Sobre o Brasil (para todas as turmas)
A história do Brasil é muito complexa, por isso vamos apenas indicar algumas coisas que para nós são fundamentais nessa conversa. Em primeiro lugar precisamos lembrar de 4 civilizações que hoje são fundamentais para o território brasileiro: primeiro, os povos tradicionais; segundo, os europeus; terceiro, os povos africanos que foram forçados a vir; quarto, os chineses. (segue abaixo os link para uma primeira discussão sobre cada um desses povos) (obs: sobre os povos europeus veja postagem sobre história no link sobre a china)
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2020/05/
http://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2019/08/todas-as-turmas-historia-preliminar-da.html
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É muito difícil ao um cidadão
comum possuir informações corretas acerca do funcionamento dos Estados.
Além das complexidades inerentes ao funcionamento das nações soma-se os sigilos
que elas precisam manter a fim se preservar. Uma forma de se obter informações
acerca do funcionamento de um dado de um país é a partir da diplomacia. Um país
envia para o país que quer estabelecer relações (em geral, comerciais) um grupo
de pessoas, os diplomatas, e por outro lado, recebe um grupo de pessoas deste
país. Esses diplomatas acompanham os acontecimentos do país que estão morando
para reportar para seu país de origem. Tem
uma questão aqui, o governo do país onde estão os diplomatas de outro país vai
querer apresentar uma imagem positiva para esses diplomatas. Assim, eles, os
diplomatas, precisam trabalhar para fornecer ao seu país de origem informações
coerentes acerca da realidade. Vejamos algumas informações de alguns diplomatas
brasileiros que viveram na China.
Segundo Celiane Ferreira da Costa
(2018) a relação entre Brasil e China depois da II Guerra Mundial foi bastante
conturbada. Alinhado aos interesses estadunidenses o Brasil, sob liderança do
General Enrico Gaspar Dutra, em 1949, devido a criação da República Popular da
China (RPC), o Brasil rompe relações diplomáticas com a China, retirando de lá
seus diplomatas. Porém, no inicio da década de 60 o Brasil, então governado por
Jânio Quadros e pelo seu vice João Goulart que eram favoráveis a entrada da RPC
na Organização das Nações Unidas (ONU), tentam uma aproximação comercial.
Com essa aproximação com a China e sendo acusado de ‘Comunista’, Jânio renuncia
e pouco tempo depois ocorre o golpe militar no governo de João Goulart. O golpe
aconteceu dia 01 de abril de
1964, dois
dias depois nove chineses que estavam organizando uma exposição comercial foram
presos e torturados. Um ano depois eles foram enviados novamente para a China. Em
2014 o governo brasileiro coordenado por Dilma Rousseff admite o erro e “os nove
chineses foram condecorados com a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais
alta insígnia do Brasil.” (p.12)
A China voltou a ter relação com
o Brasil em 1973.
Nessa época Mao Tse-tung era o líder chinês e no lado brasileiro, Emílio
Garrastazu Médici liderava a ditadura militar brasileira. Essa relação foi
continuada ao longo dos anos e com Deng Xiaoping, novo líder chinês a partir de
1978, iniciou, junto com seus acadêmicos, estudos acerca dos países ocidentais.
No caso dos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, sua orientação
foi buscar entender como esses países se desenvolveram. Para entender melhor o
Brasil, vamos fazer uma pequena digressão.
A realidade brasileira atual devem-se
ao seu passado colonial e escravista. Tendo, ao longo dos séculos XVII, XVIII e
XIX, construído uma estrutura exportadora (com plantation), com o fim da
escravidão no fim do século XIX, os governantes brasileiros, parte dele formado
por militares, adotaram uma política do embranquecimento da população
brasileira a partir por um lado do abandono da população negra e mestiça que
havia sido escravizada e por outro pela atração de populações brancas do mundo
inteiro.
Diversos povos vieram para o Brasil, árabes, japoneses, chineses, mas os povos
que vieram em maior número foram os italianos e os alemães, em especial para o
sudeste e sul do país.
Em meados do sec. XX o Brasil
passou por um processo de modernização: construção de ferrovias, instalação de
indústrias, criação de universidades, aparelhamento da estrutura do Estado. Uma
dessas instituições, a Universidade de São Paulo (USP) contou com o auxílio de franceses,
ingleses e alemães para construir umas das primeiras universidades do Brasil.
Iniciou-se também nesse movimento a
industrialização no Brasil. Desse modo iniciou-se um
processo de transmissão de tecnologias e
conhecimento de saberes produzido na Europa para o Brasil.
Dois outros saberes produzidos na Europa e
práticos no Brasil foram o regime político e a estrutura religiosa cristã.
Desde a independência em 1822 o Brasil tem eleições para representantes
políticos, adquirindo assim a democracia republicana europeia.
Porém apenas aqueles que tinham renda poderiam votar, mesmo assim, os nomes dos
mais votados passavam pela escolha do Imperador.
No que diz respeito a ordem religiosa
instalada no Brasil grosso modo mantiveram o pensamento colonial: é preciso
educar na fé crista e nos costumes europeus a população.
Assim, a população que estava aqui antes da
colonização, bem como os que haviam sido escravizados, e
posteriormente os japoneses, árabes, judeus,
entre outros, foram ‘educados’ e julgados pelas lentes de certo cristianismo.
Assim o Brasil foi constituído
pelo colonialismo escravista português que inicialmente optou por usar o
território para produzir alimentos para a Europa e para o comercio de
escravizados na África. Esses portugueses e seus descendentes valeram-se da
organização política europeia e da transmissão da espiritualidade crista
modificada pelo império romano.
No
século XX, com a vinda das indústrias, o crescimento das cidades, a atração de
migrantes de diversos lugares, o quadro começou a se modificar. O Brasil foi
aos poucos deixando de ser um país colonial rural para se tornar um país urbano
a partir do modelo Europeu.
Ao mesmo tempo em que ocorreu
esse ‘desenvolvimento’, e a ditadura de 1964 é a maior prova disso, houve uma
contenção. É preciso lembrar que a partir do fim da segunda guerra mundial foi
declarada os direitos humanos ao mesmo tempo que foi iniciado a Guerra Fria a
fim de conter a influência da URSS pelo mundo. Umas dessas estratégias foi
cooptar lideranças militares pelos países a fora. No Brasil e na América Latina
não foi diferente.
Esse é um dos motivos que a relação entre Brasil e China só foram
intensificados na redemocratização. Uma dessas parcerias foi a Cooperação
espacial Brasil República Popular da China (CBERS). A partir desse projeto
Brasil e China conseguiram desenvolver uma tecnologia similar aos dos países
ditos desenvolvidos ao ponto de hoje ceder imagens de satélite a países da
América Latina e África.
Outra parceria importante foi à área de construção de hidroelétrica, técnicos
chineses vieram aprender com técnicos brasileiros os detalhes da construção.
Em paralelo a esses projetos, Brasil e China iniciaram na década de 90 sua
parceria comercial mais intensa, em especial minérios e produtos agrícolas. Este
comércio foi crescendo ano a ano a ponto de na primeira década do século XXI a
China ser o principal parceiro comercial do Brasil.
Se o Brasil se constituiu como um
país agrário exportador para depois se tornar um país urbano de modelo europeu,
a China foi um país predominante rural até início do século XXI para depois, a
partir da modernidade europeia do século XX tornar-se um país urbano
capitalista.
Sua população viveu nos últimos milênios produzindo para subsistir e contribuindo,
cada um ao seu modo, ao Império chinês por meio de impostos.
Segundo Fei Xiaotong isso resultou num modo de vida (comportamental, racional,
espiritual) completamente distinto do ocidente e, consequentemente, do Brasil.
Para ele, em geral, os chineses se percebem como parte de um todo, como numa
teia onde cada um dos seus pontos está conectada a outros pontos.
Assim, os valores que predominam são a piedade filial, o dever fraterno, a
lealdade e a sinceridade. Além do mais a desigualdade entre as pessoas é vista
como natural.
Essa desigualdade é representada pelo símbolo do Yin Yang, onde um extremo completa
o outro.
Para Fei Xiaotong três são os
tipos de pessoas que vivem na China: os camponeses que mantem tradições
milenares, as pessoas que vivem nas grandes cidades no interior do país e as
pessoas que vivem no litoral e absorveram modos de vida de outros lugares,
entre eles o ocidente.
Em paralelo com reaproximação com
o ocidente, burlando a guerra fria, o governo chinês criou uma estrutura para
recebimento de empresas ocidentais, são as Zonas econômicas especiais (ZEE).
Porém essas empresas eram proibidas de vender seus produtos para o mercado
chinês. Nesses locais os chineses conseguiram organizar a transferência de
conhecimento em vários níveis, tanto do nível da produção, como no nível da
logística.
Como vimos
impera no Brasil os modelos de sociabilidade europeu e norte americano. Isso é
claro no universo escolar, seja ele de nível básico, como de nível superior,
quando, por exemplo, observamos o ensino de línguas.
No nível básico aprende-se o português, o inglês e apenas recentemente foi
inserido o espanhol. No nível superior outras línguas modernas, como francês,
italiano e alemão recebem destaques. Línguas antigas como o latim e o grego
também possuem cursos regulares. Línguas árabes, línguas indígenas, línguas
africanas e línguas orientais são quase inexistentes. Além da língua, a cultura
e o modo de vida de outros povos (etnias) ainda são desconhecidos da população
brasileira, gerando muitos preconceitos. Pensando nisso e sabendo que a Unicamp
recebe pesquisadores do mundo inteiro vou rascunhar um projeto para permitir a
população brasileira conhecer as diversas etnias espalhadas pelo mundo.
Escola multiétnica a partir de
pesquisadores estrangeiros em universidades brasileiras
Um primeiro
trabalho que poderia ser feito é saber como ocorre a recepção de pesquisadores
estrangeiros nas universidades brasileiras? Como eles são recebidos? Quais são
suas necessidades para morar nas cidades brasileiras durante o tempo de suas
pesquisas? Esses pesquisadores conseguem manter no Brasil o padrão de vida que
possui em seu país de origem? E seus filhos, possuem uma educação que permita a
eles aprenderem a língua e a cultura do Brasil ao mesmo tempo aprender a
cultura e a língua do país de origem dos seus pais? O que precisa ser feito
para que isso seja possível?
A fim de
absorver o conhecimento dos estrangeiros que procuram as universidades
brasileiras, vou propor aqui a criação de uma escola multiétnica. Essa escola
seria destinada inicialmente para pesquisadores estrangeiros que possuem filhos
em idades escolar, de 4 até 16 anos. Tendo estudado em uma escola regular meio
período, no outro período a universidade organizaria para que essas crianças
junto com seus pais pudessem manter os saberes de seu país (etnia) de origem.
Assim: a língua, as histórias, as brincadeiras, os jogos, os tipos de
alimentação, a vestimenta, a relação com o divino, enfim, os modos de
existência deste país (etnia) possam ser sistematizados a fim de ser aprendido
tanto pela criança desta etnia como das outras crianças de outras etnias. Para
que no caso da primeira o impacto da mudança seja amenizado e no caso da
segunda seja uma abertura para o conhecimento de um novo modo de vida.
A proposta
então é a criação de um espaço multiétnico nas universidades brasileiras onde
crianças de diversas nacionalidades possam aprender umas com as outras. Em
primeiro lugar isso só é possível com a participação ativa dos pais, pois são
eles que irão apresentar para seus filhos a cultura e a língua de sua nação de
origem. Então, num primeiro momento a proposta é que os pais possam selecionar
as informações, os textos, as brincadeiras, os jogos, as práticas culturais que
são significativas para serem apresentadas para crianças de outras
nacionalidades. Algumas sugestões para iniciar este processo: construção de
casas coletivas com materiais e procedimentos de cada um dos países
participantes do projeto; cultivo de plantas típicas; nos encontros praticar
brincadeiras e jogos típicos; ouvir e executar músicas típicas; ler textos de
literatura na língua dos participantes; ler notícias dos meios de comunicação
dos países de origem. Todas as propostas realizadas deveram ser traduzidas, se
possível pelas crianças/adolescentes de uma língua para outra.
Referencias Bibliográficas
Biato Jr., Oswaldo. 2010.
A Parceria Estratégica Sino-Brasileira: origens e perspectivas
(1993-2006). Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão.
Castilho, Fausto. O conceito de universidade no projeto da
UNICAMP. Organizador: Alexandre G. T. de Soares –Campinas, SP: Editora da
UNICAMP, 2008.
COSTA, C. F. da. Análise das relações sino-brasileiras a
partir da prisão de nove chineses no início do governo militar (1964). Ideias,
Campinas, SP, v. 9, n. 2, p. 7–30, 2018. DOI: 10.20396/ideias.v9i2.8655178.
Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8655178.
Acesso em: 8 nov. 2021.
DWYER, Tom Organizador et al. Jovens Universitários em um
Mundo em Transformação: uma pesquisa sino-brasileira. 2016. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=28162
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O mármore e a murta: sobre a
inconstância da alma selvagem. In. Viveiros de Castro, E. A inconstância da
alma selvagem. São Paulo: Ed. Cosac & Naify, 2002, 181-264.
Moreno , Camila
. O Brasil Made in China : para pensar as reconfigurações do capita . .ed. São
Paulo : Fundação Rosa Luxemburgo , 2015.
Mesmo o Estado brasileiro tem dificuldades de possuir informações acerca do seu
território. Michel Nicolau certa vez apontou a opção pela ênfase na teoria da
sociologia brasileira já que uma sociologia com base empírica possui um custo
elevado.
A visita
pode ser vista pelo Youtube em ‘Visita à China de João Goulart 1961’ a partir
do link:
https://www.youtube.com/watch?v=kJdopHYmmnk.
Estamos usando o texto: Biato Jr., Oswaldo. 2010.
A Parceria Estratégica Sino-Brasileira: origens e perspectivas
(1993-2006). Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão. Disponível no link:
http://funag.gov.br/loja/download/899-A_Parceria_Estrategica_Sino-Brasileira.pdf.
Desde da criação da ONU em 1945 há uma
tentativa por parte deste órgão de organizar estudos sobre o que está
acontecendo em todos os países. Um dos limites deste órgão é que ele é
organizado por agentes de países europeus. Brasil, China, Rússia e Índia (e
posteriormente a África do Sul) ao criarem o BRICS tentam atuar junto a ONU e
outros Órgãos internacionais para reverter essa situação.
Um dos motivos desse abandono das autoridades brasileiras em relação da
população que foi escravizada
decorre do
não reconhecimento daquilo que foi produzido pelos escravizado, ou melhor,
daquilo que foi produzido em conjunto entre a população libre e a população
escravizada.
Em
relação ao modelo político três revoluções são importantes: Revolução Inglesa
(1640-1688); Revelução Americana (1775-1783); Revolução Francesa (1789-1799). Para
uma introdução aos aspectos políticos dessas revoluções podemos assistir às
aulas correspondentes no curso de relação internacional de Peter Demant.
Esse cristianismo associado ao Estado é distinto do cristianismo tal como é
descrito no Novo Testamento. Dussel (2014) chama o primeiro de Cristandade e o
segundo de Cristianismo. Na verdade o que veio para o Brasil foi uma mistura
dos dois. O mesmo Dussel e outros, como Viveiros de Castro (2002), apontam que
os povos que estavam aqui antes da chegada dos europeus eram mais cristãos do
que os próprios europeus, uma vez que se dedicavam a uma vida simples tal como
Jesus e seus primeiros discípulos, e que os ditos cristãos eram gananciosos
pela terra e pelo comércio.
Uma dessas experiências foram as privatizações de empresas estatais. Podemos
sintetizar essa experiência do seguinte modo: um país x pede empréstimos ao
pais y para construir infraestrutura urbana (portos, hidroelétricas, saneamento
básico, escolas, hospitais, etc). Por meio de impostos o pais x paga essa
dívida. Tendo construído essa estrutura pode-se ao mesmo tempo ‘atrair’ as
empresas e num segundo momento alugar ou vender a administração dessas
estruturas.
Segundo Moreno em 2015 o Brasil era o maior exportador de imagens de satélite. O
livro pode ser baixado pelo link:
https://rosalux.org.br/o-brasil-made-in-china-3/.
Hoje, em 2021, empresas chinesas e empresas brasileiras são parceiras na
produção e distribuição de energia elétrica.
Alguns chamam de capitalismo de Estado, capitalismo com características
chinesas, ou mesmo Comunismo de mercado. O nome importa pouco, o que nos parece
mais importante é verificar como se dá a relação da China com outros países do
mundo.
Segundo Valter Pomar em sua apresentação da historia da China de 210 a.C. até
1950 houve 24 dinastias que se sucederam no poder do Império Chinês. As principais
são: Yuam (1271-1368), Ming (1368-1644), Qin ou Manchur (1614-1911). De 1911
até 1949 houve guerra civil. Em 1949 assumiu o poder o Partido Comunista
vencendo o partido nacionalista que se refugiou em Taiwan.
“uma teia de relações sociais ligadas ao parentesco é específica para cada
pessoa, cada teia tem um eu como centro, e cada teia tem um centro diferente”
(p.62).
Fei a partir de Confúcio apresenta esses valores em contraposição a dois
valores que para ele são predominantes no ocidente, o amor fraterno e o ideal
de igualdade. Este último é fruto de uma sociedade que se constituiu a partir
da guerra e do confronto.
É preciso lembrar que o trabalho de Fei Xiaotong é de meados do século XX.
Segundo Biato (2010) o governo Chinês propôs as ZEEs observando a zona franca
de Manaus no Brasil.
Podemos estender para o ensino de Filosofia, Sociologia, História, Literatura,
Matemática, entre outros.