quinta-feira, 3 de julho de 2014

Limitações do professor de filosofia (todas as turmas)

Sobre o ensino de filosofia 1
Para começar a discutir o ensino e a aprendizagem de filosofia como Platão recomenda vou começar pela minha experiência pessoal. Acho que experimentei um pouco do que é aprender e/ou ensinar filosofia no final da graduação quando estagiei no Cotuca (Colégio Técnico de Campinas – Unicamp). Naquela época eu considerava que tinha aprendido um pouco que um filósofo explicava quando em todas as atitudes, em todos os pensamentos, em todos os sentimentos, em todos os desejos, eu considerava o texto, a aula, o pensamento de um filósofo (tive a sorte de começar por Hector Benoit e depois pelo diálogo Protágoras de Platão).
Se nisto há algum sentido, há inúmeras consequências para o universo escolar (minha referencia atual é a sofrida Educação do Estado de São Paulo, onde atuo como professor OFA, incluo nisso também a graduação de filosofia na Unicamp). Uma delas será a impossibilidade de avaliar - com algum critério razoável - o que um aluno de filosofia aprendeu de um suposto professor de filosofia. Como um hipotético filósofo, no caso um professor, pode avaliar aquilo que um provável aluno aprendeu de uma teoria imaginária, no caso, o que um dado filósofo disse certo dia.
Outro detalhe, academicamente um estudante de filosofia pode falar com alguma propriedade sobre um determinado filósofo depois de fazer um curso de pós-graduação e/ou depois de fazer um artigo ‘científico’ sobre este ou aquele suposto filósofo. Porém, um aluno ao fim da graduação (minha experiência como aluno de graduação de filosofia da Unicamp transcorreu nos anos de 2005 a 2010) possui apenas alguns trabalhos escolares sem muita conexão sobre supostos filósofos ou sobre hipotéticos temas filosóficos que seus pretensos professores de filosofia lhe pediram.
É quase uma utopia, mas como a linguagem não abarca o real (ref. Crátilo de Platão) podemos sonhar, ou para quem prefere um verbo mais moderno, viajar: o ideal seria o professor de filosofia ter um tempo para assimilar um hipotético filósofo, aplicando constantemente no seu dia a dia, e só depois disso, este candidato a filósofo, ou melhor, um sofista do filósofo poderia dar uma aula. (ref. Sobre o filósofo e o sofista, texto anterior)
Parto aqui do princípio que filosofia não é texto.  Muito menos filosofia é apenas discutir textos ‘considerados’ filosóficos. Qualquer texto, ou aula, ou bate-papo é apenas um ponto de partida.
Discutir filosofia é discutir tudo o que interessa à mulher, ao homem, as mulheres e aos homens. Discutir filosofia é discutir a arte dos sapateiros, dos artesãos, dos poetas, da cultura (ref. Teeteto de Platão).
Fazer filosofia é questionar o conhecimento que temos sobre o funcionamento do corpo humano, das sociedades, das religiões. É criar lógicas, é discutir o universo, o cosmos, ou seja, é discutir tudo. Mas como ensinar tudo, ou antes, como aprender tudo, ou ainda como selecionar entre tudo isso algo que seja plausível de se discutir nos infinitos 50 minutos?

ensino de filosofia e cidadania
a LDB diz que a disciplina filosofia no ensino médio deve 'formar' cidadãos. ninguém discordaria disso. ainda mais na nossa 'democracia'. se perguntarmos de onde é este cidadão a resposta seria imediata: do brasil (isso porque ainda não nos pensamos como cidadãos mundiais). porém qual é o brasil que este cidadão deve atuar? o que é o brasil? e mais como este cidadão deve se comportar no brasil? mas há ainda outro problema: se estamos falando em formar cidadãos, significa que ele ainda não está formado, ele ainda não está pronto para conviver na sociedade brasileira. a formação de um cidadão, pela filosofia, demanda 3 anos. assim, o professor de filosofia precisa preparar seus alunos para que ele seja cidadão em um brasil - próximo é verdade - que ainda não é, é o brasil daqui a 3 anos. fica a pergunta: como será o brasil daqui a 3 anos para que um professor de filosofia posso preparar sua turma para a cidadania?

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