiram. Desse
modo, as forças da natureza, o trovão, o mar, a terra, etc. “foram
antropomorficados, isto é, adquiriram forma humana, e ganharam uma biografia
mítica, sendo responsabilizados também por aspectos socioculturais” (p.164).
Num tempo
remoto, os orixás habitavam a terra. A história do seu nascimento e de suas
relações é chamada mitologia africana.
Na África eram
muitos os orixás, no Brasil foram preservados cerca de 20. Xangô, rei da cidade
de Oió, é orixá da justiça, é regido pelo trovão e o fogo. Sua esposa, Iansá,
orixá do rio Níger, é regida pelo vento, raio e tempestade. Oxum, outra esposa
de Xangô, domina o amor e a riqueza. Ogum cuida do trabalho e é patrono da caça
e da agricultura. Oxaguiá inventou o pilão.
Os homens
agradam os deuses oferecendo-lhes parte do que produzem para sobreviver,
principalmente comida. Alguns animais são abatidos em oferenda aos orixás.
Usualmente, a maior e a melhor parte da carne dos animais é consumida pelo
grupo, representando a comunhão entre os deuses e os homens. Cada orixá tem
suas preferências alimentares. Há os alimentos preferidos e os que não podem
ser oferecidos. Por exemplo, Oxalá não come nada feito com azeite de dendê,
enquanto Oxóssi não come mel.
Cada orixá tem
sua função. Exu tem um papel especial. É mensageiro entre os homens e os
deuses. Ele leva as oferendas e pedidos dos homens e traz os desígnios dos
deuses. Nada acontece sem a autorização de Exu, por isso ele é sempre o
primeiro a receber a oferenda.
O povo ioruba
veio para o Brasil quando o catolicismo era a religião oficial. Assim, todos os
habitantes do Brasil, inclusive os escravos, foram batizados e introduzidos aos
rituais da Igreja Apostólica Romana. O povo vindo da África foi, com o tempo,
fazendo paralelos entre os santos católicos e seus orixás. Isso foi chamado de
sincretismo afro-brasileiro. Xangô foi identificado com São Jerônimo, Oxalá com
Jesus Cristo, Iemanjá com Nossa Senhora, Nanã com Santana, mãe de Maria. Exu
foi identificado com o Diabo.
É preciso ficar
atento que essas correspondências não são idênticas, por exemplo, Exu não é o
Diabo para o povo africano. Apenas as aproximações fizeram o povo fazer
associações. Cada sistema religioso tem sua complexidade interna que só pode
ser entendida com sua teologia e sua história.[2]
Outro paralelo
que é possível ser feito é entre os orixás e os deuses grego, romanos e
egípcios (todos eles antigos). Exu ocupa-se de tarefas similares as de Hermes,
deus mensageiro dos gregos, e Mercúrio, que faz esta atividade no Olimpio
romano. Xangô é o senhor da tempestade e da justiça, como Zeus, Júpiter e Amon,
respectivamente deus grego, romano e egípcio.
Apesar das
religiões e da organização social desses povos serem diferentes, as
necessidades que precisam ser supridas para a boa sobrevivência da comunidade,
possuem aspectos em comum.
Dentro do
candomblé acredita-se que os homens e as mulheres herdam as características dos
orixás que descendem. Na África o pai transmitia para seus filhos seu orixá. No
Brasil, por causa da dispersão do povo africano, para saber qual o orixá que
determinada pessoa é descendente é preciso consultar o oráculo. O sacerdote
joga os búzios e identifica qual o orixá que rege aquela pessoa. Com a
identificação do orixá que rege a pessoa, pode-se antever como é seu comportamento
no dia-a-dia. Por exemplo, os filhos de Xangô normalmente são amantes do poder,
os de Oxum são amorosos, os de Ogum gostam de trabalhos manuais, os de Oxalá
são calmos.
Os devotos do
candomblé acreditam que os homens e as mulheres vivem de modo grosseiro e
imperfeito as histórias que os orixás viveram. Por isso, para entender nosso
mundo é preciso saber a mitologia dos orixás.
O culto aos
orixás é complexo e exige uma grande distribuição de tarefas. Os sacerdotes dos
templos são a ialorixá, mãe de santo, quando esta for mulher, ou babalorixá,
quando o pai de santo é homem. Eles recebem ajuda da mãe pequena ou do pai
pequeno. Os filhos de santo, fieis da casa, permitem que os orixás se
manifestem e dançam durante o ritual, são os iaôs. As mulheres que não entram
em transe são as equetes. Elas cuidam das roupas e ornamentos sagrados. Os
alabês são os homens que tocam os tambores e/ou outros instrumentos. O axogum
cuida do sacrifício dos animais. O pejigã cuida do altar. Todos eles que são
homens que não entram em transe são chamados ogãs. “Depois de cumprir
obrigações rituais durante sete anos, os iaôs recebem o título de ebômi, que
pode ser traduzido por minha irmã mais velho ou meu irmão mais velho” (p207),
esses podem assumir tarefas dentro da celebração. Quem cuida da cozinha é a
iabassê.
“Na África, o
babalaô é o sacerdote encarregado de interpretar os desígnios dos orixás,
diagnosticas doenças e identificar a origem dos mais diferentes males” (p.208).
Ele faz isso pela consulta dos búzios.
O axé é a força
dos orixás, a força da natureza. A mãe de santo ou o pai de santo, com os
ritos, distribuem o axé para seus filhos de santo para que vivam em equilíbrio
com os orixás e com a sociedade.
Os orixás
africanos acompanham seu povo onde quer que eles estejam. Eles acolhem também
outros povos que acreditam neles, mesmo os brancos, pardos, amarelos e mestiços
das mais diversas origens. Afinal, como afirma as recentes descobertas da
paleontologia, o homem teria surgido num lugar próximo a Ilê Ifé, na África, lugar
onde a mando de Olorum os orixás criaram o mundo.
Como a cultura e
a sociedade mudam, também os orixás mudam e acrescentam funções do seu domínio.
Exu, por exemplo, é considerado orixá da internet.
Introdução ao
candomblé
http://culturabrasil.cmais.com.br/programas/veredas/arquivo/ile-omolu-oxum-candomble
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