quarta-feira, 13 de maio de 2020

Porphyrio - Discussão preliminar Estado Moderno e povos indígenas

Discussão preliminar Estado Moderno e povos indígenas
Gersem José dos Santos Luciano (do povo baniwa) na tese ‘EDUCAÇÃO PARA MANEJO E DOMESTICAÇÃO DO MUNDO ENTRE A ESCOLA IDEAL E A ESCOLA REAL Os dilemas da educação escolar indígena no Alto Rio Negro’ conclui: os povos indígenas querem conhecer o mundo moderno e manter a sua tradição. Assim o Estado não pode impedir que esses povos mantenham seus costumes. Só que o Estado não é capaz de aprender as tradições, assim o Estado precisa ajudar esses povos a manter suas tradições.

Eduardo Viveiros de Castro em ‘O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem’ apresenta uma ideia interessante: na verdade foram os indígenas que catequizaram os europeus e não o contrário. 

Curso sobre relações internacionais dado na USP por Peter Demant. Nesse curso Peter fala algumas coisas importantes: as civilizações da Europa/Ásia/África guerreiam a muito tempo, em geral as civilizações agrícolas são invadidas por outras que querem seu território e/ou seu trabalho. De um certo modo era necessária uma grande organização, seja para se proteger seja para atacar outro povo. Essa organização recebeu muitos nomes: Império, Reino, Estado. É importante lembrar também que os povos vão se interagindo, seja por trocas, seja por casamentos, encontros, festividades.  


passando para o mundo moderno:
Em história estudamos aquilo que mudou de um período para outro, porém essas mudanças sempre ocorrem num longo período e além disso, muitas coisas de um período antigo acabam sendo absorvidas num novo período. Um exemplo é a mudança da monarquia para a república no sec. XVII na França. Nos livros didáticos, as vezes parece que a mudança foi total. Não nos parece, assim os reis e seus nobres possuíam uma estrutura de organização do Estado que se mantiveram depois da Revolução Francesa. Mas a Rev. Francesa modificou os reinos: os nobres e a igreja perderam momentaneamente seus poderes. Fixou-se ali a ideia de um documento que fosse capaz de limitar o poder do Estado com a declaração dos direitos do homem e do cidadão. Esse documento foi aprimorado gerando os Direitos humanos. Código supostamente universal que pretende garantir os direitos de todas as pessoas.

A ideias da rev. Francesa influenciaram a independência nas Américas, em especial no EUA e no Haiti.
um outro evento significativo é a revolução industrial. Ela consiste numa organização complexa de um determinado local para produção de produtos. Assim começa uma articulação entre o Estado e o conhecimento científico. Ciência aqui é a aplicação de conhecimentos da Física para produção de produtos, inicialmente roupas, mas também o conhecimento das máquinas que permite uma maior produção, mecanismos de expulsão das populações do campo para trabalharem nessas cidades, controle populacional, controle da produção de alimentos para essa população.
Na história tradicional parece que a Europa sempre foi o centro do mundo e só ela tem o conhecimento científico. Dussel na política da libertação mostra que a Europa só conseguiu uma certa liderança mundial a partir da rev. Industrial, consolidando-se apenas em 1989. Por outro lado, todos os povos possuem suas escolas filosóficas e suas ciências.
resumo da história da filosofia política a partir do Enrique Dussel (são 4 vídeos que fiz em 2017)

Sobre a colonização europeia (na verdade invasão de territórios)
No livro ‘História dos índios no Brasil’ Manuela Carneiro Cunha, importante Antropóloga portuguesa, relata a expertise de um indígena Tupinambá do Maranhão que por volta de 1610 fala o seguinte para alguns franceses: “vi a chegada dos peró [portugueses] em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós, franceses, fazeis agora. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar residência [...] mais tarde, disseram que nos deveríamos acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, e cidades para morarem conosco [...] mais tarde afirmaram que nem eles nem os paí [padres] podiam viver sem escravos para os servirem e por eles trabalharem. Mas não satisfeitos com os escravos capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda a nação [...]” (pg.15)

O raciocínio é o seguinte: o invasor vai se aproximando aos poucos, vai estudando o território e cooptando lideranças locais, para finalmente se fixarem no território possibilitando que outros dos seus venham para esse local. Isso aconteceu em vários lugares, em especial aqui no Brasil e nos EUA. Outra tática é acirrar as disputas internas dos povos locais para que eles não oferecessem resistência na ocupação.
Assim, depois de ir invadindo o território a partir da construção de fortes e da apropriação dos conhecimentos locais, os europeus, usando a teologia cristã, irão apagar as origens desses conhecimentos e seus modos de vida, impondo-os o modo de vida urbano. E a escola auxilia nesse processo.
Em relação aos povos indígenas temos três tidos de desdobramentos: 1. Muitos morrem com o contato com os europeus; 2. Parte se integra (casamento, escravo); 3. Muitos fogem para dentro do território.
Viveiros e Castro e Manuela falam que muitos morreram no primeiro contato pois não possuíam anticorpos contra as bactérias e os vírus que os portugueses traziam.

O cristianismo foi importante nos processos de fixação do território. A igreja Católica filiou-se ao império romano em 313, modificando-o e sendo modificado por ele. Assim a Igreja passou a ser detentora de terras e, em contrapartida, passou a organizar as universidades. No sec. XV porém há um questionamento do seu funcionamento, gerando com isso a reforma protestante. Assim, na Europa, a criação dos Estados, com a justificativa da ciência moderna, tentou desqualificar o ensino da Igreja.
Segredos da vida Moderna:
Exemplos:
A partir da fala de um amigo, Raul Pinheiro: a fábrica da Samsung não permite que todos os conhecimentos venham para o Brasil
Marcio Cataia na palestra ‘Desigualdades territoriais e crise política no Brasil: tensões do século XXI’ mostra como na troca de governo em 2016, de Dilma para Temer, a divulgação de dados sobre o repasse de dinheiro para as prefeituras foi retirado das páginas do governo federal.

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