ver-se no olho do amigo
Usando o final do diálogo Alcebíades de Platão, pedi que os alunos ficarem um de frente para o outro e olhar um no olho do outro. Nele, no olho, deveria se ver. Feita a dinâmica sentamos em roda para conversar sobre a dinâmica. A pergunta inicial foi: “onde mais podemos nos ver?” As respostas foram rápidas, no espelho. Então perguntei: “porque olhamos no espelho?” “para nos ver”, respondeu os alunos. Assim, “usamos os espelhos para ver aquilo que sem ele não conseguiríamos ver. Por exemplo, a orelha, o nariz, a boca e os próprios olhos.” Em seguida, li o texto:
Sócrates - Repara se a inscrição falasse aos olhos como fala ao homem e dissesse: conhece-te a ti mesmo, não concluiríamos que os mandava olharem para uma coisa onde pudessem ver-se?
Alcebíades - É evidente
S – Procuremos essa coisa onde pudéssemos ver-nos e vê-la.
A – os espelhos e coisas semelhantes.
S – muito bem; e não há nos olhos um pequeno local que dá o mesmo efeito de um espelho?
A – há
S – sempre que examinas um olho vês a tua imagem na pequenina parte que tem nome com o sentido de boneca, por ser a imagem de quem se vê nela.
A – assim é.
S – um olho, para se ver em outro, há de olhar para essa parte que é a mais bela e capaz de ver.
A – não há dúvida
S – se olhasse para outra parte do corpo ou para qualquer objeto, a não ser que fosse semelhante àquela parte do olho, não se veria.
A – tens razão.
S – um olho que queira ver-se tem de olhar para outro; e na parte onde reside toda a sua virtude, isto é, a visão.
A – certamente
S – e a alma, para ver-se, não terá igualmente de olhar para a alma e justamente para onde reside a virtude, que é a sabedoria? Ou olhar para outra coisa ainda mais nobre, com que a alma de certo modo se parece?
A – deve ser Sócrates.
S – e haverá na alma parte mais divina do que aquela onde residem a ciência e a sabedoria?
Como podemos ver no texto, Platão pretende que o conhecimento do individuo passe pelo conhecimento do outro, ou melhor, os indivíduos para se conhecerem devem fazer isso pelo saber que suas almas produzem juntas e a partir disso ambas podem ser conhecidas. Não foi esse nosso objetivo. Tampouco usamos Foucault que deslocou a questão do ‘conhece-te a ti mesmo’ para o ‘cuidado de si mesmo’, ainda que nas aulas seguintes usaremos o mote do filósofo francês para um exercício. O que pretendíamos mostrar para os alunos e, por isso, insistimos nas aulas seguintes, que muitas vezes as posturas dos amigos dependem das nossas atitudes, ou melhor, nossas atitudes são refletidas nas ações dos amigos. Desse modo, “quando um amigo brinca, briga, conversa com você, você participa dessa brinca-briga-conversa”.
documentário janela da alma
https://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg
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