terça-feira, 28 de maio de 2013
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Protágoras
Texto do Robson que comenta as falas de Protágoras no diálogo Protágoras de Platão
(primeiro capítulo da dissertação de mestrado do Robson)
1.1 – Introdução as falas de Protágoras
(primeiro capítulo da dissertação de mestrado do Robson)
1.1 – Introdução as falas de Protágoras
O diálogo Protágoras começa com Sócrates encontrando um amigo
ao acaso. A ele Sócrates diz que acabou de conversar com “o homem mais sábio do
nosso tempo” (309d), isto é, Protágoras. Esse amigo pede para Sócrates
contar-lhe a conversa caso ele não tenha algum compromisso.[1] (310a)
(CITAR O GREGO)
Então Sócrates começa a narrar para seu amigo que em plena
madrugada Hipócrates bate a sua porta e diz o motivo de sua vizita: “ontem à
noite... meu escravo Sátiro fugiu; pensei em vir comunicar-te que ia sair à sua
procura, mas qualquer coisa intercorrente me fez esquecer isso”[2] (310c). Hipócrates
continua dizendo que seu irmão lhe falou que Protágoras estava na cidade, por
isso ele veio até a casa de Sócrates a fim de pedir-lhe que intermediasse seu
aprendizado com Protágoras. Hipócrates então insiste para irem imediatamente a
casa de Cálias, lugar onde esta Protágoras. Sócrates, porém, contem a afobação
do jovem convidando-o para passear e conversar.[3]
Andando no pátio, Sócrates lhe pergunta o que ele quer
tornar-se com o ensino de Protágoras, ou seja, que profissão adquiriria se
Protágoras o ensinasse o que sabe (311c). Sofista, responde Hipócrates. Sócrates
por sua vez pergunta se ele não sente vergonha em querer ser sofista.[4] Diante
da confirmação de Hipócrates, Sócrates insere uma distinção quanto à finalidade
da aprendizagem. Pode-se aprender para ser tal como o professor ou “para fins
educativos, como convém a um jovem particular e livre” (312b). (CITAR O GREGO)
Essa educação, aponta Sócrates, foi adquirida com “os professores de gramática,
de citara e de ginástica” (312b)[5].
De certo modo Sócrates esta dizendo à Hipócrates que é
possível aprender do sofista sem que seja necessário tornar-se um.[6] Mas,
voltando ao diálogo, Sócrates questiona o saber do sofista. Hipócrates responde:
“é um individuo cheio de sabedoria”[7] (312c).
(CITAR O GREGO) Mas isso, questiona Sócrates, não revela muita coisa, outros
profissionais, como os pintores, podem também julgar-se sábios. Hipócrates, por
sua vez, afirma que os sofistas ensinam a arte de falar bem. Mas o problema
continua, indaga Sócrates, falar bem do que. A esse ponto Hipócrates não sabe o
que dizer.
Tendo preparado Hipócrates com a dúvida e a vergonha,
Sócrates pode enfim orientá-lo acerca do comportamento necessário diante de um
professor sofista. Então ele pergunta: “sabes o perigo a que vais expor tua
alma?” (313a) e continua dizendo que se fosse expor o corpo ao risco de
estragá-lo ou deixá-lo mais forte deveria refletir sobre o assunto e também
consultar parentes e amigos, porém, como o que está jogo na aprendizagem é a
alma, estes e outros cuidados devem ser tomados. Um deles decorre do fato do
sofista ser um comerciante, uma vez que ele vende um produto. Desse modo, como
todo comerciante, o sofista elogia em demasia o que vende. Outro cuidado que
pode ser tomado é verificar se entre os vendedores há aqueles que sabem como
exercitar a alma, tal como ocorre com um professor de ginástica; ou curá-la, no
caso de já ter sido adquirido algum conhecimento que a prejudique, tal como
ocorre quando procuramos um médico para cuidar do nosso corpo (314d).
No caso de conhecer, continua Sócrates, o que “é vantajoso ou
prejudicial para a alma, poderás comprar conhecimento sem perigo nenhum, não só
de Protágoras como de qualquer outro sofista.”[8] (313e) A
compra de alimento para a alma, alerta Sócrates, é diferente da compra de
alimento para o corpo, pois este último pode ser transportado em potes e levado
para casa. Antes desse alimento ser consumido podemos consultar um especialista
para nos informar acerta da quantidade e do tempo em que o alimento precisa ser
ingerido. O alimento da alma precisa ser adquirido no momento da aula, uma vez
que é a própria alma o pote (314ab).[9] Porém, ainda que transportado direto na alma
esse conhecimento deve passar pela avaliação de pessoas mais velhas (314b).
Sócrates narra que depois de ter convencido Hipócrates acerca
da importância das preocupações que devem ser tomadas, tanto antes como depois
do aprendizado, eles chegam ao local onde está Protágoras. Porém, como eles não
haviam concluído o assunto, eles ficam por algum tempo na entrada da casa
conversando.[10]
Também na entrada da casa encontraram um guarda que
inicialmente não os deixa entrar, porém com a insistência de Sócrates conseguem
autorização para falar com Protágoras.[11] Ao
entrar Sócrates descreve o ambiente e quem esta dentro da casa. Entre elas
estão: Pródico, Alcebíades, Hípias, os filhos de Péricles, entre outros. Em
seguida Sócrates dirige-se a Protágoras dizendo que quer falar com ele junto
com Hipócrates.
Protágoras pergunta se querem falar “em particular ou na
presença destas pessoas”[12] (316b).
Sócrates responde que para eles é indiferente deixando a escolha para Protágoras.
O assunto, diz Sócrates, é que Hipócrates possui “dotes naturais” e quer “tornar-se
figura de relevo em nosso cidade”[13] (316c).
(CITAR O GREGO) Protágoras por sua vez afirma que é correta a atitude de Hipócrates,
porém sendo ele um estrangeiro que convence a juventude a abandonar a companhia
dos parentes em detrimento a sua, precisa tomar alguns cuidados, uma vez que
ele causa inveja.[14] (316d)
Protágoras continua dizendo que a arte sofística é muito antiga e que seus
praticantes utilizam-se de subterfúgios para escondê-las por medo da inveja dos
homens. São eles: Homero, Hesíodo e Simônides na poesia; Orfeu nos mistérios e
oráculos; Icos e Heródico na ginástica; na música Agátocles e Pitóclides.[15] (316d)
Porém, afirma Protágoras: “declaro sem ambages que sou sofista e instruo os
homens, convencido de que essa precaução é melhor do que a deles e que mais
vale confessar do que negar. Aliais, não deixo de tomar outras medidas, que,
como a precedente e a ajuda de deus, me põem a coberto de incômodos, pelo fato
de apresentar-me como sofista.”[16] (317b)
(CITAR O GREGO) Protágoras continua apontando que exerce essa profissão a muito
tempo e, pelo fato de ser contrário ao uso de subterfúgios no ensino, pede à
Sócrates que conversem sobre o motivo da vizita na companhia de todos.
Sócrates aceita o pedido de Protágoras e tão logo as pessoas
que estavam na casa de Calias se acomodam, ele, a pedido de Protágoras, repete
o motivo da vizita, a saber, Hipócrates quer tomar lições com Protágoras e
gostaria de saber as vantagens de sua companhia. Protágoras então sustenta que Hipócrates,
ao frequentar suas aulas, “retornarás para casa melhor do que eras”[17] (318a).
(CITAR O GREGO) Sócrates questiona o ensino de Protágoras dizendo: “em que e a
respeito de que” (318d) (CITAR O GREGO) Hipócrates ficará melhor e terá
progresso. Protágoras responde que ele age de maneira diferente dos outros
sofistas. Eles ensinam cálculo, astronomia, geometria e música mesmo quando os
alunos julgam-se livres dessas matérias. Protágoras ensina o que o aluno se
propuser a estudar. Esta disciplina, continua ele, “é a prudência nas relações
familiares, que o porá em condições de administrar do melhor modo sua própria
casa e, nos negócios da cidade, o deixará mais do que apto para dirigi-los e
para discorrer sobre eles.” (318e-319a) (CITAR O GREGO)
Diante da revelação de Protágoras, Sócrates sintetiza seu
ensino: “te referes à arte política e que prometes formar bons cidadãos”[18] (319a)
(CITAR O GREGO) Depois da confirmação de Protágoras, Sócrates duvida que esta
arte possa ser ensinada e transmitida. Por isso, continua ele, quando nos reunimos
em assembleia se a deliberação for sobre a construção chamam os arquitetos, e
assim com as outras artes, se, porém, alguém que a cidade julga como um
profissional inapto para falar sobre o assunto, ela ri da sua opinião de modo a
fazê-lo desistir da discussão, diferente quando o assunto é “administração da
cidade qualquer individuo pode levantar-se para emitir opinião” (319d), tenha
ele a profissão que tiver, isso porque não estudaram isso com nenhum professor.[19] E,
continua Sócrates, “não é somente nas reuniões públicas que eles procedem desse
modo; na vida privada, também nosso melhores e mais sábios cidadãos são
incapazes de transmitir a alguém a virtude que lhes é própria”[20] (319de).
Sócrates dá o exemplo de Péricles que deu aos seus filhos professores de tudo,
exceto daquilo que lhe é próprio, a saber, a virtude política, inclusive ele
mesmo não deu aula para seus próprios filhos.
Por esses motivos Sócrates pede a Protágoras que lhe ensine o que
aprendeu sozinho, bem como o que aprendeu com as pessoas.
Protágoras então se propõe a ensiná-los e pede para que
escolham entre o mito e o discurso. Sócrates narra que muitos optarem em deixar
a escolha para Protágoras, que inicialmente prefere o mito.
1.2 - Mito de
Protágoras: mito de Prometeu
Havia um tempo em que só haviam deuses, porém, a partir de
determinado momento, os deuses geraram as criaturas, usando para tanto o fogo,
a terra e os elementos que se misturam a eles. (320d) Antes de levá-los a luz,
os deuses incumbiram a Prometeu e seu irmão Epimeteu a responsabilidade de
prover e dividir entre eles a capacidades convenientes. Epimeteu, porém,
convence seu irmão a realizar a tarefa sozinho com o seguinte argumento:
“quando tiver repartido você virá inspecionar” (320d).
Então Epimeteu “atribuiu força sem velocidade, dotando de
velocidade os mais fracos; a outros deus armas; para os que deixara com a
natureza desarmada imaginou diferentes meios de preservação: os que vestiu com
pequeno corpo, dotou de asas para fugirem, ou os provem de algum refugio subterrâneo;
os corpulentos encontraram salvação nas próprias dimensões” (320e-321a) E assim
equilibrou as capacidades de modo a que nenhum viesse a desaparecer por causa
do outro.
Uma vez protegidos um dos outros Epimeteu tornou-os
resistentes às interperes de Zeus dando a uns pelos e peles, a outros “cascos
nos pés e a outros garras; a outros ainda peles calorosas e desprovidas de
sangue. De seguida, determinou para todos eles alimentos variados, de acordo
com a constituição de cada um: a estes, erva do solo; a outros, frutos das
arvores; a terceiros, raízes, e a alguns, ainda, até mesmo outros animais como
alimento, limitando, porém, a capacidade de reprodução daqueles, ao mesmos
tempo que deixava prolíficas suas vítimas, para assegurar a conservação da espécie.”
(321b)
Todavia, chegada à vez dos homens receberem suas respectivas
qualidades, Epimeteu, que carecia de reflexão, já não possuía nenhuma
capacidade. Quando Prometeu veio inspecionar o trabalho do seu irmão e viu que
o homem, diferente dos outros animais, “se encontrava nu, sem calcados, sem
coberturas, nem armas” (321c), certo de que sem uma atitude sua o homem não se
salvaria, “roubou de Hefesto e de Atena a sabedoria das artes justamente com o
fogo – pois sem o fogo, além de inúteis as artes seria impossível o seu
aprendizado” (321d).
Ao receber o dote divino, o homem foi o único entre os
animais a levantar altares e a fabricar imagens dos deuses, “não demorou e
começaram a coordenar os sons e as palavras, a engenhar casas, vestes, calçados
e leitos, e a procurar na terra os alimentos” (322a). Apesar disso, os homens
viviam dispersos, sem conseguir viver em conjunto uma vez que Prometeu, que foi
castigado pelo primeiro crime, não conseguiu roubar a arte política de Zeus.
Sem a arte militar, que é parte da arte política, os homens eram frágeis em
relação aos outros animais que conseguiam matá-los. Os homens tentavam se
reunir para se protegerem dos animais, mas sem a arte política causavam-se
danos recíprocos (322b). Zeus, ao perceber que nossa raça desapareceria,
“mandou que Hermes levasse aos homens o pudor e a justiça, como principio
ordenador das cidades e laço de aproximação entre os homens” (322c).
Hermes então pergunta a Zeus: “distribuí-lo-ei como foram
distribuídas as artes? Estas foram distribuídas da seguinte maneira: um só
homem com o conhecimento da medicina basta para muitos que o ignoram,
verificando-se a mesma coisa com todas as outras artes. Devo proceder desse
modo com o pudor e a justiça, ou reparti-los entre todos os homens igualmente.”
(322cd) Zeus orienta-o a distribuir esses dotes a todos os homens, e acrescenta:
se algum homem não aceitar esses dotes “sofrerá a pena capital, por ser
considerado flagelo da sociedade.” (322d)
1.3 - Comentário ao
mito de Protágoras
Cassin (2005, p. 333, nota 4) diz que Sócrates em 361d3-4
compara-se a Prometeu.[21] Para
apontar a superioridade de Protágoras, ela o compara a Zeus, uma vez que ele
afirma que dá aos homens a virtude política, da qual faz parte a justiça e o
pudor. Não achamos que essa suposta vantagem é tão manifesta assim, além do
mais Protágoras poderia ser comparado a Hermes. De todo o modo, concordamos com
ela quando diz que o diálogo opera com uma relação de espelhamento entre deuses
e homens.[22]
Prometeu, no mito, é convencido por Epimeteu a deixá-lo
distribuir as capacidades aos seres. No início do diálogo, como vimos, Hipócrates
consegue persuadir Sócrates a ir com ele procurar Protágoras. Além disso,
Epimeteu é descrito com esquecido, característica que também é atribuída a
Hipócrates. Assim, haveria uma equivalência entre Epimeteu e Hipócrates.
Voltando a Sócrates e a Prometeu, ambos aparecem como
ladrões. Prometeu rouba o fogo, mesmo elemento que compõe os seres vivos, e o
entrega aos homens. Ele porém é descoberto e recebe uma punição que não é
manifesta. Seria seu crime merecedor de ‘pena capital’ ou de uma pena judicial
aplicada para evitar que, tanto o delinquente como as pessoas que o observaram,
não caíssem no mesmo erro? E Sócrates, teria conseguido roubar de Protágoras a
virtude política? Se sim, para quem ele entregou? Foi para Hipócrates? Sócrates
foi punido? Se sim, qual foi a sua pena?
Sobre a relação Prometeu e Epimeteu indica SOBRINHO “há uma
inversão de papeis e Epimeteu, astuciosamente, persuade a Prometeu para que, imprevidentemente,
delegue toda a tarefa de distribuição das potencias ao seu duplo mítico” (2012,
p. 67). Já Prometeu agiu sem pensar, não medindo as consequências do seu roubo.
Além do mais, a ação de Prometeu não foi suficiente para que os homens pudessem
viver em equilíbrio com os seres vivos. Por que Prometeu não pediu a Atenas e
Hefesto o fogo e a arte? Por que Prometeu não agiu como Hermes que, diante da
dúvida, sobre o que fazer consultou Zeus?
Também é apontada uma inversão de papéis entre Sócrates e
Protágoras. Protágoras que julga-se capaz de ensinar a virtude política, no fim
acha que ela não pode ser ensinada, Sócrates achava que ela não poderia ser
ensinada, passa a defender a possibilidade de seu ensino. Quais seriam as
consequências dessa inversão? Protágoras deixaria de ser professor de virtude,
deixando como Prometeu, a função para Sócrates?[23]
De fato, nos diálogos de Platão Protágoras não será mais
personagem, e Sócrates sempre fará referencia a ele sem, porém, confessar que
apreendeu com ele a ensinar a virtude política. Mas apenas a virtude política
dada por Sócrates seria suficiente? A quem corresponderá à função de Hermes
para corrigir as limitações de Sócrates?
Ainda sobre Prometeu não é dito como ele deu o fogo e as
artes aos homens. Entretanto, dada sua relação com Epimeteu, é possível que, do
mesmo modo que seu irmão estabeleceu o equilíbrio entre os animais, ponderando
qualidades e capacidades, também Prometeu visou isso ao dar as artes aos
homens. De certo modo isso pode ser extraído da pergunta que Hermes faz a Zeus.
Ele diz que as artes foram distribuídas de modo que um homem possuídos de uma
arte é suficiente para muitos.
Uma última observação sobre o mito: o elemento que Prometeu
deu aos homens, o fogo, é o mesmo do qual todos os seres são constituídos. Isso
significa que a partir de então o homem possui a capacidade e a
responsabilidade de manipular os seres vivos. Como aponta SOBRINHO (2012, p.
83) com o fogo os homens podem fabricar armas para caçar e também para se
matarem. Daí a necessidade de ‘pena capital’ imposta aos homens por Zeus.
1.4 - Grande Discurso
de Protágoras
Terminado o mito, Protágoras apresenta o que ficou conhecido
como ‘Grande Discurso’. Na verdade, Protágoras, tal como sugere para Sócrates
em 338e-339a acerca de como o homem educado deve porta-se diante da poesia, explica
o que lhe parece certo, fundamentando suas conclusões.
Protágoras inicia então em 322d retomando o que Sócrates
havia dito em 319bc. Sócrates, para provar que a virtude política não pode ser
ensinada, dizia que nas assembléias quando alguém vai discutir sobre questões
técnicas, porém sem possuir o devido conhecimento, todos riem dele, todavia,
quando o assunto é sobre a administração da cidade, todos podem falar.
Protágoras, num primeiro momento, diz a mesma coisa, quando alguém vai comentar
algum assunto técnico, sem conhecê-lo, é motivo de riso. Entretanto, em se
tratando de virtude política - e aqui ele acrescenta a questão da existência da
cidade, apresentada no mito (322b) - todos não só podem participar, como é
necessário a participação coletiva. Em seguida, Protágoras dá um exemplo para
reforçar o que disse. Alguém que se apresente como um bom tocador de flauta sem
sê-lo, provoca riso ou revolta. Já se tratando da virtude política, diante das
pessoas, todos devem dizer-se virtuosos, quem fala o contrário é considerado
louco e excluído do convívio social[24] (323bc).
Na seqüência, talvez para justificar o final do mito onde
Zeus ordena a Hermes que leve o pudor e a justiça, mas também uma lei que
determina que aquele que não é capaz de reter suas dádivas deverá ser punido
com a expulsão da cidade, Protágoras afirma que vai demonstrar que a virtude
política não é efeito do acaso ou um dom natural. Diz ele que diante de um
defeito natural ou acidental, não há repreensão ou castigo, as pessoas apenas
sentem pena do individuo. Porém quando se trata de qualidades que para ser
assimiladas precisam de estudo, exercício e aplicação, aqueles que não
conseguem adquiri-las são reprimidos e castigados (323de).
Protágoras então pede para Sócrates refletir sobre a
expressão “punir os culpados” (324a), ela é prova de que os homens acreditam
que a virtude política pode ser ensinada. Outra prova, indica Protágoras,
refere-se ao efeito social do castigo, as injustiças não são punidas por causa
do mal cometido, mas para que o infrator aprenda o que não pode ser feito e do
mesmo modo para aqueles que o viram sendo punido. E isso tanto na vida privada
quanto na pública.[25]
Em seguida Protágoras retoma a pergunta de Sócrates havia
feito em 320ab. Naquela ocasião Sócrates questionou o fato de que homens
virtuosos politicamente, por exemplo Péricles, conseguem para seus filhos
professores de tudo, exceto naquilo que são destaque. Ele insiste da
necessidade da virtude política para a existência da cidade e também da
aplicação do castigo para aqueles que se recusam a aprendê-la (325ab). Por fim
ele diz que toda a família preocupa-se com a virtude uma vez que ela mesma
corre o risco de ser prejudicada (325c).
Assim, continua Protágoras, no que diz respeito à família,
tanto o pai, a mãe como também o preceptor devem instruir e educar a criança
visando à virtude política. Caso ela não aprenda, a família deve agir do mesmo
modo quando árvores tortas são endireitadas, pelo uso da força. Depois os pais
enviam as crianças “para a escola e recomendam aos professores que cuidem com
mais rigor dos costumes do menino do que do aprendizado das letras e da
citara.”[26]
(325d) No que diz respeito ao ensino da leitura, os professores devem dar as
crianças obras de “bons poetas, que eles são obrigados a decorar, prenhes de
preceitos morais, com muitas narrações em louvor e glória dos homens ilustres
do passado, para que o menino venha a imitá-los por emulação e se esforce por
parecer-se com eles.” (326a) Já o professor de música deve deixa-los
temperantes por meio do ensino de harmonia e dos ritmos (326ab). O professor de
ginástica, por sua vez, não deve ficar para traz, deve preparar “para que
fiquem com o corpo em melhores condições de servir o espírito virtuoso, sem
virem a ser forçados, por fraqueza de constituição, a revelar covardia, tanto
na guerra com em situações consemelhantes.” (326c)
Ao saírem da escola, diz Protágoras, toda a cidade deve
ensinar as crianças suas leis, por meio do exemplo, do mesmo modo que quando aprenderam
a ler com o professor de gramática eram obrigadas a repetir o modelo (326d).
Com todo esse cuidado, tanto no público como na vida privada, a virtude será
ensinada (327e).
Protágoras, que ainda não havia respondido a pergunta de
Sócrates, repete-a: “qual é a razão de degenerarem muitos filhos de pais
excelentes?” (327e) Protágoras volta a usar o exemplo da flauta. Aqui, ele pede
para Sócrates imaginar uma cidade onde todos, cada um na sua capacidade,
necessitassem tocar esse instrumento.[27] Nesse
caso, todos teriam que ensinar a todos de modo que ninguém pudesse fazer
mistério do seu conhecimento. Nessa situação, os filhos dos bons flautistas não
seriam os melhores tocadores, porém o menino com mais habilidades musicais. De
todo o modo, todos teriam conhecimentos musicais superiores aos que nada
estudaram. O mesmo ocorre em relação à virtude política, mesmo o mais injusto
entre os homens criados na lei, é mais justo quando comparado aos que “não
tiveram nem educação, nem tribunais, nem leis.” (327cd)
Como todo mundo é professor de virtude política, diz
Protágoras a Sócrates, é que achas que não há professores, “por isso devemos
alegrar-nos quando aparece alguém de capacidade para fazer-nos avançar, por
pouco que seja no caminho da virtude. Tenho-me na conta de um desses, superior
aos demais homens no conhecimento daquilo que os pode deixar homens no
conhecimento daquilo que os pode deixar melhores e mais honestos, e me julgo,
sem dúvida, merecedor de receber o pagamento estipulado, se não maior ainda,
conforme os próprios alunos o declaram. Por isso, estabeleci a seguinte
modalidade de pagamento: depois de haver alguém tomado lições comigo, se
estiver satisfeito, paga-me a quantia combinada; caso contrário, entre num
templo e ali declare sob juramento quanto acha que valem os conhecimentos
adquiridos comigo, e deposite essa quantia.” (328bc)
Nessa última fala Protágoras diz que mesmo que o aluno avance
pouco em direção a virtude política, esse avanço deve ser considerado e comemorado,
uma vez que é difícil alguém ocupar-se dessa modalidade de ensino. Por isso,
julga-se no direito de receber o que havia sido estipulado, mas o aluno pode
avaliar sua aula no final. Se mesmo assim não houver um acordo entre eles,
Protágoras permite que seu aluno vá a um templo e deposite lá o quanto acha que
valeu a aula.
1.5 - Comentário geral
ao grande discurso e ao mito
O mito começa com os deuses criando os seres vivos, vai para
o modo como eles receberam suas características, passa pelas confusões de
Prometeu e Epimeteu para prover o homem e termina com Zeus permitindo que haja
uma primeira geração de cidadãos. No grande discurso Protágoras explica alguns
pontos do mito e dá continuidade a ele, apresentando elementos para a
existência de uma segunda geração: os filhos daqueles que receberam de Zeus o
pudor e a justiça.
Protágoras retoma dois pontos presentes no mito: a limitação
das técnicas para a criação da cidade e a necessidade do castigo. Este último
tema, que encerra o mito, é largamente desenvolvido por Protágoras. Ele defende
que a punição é necessária para educar tanto o individuo como a cidade. Este
novo tópico decorrente da punição, a saber, o beneficio da virtude política
tanto para vida privada do individuo como para vida pública na cidade aparece
no ‘Grande Discurso’ como uma espécie de refrão, ou se preferimos uma formula
homérica. Apesar disso, no grande discurso não é desenvolvido o modo como
poderia ocorrer uma divisão de tarefas na cidade, como dissemos, ainda que não
de maneira explicita, o mito apresenta alguns elementos que podemos utilizar
para inferir algo. A partir da fala de Hermes e da distribuição das capacidades
dos animais por Epimeteu, podemos dizer que na cidade as obrigações devem ser
divididas de modo equilibrado. Com isso, de certa forma, podemos dizer que o
mito completa o discurso.
Voltando a questão da educação ou da transmissão dos dotes
divinos da primeira para a segunda geração de habitantes da cidade, tema esse
que não havia sido tratado no mito, uma vez que ele acaba com a criação da
cidade; Protágoras insiste que o ensino da virtude política tem que ocorrer a
todos instante, a cada palavra e em toda ação. Assim desde o momento de
nascimento da criança, passando pela educação escolar, com o aprendizado da língua,
da musica e da ginástica, e depois, quando a criança já for adulta, toda
ocasião é motivo para o ensino da virtude política.
Por fim, apesar de Protágoras apresentar a sua forma de
cobrar pelas suas aulas, em nenhum momento do diálogo, é dito que Sócrates ou Hipócrates
tenham pagado Protágoras. Também não é dito que eles foram a um templo
depositar o que achavam justo pelo aprendido.
[1]
Protágoras é um diálogo onde Sócrates cumpre o papel de narrador, desse modo
tudo o que sabemos desse encontro nos é dito pela sua perspectiva. Além disso,
há alguns detalhes da relação do começo com o final do diálogo. No final do
encontro com Protágoras, em 362a, Sócrates diz que precisa acabar a conversa
porque tem um compromisso e aqui afirma não ter. Outro fato interessante do
diálogo é sua estrutura circular, ou seja, ele termina exatamente no ponto em
que começa.
[2]
Essa caracterização de Hipócrates como atrapalhado e esquecido nos parece ser
uma aproximação entre ele e Epimeteu. Adiante falaremos mais sobre isso.
[3]
Começa a partir desse ponto uma discussão sobre os problemas e benefícios do
ensino. Achamos que isso é uma indicação do cuidado do escritor do diálogo
diante do próprio texto, em outros termos é como se Platão estivesse alertando
seu leitor acerca do seu ensino.
[4]
Sofista é um termo que diálogos de Platão recebe vários atributos. Nesse
diálogo isso não é diferente, aqui para Sócrates, por exemplo, é uma profissão
que deveria causar vergonha. A vergonha como veremos é um dos dons que é dado
por Zeus aos homens no Mito de Prometeu.
[5]
Protogoras fala do ensino desses professores em 326ac. Achamos que as posições
de Protágoras e Sócrates na maioria das vezes são complementares e não opostas
como a maior parte da critica acredita.
[6]
Isso será discutido mais adiante e retomado por nos nas outras partes deste
dissertação.
[7]
Os historiadores do chamado ‘movimento sofistico’ afirmam que antes de Platão o
termo sofista significava sábio. Todavia, como esse trecho indica, Platão
utiliza-se do sentido tradicional do termo. O que nos parece interessante em
Platão, e isso esses historiados parece não perceber, é que ele não permanece
em apenas uma definição, mas vai acrescentando sentidos aos termos por ele
investigado.
[8]
É importante notar que Sócrates não esta dizendo para Hipócrates não comprar o
conhecimento do sofista, como SOUZA (1965, p. 88) e JAEGER (p. 430) afirmam.
Sócrates diz que sabendo o que é vantajoso ou prejudicial para a alma pode-se
comprá-la de qualquer um.
[9]
CORRADI (2012, p. 7-9) apresenta alguns lugares onde essa metáfora é retomada: Banquete 175d, Górgias 493e, Fedro 235d,
Teeteto 197de. O que nos interessa
aqui é que ele aventa a possibilidade de Sócrates ser o pode que Platão
utiliza-se para transportar seu conhecimento pelos diálogos.
[10]
No diálogo não é dito o que eles discutiram nem o que concluíram. Será que
Hipócrates deu dinheiro para Sócrates pagar Protágoras? Será que Sócrates
combinou com Hipócrates que iria aprender com Protágoras e depois o ensinaria?
[11]
O guarda e a senha que são indicadas aqui para Rubens é um indicio da
aproximação do diálogo com os fragmentos órficos. O diálogo pode ser uma
paráfrase a descida de Odisseu ao Hades. CITAR PAGINAS
[12]
Essa dicotomia ‘particular’ e ‘público’ será uma constante tanto nas falas de
Sócrates como na de Protágoras.
[13]
Em 327c Protágoras diz algo semelhante a Sócrates. Lá Protágoras sustenta que o
individuo mais virtuoso politicamente é aquele que possui dotes e que consegue
aprender com todos na cidade, principalmente com o melhor professor.
[14]
Sócrates diz algo parecido no diálogo Apologia
em 21d e 23c.
[15]
Vê-se aqui que é variada a arte sofistica para Protágoras.
[16]
Nos parece que aqui há uma aproximação entre Sócrates e Protágoras.
[17]
Aqui é um dos momentos onde o ensino de Protágoras é semelhante ao modo
socrático de ‘parir ideias’, descrito no diálogo Teeteto. Adiante falaremos sobre ele.
[18]
Nota-se que o conceito sofista vai ganhando novos predicados. Aqui sofista é o
professor de virtude política que ensina o aluno a falar e a agir no universo
familiar e na cidade, em outros termos, na vida pública e na vida privada.
[19]
Em 322e-323c Protágoras utiliza-se do mesmo argumento de Sócrates, porém para
defender posição oposta a Sócrates, a saber, a virtude política é possível de
ser ensinada.
[20]
Mais uma vez a relação público e privado é evidenciada. Aqui Sócrates argumenta
que tanto na vida pública como na vida privada os sábios não conseguem
transmitir suas competências. Adiante, em 342bc, quando Sócrates estiver
comentando o poema de Simônides, serão apresentados outros elementos para se
discutir esses elementos. Essa questão também aparece no inicio do diálogo Hipias Maior, adiante falaremos sobre
isso.
[21]
Na mesma pagina, na nota 6, Cassin diz que Prometeu possui a metis dos sofistas.
[22]
Esta relação de espelhamento nos parece ser uma técnica roubada de Homero por
Platão. Homero, por exemplo, usa essa técnica na Odisseia na relação de Atenas com Ulisses. (Cf. Anexo 4)
[23]
Lembrando que em XXxx Socrates se faz de esquecido.
[24]
Os historiados dos sofistas em geral aproximam o Protágoras do diálogo Teeteto e do Protágoras apresentando os trechos que para eles possuem
similitudes, para assim defender que Protágoras esta preocupado apenas com o logos. TORDESILHAS (20XX, p. xx) nos
parece que foi mais longe com esse argumento. Ele analisa esse trecho e conclui
que Protágoras pensa que o logos é maior que a virtude política. Contra ele
argumenta Kholstomer. Ver anexo 3 que reproduzo trecho do conto de Tolstoi.
[25]
Protágoras usa um provérbio para sua demonstração. Em 352c Sócrates faz o
mesmo, utiliza-se do provérbio ‘ser vencido pelos prazeres’ para discutir a
coragem. Como dissemos CORRADI diz que a punição aparece também no Górgias e nas Leis. Não se trata aqui de achar a posição de Platão, mas de
discutir os apresentados por ele. Nesse caso nos parece que a questão é, sendo
o individuo educado pela cidade, tornando-se apto para participar de sua
administração, esse mesmo individuo não pode ser contrário a uma lei que ele
próprio ajudou a criar.
[26]
Protágoras continua aqui retomando o mito. Esse trecho ele recupera a ideia de
que as técnicas, a língua e a musica, são importantes para os homens, mas que
não garantem a existência da cidade.
[27]
Ver se o italiano faz relação com o trecho da republica onde Sócrates pede para
seus interlocutores imaginarem uma cidade.
Banquete
Banquete de Platão
texto introdutório: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/05/amor-platonico/
download do diálogo Banquete:
http://livrosfilosofiadownload.blogspot.com.br/2012/06/o-banquete-fedon-sofista-e-politico-os.html
download do diálogo Banquete:
http://livrosfilosofiadownload.blogspot.com.br/2012/06/o-banquete-fedon-sofista-e-politico-os.html
Amor platônico é
comumente entendido como um amor irrealizável. Mas não achamos algo que
corresponda a isso nos diálogos de Platão. Platão falou sobre amor em vários
textos, os mais evidentes são três: Banquete, Fedro e Lísias.
No banquete há um
encontro de vários homens que revolvem elogiar Eros, o deus grego que
traduzimos por amor.
Fedro diz que o
amor é o primeiro dos deuses
Pausânias diz que
há dois Eros: um celeste e outro terrestre
Erixímaco diz que
Eros liga-se aos seres vivos, dando-lhes a vida.
Aristófanes faz o
famoso mito do andrógeno que diz que inicialmente o homem era homem e mulher ao
mesmo tempo, com este voltou-se contra os deuses, Zeus os dividiu ao meio, por
isso homem e mulher buscam a sua metade.
Agatão acha que
Eros é o mais jovem e mais belo dos deuses
Sócrates e diotima
dizem que amor não é belo nem feio, mas algo entre os dois, o amor é
intermediário. Isso porque amor é desejo e quem deseja não tem, logo amor não
pode ser bom. Eles contam o mito do nascimento de Eros. E depois falam sobre a
ascensão dialética.
Organizei no meio dos
discursos tese que podem ser discutidas sobre o amor.
Teses sobre o amor no
banquete
178d
Afirmo eu então que todo
homem que ama, se fosse descoberto a fazer um ato vergonhoso, ou a sofrê-lo de
outrem sem se defender por covardia, visto pelo pai não se envergonharia tanto,
nem pelos amigos nem por ninguém mais, como se fosse isto pelo bem-amado. E
isso mesmo é o que também no amado nós notamos, que é sobretudo diante dos
amantes que ele se envergonha, quando surpreendido em algum ato vergonhoso.
Tese: o amante sente vergonha diante do amado
179ª
e quando lutassem um ao
lado do outro, tais soldados venceriam, por poucos que fossem, por assim dizer
todos os homens.
Tese: o amor faz com que os homens vencem as guerras
181e
Seria preciso haver uma
lei proibindo que se amassem os meninos, a fim de que não se perdesse na
incerteza tanto esforço;
Tese: é preciso proibir os jovens de se amarem
182d
A quem, com efeito,
tenha considerado que se diz ser mais belo amar claramente que às ocultas,
Tese: deve-se amar às claras
183e
E é mau aquele amante popular,
que ama o corpo mais que a alma; pois não é ele constante, por amar um objeto
que também não é constante.
Tese: deve-se amar a alma mais que o corpo
186a
que porém não está ele apenas
nas almas dos homens, e para com os belos jovens, mas também nas outras partes,
e para com muitos outros objetos, nos corpos de todos os outros animais, nas
plantas da terra e por assim dizer em todos os seres
Tese: o amor está em tudo
187c
E assim, também a
música, no tocante à harmonia e ao ritmo, é ciência dos fenômenos amorosos.
189d
Mito do andrógeno
Tese: os amantes buscam as suas metades
192e
é portanto ao desejo e
procura do todo que se dá o nome de amor.
Tese: amor é desejo
193c
que é assim que nossa
raça se tornaria feliz, se plenamente realizássemos o amor, e o seu próprio
amado cada um encontrasse, tornado à sua primitiva natureza.
Tese: o amor sacia o desejo
195d
seus pés são delicados;
pois não sobre o solo se move, mas sobre as cabeças dos homens ela anda.
196e
Da justiça portanto, da
temperança e da coragem do deus, está dito; da
sua sabedoria porém
resta dizer;
Tese:
200a
— E é quando tem isso
mesmo que deseja e ama que ele então deseja e ama, ou quando não tem?
— Quando não tem, como é
bem provável — disse Agatão.
Tese: amor é desejo
201b
— Não está então admitido
que aquilo de que é carente e que não tem é o
que ele ama?
— Sim — disse ele.
— Carece então de beleza
o Amor, e não a tem?
— É forçoso.
— E então? O que carece
de beleza e de modo algum a possui, porventura
dizes tu que é belo?
— Não, sem dúvida.
— Se portanto o Amor é
carente do que é belo, e o que é bom é belo,
também do que é bom
seria ele carente.
Tese: amor é desejo, então quem ama não tem aquilo que ama, logo amor
não pode ser belo ou bom, mas algo intermediário.
202a
E eu então: — Que dizes,
ó Diotima? É feio então o Amor, e mau?
E ela: — Não vais te
calar? Acaso pensas que o que não for belo, é forçoso ser feio?
— Exatamente.
— E também se não for
sábio é ignorante? Ou não percebeste que existe algo entre sabedoria e
ignorância?
Tese: amor está entre a sabedoria e a ignorância
203b e seg. mito do
nascimento de Eros
204 d-e (quem adquire
o amor fica feliz)
204c-d
— Todavia — continuou
ela — tu sabes que estes não são denominados poetas, mas têm outros nomes,
enquanto que de toda a "poesia" uma única parcela foi destacada, a
que se refere à música e aos versos, e com o nome do todo é denominada. Poesia
é com efeito só isso que se chama, e os que têm essa parte da poesia, poetas.
— É verdade — disse-lhe.
— Pois assim também é
com o amor. Em geral, todo esse desejo do que é bom e de ser feliz, eis o que é
"o supremo e insidioso amor, para todo homem", no entanto, enquanto
uns, porque se voltam para ele por vários outros caminhos, ou pela riqueza ou
pelo amor à ginástica ou à sabedoria, nem se diz que amam nem que são amantes,
outros ao contrário, procedendo e empenhando-se numa só forma, detêm o nome do
todo, de amor, de amar e de amantes.
207e
E não é que é só no corpo,
mas também na alma os modos, os costumes, as opiniões, desejos, prazeres, aflições,
temores, cada um desses afetos jamais permanece o mesmo em cada um de nós, mas
uns nascem, outros morrem.
No diálogo Fedro o
personagem Fedro lê o discurso de Lisias que defende que deve-se entregar a
quem não se ama uma vez que aquele que ama quer exclusividade do seu amado não
querendo que esse conviva com outras pessoas. Sócrates, por sua vez, faz um
discurso corroborando com essa tese. Para tanto usa o seguinte exemplo: um belo
jovem tinha vários admiradores, um deles, para ganhar a disputa, convence-o de
que deve-se amar aquele que não se ama, a justificativa é a mesma, o amante
quer o amado apenas para ele. Logo em seguida, para se retratar, Sócrates faz
outro discurso para corrigir o anterior. Ele diz que sem Eros as coisas ficam
mecânicas e sem valor. Diz também que os maiores benefícios da cidade foram
feitos por homens apaixonados. Um poeta, por exemplo, sem amor, apenas com a
técnica produz uma poesia sem valor.
Trecho forte: 255d
“ele também ama, porém
não sabe a quem ama por não perceber que ele se vê no seu amante como num
espelho: junto dele esquece-se, longe deseja-o”
No lisias é dito que
para se conquistar o amado deve-se não elogiá-lo, mas ao contrario diminuí-lo.
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