segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Análise de uma frase qualquer (em especial de filosofia/sociologia)


O procedimento que sugerimos para análise de uma frase é:

1. Separação do ‘gênero’: a frase é narrativa, poética, descritiva, histórica?

2. Se for narrativa, é preciso atentar para alguns categorias: 

a. Quais são os acontecimentos?
b. Quem são os personagens, narrador e autor?
c. Como eles se relacionam?
d. Como se dá o desfecho?
e. Que frases genéricas podem ser extraídas da história?  
3. Se na frase não houver história, sugerimos o seguintes procedimentos:
a. Escolha uma frase da música ou crie uma frase genérica, uma frase que valha para todos, uma frase que tenha pretensão de ser universal;
b. Escolha uma palavra desta frase: 
i. Perceba com quais palavras ela está conectada;
ii. A partir disso, perceba os sentidos possíveis para essa palavra;
c. Que perguntas podem ser feitas para entender melhor a frase (verifique se essas perguntas são respondidas pela história ou pela letra de música inteira. Tente fazer perguntas que não são respondidas pela história e/ou letra.) 
d. Que ação ou ações a frase provoca? 
i. Se você acredita naquilo que é dito, achando que a frase é verdadeira, que ações você precisa fazer?
ii. Se todos nós considerássemos a frase verdadeira, qual seria a ação de todos nós?
e. Quais são os pressupostos da frase? 
f. O que seus familiares, parentes e amigos pensam da frase? 
g. Você conhece frases semelhantes a esta? Se houver compare elas. 
h. E se na verdade as coisas fossem o contrário do que é dito, o que aconteceria? (volte e analise início e repita o procedimento) 
Para ficar mais claro vamos dar alguns exemplos usados em sala de aula. Primeiro a história dos três porquinhos.  Nesta história, difundida nos livros didáticos e nas mídias, três porquinhos saem da casa dos seus pais para construir suas casas. O primeiro construí uma casa de palha, o segundo constrói de madeira, porém sem fixa-la e o terceiro de cimento e tijolos. Certo dia um lobo faminto apareceu por aquela redondeza. Este lobo tinha um sopro forte e conseguiu derrubar a casa feita de palha. O porquinho que fez esta casa correu para a casa feita de madeira. Então novamente o lobo assoprou e, como a casa não tinha sido pregada, conseguiu também derrubá-la. Por fim os dois porquinhos foram para casa de alvenaria junto com seu irmão. Dessa vez o lobo não conseguiu derraba-la, porém tentou entrar pela chaminé. Percebendo isso, o porquinho que construiu a casa acendeu a lareira e queimou o lobo que nunca mais apareceu na redondeza. 
Começando pelo item1 percebemos que a história é narrativa. Assim, entrando no item 2, podemos dizer:
a) o acontecimento é a saída da casa dos pais para construir sua própria casa, porém todas as casas que foram mau construídas foram derrubadas.
b) Os principais personagens são os porquinhos e o lobo. Eu, Robson, sou o narrador a partir de informações da Wikipédia. Segundo ela, esta história é de origem inglesa.
c) Os personagens se relacionam a partir da alimentação: o lobo quer se alimentar dos porquinhos que, depois da chegada do lobo, se ajudam mutualmente.
d) O desfecho se dá pela expulsão do lobo, apesar dele ter conseguido derrubar duas casas.
e) As frases podem ser diversas: 1. As casas frágeis podem ser derrubadas; 2. Só uma casa forte suporta as adversidades; 3. Todas as casas, para não serem derrubadas, precisam ser feitas de alvenaria.
Vejamos agora o item 3.
a) Vamos escolher a frase 1: As casas frágeis podem ser derrubadas.
b) Vamos escolher a palavra frágil.
i. Ela está conectada a palavra casa e a derrubada: são derrubadas as casas que são frágeis.
ii. Pelo item i percebe-se que frágil é uma qualidade (no caso um defeito) da casa e, por causa dessa característica, pode ser derrubada.
c) Perguntas que podemos fazer para a frase (e para a história): 
i. São respondidas pela história: como fazer uma casa não ser frágil?
ii. Não são respondidas pela história: os três porquinhos poderiam se juntar para bater no lobo? O lobo não poderia esperar os três porquinhos saírem para comê-los? Se a casa de palha fosse construída com um pouco de cimento ela suportaria? E a casa de madeira, suportaria se fosse pregada?
d) A frase provoca:
i. Eu, Robson, procuraria fazer uma casa não frágil. Observaria as casas a minha volta de modo a perceber quais foram derrubadas pelo ‘lobo mau’ e quais não foram.
ii. Todos na minha redondeza, Campinas e região, acreditam que uma casa precisa ser construída de alvenaria, pois só vejo casa desta qualidade.
e) A frase pressupõe que alguém (no caso os porquinhos) construiu uma casa e que outro alguém (no caso o lobo) vai trazer a fragilidade para uma casa. Vejam que a fragilidade não é um atributo da casa a partir dela mesma, é fruto do construtor e daquele que quer persegui-lo.
f) Meus familiares, parentes e amigos parecem que concordam com a frase uma vez que constroem casas de alvenaria. E alguns parecem que precisam se proteger mais, uma vez que escolhem condomínios fechados e/ou prédios para morar.
g) A frase 1 pode ser comparada com as frases 2 e 3.  A 2 é um contraponto da 1 e a 3 justifica a superação da 1 pela 2.
h) Supondo que a frase verdadeira seja o contrário, isto é, as casas frágeis não podem ser derrubadas, teríamos que supor que ninguém tentaria derrubar uma casa ou mesmo não teria motivo para tanto. Assim, o lobo não precisaria derrubar uma casa para comer um porquinho.
Vejamos uma música: Que país é esse? do grupo Legião Urbana. Como a letra não é uma narração  mas uma proposição, vamos direto para o item 3.
a) Vamos escolher a frase 1: nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação: que país é esse?
b) A frase é complexa e poderíamos analisar várias palavras, mas vamos primeiro analisar a palavra sujeira.
i. Ela está conectada a palavra todo o lado que por sua vez parece se referir as favelas e ao Senado. 
ii. Parece que sujeira tem haver com o não respeito pela constituição que seria uma das formas de garantir o futuro.
c) Poderíamos perguntar:
i. Se essa sujeira tem haver com a venda ilegal de coisas? (no caso a alma dos índios: a floresta)
ii. Como fazer para limpar essa sujeira? Os outros países são limpos? Respeitar a constituição, não importando o que ela diz, torna o pais limpo?
d) Supondo que a sujeira está para todo o lado:
i. Talvez eu não poderia fazer nada, pois tudo está sujo. Mas talvez eu pudesse construir com as pessoas um país não sujo.
ii. Entre as pessoas que pensam que não podem fazer nada e aqueles que pensam que só é possível construir um país do zero há uma gama enorme de diversidades.
e) Um dos pressupostos da frase é que há outros lugares além da favela e do Senado e esses lugares também estão sujos. Supõe também que a constituição foi feita por alguém limpo e que basta segui-la para ser também limpo.
f) Alguns dos meus familiares e amigos concordam, mas alguns pensam que a sujeira está apenas no congresso.
g) Podemos, para comparar, usar alguns ‘slogan’ de governos: Lula: “Brasil, um país de todos”; Temer: “O Brasil voltou: 20 anos em dois.  A primeira tarefa é entender o que cada um quer dizer com as palavras. Para Lula o Brasil é um país que pertencem a todos, se juntarmos com a frase do Legião Urbana analisada em cima diríamos que o Brasil é para todos, inclusive dos corruptos. Já a frase do governo Temer, para justificar o golpe parlamentar e lembrar JK (50 em 5), diz que o Brasil, subtende-se o crescimento do Brasil, agora no seu governo, apenar de 20 anos supostamente estagnado, voltou em 2 anos. Juntando também com a frase da música, poderíamos dizer que voltou a ser sujo com antes, uma vez que não respeita a constituição.  
h) Se mudássemos a frase para: nas favelas, no Senado, não há sujeira pra todo lado, ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação: que país é esse? O que aconteceria? 

Estas propostas de análise são genéricas. Com o tempo elas podem ser deixadas de lado, ficando a análise adaptada ao contexto em que a frase é pronunciada.

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