quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Cursinho Proceu - Filosofia medieval e moderna

olá a todos

a aula passada, filosofia medieval, está no link
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2017/05/6-aula-agostinho-e-tomas.html

para a próxima aula, filosofia moderna, ver link
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2017/06/
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2017/08/cont-6-aula-filosofia-moderna-secxv-xvii.html
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2017/08/7-aula-filosofia-moderna-secxviii-xix.html

vídeos introdutórios
https://www.youtube.com/watch?v=VY2osqEbvfY&index=15&list=PL8PEFpPr13IjdUUstP-VgS84q_chQwCcp
https://www.youtube.com/watch?v=vjNZfQrOOZw&list=PL8PEFpPr13IjdUUstP-VgS84q_chQwCcp&index=16
https://www.youtube.com/watch?v=iTiPc1cv9OA&list=PL8PEFpPr13IjdUUstP-VgS84q_chQwCcp&index=17

as aulas estão gravadas no google drive
https://drive.google.com/drive/folders/1s36zLXjpNq30hScJqDSMnbLrxIGUOQVn

domingo, 19 de agosto de 2018

Turmas de filosofia - Resumo da República de Platão


República – Resumo – Robson Gabioneta. República de Platão a partir da introdução à República de Platão de Giovanni Casertano:
Livro I - O velho Céfalo conversa com Sócrates sobre as vantagens e desvantagens da velhice. Eles discutem como a riqueza pode ajudar ou atrapalhar a vida justa.
Céfalo diz que não se deve ficar em dívida com os deuses e com os homens. Sócrates o contrapõe dando um exemplo do louco para mostrar que nem sempre deve-se pagar uma dívida: um louco que te emprestou uma arma não deve tê-la de volta. Polemarco entra na conversa e diz que justiça é “fazer bem ao amigo e mal ao inimigo (327a-332b)”. Sócrates diz que é preciso discutir quem de fato é amigo, daquele que apenas se parece.
Trasímaco defini justiça como “’o útil do mais forte’, e por mais forte entende-se o governo que detém o poder numa cidade (332b-339b). Sócrates: o mais forte também pode enganar-se, por isso, obedecer-lhe pode significar prejuízo para ambos de modo a não fazer aquilo que lhe é útil.”
Trasímaco diz que como um artesão não erra também o governador não erra. Assim, cada técnica não visa a satisfação do executor, mas a perfeição daquilo que é executado. O I livro termina com Sócrates defendendo que o homem justo é feliz e o injusto é infeliz.
Livro II - É preciso discutir o que é justiça. Gláucon diz que há três espécies de bens: “os que se desejam por si mesmos, como, por exemplo, a alegria e os prazeres que dão só alegria; os que se desejam quer por si mesmos, quer pelas vantagens que nos dão, como, por exemplo, a saúde e a inteligência; os que se desejam não por si mesmos, mas pelas vantagens que nos dão, como,  por exemplo, ser curados em caso de doença e exercer as atividades que dão riqueza material.” (p.15) A justiça está onde? Sócrates acha que é na segunda, Gláucon na terceira.
Adimanto diz que a maioria e os poetas pensam que ser justo é difícil e cansativo e por outro lado a injustiça é fácil e agradável, assim é melhor a injustiça mascarada do que a justiça. Sócrates pede para parar com a abstração e dizer qual o efeito da justiça e da injustiça.
Sócrates propõe que examinem a justiça num quadro maior: em vez de procurar a justiça no individuo, eles devem procurá-la na cidade. Nenhum homem basta-se a si mesmo. Suas necessidades são: comida, habitação e vestimenta. Cada cidadão pode (deve) fazer uma atividade.
Gláucon quer uma cidade mais rica, isso implica que teve haver outros tipos de pessoas. Sócrates diz que é preciso que haja guerreiros para guardar a cidade. Eles devem ser educados e entre eles, o melhor, deve ser filósofo e ter uma excelente educação. Este que será o melhor deverá aprender poesia, música, ginástica, retórica, enfim tudo.
Para educar esses homens é preciso que os poetas não falem mentiras e que os heróis não tenham vícios, apenas virtudes para que os melhores dos homens possam imitá-los.
Livro III - Para educar os guardiões na coragem é preciso eliminar da poesia aquilo que causa o medo da morte, bem como as representações dos heróis que choram, sofrem e mentem. Só os médicos e os governantes podem mentir, porém só deve fazer isso para o bem dos pacientes ou dos governados.
Há três formas de narrativas: o simples, a imitativa e a mista. Exemplos: 1ª poesia lírica; 2ª tragédias e comédias; 3ª poemas homéricos (também os próprios diálogos de Platão). Os guardiões só devem imitar homens virtuosos. “em suma, todos os artistas e os poetas devem imitar só o bem e o belo, e toda a educação se deverá adequar a um ideal de beleza, honestidade, harmonia e elegância, porque o fim último da educação musical é precisamente o amor pelo belo (396e-403c)” (p.18). Assim o poeta que não se adequar a essa exigência deve ser expulso da cidade.
Mito dos nascidos da terra: “a mãe terra deu à luz todos os homens de uma cidade, e que portanto são todos irmãos, mas os deuses misturaram ouro junto com a terra para a geração dos que têm disposição para defender a cidade, ou misturaram ferro e bronze para os agricultores e os artesões.” (p.19) aqueles que tem ouro ou prata são os guardiões da cidade e não devem ter propriedade privada. “a propriedade privada é causa de submissão, cria senhores e súditos, em vez de irmãos e aliados” (414b-417b)
Livro IV - Depois de Adimanto perguntar se aqueles que não possuem nada não serão infelizes, Sócrates diz que “o problema não é garantir a felicidade de uma só classe ou de um grupo de cidadãos, mas garantir a felicidade de toda a cidade no seu conjunto, e, portanto, de todos os cidadãos.” (p.20) Na cidade não deve ter os muitos ricos nem os muito pobres: “a sabedoria é a virtude típica dos guardiões que têm o dever de governar; a coragem é a virtude típica dos guardiões que têm o dever de defender a cidade dos perigos externos e internos...; a temperança é a virtude típica dos agricultores e dos artesãos, mas deve pertencer também às outras duas classes.” (p.20) Enfim, a justiça “consiste em ‘fazer aquilo que lhe é próprio’, que significa cumprir o seu próprio dever específico na cidade.” (p.20) Volta-se para o indivíduo. Como a cidade, também o indivíduo tem três partes: uma parte racional, uma parte impulsiva e uma parte desiderativa. A partir dos 5 tipos de almas, há 5 tipos de constituição: o primeiro é a aristocracia.
Livro V - Sobre a comunidade dos amigos, Sócrates explica através de três ondas: “a primeira onda diz respeito à identidade de tarefas e de educação para o homem e para a mulher... a segunda onda diz respeito à comunhão de mulher e de filhos... a terceira onda diz respeito à possibilidade de os filósofos governarem a cidade, ou então de os governantes se tornarem verdadeiros filósofos” (p.22) o filósofo é o único que ama a verdade na sua totalidade e que é capaz de alcançar o verdadeiro conhecimento.
Livro VI - “portanto, é o filósofo que deve governar, porque é o único a conhecer as ideias, isto é, as realidades externas e sempre semelhantes a si mesmas; além disso deve amar a verdade, ser sincero, temperante, magnânimo, afável, ter facilidade para estudar e ter harmonia interior.” Adimanto discorda de Sócrates, os filósofos são inúteis a cidade e não participam dela. No final do diálogo “é dado o exemplo da linha: há duas espécies de entes, os do mundo visível, sensível, e os do mundo inteligível, que constituem os dois segmentos em que se divide esta linha... portanto há quatro tipos de objetos aos quais correspondem quatro atividades cognitivas: a imaginação, a crença, o pensamento dianoético e a intelecção. Os primeiros dois constituem o mundo da opinião, os outros dois, o mundo da ciência e da verdade (509c-511e)
Livro VII - Alegoria da caverna. Dentro de uma caverna há pessoas acorrentadas que ficam olhando para a parede de fundo e conversando sobre as imagens que são projetadas nessa parede. A projeção ocorre pois na entrada da caverna há fogueira que algumas pessoas usam para projetar objetos. De repente alguém é solto e sobe em direção a entrada da caverna, ele vê a fogueira e os objetos que são projetados, já fora da caverna vê os objetos a partir das suas projeções nos lagos, rios e espelhos. Depois olha os próprios objetos e depois olha o próprio sol. Depois esta pessoa volta a caverna e tenta explicar para os que ficaram lá o que ela viu. Há uma discussão pois quem saiu da caverna não consegue convencer quem está lá dentro de que eles discutem a partir das imagens.
O dialético é escolhido a partir das suas qualidades: firmeza, coragem, beleza, nobreza da alma, agudeza e facilidade na aprendizagem, tenacidade, boa memória, amor pelo trabalho. Educação do dialético: “até os vinte anos, irão aos cursos propedêuticos, sobretudo à base de ginástica; depois das ciências, por dez anos. Aos trinta anos, os melhores serão direcionados cuidadosamente para o estudo da dialética... dos trinta e cinco aos cinqüenta anos eles ‘voltarão à caverna’ e farão a experiência prática do governo da cidade. Aos cinqüenta anos, os melhores, governarão a cidade, dedicando o resto do tempo à filosofia.” (p.25)
Livro VIII - Volta-se a discussão sobre as outras 4 formas de governo: timocracia, oligarquia, democracia e tirania. “A timocracia é dominada por homens nos quais prevalece a parte impulsiva da sua alma. Quando o amor pelo dinheiro prevalece sobre todas as coisas, a cidade timocrática transforma-se em cidade oligárquica. Da cidade oligárquica passa-se para a cidade democrática, em geral, graças a uma revolta das classes mais pobres. O homem democrático caracteriza-se pelo prevalecer do elemento desiderativo da sua alma. A liberdade torna-se anarquia: prevalecem os desejos mais diversificados, não só aqueles ligados à necessidade da vida, mas também os mais supérfluos, e há a tendência geral em satisfazer por qualquer meio. Por conseguinte, domina a liberdade mais desenfreada e anárquica e esta é a causa da cidade democrática ser a cidade em que os homens são servos das próprias paixões... passa-se então para a cidade tirânica. Esta cidade nasce porque o povo escolhe um protetor contra os ricos sempre mais prepotentes... o tirano faz muitas promessas... para manter o povo sob controle, tem de conservar continuamente a cidade em estado de guerra... a conseqüência é que o povo, para se libertar da escravidão de outros homens livres, cai na pior escravidão: ser escravo de escravos.” (p.26-27)
Livro IX - “Em cada homem há uma espécie de desejos tremendos, desenfreados e contrários à lei, mas no homem sábio estes desejos são controlados pelas leis e pelos desejos melhores ajudados pela razão, enquanto que no tirano aqueles se impõem sem qualquer lei.... às três partes da alma correspondem três espécies diversas de prazeres: superioridade do filósofo e dos prazeres da parte racional, quando esta prevalece sobre as outras duas – há prazeres ligados à purificação das dores e prazeres que não purificam; prazeres puros e prazeres misturados às dores; superiores a todos os tipos de prazer são os prazeres do conhecimento próprios dos filósofos.” (p.28)
Livro X - “volta-se a discorrer sobre a poesia e a imitação, distinguindo três níveis de realidade: o das ideias, o dos objetos sensíveis e o das imitações. E dá-se o exemplo da cama: há a ideia de cama, há a cama sensível que é obra do carpinteiro e há a representação da cama feita pelo artista. O poeta e o pintor, portanto, são os imitadores da cama sensível: em geral a arte não imita as coisas que são como são, isto é, em si mesmas, as ideias das coisas, mas imita as coisas que são tal como aparecem ao artista, ou seja, as representações dos objetos. Logo, a arte é imitação da aparência e não da verdade e, por isso, está três vezes longe da verdadeira realidade.” (p.28) por isso a arte deve ser banida da cidade.
Mito do Er: “ele era um valoroso herói morto em batalha que, no 12° dia após a sua morte, ressuscitou e contou o que vira no Hades, isto é, no além. Contou que as almas, depois da morte, são submetidas a um julgamento e recebem, consoante o tipo de vida que tiveram, prêmios ou punições; penas particularmente graves estão previstas para os tiranos.

Para uma introdução a Platão e a filosofia grega vocês podem ouvir algumas das aulas que ofereci este ano no cursinho da Moradia da Unicamp (Proceu):

https://soundcloud.com/robson-gabioneta


segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Turmas de Filosofia do Núcleo e do Anibal - Agosto

Turmas de Filosofia do Núcleo e do Anibal - Agosto

bom retorno a todos
antes de iniciamos o segundo semestre vou pedir para vocês verificarem se ficou claro duas atividades que propus semestre passado: 1. análise de uma frase e 2. conversa com profissionais. Para ficar claro o que apresentei, escrevi a sequencia da atividade nas postagens anteriores:
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2018/08/analise-de-uma-frase-qualquer-em.html
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2018/08/conversa-com-profissionais.html

leiam com calma e verifiquem se não há nenhuma dúvida. Esse semestre vamos dar continuidade a essas atividades a partir de dois momentos: 1. da nossa vida ou melhor, como os conceitos (saúde, justiça, educação, etc) alteram nossa vida; 2. como o filósofo grego Platão, a partir dos seus textos, em especial da República.

o link de uma introdução que fiz da República é:
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com.br/2017/04/republica-resumo.html

Para uma introdução a Platão e a filosofia grega vocês podem ouvir algumas das aulas que ofereci este ano no cursinho da Moradia da Unicamp (Proceu):
https://soundcloud.com/robson-gabioneta



3 ano do Núcleo - Sociologia - Agosto

bom retorno a todos
queria chamar a atenção de vocês para dois temas que trabalhamos semestre passado e que acho fundamental vocês ficarem atentos: 1. a análise de uma frase; 2. conversa com profissionais.
postei nesse blog uma descrição detalhada de cada uma dessas propostas para ficar claro o que estou propondo:
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2018/08/analise-de-uma-frase-qualquer-em.html
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2018/08/conversa-com-profissionais.html

sobre esse semestre iremos discutir o Estado Moderno. Dia 06/08 apresentei para vocês o tema a partir de duas entradas

    1. a partir dos Impérios (Chines, Atenas, Roma, entre outros). O que é importante aqui é que os Estados Modernos devem aos Impérios alguns de seus procedimentos e de seus conceitos. Entre eles, de Atenas herdou o conceito de democracia, dos romanos a burocracia jurídica. 
    2. Teóricos do Estado Moderno. É interessante discutirmos alguns teóricos pois podemos saber de onde vem as justificativas para a organização dos Estados atuais, em especial, o Estado Brasileiro.
Thomas Hobbes (1588-1679)
Foi um importante teórico inglês. Resumidamente, para eles os homens são egoístas e iguais por natureza, assim, um deseja aquilo que o outro tem, gerando conflitos entre eles. Para Hobbes, por causa dessas caracteristicas, os homens vivem em estado de guerra de todos contra todos. Ele chamou isso de Estado de Natureza. Para ele só há um meio para sair da guerra: cada indivíduo dá seu poder de violencia para uma pessoa que pode exercer a violência em seu nome. Esse individuo ele chamou de Leviatã. Esse Leviatã é o Estado.
Max Weber (1864-1920)
Foi um importante teórico alemão do Estado Moderno. Disse que o Estado é aquele que possui o monopólio do poder da violência, assim, nenhum outro agente pode ser violento, apenas ele. Disse também que a organização da burocracia é fundamental para o Estado. Burocracia são os sistemas necessários para organizar o Estado a fim de garantir a sua existência. Alguns exemplos: o posto de saúde, a escola, os guardas de transito, são instituições organizadas para administrar (cuidar) a população.

Adam Smith
John Locke (1632-1704).
Também inglês, esse teórico propôs algumas coisas importantes. Disse que o comercio internacional é necessário e que para ocorrer é preciso duas coisas:
  • a propriedade privada
  • e a proteção da propriedade privada
Assim, para eles, o Estado deve organizar a existência da propriedade privada bem como garantir a sua proteção.
outros autores modernos:
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2017/08/cont-6-aula-filosofia-moderna-secxv-xvii.html
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2017/08/7-aula-filosofia-moderna-secxviii-xix.html

No final do semestre passado pedi para vocês lerem o texto A sociedade contra o Estado de Pierre Clastres. Esse texto está no livro Tempos Modernos, Tempos de Sociologia e está na página 46.
muitas coisas são interessantes, vou citar alguns trechos e comentar:
no primeiro parágrafo ele diz que muitos viajantes e pesquisadores de grupos indígenas pensavam que esses povos (ou não europeus e não modernos) eram povos sem Estado. Assim, com o tempo, esses povos foram caracterizados pela negativa. Além de Estado, a esses povos faltavam a escrita e a história. Com o desenvolvimento dos estudos em Antropologia percebeu-se que as técnicas desenvolvidas por esses povos em prol da sua sobrevivência eram sofisticados. Ao ponto de não poderem ser chamados de primitivos quando comparados com a 'moderna' sociedade europeia industrial. 
No livro de vocês não é apresentado a conclusão dele, porém se vocês consultarem esses livro irão perceber que Clastres defende que esses povos possui um mecanismo para impedir que o Estado surja. Interessante né!!!
Lembram que eu pedi para vocês pensarem e escreverem como o Estado interfere na vida de vocês, agora vou pedir para vocês pensarem em quais coisas o Estado não interfere, o que você pode fazer que o Estado permite.
Iremos na próxima ler o cap. 4 do livro Tempos Modernos, Tempos de Sociologia a partir da pag. 54.

links e vídeos interessantes sobre este assunto:
https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/thomas-hobbes/
https://www.youtube.com/watch?v=VZllFKMCHMw
https://www.youtube.com/watch?v=AH5zYB3MJHs&index=21&list=PL8PEFpPr13IjdUUstP-VgS84q_chQwCcp
https://plato.stanford.edu/entries/hobbes/
esta última está em inglês, quem não lê em inglês pode colocar o texto no Google tradutor.

aulas sobre filosofia antiga, em especial, sobre a República do Platão:
https://soundcloud.com/robson-gabioneta



Conversa com profissionais


Conversa com profissionais com vistas a discussão sobre a função social de cada um deles e sobre como nossa vida é regulada por esses saberes
Em dupla ou trio,[1] escolha pessoas que se julgam sabedoras de algo ou são reputadas como alguém que sabe algo, de preferencia, inicialmente, sugerimos que eles escolham alguém que possui um saber fazer, um saber prático (como cozinhar, costurar, construir casas, limpar casas, fazer instalações elétricas, fazer peças, arrumar carros, organizar uma escola, organizar o transito, organizar uma cidade, etc).[2] Conversem livremente e, se for o caso, gravem ou anotem a conversa. Algumas perguntas podem ajudar, como por exemplo: como você adquiriu este saber? Para adquirirmos este saber o que precisamos fazer? Qual a função social que este saber lhe proporciona? Você aprendeu espontaneamente este saber ou foi por causa do lugar onde você vive? Como ‘a vida’ te levou a aprender este saber?[3]
Para ajudar na produção de textos e na organização das informações, sugerimos que os alunos montem o seguinte quadro:
Profissão
Saber?
Como adquiriu?
Qual a função social deste profissional?
Que perguntas conceituais podemos fazer a ele?
Médico
Medicina
Estudando e o praticando junto com outros médicos
Cuidar das pessoas doentes e ajudar no estabelecimento da saúde.
O que é saúde? O que é doença?
Cozinheiro
Cozinhar
Escutando e cozinhando junto com os mais velhos
Alimentar as pessoas, dando-lhes saúde.
O que é saúde? Como mantê-la? O que é uma boa alimentação?

Os exemplos são para ajudar no desenvolvimento da atividade e não para limitá-la. Assim, outras questões podem surgir, como por exemplo: como treinar os órgãos sensoriais para exercer bem esta profissão? Quais são as exigências intelectuais para o trabalho deste profissional? E os sentimentos, como eles atuam na profissão? Que políticas públicas você propõe para as pessoas viverem bem? E assim por diante...
Com a tabela em mãos (ou na cabeça) construa um diálogo entre dois ou três profissionais. A conversa pode ser livre ou seguir as seguintes sugestões:
1.      Um profissional tenta convencer o outro acerca do seu papel social, sem reconhecer o papel do outro;
2.      Um tenta convencer o outro de que o valor do seu trabalho é maior que o do outro;
3.      Um apresenta para o outro seus motivos para a necessidade de entrar em greve.
Com essa atividade, construir um diálogo entre os profissionais, pretendemos iniciar a discussão conceitual a partir do contexto em que o aluno vive. Assim, conceitos como saúde, doença, boa alimentação, bem viver, justiça, ética profissional,[4] podem ser inseridos no universo escolar. Além disso, podemos trabalhar a noção de ‘persona social’ ou papel social como preferem os sociólogos.[5] Com essa categoria os alunos podem investigar como um indivíduo é obrigado em determinados contextos a incorporar um personagem social, mesmo que isso gera contradição no seu modo de ver o mundo. Assim, por exemplo, uma pessoa que critica a forma que a lei é construída se for funcionaria pública, como um diretor escolar, precisa necessariamente cumprir a lei independente da sua opinião enquanto indivíduo. Do mesmo modo um músico quando contratado por uma grande empresa não pode fazer músicas que critiquem a empresa que trabalha.


[1] Nos diálogos de Platão a investigação é sempre feita conjuntamente. Os números são variados, em alguns diálogos a investigação é feita em dupla, como no Fedro; outras vezes é em trio, como no Menon; outras vez são quatro personagens que conversam, como no Teeteto e Sofista; outras vezes muitos estão investigando o mesmo tema, como no Banquete e no Protágoras.
[2] Pensamos ser importante começar pelo saber prático, pois o saber teórico é trabalhado nas escolas desde os primeiros anos. Assim, a construção da linguagem no fazer prático pode ajuda-lo a entrar na teoria propriamente dita, isto é, no conhecimento científico. Quando fizemos a atividade em Campinas e Paulínia, respectivamente, na E.E. Anibal de Freitas e E.E. Núcleo Habitacional José Paulino Nogueira, os alunos, na sua maioria escolheram fazer com seus familiares mais próximos e/ou seus parentes. Achamos que de fato devem começar com eles, porém não precisam fazer apenas com eles. Um modo de eles fazerem com outras pessoas é sugerir que ‘troquem’ de parentes, um faz com os parentes dos outros.
[3] Agradeço Hellen Fonseca, coordenadora da E.E. Núcleo Habitacional José Paulino Nogueira, lugar onde atuo como professor de Sociologia, que, ao ouvir a proposta, sugeriu as duas últimas perguntas.
[4] Sobre ética profissional pode-se feito do seguinte modo: casa profissional tem alguns benefícios e se relaciona com o mundo de determinadas formas. Assim quatro aspectos podem ser levantados para um possível código de ética (ou juramento): 1. Consigo próprio: quais os benefícios que este profissional oferece para si próprio e para sua família ao exercer sua profissão?; 2. Com os outros: com quais profissionais ele atua? Como eles se relacionam?; 3. Sociedade: qual o sua função social? 4. Divindade: como é a relação deste profissional com a (s) divindade (s)?. Para uma descrição maior ver: http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2016/05/2-ano-1-de-junho.html, consultado em 19/07/2018.
[5] Preferimos o primeiro para iniciarmos a discussão sobre representação.


Análise de uma frase qualquer (em especial de filosofia/sociologia)


O procedimento que sugerimos para análise de uma frase é:

1. Separação do ‘gênero’: a frase é narrativa, poética, descritiva, histórica?

2. Se for narrativa, é preciso atentar para alguns categorias: 

a. Quais são os acontecimentos?
b. Quem são os personagens, narrador e autor?
c. Como eles se relacionam?
d. Como se dá o desfecho?
e. Que frases genéricas podem ser extraídas da história?  
3. Se na frase não houver história, sugerimos o seguintes procedimentos:
a. Escolha uma frase da música ou crie uma frase genérica, uma frase que valha para todos, uma frase que tenha pretensão de ser universal;
b. Escolha uma palavra desta frase: 
i. Perceba com quais palavras ela está conectada;
ii. A partir disso, perceba os sentidos possíveis para essa palavra;
c. Que perguntas podem ser feitas para entender melhor a frase (verifique se essas perguntas são respondidas pela história ou pela letra de música inteira. Tente fazer perguntas que não são respondidas pela história e/ou letra.) 
d. Que ação ou ações a frase provoca? 
i. Se você acredita naquilo que é dito, achando que a frase é verdadeira, que ações você precisa fazer?
ii. Se todos nós considerássemos a frase verdadeira, qual seria a ação de todos nós?
e. Quais são os pressupostos da frase? 
f. O que seus familiares, parentes e amigos pensam da frase? 
g. Você conhece frases semelhantes a esta? Se houver compare elas. 
h. E se na verdade as coisas fossem o contrário do que é dito, o que aconteceria? (volte e analise início e repita o procedimento) 
Para ficar mais claro vamos dar alguns exemplos usados em sala de aula. Primeiro a história dos três porquinhos.  Nesta história, difundida nos livros didáticos e nas mídias, três porquinhos saem da casa dos seus pais para construir suas casas. O primeiro construí uma casa de palha, o segundo constrói de madeira, porém sem fixa-la e o terceiro de cimento e tijolos. Certo dia um lobo faminto apareceu por aquela redondeza. Este lobo tinha um sopro forte e conseguiu derrubar a casa feita de palha. O porquinho que fez esta casa correu para a casa feita de madeira. Então novamente o lobo assoprou e, como a casa não tinha sido pregada, conseguiu também derrubá-la. Por fim os dois porquinhos foram para casa de alvenaria junto com seu irmão. Dessa vez o lobo não conseguiu derraba-la, porém tentou entrar pela chaminé. Percebendo isso, o porquinho que construiu a casa acendeu a lareira e queimou o lobo que nunca mais apareceu na redondeza. 
Começando pelo item1 percebemos que a história é narrativa. Assim, entrando no item 2, podemos dizer:
a) o acontecimento é a saída da casa dos pais para construir sua própria casa, porém todas as casas que foram mau construídas foram derrubadas.
b) Os principais personagens são os porquinhos e o lobo. Eu, Robson, sou o narrador a partir de informações da Wikipédia. Segundo ela, esta história é de origem inglesa.
c) Os personagens se relacionam a partir da alimentação: o lobo quer se alimentar dos porquinhos que, depois da chegada do lobo, se ajudam mutualmente.
d) O desfecho se dá pela expulsão do lobo, apesar dele ter conseguido derrubar duas casas.
e) As frases podem ser diversas: 1. As casas frágeis podem ser derrubadas; 2. Só uma casa forte suporta as adversidades; 3. Todas as casas, para não serem derrubadas, precisam ser feitas de alvenaria.
Vejamos agora o item 3.
a) Vamos escolher a frase 1: As casas frágeis podem ser derrubadas.
b) Vamos escolher a palavra frágil.
i. Ela está conectada a palavra casa e a derrubada: são derrubadas as casas que são frágeis.
ii. Pelo item i percebe-se que frágil é uma qualidade (no caso um defeito) da casa e, por causa dessa característica, pode ser derrubada.
c) Perguntas que podemos fazer para a frase (e para a história): 
i. São respondidas pela história: como fazer uma casa não ser frágil?
ii. Não são respondidas pela história: os três porquinhos poderiam se juntar para bater no lobo? O lobo não poderia esperar os três porquinhos saírem para comê-los? Se a casa de palha fosse construída com um pouco de cimento ela suportaria? E a casa de madeira, suportaria se fosse pregada?
d) A frase provoca:
i. Eu, Robson, procuraria fazer uma casa não frágil. Observaria as casas a minha volta de modo a perceber quais foram derrubadas pelo ‘lobo mau’ e quais não foram.
ii. Todos na minha redondeza, Campinas e região, acreditam que uma casa precisa ser construída de alvenaria, pois só vejo casa desta qualidade.
e) A frase pressupõe que alguém (no caso os porquinhos) construiu uma casa e que outro alguém (no caso o lobo) vai trazer a fragilidade para uma casa. Vejam que a fragilidade não é um atributo da casa a partir dela mesma, é fruto do construtor e daquele que quer persegui-lo.
f) Meus familiares, parentes e amigos parecem que concordam com a frase uma vez que constroem casas de alvenaria. E alguns parecem que precisam se proteger mais, uma vez que escolhem condomínios fechados e/ou prédios para morar.
g) A frase 1 pode ser comparada com as frases 2 e 3.  A 2 é um contraponto da 1 e a 3 justifica a superação da 1 pela 2.
h) Supondo que a frase verdadeira seja o contrário, isto é, as casas frágeis não podem ser derrubadas, teríamos que supor que ninguém tentaria derrubar uma casa ou mesmo não teria motivo para tanto. Assim, o lobo não precisaria derrubar uma casa para comer um porquinho.
Vejamos uma música: Que país é esse? do grupo Legião Urbana. Como a letra não é uma narração  mas uma proposição, vamos direto para o item 3.
a) Vamos escolher a frase 1: nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação: que país é esse?
b) A frase é complexa e poderíamos analisar várias palavras, mas vamos primeiro analisar a palavra sujeira.
i. Ela está conectada a palavra todo o lado que por sua vez parece se referir as favelas e ao Senado. 
ii. Parece que sujeira tem haver com o não respeito pela constituição que seria uma das formas de garantir o futuro.
c) Poderíamos perguntar:
i. Se essa sujeira tem haver com a venda ilegal de coisas? (no caso a alma dos índios: a floresta)
ii. Como fazer para limpar essa sujeira? Os outros países são limpos? Respeitar a constituição, não importando o que ela diz, torna o pais limpo?
d) Supondo que a sujeira está para todo o lado:
i. Talvez eu não poderia fazer nada, pois tudo está sujo. Mas talvez eu pudesse construir com as pessoas um país não sujo.
ii. Entre as pessoas que pensam que não podem fazer nada e aqueles que pensam que só é possível construir um país do zero há uma gama enorme de diversidades.
e) Um dos pressupostos da frase é que há outros lugares além da favela e do Senado e esses lugares também estão sujos. Supõe também que a constituição foi feita por alguém limpo e que basta segui-la para ser também limpo.
f) Alguns dos meus familiares e amigos concordam, mas alguns pensam que a sujeira está apenas no congresso.
g) Podemos, para comparar, usar alguns ‘slogan’ de governos: Lula: “Brasil, um país de todos”; Temer: “O Brasil voltou: 20 anos em dois.  A primeira tarefa é entender o que cada um quer dizer com as palavras. Para Lula o Brasil é um país que pertencem a todos, se juntarmos com a frase do Legião Urbana analisada em cima diríamos que o Brasil é para todos, inclusive dos corruptos. Já a frase do governo Temer, para justificar o golpe parlamentar e lembrar JK (50 em 5), diz que o Brasil, subtende-se o crescimento do Brasil, agora no seu governo, apenar de 20 anos supostamente estagnado, voltou em 2 anos. Juntando também com a frase da música, poderíamos dizer que voltou a ser sujo com antes, uma vez que não respeita a constituição.  
h) Se mudássemos a frase para: nas favelas, no Senado, não há sujeira pra todo lado, ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação: que país é esse? O que aconteceria? 

Estas propostas de análise são genéricas. Com o tempo elas podem ser deixadas de lado, ficando a análise adaptada ao contexto em que a frase é pronunciada.