Questão 1 – (Enem 2015) A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um. O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?
A A tentativa de justificar a partir de elementos empíricos, o que existe no real
B O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
C A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
D A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
1ª justificativa: a pergunta da questão é: Como Nietzsche caracterizava o surgimento da filosofia entre os gregos?
Identificada a pergunta, sugiro que vocês procurem no enunciado o que é dito sobre a pergunta. Nietzsche dá três razões para justificar porque a proposição 'a água é a origem e a matriz de todas as coisas': 1. pois ela enuncia algo sobre a origem; 2. ela enuncia a origem sem imagem ou fabulação; 3. nela está contida a frase: 'tudo é um' (de Parmênides) de maneira clara.
Com a pergunta e o que diz o enunciado sobre a pergunta, vamos para as alternativas:
a alternativa A está errado por causa da justificativa 1 (muitos tiverem dificuldade de entender o empírico. Empírico vem de empiria, aquilo que é resultado da experiência. É um conceito da filosofia moderna onde se isola um determinado evento e a partir dele o pesquisador constrói uma teoria).
a alternativa B está errado por causa da justificativa 2
a alternativa C está certa por causa das justificativa 1,2 e 3
a alternativa D está errada por causa da justificativa 3 (também aqui o examinador usou um conceito da filosofia moderna: método)
2ª justificativa: o examinador quer que você saiba que para Nietzsche a filosofia grega surgiu pela tentativa de explicar a origem de tudo sem recorrer as imagens criadas pelos poetas, mas recorrendo a razão. (para sacanear o Nietzsche podíamos perguntar se a razão não também um tipo de imagem?)
É muito importante que vocês fiquem atentos a esse procedimento. Temo que sem esse cuidado vocês terão muita dificuldade em revolver uma questão de filosofia do enem. É importante também vocês irem se apropriando dos exercícios que vocês forem fazendo, anotem as ideias gerais das questões e as palavras que vocês não entenderam.
Atividade das questões do ENEM
Em dupla ou trio escolham 5 questões e façam o seguinte:
a) com suas palavras escreva a pergunta da questão
b) escreva o significado da principal palavra da pergunta
c) escreva o que o enunciado diz da pergunta
d) pesquisa no dicionario e na internet os possíveis sentidos das palavras que vocês não conhecem
e) caso tenham dúvidas anotem
f) aqueles que conseguirem, em cada uma das alternativas, a partir das etapas anteriores, diga o porquê de uma questão estar certa e uma outra estar errada (isso não será cobrado no 1 bimestre, mas quem quiser treinar pode)
segue algumas questões de Enem e de vestibulares (obs: em sala, passei uma folha com 18 questões para vocês escolherem, porém, algumas questões são mal formuladas, então eu tirei algumas, mas mantive a numeração)
FILOSOFIA ANTIGA NO ENEM E UNICAMP
5 – (Enem 2012) Texto I: Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras. BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
Texto II: Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.” GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado). Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional.
As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que:
A eram baseadas nas ciências da natureza.
B refutavam as teorias de filósofos da religião.
C tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
D postulavam um princípio originário para o mundo.
E defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
6 – (Unicamp 2013) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos.
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas abstratas.
10 – (Enem 2015) Suponha homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se estende sobre todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância, as pernas e o pescoço presos por correntes, de tal sorte que não podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois os grilhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa ao longe, numa elevada do terreno, brilha por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao longo do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos tapumes que os manipuladores de marionetes armam entre eles e o público e sobre os quais exibem seus prestígios.
PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.
Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural do pensamento grego antigo, cuja ideia central, do ponto de vista filosófico evidencia:
A caráter antropológico, descrevendo as origens do homem primitivo.
B sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da sociedade ateniense.
C vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e cômicos gregos.
D sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da democracia ateniense.
E teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo ilusório para o mundo das ideias.
11 – (Enem 2015) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado). O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?
A Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas.
B Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles.
C Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis.
D Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.
E Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.
13 – (Ufu 2010) Conforme o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, Platão emprega a palavra silogismo para definir o raciocínio em geral. Aristóteles, por sua vez, o define como o tipo perfeito de raciocínio dedutivo, “um discurso em que, postas algumas coisas, outras se seguem necessariamente.” Considere que a premissa “Todo atleta treina”, sentença universal e afirmativa, é a premissa maior de um silogismo, cuja conclusão é: “Logo, Maria treina”.
(ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2003.)
De acordo com tal definição, assinale a alternativa que indica, corretamente, a premissa menor:
a) Maria não é atleta.
b) Maria não treina.
c) Maria é atleta.
d) Maria é atleta, mas não treina.
14 - (UEL – 2011) Aristóteles, Ética a Nicômaco, virtude como mediania entre extremos.
Leia o texto a seguir. A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. (Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273). Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética:
a) reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta.
b) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na falta.
c) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta.
d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas.
e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos.
16 – (Enem 2012) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade. ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica como
A busca por bens materiais e títulos de nobreza.
B plenitude espiritual e ascese pessoal.
C finalidade das ações e condutas humanas.
D conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
E expressão do sucesso individual e reconhecimento público.
17- (UEL – 2011) Leia os textos a seguir.
Aristóteles, no Livro IV da Metafísica, defende o sentido epistêmico do princípio de não contradição como o princípio primário, incondicionado e absolutamente verdadeiro da “ciência das causas primeiras”, ou melhor, o princípio que se apresenta como fundamento último (ou primeiro) de justificação para qualquer enunciado declarativo em sua pretensão de verdade. “É impossível que o mesmo atributo pertença e não pertença ao mesmo tempo ao mesmo sujeito, e na mesma relação. [...] Não é possível, com efeito, conceber alguma vez que a mesma coisa seja e não seja, como alguns acreditam que Heráclito disse [...]. É por esta razão que toda demonstração se remete a esse princípio como a uma última verdade, pois ela é, por natureza, um ponto de partida, a mesma para os demais axiomas.”
(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro IV, 3, 1005b apud FARIA, Maria do Carmo B. de. Aristóteles: a plenitude como horizonte do ser. São Paulo: Moderna, 1994. p. 93.)
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre Aristóteles, é correto afirmar:
a) Aqueles que sustentam, com Heráclito, conceber verdadeiramente que propriedades contrárias podem subsistir e não subsistir no mesmo sujeito opõem-se ao princípio de não contradição.
b) Pelo princípio de não contradição, sustenta-se a tese heracliteana de que, numa enunciação verdadeira, se possa simultaneamente afirmar e negar um mesmo predicado de um mesmo sujeito, em um mesmo sentido.
c) Nas demonstrações sobre as realidades suprassensíveis, é possível conceber que propriedades contrárias subsistam simultaneamente no mesmo sujeito, sem que isso incorra em contradição lógica, ontológica e epistêmica.
d) Para que se possa fundamentar o estatuto axiomático do princípio de não contradição, exige-se que sua evidência, enquanto princípio primário, seja submetida à demonstração.
e) Com o princípio de não contradição, torna-se possível conceber que, se existem duas coisas não idênticas, qualquer predicado que se aplicar a uma delas também poderá ser aplicado necessariamente à outra.
18. (Uel 2015) Mimesis em Platão e Aristóteles
Leia os textos a seguir.
A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo facto de atingir apenas uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma aparição. Adaptado de: PLATÃO. A República. 7.ed. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993. p.457.
O imitar é congênito no homem e os homens se comprazem no imitado. Adaptado de: ARISTÓTELES. Poética. 4.ed. Trad. De Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.203. Coleção “Os Pensadores”.
Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética e a questão da mímesis em Platão e Aristóteles, assinale a alternativa correta.
a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomênicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequado e inferior, tanto em relação aos objetos representados quanto às ideias universais que os pressupõem.
b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pintores e escultores representam perfeitamente a verdade e a essência do plano inteligível, sendo a atividade do artista um fazer nobre, imprescindível para o engrandecimento da pólis e da filosofia.
c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à reprodução de objetos existentes, o que veda o poder do artista de invenção do real e impossibilita a função caricatural que a arte poderia assumir ao apresentar os modelos de maneira distorcida.
d) Aristóteles concebe a mímesis artística como uma atividade que reproduz passivamente a aparência das coisas, o que impede ao artista a possibilidade de recriação das coisas segundo uma nova dimensão.
e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação e entende que a música, o teatro e a poesia são incapazes de provocar um efeito benéfico e purificador no espectador.