terça-feira, 31 de outubro de 2023

Sínteses.Platão.4-diálogos.médios.3

Síntese dos diálogos de Platão com vista a título de doutorado em ensino de filosofia pela FE Unicamp. Autor: Robson Gabioneta

República – livro I
327a-331d. Sócrates (S) encontra Polemarco (P) e vai a sua casa e conversa com Céfalo (C) sobre velhice. S vai a Pireu com Glauco e na volta Polemarco e Adimanto pedem que fiquem. Na casa de Polemarco encontram Líside, Eutidemo, Trasímaco, Clitofonte e Céfalo, pai de P. C defende a vida simples; S pergunta da riqueza. C diz que tem medo das fabulas sobre Hades, em especial os castigos, por isso diz que se esforça em corrigir as injustiças do passado; S pergunta se isso significa dar a cada um o que lhe é devido. C concorda. Então S pergunta se é preciso devolver uma arma a um amigo que está fora de si. C concorda, mas transfere a conversa para Polemarco.
Obs: C define justiça como correção das injustiças; S altera: justiça é dar a cada um o que lhe é devido e para criticar dá um exemplo: devolução de uma arma para alguém fora de si. Transferência de pai para filho.
331e-335d. Definição de justiça de P e refutação de S. P define justiça: Dar a cada o que é devido, bem aos amigos, mal aos inimigos. S pergunta: ustiça é útil na paz? P responde: nos contratos e no dinheiro. S: porém qualquer especialista manipula melhor o dinheiro do que o justo; além disso, o pugilista e o médico sabem fazer o bem e o mal. As pessoas se enganam e podem causar dano. Amigo é quem parece e é homem de bem. Quem cuida de cavalo não pode deixar o cavalo pior, do mesmo modo a justiça, como a música ou equitação. O homem justo não causa o dano a ninguém. 
Obs: procedimentos investigativos de Platão: investigação a partir da poesia; união de frases com vistas a estender o sentido delas (dar a cada um o que é devido + fazer bem aos amigos = justiça é fazer bem aos amigos e mal aos inimigos); distinção entre opostos (amigo x inimigo; paz x guerra; aparência x o que é realmente); aproximação entre opostos (o médico sabe fazer o bem e o mal); a consulta dos especialistas; a possibilidade do engano das pessoas é estendido a tudo; as artes (música, equitação) só podem gerar o bem, como a justiça.
336c-342e. definição de justiça de Trasímaco (T) e refutação de S. T: critica S dizendo que é mais fácil perguntar do que responder S; definição de T justiça é a vantagem do mais forte, daquele que faz leis para se beneficiar. S: os legisladores podem errar e se prejudicar. T: quem conhece não erra. S: nenhuma arte age em benefício próprio, assim, a ciência ajuda o mais fraco; o chefe procura a vantagem do seu subordinado.
Obs: Trasímaco ‘compra’ a briga de Polemarco, acusa S (injustamente) de só perguntar (pois S também responde); Bakhtin: espelhamento de proposições e de personagens (oposição, semelhanças, etc). Posições de T e S são complementares: com conhecimento não há erro uma vez que o chefe a usa para beneficiar o mais fraco.
343b-348b. T x S. T: os pastores e o dirigentes agem em interesse próprio, assim como o injusto obtém vantagem para si, a injustiça é mais forte que a justiça. S a justiça está acima da injustiça; como os governos (e as artes) beneficiam os mais fracos, ninguém trabalha voluntariamente, mas por remuneração, honrarias ou castigo, sendo o maior castigo ser governando por quem é pior.
Obs: S absorve de T a ideia de que há disputa entre o justo e o injusto, a tal ponto que se o justo não quiser disputar na governança da cidade, ele terá que ser castigado.
349c-353e. S: o justo não age contra seu semelhante, o injusto quer vantagem de todos; porém o injusto terá que ser justo para praticar uma ação, mesma que ela seja má; assim, a justiça gera acordo, a injustiça não. O assunto é como se vive: a alma deve dirigir com justiça, pois é sua virtude, assim, o homem justo vive bem e é feliz, o injusto não.
Obs: ideia central: o injusto, para agir em conjunto precisa da justiça que gera acordos; o debate central é como viver.

República – livro II (357a-383c)
357a-362c. discurso de Glauco: três espécies de bem: em si mesmo (alegria); por eles mesmos e suas consequências (conhecimento, saúde); só pelas vantagens (medicina); recapitulação de Trasímaco: o que é justiça e sua origem (para conter a impunidade e a vingança, os homens fazem leis) (inspirou Hobbes); a justiça é um mal necessário, pois se não houvesse impedimentos, todas iriam fazer coisas para obter vantagens (anel de Giges); a maioria pensa que o injusto vive melhor, pois ele, ao convencer todos o contrário (bem aos amigos e mal aos inimigos), recebem benefícios, já o justo, que não tenta convencer ninguém, se for tido por criminoso é penalizado.
Obs. Glauco não recapitula, mas soma as proposições de Polemarco, Sócrates e Trasímaco. Centros: as pessoas buscam o interesse próprio (tese contratualista séc. XVI); o justo precisa evidenciar sua justiça. Evidenciar as práticas do injusto: bem aos amigos e mal aos inimigos, com verniz da justiça. Tipos de bens (o em si mesmo, o em si e para outro, o para o outro) é uma novidade.
362e-367e. discurso de Adimanto, irmão de Glauco: como ninguém elogiou a justiça, ele apresenta um modo de fazer; recupero os poetas: Hesíodo e Homero (dádivas aos justos); Museu e Orfeu (aos justos concedem bebedeiras; os injustos se atolam e carregam água); os mendigos e adivinhos dizem corrigem os danos com sacrifícios e encantamentos. Conclusão: qual o caminho para a vida melhor. Os deuses existem? Se existem, se preocupam? Os poetas dizem que são sensíveis a oferendas. Ninguém é voluntariamente justo, exceto o que tem aversão a injustiça ou o esclarecido; prova disso é o que as pessoas fazem quando recebem poder. Se fossem informados desde a infância sobre a justiça, hoje não precisariam se vigiar. Deixem de lado a reputação (a aparência). Trasímaco, que diz que justiça é a vantagem do mais forte, faça elogio das vantagens da justiça, mostrando como ela e a injustiça atuam na alma.
Obs: o discurso de Adimanto é de tamanho similar ao de Glauco. Propostas explicitas: justiça superior a injustiça; atuação de cada na alma, o bem e o mal, deixar a reputação. Propostas implícitas: descrições dos deuses e sua relação com o humano; adivinhos usam a barganha; justiça ensinada desde a infância (como Protágoras 325c-326d).
368a-373e. discurso de S para defender a justiça (preliminar 1): do surgimento da cidade ao surgimento da guerra. Começar pela cidade e depois ir ao indivíduo. Necessidades básicas: alimento (lavrador); casa (pedreiro); roupas (tecelão) e calçados (sapateiro). Eles são escolhidos a partir da aptidão de cada para melhor fazer seu trabalho. Suas ferramentas devem ser feitas pelos carpinteiros e ferreiros. Como não são autossuficientes, precisam de comerciantes entre as cidades, o mercado e a moeda. Glauco propõem uma cidade mais ‘chique’. S: até aqui ela era sadia, essa luxuosa precisa de imitadores (artistas); pedagogos, médicos. A terra é insuficiente, sendo necessário pegar do vizinho, que também quer: inicia-se a guerra. 
Obs: Método de investigação: investigar aquilo que é mais fácil de ver (o grande); de posse deste saber usa-lo para investigar o pequeno. Há profissionais que só surgem depois da guerra: artistas, professores, médicos e guerreiros.
374a-377c. discurso de S para defender a justiça (preliminar 2): na guerra é preciso educar os guerreiros, começando pela música. Os guerreiros devem ter: foça, velocidade, coragem contra o inimigo; manso, brio, filosofia com familiares. Na infância que começa os traços, deve-se selecionar as fábulas.
377d-383c. discurso de S para defender a justiça (preliminar 3): as mentiras devem ser controladas na educação dos guardiões, os deuses não causam o mal, mas o bem. Hesíodo e Homero descrevem erroneamente os deuses quando falam que os deuses se vingam, guerreiam, pois nas crianças se imprimi esses comportamentos por imitá-los. A divindade não é causa de tudo, só do bom; quanto ao sofrimento, deus foi justo, beneficiando os culpados com o castigo. Deus não engana os homens, pois, sendo perfeito, menos se modifica, mantendo a sua forma. A mentira pode ser útil contra inimigo ou amigo louco.
Obs: o controle da mentira se justifica na cidade luxuosa que precisa de guerreiro. A infância só entende o literal. Disputa de concepção de divino entre Platão (perfeito, não se altera) e os poetas (como os humanos). O guerreiro não pode se alterar com o que vem de fora.

República – livro III
386a-392b. discurso de S para defender a justiça (preliminar 4): Os poetas devem ensinar a coragem e a temperança aos guerreiros. Insuflar a coragem nos guerreiros: não ter medo da morte; elogiar o Hades; tirar as queixas dos heróis e deuses; ser autossuficiente, para não se desesperar com a morte do amigo; usar a mentira como medicamento (pelo médico ou governante); os governados não podem mentir. Promover a temperança (moderação): na comida, bebida e no amor. 
Obs: o guerreiro, com a coragem e a temperança, deve proteger a cidade de sua similar (cópia, igual, rival), por isso precisa de medicamento, controlado pelo médico e governante. 
392c-402d. discurso de S para defender a justiça (preliminar 5): estilo, melodia e forma da poesia. Exposição: sem imitação; imitação: poeta usa a linguagem da pessoa que imita (Bakhtin, 2003: distinção entre autor e personagem); combinação da exposição e imitação. Quais deles é mais apropriado? Ir onde o logos, como uma brisa, levar. Princípios: cada um só em bom numa profissão; não dá para imitar tudo; os guardiões devem se dedicar a liberdade (de ocupar outras terras) da cidade. Não devem imitar nada; se imitarem, só o que gera coragem, temperança, piedade liberdade. Não imitar mulheres e escravos. Expulsar da cidade aquele que quer imitar tudo, só imitar a moderação. Canção: texto, melodia, ritmo. Como o texto é o principal, não deve haver lamentações, nem harmonias tristes. Do mesmo modo para os artesões, arquitetos, pois em tudo há proporção. Harmonizar o interior com o exterior.
Obs: estabilidade entre o vício e a virtude e não um pêndulo onde há passagem de um a outro. Exclusão de um lado para preparar o outro, sem hesitação ir ao Hades.
403c-414a. discurso de S para defender a justiça (preliminar 6): música, ginastica, médicos, juízes, testes. A alma molda o corpo. Os guardas não poder: embriagar, dormir demais, ter saúde frágil. Homero alimenta os heróis de peixe assado sem temperos. Sem a simplicidade há desregramento (na música) e doenças (ginástica); necessitando de tribunais com juízes e clinicas com médicos. É vergonhoso: aceitar estranhos, descuido e regime de vida não saudável. Há aqueles que precisam trabalhar e não tem tempo para se curar; os que tem tempo, os ricos. Médicos: começar moço, examinar a constituição dos corpos, ter sofrido doenças; juiz: estar distante dos vícios até a maturidade. Maldade não se conhece nem a virtude; a virtude conhece a maldade e ela mesma. Praticar a música e a ginastica, só a primeira gera moleza, só a segunda dureza. Os guardas devem promover o bem da cidade por se identificar com os interesses dela. As pessoas mudam os princípios por consentimento (mudando de opinião) ou sem consentimento (roubo, encantamento e violência); por isso, desde criança, os guardas devem ser testados nesses últimos.
Obs: antes era preciso seguir o logos, aqui é preciso ver o que o impede: doenças, vícios, intemperanças (bebida, sono, mudanças de princípios). Maior princípio: identidade entre o guardião e a cidade, o que acontece com um, acontece com o outro.
414c-417a. Mito das três raças e partilha dos guerreiros. S: eis uma fábula honesta para enganar os dirigentes: os princípios foram apresentados como um sonho pois estão dormindo em baixo da terra; terra mãe gera a todos, pois isso todos são irmãos (Rocha: Protágoras 320d e Político 269b); a divindade misturou ouro aos que comandam, prata as auxiliares, ferro e bronze aos agricultores e artesãos (Hesíodo 109-201); no nascimento é preciso saber qual será a função desempenhada e colocar cada um no local apropriado. G: as próximas gerações acreditaram no mito. S: os guardiões não podem ser despóticos; não devem possuir nada; faze refeições públicas; não ter contato com ouro ou prata; se adquirir algo deixará de ser guarda para ser comerciante ou lavrador.
Obs: mito para salvar a cidade. Diferente da cidade com vistas a suprir as necessidades básicas (368a-373e), aqui é a cidade luxuosa que entrará em conflito com sua rival e por isso precisa de uma nova classe: o comandante e seus auxiliares; proposta para que não se destruírem mutualmente: os guardiões só possuírem a coletividade e mais nada.

República – livro IV
419a-427b. discurso de Sócrates sobre a justiça (depois da fundação pelo mito 1): divisão entre os organizadores. S: com cada um cumprindo sua função, cada um terá sua participação na felicidade. Como os artesões se corrompem com a riqueza (preguiçosos) e a pobreza (impedem de serem perfeitos e transmitir o saber), os guardas (τοῖς φύλαξιν) impedi-las. Os governantes (τοῖς ἡμετέροις ἄρχουσιν) determinam o tamanho da cidade e os guardas (τοῖς φύλαξι) zelem para sua aparência e unidade. Os guardas (τοῖς φύλαξι), a partir do mito, devem colocar as crianças nas funções corretas. Os encarregados da cidade (τοῖς ἐπιμεληταῖς τῆς πόλεως) impedem inovações na Ginastica e na Música para não alterarem a constituição da cidade. Outras legislações são importantes, como o comercio, o tribunal, os impostos, estas ficam aos homens de bem, porém os sacrifícios e ritos aos deuses, demônios e heróis, bem como os sepultamentos, cabem a Apolo de Delfos. Outras ideias paralelas: o guardião não pode ter dinheiro para gastar; um guerreiro treinado vence dois sem treino; os amigos tem posse comum de mulheres e filhos; a cidade com bom começo cresce em círculos e melhora com as gerações; honrar os mais velhos, a mãe e o pai; remédios não substituem a dieta saudável.
Obs: divisão entre os organizadores da cidade: governantes: determinar o tamanho da cidade; guardas: impedir a riqueza e pobreza, garantir a unidade, organizar as crianças; encarregados da cidade: impedir inovações na música e ginastica. Deuses, heróis, mortos, cabem a Apolo de Delfos. Divisão entre quem estabelece as normas e quem fiscaliza; já Platão: apresentar a origem mítica da sociedade e um caminho para sua perpetuação. 
427b-443a. discurso de Sócrates sobre a justiça (depois da fundação pelo mito 2): transposição da justiça da cidade (função de cada classe) para a justiça no indivíduo (função de cada parte da alma). Virtudes: sabedoria como emissão de bons conselhos pertence aos guardas; a coragem é a opinião do que se deve ou não temer está como soldados (guerreiros); temperança por ser a harmonia entre os comandados e comandantes, pertença a todos; justiça já havia sido definida como cada um se ocupar do que lhe é natural. Transposição da justiça da cidade para o indivíduo: o sujeito não sofre ao mesmo tempo coisas contrárias como o desejo e a aversão, assim, há um princípio na alma onde atua a sede a comida (sem racionalidade) e outro, contrário a esse (com racionalidade); o terceiro, a cólera, está no meio das outras duas e deve, junto com a parte racional, conter a parte irracional, que é a maior, para que ela não busca a riqueza. Os guardas não devem: buscar ouro e prata; trair camaradas e a cidade; descumprir contratos; cometer adultério; descuidar dos pais; negligenciar os deuses.
Obs: aplicação das três espécies de bem no começo II (357a-d) (em si, para outro e o em si e para o outro): identidade a partir das inclinações naturais; mantidas as condições de geração a identidade não pode ser contrária a si, isso gera a identidade do contrário; é preciso algo que faça a mediação dos contrários.
443b-445e. discurso de Sócrates sobre a injustiça: rebelião das partes da cidade; desordem, gerando vícios. 4 são os vícios a partir de 5 formas de governos por meio de duas divisões: realeza (poder de um) e aristocracia (o poder de muitos).

República – livro V
449a-471c. discurso de Sócrates sobre a justiça (depois da fundação pelo mito 3): 1ª lei (ou onda): lei das mulheres (com mesma educação que os homens); 2ª lei (ou onda): filhos em comum. Polemarco pede para S falar dos amigos que tem mulheres e filhos em comum, deixando para depois as formas de governo. O que determina o talento não é o sexo, mas facilidade de aprendizado, nesse caso os costumes são contrários a natureza. Como os homens, as mulheres devem treinar nuas, se preparando para a guerra e mais nada. G: investigação a partir da aplicabilidade e utilidade. S diz que irá fantasiar. Os guardas não tem nada próprio, partilham a mesa, casa e ginásio. Casamentos que gerem vantagens a cidade, daí a escolha de bons reprodutores em idade apropriada: M de 20 a 40; H de 25 ao 55; nas festas apropriadas com organização dos poetas, com reprodução controlada para a cidade não crescer ou mingar; os filhos serão entregas as amas, para que os pais não os identifiquem e sejam pais de todos os filhos nascidos na mesma época, sendo eles impedidos de terem relações. Para os guardas todos são parentes, respeitando os mais velhos como pais. Como os guardiões não possuem nada, não haverá queixas (por dinheiro, filhos, parentes). Os guardas que querem conquistar tudo professa o dito de Hesíodo “a metade é maior do que o todo”. Os guardas devem levar os filhos mais crescidos para aprender na guerra, assegurando-lhes a segurança; os meninos que abandonarem os postos serão transferidos para o artesanato ou o cultivo da terra (e a refutação no Laquede?). Os guardas, depois de vencer, não devem devastar a terra e incendiar casas. Maior mal é a desagregação; maior bem é a coesão. Neste último tudo que acontece a um afeta todos. Os governantes valem-se de mentiras (remédios) para o bem do governados; de que o casamento é ao acaso e não pensado pelos dirigentes. Nas democracias os governantes são salvadores e o povo sustentador; na outra há senhores e escravos. Os helenos guerreiam contra bárbaros e não contra helenos, os quais devem sempre se reconciliar. G pede para incluir os bárbaros com helenos (parentes?), S propor uma lei que os guardas não destruam as cidades.
Obs: procedimento platônico: momento metodológico; retomada com destaque a algo; abertura para o próximo tema em forma de espiral (como na Odisseia; Gabioneta, 2013). Nossa intenção: dialogar com a crítica platônica; o que pode ser útil para o ensino de filosofia hoje. Centros: 1ª lei: o talento não depende do gênero; 2ª lei: regulação da reprodução. Os poetas, com instrução dos dirigentes, unem os casais.
471c-480a. discurso de Sócrates sobre a justiça (depois da fundação pelo mito 4): 3ª lei (ou onda): filósofo rei ou rei filósofo. A justiça da cidade não é igual a justiça do indivíduo, por isso usa-se o paradigma, o modelo para, no caso da cidade, compara-las e corrigir a cidade real. 3ª lei: união entre política e filosofia, o rei e o filósofo. O filosofo deseja toda a sabedoria; os amigos (amantes) dos espetáculos, das artes e da prática ficam na beleza temporária, não no belo em si, tomando a imagem pela coisa. Como eles ficam perturbados precisam ser acalmados com boas maneiras. Eles possuem opiniões que os faz possuírem uma posição intermediária entre o não-ser (ignorância) e o ser (conhecimento); os filósofos buscam a essência das coisas.
Obs: procedimento metodológico: cidade justa como modelo para a cidade real (um tipo de não-ser) e para o indivíduo. O filosofo olha para ela e vê os erros, daí sua paciência com todos os parentes (bárbaros e helenos). Os amigos da arte e da prática são intermediários entre o ignorante e o filósofo.

República – livro VI
484a-495e. Continuação do discurso de Sócrates sobre a justiça (depois da fundação pelo mito 4): 3ª lei (ou onda): filósofo rei ou rei filósofo. O filósofo é o que apreende o imutável para cuidar das leis e instituições da cidade. Ele é temperante, corajoso, modesto, aprende rápido; não: cobiça o dinheiro, teme a morte, vaidoso. Adimanto critica o método (pequenas afirmações com grandes conclusões) e o que se dedica a filosofia quando adulto, sendo inútil a cidade. S concorda e explica. Um comandante de um navio limitado gera a disputa por sua função; os deliberantes não entendem do tempo e dos astros e julgam que não precisam saber. O navio é a cidade, o filósofo é o comandante, os políticos são os marinheiros. As maiores calúnias a filosofia não são dos contrários a ela, mas do que exerce a mesma atividade (educação e controle da cidade). O filosofo deve se unir a essência dos fenômenos. Causa a corrupção da sua natureza os lugares inadequados ao seu desenvolvimento. Os sofistas mercenários defendem a doutrina da maioria, agindo como quem agrada um grande animal. O filosofo, com dotes extraordinários, recebe honrarias e é disputado, deturpando sua imagem de si; nessa situação ele causa os maiores males a cidade.
Obs: indicação do que o filósofo pode e o que não pode; problemas: mercenários, opinião da maioria; bajulação.
496a-504a. Continuação: discurso de Sócrates sobre a justiça (depois da fundação pelo mito 4): 3ª lei (ou onda): filósofo rei ou rei filósofo. Adimanto quer saber as formas de governo; S nenhuma corresponde ao filosofo; A e a forma que propomos; S é preciso completar, o que a cidade faz para a filosofia não se perder, uma vez que o bom é difícil (Simônides). Os jovens abandonam a parte mais difícil, a dialética. Depois da idade do vigor é preciso ‘pastar livremente’. O homem perfeito não existe, como a cidade. Ninguém antes de poucos filósofos atingirão esse estágio. É preciso falar com brandura ao julgo sobre o filosofo. O mundo governado pelo filósofo possui ordem. O filósofo deve por a vista o justo, o belo e o temperante. O vulgo ainda se irrita por S dizer que eles só se verão livres dos males quando a raça dos filósofos governar, isso por se sentirem envergonhados. O filho do rei pode ser filósofo, basta um para a cidade se concretizar. Para S a legislação é a melhor e o plano exequível. Falta discutir como educar os salvadores. Há os que aprendem fácil e os que não tem medo. É preciso por a prova o que já foi dito e em todas as disciplinas, em especial a maior das virtudes, a ideia do bem.
Obs: dificuldade em forma o filósofo na sociedade real, por isso S investiga os dois em conjunto com a sociedade ideal, alertando que ambos ideais não existem. 
505a-511e. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (1). A ideia do bem é o conhecimento mais elevado, diferente dos prazeres (bons e ruins) e das virtudes (ora são, ora aparentam ser); deixemos o bem, vamos ao filho do bem; a luz é o terceiro elemento entre a vista e o visto; ele tem mais valor; o sol é o deus capaz de iluminar. A vista tem afinidade com o sol e recebe dele seus fluidos. O sol cumpri a mesma função do bem para o entendimento; com ele percebe e reconhece; sem ele só conjectura. O bem é superior ao conhecimento e a verdade. O sol também atua a geração, o crescimento e a alimentação; do bem vem o ser e a essência. G ri; S há dois gêneros: o visível (V) e o inteligível (I). Analogia da linha: uma linha desigual com o V e o I; no V há: sombras e simulacros (água, espelhos); animais, plantas e artefatos humanos. I: hipóteses olhando para o V com vistas a conclusão; hipóteses, sem imagens com vistas ao absoluto. Como os matemáticos que se servem das imagens mas não raciocinam nelas mas usam o quadrado e a diagonal em si. G: o entendimento dos geômetras está entre a razão e a opinião. 4 seções: razão; entendimento; fé; conjuctura.
Obs: duas comparações para falar do bem: 1ª: o sol: permite ver, distribui fluidos, gera, faz crescer e alimenta; o bem: permite o conhecimento e a verdade; gera o ser a a essência. 2ª: imagens imitam os animais, plantas e objetos humanos; os matemáticos imitam o bem.

República – livro VII
514a-518b. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (2): Alegoria (ou mito) da caverna. Numa caverna há pessoas presas; há um fogo na entrada que reflete para o fundo da caverna estátuas carregadas por pessoas. A verdade são as sombras. Um deles é liberdade e anda em direção a luz, causando-lhe dor, revoltando-se. Ele vê as sombras, as imagens, os objetos e o sol. Ao voltar para caverna, novamente com a vista turva, seria objeto de riso; já se tentasse libertá-los para subir, poderiam mata-lo. Como a luz é fonte, também o bem é fonte da verdade e inteligência. Depois da contemplação divina, quando se volta para questões humanas, como o tribunal, a vista fica turva. 
Obs: o mito da caverno continua a alegoria da linha trazendo os momentos de transição: o 1º gera dor e revolta pessoal; o 2º pode gerar o mesmo, causando a morte daquele que contemplou o divino. A filosofia deve ser levada a todos, caso contrário pode ser extinta.
518c-522e. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (3): a educação (1). Conhecimento é uma faculdade inata a alma, portanto não pode vir de outro; e educação muda a alma de direção. O conhecimento é divino e pode ser útil ou prejudicial, dai a lei organiza o trabalho coletivo de todos, impedindo que uma classe seja excepcional. As cidades são governadas melhor por aqueles que não desejam essa função, sendo constrangidos a tanto, do que aqueles que desejam (como no caso do 1º discurso no Fedro?). Como, pela educação, levar o filósofo das trevas a luz? Essa é a verdadeira filosofia. A Ginástica se ocupa do transitório, do crescimento e declínio do corpo; G a música complementa pelo ritmo e pelo discurso, conseguindo a regularidade.
Obs: o conhecimento não é externo, mas inato; a lei deve garantir que não haja excepcionalidade, levando o filósofo (e depois a cidade) das trevas a luz. A ginástica e a música agem no transitório, na regularidade.
522e-532b. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (3): a educação (das trevas à luz) (2): inclusão do Cálculo, Aritmética, Astronomia. As sensações que precisam da inteligência (da investigação) são aquelas despertam nos sentidos algo e seu contrário (uma delas é a unidade e seu contrário); as outras sensações não precisam da inteligência. O guarda é filósofo e guerreiro ao mesmo tempo; ele precisa cultivar a Aritmética e o Cálculo por amor ao conhecimento e não como na guerra e em benefício próprio. A Astronomia, ciência que estuda as estações, é a terceira; porém, antes dela deve-se estudar a ciência que estuda a profundidade dos corpos. Em todas elas devem ser procuradas aquilo que é comum para que exclusivamente com a razão e sem os sentidos chegar a essência das coisas.
Obs: plano dialético para o desenvolvimento das matemáticas: amor; busca do comum; comparação com a razão sem os sentidos.
532e-539d. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (4): a educação (das trevas à luz) (3): Dialética. G pede para S explicar a dialética. A dialética: rejeita hipóteses em prol do princípio; olha para cima; usar das artes como auxiliares; separar a ideia do bem das demais ideias. Recapitulação da linha: ciência, raciocínio (inteligência busca o ser); fé, conjuctura (opinião visa o devir). Quem recebe esses conhecimentos: os bravos; os de confiança; os que aprendem; possuem boa memória; resistentes; os que trabalham; físico perfeito; mente sã. Como transmiti-los: propedêutica: Aritmética, Geometria; sem imposição as crianças; por meio de brinquedos; levar os jovens em segurança as campanhas militares (gosto pelo sangue). Sequencia: 20 anos: relação entre as ciências pela organização delas; 30 anos: ser avaliado por meio da Dialética. Imagem: não agir como uma criança rica que ao saber que foi adotada deixa de honrar os pais e segue os aduladores; do mesmo modo o dialético não deve apensar contradizer e ser contradito, mas buscar a verdade pelo diálogo.
Obs: a dialética deve ser usada para comparar os conhecimentos, o filósofo, além de ser bravo, de confiança, capaz de aprender, ter memória, ser resistente, trabalhar, ter passado pelos testes da infância, deve usa-la não pela simples refutação, mas com visas a verdade.
539e-541b. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (5): a educação (da luz à trevas) (4): Dialética. De volta a caverna, ele deve exercer cargos militares por 15 anos. Aos 50 anos, ao se distinguir nos ramos do saber, contemplarão o que dá luz, o bem em si, tornando-se modelo, dedicando a filosofia; quando necessário, devem assumir cargos públicos; será louvado pela cidade. Isso vale para homens e mulheres. Apesar de difícil, essa cidade é possível. Para começar o processo, S propõe que os cidadãos com mais de 10 anos devam ser enviados aos campos e seus filhos serão educados como proposto.
Obs: começar pelo envio de cidadãos para o campo para iniciar os procedimentos com os filhos. Com eles: usar brincadeiras para saber suas capacidades; desenvolve-las ou retirá-las; exercer uma profissão; se distinguir pelo saber; ir em campanha militares; contemplar o que gera a luz; se dedicar a filosofia; assumir cargo público; participar da seleção que o selecionou.

República – livro VIII
543a-550c. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (6): formas de governo (1): Aristocracia - Timocracia. S recapitula os acordos: mulheres, filhos e a educação em comum na guerra e na paz; só serão reis os que se destaquem nas campanhas militares e na filosofia; a casa dos guerreiros será comum e seu sustento por um ano. Voltam a digressão, discutiam as formas de governo e qual melhor e pior indivíduo; tantas formas de governo quantos os tipos de indivíduo. Formas de governo: governos de Creta e Lacedemônia; oligarquia; democracia e tirania. Há formas intermediárias, como as dinastias hereditárias. S diz que já discutiu sobre a Aristocracia; opor sistema injusto com o justo. Sequência: Aristocracia, Timocracia (ou Timarquia), Oligarquia, Democracia e Tirania. Da Aristocracia vem a Timocracia. A decadência dos regimes políticos ocorre pela discórdia, por meio da incorreta geração: divino (não cumprimento do número perfeito); humana (seguir a determinada equação) (mistura das raças indevidamente). Isso pois as raças de ferro e bronze querem enriquecer com terras, casas, ouro e prata; as de ouro e prata são ricas por natureza, buscam a virtude; depois de entrarem em violência, acordam: se apropriarem da terra; subjugar alguns; os últimos se ocuparem da guerra e da proteção. Timocracia está entre a Aristocracia (guerreiros só lutam) e Oligarquia (buscam a riqueza), possuindo elementos das duas mais a sua própria. Formação: jovem pai não se interessa pelos negócios é criticado pela mulher, gerando dúvida no filho que, por má companhia, se afasta do pai.
Obs: 1ª decadência da Aristocracia é a Timocracia pela incorreta reprodução entre os nobres (buscam a virtude) e os que desejam riquezas gerando filhos confusos (como eros), entre a razão (cérebro) e o desejo desenfreado (estômago), desenvolvem a raiva (Θύμος). 
550c-555a. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (7): formas de governo (2): Timocracia - Oligarquia. Oligarquia: os ricos mandam, os pobres obedecem. Os dirigentes: acumulam para uso próprio; gastam; torcem e não obedecem às leis; o povo imita-os. Só participa do governo quem tem determinados bens; excluindo entre os pobres quem tem conhecimento; assim a cidade deixa de ser una, sendo dupla; os governantes temem a conspiração dos pobres; os mendigos tornam-se ladrões. Filho do timocrata imita seu pai e desafia a cidade, sendo exilado; porém consegue forma para trabalhar, com ambição e cólera; a razão e a coragem trabalham para ele. De avarento passa a ambicioso; não gasta com supérfluo, nem para se instruir, nem por amor a glória, nem para competir.
Obs: 2ª decadência: da Timocracia para Oligarquia; da raiva para a ambição; o homem de negócios se concentra no trabalho e na acumulação, se associa aos memos, impondo que só os ricos administram a cidade.
555a-561d. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (8): formas de governo (3):   Oligarquia - Democracia. Na oligarquia o desejo por bens é insaciável, os governantes não reprimi os jovens dissipadores; temperantes e amantes da riqueza se excluem; deixam acontecer abusos, favorecendo a libertinagem; por dívidas e/ou perda de cidadania perde seus bens, destilando ódio a população. Os pobres são desprezados pelos ricos; o pobre pode perceber, ao lutar ao lado do rico, que ele vale nada. A democracia surge quando os pobres vencem os ricos: matando, exilam e divide o poder da cidade; cargos tirados a sorte (como na Rev. Francesa?/Ver. Russa?). Todos podem falar e fazer o que quiser; há indivíduos de todos matizes, de todas constituições; ninguém é obrigado a tomar parte no governo ou ir a guerra, ou aceitar a paz. O sujeito democrático vem do oligárquico que repreende o gasto desenfreado do filho; porém ao provar dos prazeres fica em conflito consigo mesmo; exilam a vergonha, expulsam a temperança, moderação é sovinice; louvam a desordem, dissipação, magnificência e falta de vergonha. Gasta com supérfluos pois acha que os prazeres são iguais e não que uns devem ser cultivados e outro reprimidos.
Obs: 3ª decadência: da Oligarquia para Democracia; da ambição para libertinagem. Os pobres querem imitar os ricos mas não tem recursos; os ricos não dividem e não protegem a cidade; os pobres tomam dos ricos, mas como se baseiam neles não conseguem distinguir os prazeres e adquirir as virtudes.
561d-569c. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (9): formas de governo (4):   Democracia - Tirania. Como no governo anterior, a passagem se dá pelo desejo insaciável de riqueza e o descaso pelo resto. A liberdade total torna-se anarquia, com os filhos desrespeitando os genitores e professores que, por medo, os adulam. Tanto os escravos como na relação homem e mulher a liberdade não é a mesma. Se revoltam ao serem constrangidos; não seguem as leis. Da liberdade vem a servidão. O legislador deve fazer como o médico impedir que proliferem na cidade ou, no caso de se estabelecerem, arranca-los. Divisão: aqueles que falam e agem em nome de todos; os que de dedicam ao lucro; povo: vivem do trabalho manual e são fortes nas assembleias. Quando os dirigentes roubam dos ricos para dar aos pobres entram em disputa com os oligarcas. Os oligarcas então mata para restituir sua terra; quando não é exilado ou executado pede guarda pessoal. O indivíduo tirano: não se diz tirano; faz promessas; solta presos; distribui terras; provoca guerras, criando a necessidade de chefe; precisa se livrar do que o ajudou a subir fala livremente. A tragédia não é admitida pois defende a tirania e a democracia. O tirano sustenta seus comparsas: tesouros da cidade, impostos ou herança paterna. O tirano maltrata seu pai, o povo.
Obs: 4ª decadência: da Democracia para Tirania; da liberdade irrestrita para a anarquia e servidão; com o poder, o pobre julga que pode fazer o que quiser, sem consequências. Na confusão surge o salvador com seus apoiadores insaciáveis; para mantê-lo precisa da guerra.

República – livro IX
571a-580a. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (10): o homem tirânico. Antes do tirano, investigar os apetites: há os ilícitos, loucura e imoral; contra isso a temperança das belas máximas. Nos sonhos vemos desejos terríveis selvagens e irrefreáveis. O democrático daquele que modera as qualidades do pai sovina e do contato com os prazeres; o filho desse tem a moderação do pai e o contato com a plena liberdade. O tirano é ébrio, amoroso e louco; vive em festa, dissipando o patrimônio, adquiri dívidas; espolia os pais e outras pessoas. Quando são poucos, convém enviá-los para guerra; quando ficam na cidade fazem pequenas malfeitorias (roubam, escravizam pessoas, deletam); quando muitos e adquirem conhecimento de sua força, geram o tirano. O tirano castiga a cidade como fez com os pais; nem tem amigos: ou tiranizam ou servem; são desleais, injustos, desgraçado como a cidade. São opostos o governo tirânico (pior) e o régio (melhor). Para saber sobre a infelicidade na cidade é preciso: penetrar nela e examinar o conjunto. Do mesmo modo para o indivíduo (fazendo etnografia?). Ouvir com morou com o tirano na mesma casa e saber como trata com familiares e os perigos público. A cidade governada pelo tirano é escrava, não podendo fazer o que quiser; é pobre e insatisfeita; infeliz e desgraçada. Suposição: um tirano com escravos é levado a um deserto: de medo ele adularia e prometeria; ele é levado para um lugar onde as pessoas não aceitam sua pratica: ele seria castigado; vigiado; não poderia sair de casa. Em síntese, o tirano é: invejoso, desleal, injusto, sem amigos, ímpio, viciado, infeliz e gera infelicidade.
Obs: o tirano quer satisfazer sua vontade, pelo amor, embriagues e loucura. Mas a questão, como no Górgias, 466 e 510, é quem o apoia, gerando a guerra e a escravidão. Ele é apoiado pelo ambicioso, pelo interesseiro e pelo democrático libertário, cabendo ao filósofo libertar a todos.
580b-587e. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (11): transição do tirano ao rei. Transição: homem régio para o timocrático, oligárquico, democrático e tirano. Como a cidade, a alma também é tripartite com um prazer específico para cada: aprende; encoleriza-se; apetitiva: ao lucro e a fama. Daí o filósofo, o ambicioso e o interesseiro. O filósofo opina e compara os outros dois (saindo de si) para buscar o mais agradável e sem sofrimentos. O julgamento se dá pela experiencia, sabedoria e raciocínio. Assim o filósofo será o primeiro, o guerreiro o segundo e o ambicioso em terceiro, mais próximo do interesseiro. Há momentos em que não sentimos dor nem prazer, é o repouso da alma. Isso é buscado por quem tem dor aguda. Mas o estado intermediário pode ser prazer e sofrimento ao mesmo tempo; eles constituem uma espécie de movimento; o estado de repouso não existe. Todos os desejos querem cessar alguma dor; do mesmo modo a expectativa. Confusão com os estados intermediários, como se fossem a plenitude do prazer. Há sensações de vazio: do corpo (fome, sede); e da alma (ignorância, insensatez). Eles se enchem com alimento e sabedoria; até a plenitude da realidade; o gênero que mais participa da existência pura é o alimento para alma, pois é igual a si mesmo; o do corpo participa em menor proporção, nunca atingindo o alto, apenas o meio; os que se saciam com este último vivem como gado, batem-se buscando vantagens para si; conhecem só o prazer mesclado ao sofrimento, como os que lutaram em Troia pelo fantasma de Helena. Do mesmo modo ocorre com a parte irascível que só busca a glória, a violência, sem razão. Só o elemento filosófico da alma consegue que ajustar as outras partes em prol dos prazeres mais puros. O tirano está a três pontos do oligárquico; nove pontos do prazer do rei; 279 vezes da felicidade do rei.
Obs: Cálculo: cada alma tem três partes e cada parte tem um prazer, o prazer da parte apetitiva do tirano precisa: (3²)³ = 279. Esses são as etapas que o rei deve conhecer.
588b-592b. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (12): recapitulação (com acréscimos). A injustiça serve ao celerado se ele passar por justo. Imaginar: monstro de várias cabeças; leão e o homem; eles formam uma unidade, o homem. Dizer que é útil a ele ser injusto significa fortalecer os dois primeiros e debilitar o terceiro; contra isso é preciso habituá-los a viver juntos. A justiça ocorre onde o homem, aliando-se ao leão, cuida para que as partes selvagens do primeiro não se desenvolva.  Na vida honesta prevalece a parte divina da alma; a torpe a parte bestial. Males: intemperança vem do excesso de liberdade ao mostro; a arrogância e o irritadiço vem da força do leão; o luxo e a moleza envenenam a alma; a bajulação e subserviência vem do mostro. As artes manuais são baixas por não dominam os animais interiores. É de vantagem para ambos serem comandados pela parte divina e racional: seja pela sua absorção, seja pela amizade. Os jovens livres só o serão com fixarem a constituição da cidade; as riquezas precisam ser adquiridas com ordem e harmonia; as horarias só aquelas que a tornarem melhor. Ele severa cuidar de outra cidade. Esse modelo só existe no pensamento ou no céu.
Obs: recapitulação com acréscimo de elementos: nova divisão com mostro, leão e o homem. Pelo uso adequado o guardião poderá entrar em contato com riquezas e honrarias. A alma é divina ela pode alterar a alma animal.

República – livro X
595a-608b. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (13): a imitação está três graus da verdade. Os poetas devem imitar o conhecimento. Homero primeiro mestre e guia. Método: buscar a unidade. Deus fabrica tudo; o pintor, como o espelho, produz a aparência. Três formas do leito: leito essencial feito por deus; feito pelo carpinteiro; pelo pintor. O pintor está a três pontos afastado do primordial e imita o segundo, enganando os simples. Homero: não é médico nem tem discípulo médico; nem ganhou guerra ou administrou bem a cidade ou educou; ou inventou algo útil; apenas transmitiu a norma homérica. Como Homero, Protágoras, Pródigo e Hesíodo as pessoas deixam que vagueiam. O fabricante possui opinião verdadeira; o usuário a ciência; o imitador, nenhum dos anteriores, só brinca, como os poetas. O objeto pode confundir a percepção, ilude-a; contra isso a arte medida, trabalho da parte raciocinante da alma; a outra parte é companheira das artes imitativas. A parte irascível da alma lembra a desgraça. A poesia estraga pessoas honestas, por meio do amor, da cólera e das paixões da alma. Homero foi educador da Hélede: só se deve admitir hinos aos honestos, pois com as musas açucaradas o prazer e a dor governarão e não a lei e a razão. É longa a briga entre poesia e filosofia; a cadela late contra seu dono; os poetas precisam convencer que a poesia é útil; se não convencer ela será banida, pois não se pode deixar as pessoas serem arrastadas pela gloria e riqueza, menosprezando a justiça.
Obs: a filosofia, a cadela, late contra sua dona, a poesia, para que ela use seu poder, a capacidade de gerar emoções e ações, para o bem da cidade olhando não para cidade real, mas para aquilo que a gera e a mantem. 
608c-621c. Discurso de Sócrates sobre o filho do bem, o sol (14): a alma imortal. Da infância a velhice x eternidade. A alma não perece. Mal é o que se destrói x bom é o que se conserva. A injustiça deixa a alma má, mas não a destrói. O estranho (externo) não destrói a alma e o corpo; exceto quando se junta a eles; se a alma não é destruída pelo externo nem pelo interno ela é imortal; assim elas, a almas, mantem-se numericamente. Contemplar a alma sem sua união com o corpo a partir de sua natureza filosófica, divina e imortal. Deixar de lado a recompensa e a reputação de Hesíodo e Homero. Os deuses preservam os justos e o contrário os injustos. Os justos na maturidade alcançam seus objetivos, administram a cidade e casam seus filhos; os injustos são descobertos e desacatados.
História de Er: morreu em combate; no décimo dia recolheram seu corpo em perfeito estado para ser sepultado em 2 dias; porém, sobre a pira, reviveu o disse o que viu. Saiu do corpo e com outras almas foi para duas fendas na terra e duas no céu; lá os juízes mandavam subir os justos e descer os injustos; a Er os juízes mandaram contar os homens o que estava vendo. Os injustos eram castigados; os justos eram recompensados. As fendas não deixavam os injustos subir. As almas ficaram ali 7 dias, no oitavo e depois de 4 dias de caminhada encontraram algo parecido com arco-íris. Mais um dia de caminhada e viram a extremidade da terra ligada ao céu; viram também os círculos do universo e sua movimentação. As almas se apresentam a Láquese (uma moira). Um profeta diz a almas que elas devem escolher o demônio e o tipo de vida. S diz a G que esse é o momento decisivo onde é preciso escolher uma vida mediana e fugir dos excessos. Er diz que cada um escolhia a partir da experiência passada: os injustos tornaram-se animais selvagens; os justos animais mansos. De tarde no Rio Amales tomavam água e esqueciam de tudo; depois da meia noite houve um tremor e a terra abriu-se a foram as almas para todas as direções. De súbito ele acordou na pira. S a G: salvou-se o conto e nós se o seguimos; aceite que a alma é imortal; praticando a justiça e a virtude tornamos amigos de nós mesmos e dos deuses.

Síntese do Timeu
17a-20c. Introdução e recapitulação da República. Tipo de Estado e de homem. Div. das classes: os artesões e os guardiões da cidade; a ocupação deve ser adequada e a formação com música e ginástica. 18b. os guardiões não devem possuir bens; as mulheres, como tem as mesmas funções dos homens, devem ter a mesma educação; casamentos e filhos em comum. S quer saber como ocorre a guerra e os tratados. Timeu é de Lócride, melhor cidade da Itália. 
20d. Hermócrates pede para Crítias contar para S sobre uma antiga tradição. 
20e. Crítias diz que ouviu a história de Crítias, seu avô que ouviu do seu pai Dropidas que ouviu de Sólon, “o mais sábio de entre os Sete Sábios”. Ela foi esquecida pela destruição da humanidade e deve ser lembrada como forma de louvar a Atena, patrona da cidade. 21ab. Crítias (avó) tinha 90 anos e Crítias (neto) tinha 10 na festa das Apatúrias. 
21e. Sólon, para ouvir as histórias dos sacerdotes, diz que Foremeu foi o 1º homem e Níobe, Deucalião e Pirra sobreviveram ao dilúvio. 
22b-25d. Fala de um sacerdote egípcio: os gregos são crianças; a humanidade passou e passará por muitas destruições, seja por fogo, dos que vivem nas montanhas, seja por água, dos que vivem perto dos rios, ou outras. Eles, os sacerdotes, guardam este saber nos templos e só sabem disso os letrados que cultivam as Musas. Antes da destruição, a cidade de Atenas era a mais guerreira e mais bem governada.  Os atenienses vêm da semente de Hefesto (gerado na terra pois Atenas escapou do estupro). Cada classe - sacerdotes, artesões, pastores, caçadores, agricultores, guerreiros – não se misturam e se dedicam, cada um, a sua função. Esta cidade conteve uma invasão de outro povo, impedindo a escravidão, deu a liberdade a todos. Depois veio o dilúvio e a cidade foi engolida pela terra.
25e-27b. Crítias (o neto) fala da semelhança entre a fala do sacerdote egípcio, relatada a Solon e contada a seu avô, e a fala de S na República. Esses homens que S descreve são nossos antepassados. Timeu, astrônomo e conhecedor da natureza do mundo, deve falar sobre a origem do mundo e a natureza do homem. Ele falará de como os homens recebem o discurso e S sobre a educação. 
27c-29b. Timeu aceita indicação de S de invocar um Deus e explica o motivo: concordância com o divino; aprendizado. Distinção entre o que sempre é (imutável, eterno, aprendido pela razão, modelo) e o que devém (nunca é; aprendido pelos sentidos; possui causa). O discurso do primeiro deve ser irrefutável. 
29c-35c. Timeu. O demiurgo é bom, livre de inveja (claro, não há outro ser, ou há?), fez o mundo em ordem e semelhante a si. O corpo do mundo é feito de fogo, terra e de dois elementos intermediário a eles: a água e o ar. Sendo perfeito, completo, imune a doença e envelhecimento, esférico e gira em torno de si. A alma é feita de ser, o mesmo e o outro na proporção: 1º tira uma parte; 2º 2x o 1º; 3ª 1,5 o 2º (ou 3x o 1º); 4º tira 2x o 2º; 5º 2x o 3º; 6º 8x o 1º; 7º 27x p 1º; depois ele preencheu os intervalos.
36b-37b. Timeu. Cortou ao meio; sobrepôs os círculos pelo centro; fez o outro o interior e girando para esquerda; fez o mesmo, o exterior, girando para direita. O círculo interno é divido em 6. A alma do céu, quando em contato com algo, informa, pela semelhança ou diferença, o que a coisa é. 
37c-39e. Timeu. Junto com o céu o pai (demiurgo) criou o tempo. O é não torna-se mais velho ou mais novo. Depois foram gerados o sol, a lua e os planetas, todos girando os círculos (refutado por Kepler? Se a elipse é um tipo de círculo). A orbita do outro atravessa a orbita do mesmo que a domina. Os astros deslocam-se em círculos distintos proporcional ao tempo, como a lua em um mês e o sol em um ano; todos voltam no início, pois são eternos. 
40a-e. o demiurgo fez o mundo a partir de suas formas, 4: a celeste (ar?); alada e terrestre; aquática; e a que caminha pela terra. Assim há os seres divinos, imutáveis, e os errantes, os que mudam de direção constantemente. Quanto aos deuses devemos falar como os outros (Lopes diz que a genealogia é diferente da de Hesíodo). Geia+Urano=Oceano e Tétis=Fócis, Cronos e Reia; Cronos e Reia=Zeus e Hera.
41a-e. o demiurgo diz: os deuses gerados por mim não são dissolvidos; vocês devem gerar os mortais com uma parte imortal (a alma) e uma mortal (corpo); recebendo de volta a parte imortal.
41d-44b. Demiurgo pega as almas e mostra a natureza do universo, mostrando as leis: a primeira geração é igual; os seres devem venerar os deuses; a natureza humana é dupla. As almas tem impressões e desejos, se as dominar vive bem, se não reencarna com sofrimento, primeiro como mulher, depois como animal. Nas almas tem fogo, terra, água e ar nas cavidades; eles geram fluxos, são as sensações que quando não governadas geram confusões e inversões do mesmo e do outro.
45b-47c. Timeu descreve as partes do corpo. Os olhos é uma espécie de fogo que porta a luz; irmão do outro fogo, se conecta a ele de dia, permitindo que vejamos. Quando o fogo se afasta (o sol se põe) e chega à noite, chega o ar, que por diferir dos olhos, deixamos de ver, vem o sono (vontade de fechar os olhos), o sossego. Porém quando acontece de restar movimentos fortes, produz-se simulacros, os sonhos, semelhantes a visão diurna; agora o fogo interior e o fogo exterior estão em oposição e, como ambos são lisos, geram imagens duplicadas e contrárias, ou mesmo, pela mudança de direção da luz. Todas essas causas são acessórias, e por amarem a intelecção persegue a alma, a causa primária. A visão dos astros, do sol e do céu originou a matemática (o dia, os meses, etc) que precisamos usa-las de modelo para estabilizar nossa errância.  Com a voz e a audição é o mesmo, como as orbitas da alma humana é desprovida de harmonia, as Musas, pela música, concedem ordem e concordância.
48a-55c. O mundo foi gerado pela Necessidade e a Interlecção, com a segunda orientando a primeira. Rever as naturezas do fogo, do ar, da água e da terra. Invoca o deus. Terceiro elemento entre o inteligível e o devir. A agua vira terra e ar; o ar vira fogo e agua. Eles não são algo (permanente), mas estão assim em determinada circunstância (esse é o terceiro). Três gêneros: “aquilo que devém, aquilo em que algo devém e aquilo à semelhança do qual se cria o que devém”. A intelecção, justificação verdadeira, é dos deuses; opinião verdadeira, sem justificação, é dos homens. O terceiro, o lugar (χώρα), é sempre, apesar de se parecer com aquilo que recebe (neste caso, quem imita as coisas é uma parte do inteligível). Quando não equilibrada balança com os quatro elementos; antes da criação não haviam as formas, a proporção e a medida; deus compôs primeiro o lugar. Os quatro elementos são corpos, por isso tem profundidade e superfície que são formados por triângulos: a terra por isósceles; os outros triângulos desiguais.  Fogo (1º) é formado por equiláteros; o ar (2º) seis; a água (3º) forma-se de 29 triângulos elementares e doze ângulos sólidos; a terra (4º) 4 isósceles. Uma 5ª deus usou para pintar os animais do universo. 
55c-61b. Dificuldade: há infinitos mundos ou em número limitado? A terra é cúbica e estável e gerou o fogo; o ar o 2º; a água 3º, estes, envolvidos pelo fogo dá a impressão de mudarem de lugar (χώρα). O movido tem um movente e não é uniforme; o repouso é uniforme. A órbita do universo é circular não permitindo (indo preencher?) o vazio. Tipos: de fogo: a chama e sua emissão; do ar: éter e a turvo; da água: líquido, o que se liquefaz, vira partícula (ouro, granizo, gelo, neve), das plantas pelo fogo: vinho, óleo, mel, fermento; terra: filtrada pela água vira pedra, salitre e sal, vidro, pedras fundíveis, sem água barro.
61c-6. Causas da impressão. Considerar a carne (corpo) e a parte mortal da alma.
61c-62b. Causas da impressão. Considerar a carne (corpo) e a parte mortal da alma devido as sensações. O fogo é quente; provoca coisas agudas devido: a fineza de suas arestas; a pequenez de seus ângulos; a rapidez dos seus movimentos (61de). Os líquidos dentro do corpo provam o contrário do fogo, junta as partículas, gerando: tremor e arrepio (frio) (62ab). 
62de. Sendo o céu esférico, o extremo é oposto ao centro.
63a. considerar o trajeto que leva o pesado para baixo e o leve para cima. 
64cd. A impressão violente e súbita gera a dor, “mas, pelo contrário, o regresso ao estado natural de forma súbita é aprazível; já uma impressão moderada e faseada não é sentida” (64d). Há aquelas impressões, as geradas com facilidade, não geram nem dor nem prazer, como a visão.
65c-66b. A língua testa para que os sucos (a água das plantas) cheguem, pelos vasos sanguíneos, ao coração. As rugosas apresentam-se como amargas, as menos rugosas como azedas; as de justa medida salgada, as além picantes; as que queimam são acres (acidas e azedas); as de mesma natureza da língua são doces.
66de. os cheiros são gerados daquilo que se liquefaz, apodrece, se dissolve ou apodrece. É o estado intermediário entre a água e o ar. 
67ab. Audição: o som é uma pancada no ar, transmitida nos ouvidos, passando pelo sangue até o cérebro e o fígado. O rápido é agudo, o lento é grave; o constante é uniforme e suave, o contrário é áspero; o possante é amplo, o contrário breve.
67c-68b. as cores é a chama que emana dos corpos de mesma dimensão do raio de visão. As do mesmo tamanho do raio de visão são transparentes, as maiores são acres; o branco dilata o raio de visão, o preto o contrário. O encontro do fogo gera o brilhante; o fogo com a água o encarnado. O encarnado com o brilhante e branco gera o amarelo; o encarnado com o preto e branco a púrpura; o amarelo com o cinzento (branco e preto) o fulvo; o branco com amarelo dá ocre; o branco com brilhante e preto gera o azul-escuro, este último com o branco gera o azul-claro; o fulvo com o preto dá verde. 
68e-69a. as causas ou é necessária ou divina. A primeira é pressuposta para a divina que visa a vida feliz. 
69b.74d Timeu volta ao que foi dito: deus criou tudo de modo que pela medida cada um fosse proporcional a si mesmo e em relação aos outros, pois o universo é um ser vivo único. O demiurgo gerou os seres divinos e incumbiu eles para gerarem os mortais, dando-lhes o princípio imortal da alma. Os seres divinos geraram o corpo e a alma mortal, esta última contem o prazer, as dores, a audácia, o temor, a paixão e a esperança; estas paixões com a sensação irracional e o desejo amoroso são submetidas a Necessidade. Nos seres, a parte divina da alma foi colocada na cabeça e a mortal no peito, com o pescoço como intermediário; a parte de cima da mortal participa da coragem, a de baixo dos desejos, são separadas pelo diafragma; a batida do coração, fonte de sangue para os membros, diante os perigos e das paixões é causado pelo fogo e amortecida pelo ar dos pulmões. Entre o diafragma e o umbigo fica a parte da alma que deseja comida e bebida, longe da razão, ela é influenciada por simulacros; nela atua o fígado que quando corrige tudo provoca um sono tranquilo, permitindo a divinação durante o sono e a ligação com a verdade do passado, presente ou futuro, como nos casos de doenças e delírios. O fígado fornece os sinais vitais, o baço, seu vizinho, o mantem limpo. Os intestinos permitem a digestão lenta e moderada da bebida e comida. O encéfalo recebe a semente divina em forma de círculo; o osso é feito de terra e medula com o fogo e a água se alternando, assim, com as propriedades do Outro proporcionam movimento e flexibilidade. A carne, feita de água, fogo, terra, ácido e sal, protege os ossos do frio e das quedas. Os tendões são feitos de osso e carne; os ossos com mais alma têm menos carne e vice-versa.
75b-80a. a vida mais curta é melhor e a mais longo mais trivial. Dos dentes, língua e lábios são os pensamentos para o exterior. A pele reveste a carne; elas são furadas para sair secreção e cabelo para regular a temperatura; as unhas são feitas de tendão, pele e osso. A alma das plantas é como a terceira alma que fica entre o diafragma e o umbigo, ela não raciocina, mas sente prazer e dor; ela é passiva e gira em torno de si. Entre a pele e a carne há dois vasos sanguíneos. Os corpos pequenos são impermeáveis aos grandes; o fogo atravessa os outros elementos (a.t.a); isso acontece no abdômen com a saída do ar quente e entrada do ar frio, é a inspiração e expiração. Isso ocorre com as ventosas medicinais, com a deglutição e com os projéteis. 
80b-. o deus ajustou os sons lentos e rápidos e misturou o agudo ao grave e o mesmo os fluxos de água, a queda de raios, as maravilhas da atracção do âmbar e da pedra de Héracles” (80bc). A atração não ocorre no vazio, mas se alterna.

Sínteses.Platão.3-diálogos.médios.2

Síntese dos diálogos de Platão com vista a título de doutorado em ensino de filosofia pela FE Unicamp. Autor: Robson Gabioneta

Banquete: 
172a-173c. Apolodoro responde a Glauco sobre o banquete divido a vitória da tragédia de Agatão (em 416 a.C.) com a presença de Sócrates e outros. Apolodoro gosta de conversas filosófica, mas não gosta de conversar sobre dinheiro. Apolodoro diz que ouvir de Aristódemo e confirmado por Sócrates.
174d-175d. Aristodemo viu Sócrates banhado e sandália e quer saber onde ele vai. Ele diz que vai até o banquete de Agatão e o convida também. Aristodemo pede para s inventar uma desculpa, porém, S fica paralisado no meio do caminho, de modo que Arist. chega sozinho. Agatão, ao vê-lo, o convida e pergunta por S. Arist diz que ele está a caminho e pede que não envie ninguém para buscá-lo.  S chega no meio do banquete; Ag pede para lhe passar o pensamento; S diz que sabedoria não se passa pelo simples contato e elogia Ag;
Obs: o elogio é discutido no Górgias e Protágoras (346bc. Simonides teve que elogiar um tirano).
176a-178a. Pausânias sugere a moderação na bebida, pois beberam na noite anterior. Erixímaco: pede acordo de Agatão (que dá); todos são fracos na bebida exceto S; a medicina diz que a embriaguez é prejudicial; dispensemos os flautistas e nos distraímos com nossos discursos a Eros, pois, como lembra Fedro, Eros é o único deus que não recebe encômio, começando por Fedro da esquerda para a direita. S diz que só entende de amor e Aristófanes se dedica a Dionísio e Afrodite.
Obs: regras para os discursos no banquete: bebida moderada, sem flautista, elogio a eros, ordem dos discursos. 
Discursos: Fedro (178b-180b): Eros é a divindade mais velha; em Hesiodo vem depois de Caos e Terra; nada grandioso ocorre sem amor; no amante gera vergonha diante de uma má ação; um exército formado de amantes e amados é estruturado; o amor é semelhante a coragem dos heróis em Homero; só o amante morre pelo amor (como Alceste ao seu marido; Orfeu não deu a vida por Eurípides e foi castigado; Aquiles foi enviado a ilha dos bem-aventurados por se vingar de Pátroco); amante é mais divino que amado; Eros leva os homens a virtude e felicidade, na vida e depois da morte.
Obs: Platão e seus amigos investigam a poesia de sua época: 1. Identificou que não haviam discursos apropriados; 2. Cita e analisa os existentes; 3. Atualiza seu conteúdo (traz a virtude por exemplo). 
Discurso de Pausânias (180c-185c): critica o modo como foi proposto o discurso, acho que precisa distinguir os Eros a partir da Afrodite: mais velha, filha de Urano, não tem mãe, é celeste; a mais nova, filha de Zeus e Dione, é vulgar. Só o amor nobre, o celeste, merece encômios; o vulgar precisa ser corrigido. O amor julgar, onde se gosta de mulheres e rapazes, só o ato é importante; o celeste, onde o feminino não participa e o masculino só em idade apropriada, com o buço apontando, promove uma união para sempre. As crianças deveriam ser proibidas de amar. As normas sobre o amor devem ser claras e não complicadas; os tiranos condenam o amor. Não há belo em si, mas de acordo com o efeito de suas ações; a amor vulgar, ao amar o corpo, não é constante; o amor se constrói com o tempo, por isso o amor deve buscar a virtude e não ceder por dinheiro e poder. Pausânias diz que falou de improviso. 
Obs: o discurso de Pausânias é o dobro do Fedro; ele não explica a relação entre eros e Afrodite, nem entre as Afrodites. O amor vulgar deve ser corrigido, contido com vista ao amor celestial.
185cd. Aristófanes pede para Erixímaco: solução para soluço e falar no seu lugar; Erixímaco atende e recomenda: reter a respiração, gargarejar e espirrar. 
Discurso de Eríximaco (185e-188e): o amor está presente em tudo (nos animais, no que nasce da terra, no divino); as pessoas amam coisas diferentes se estão com saúde ou com doença. A medicina é a ciência da relação amorosa entre o cheio e o vazio; o médico muda as disposições do corpo conciliando suas partes; Asclépio é quem governa; na ginastica, agricultura e música, temos a consonância, com diz Heráclito; música é a ciência do amor a harmonia e ao ritmo; o amor temperante, celeste, é o princípio, o amor popular precisa de moderação; em tudo há os dois amores. Nas estações do ano harmonia é saúde; impiedade é não cultuarmos o amor divino. Por fim Erixímaco pede para Aristófanes corrigir alguma falha.
Obs: Fedro < Erixímaco < Pausânias: sem a exata proporção dos amores há caos. Platão debate com médicos (Siqueira-Batista e Schramm, 2004).
Discurso de Aristófanes (189c-193d): discurso diferente de Erixímaco e Pausânias (Fedro?); os homens deveriam louvar eros que é o deus mais amigo. A natureza humana era de três sexo e não dois. Antigamente o homem era como uma bola: quatro mãos e pernas, dois rostos, dois genitais. Eram tão fortes que se voltaram contra os deuses. Zeus ordenou dividi-los ao meio; Apolo foi modelando o corpo de cada um. Cada metade, ao se encontrar, fundiam-se e morriam de fome; Zeus colocou os genitais para frente, os fez procriar e deu a saciedade. Cada um é um símbolo a procura da metade. Eram de três tipos: masculino e feminino; só masculino e só feminino. Se Hefesto se aproxima deles na cama eles podem pedir para viver eternamente juntos, mesmo depois da morte. Devemos encontrar amigos que possuem as mesmas aspirações. Elogiem eros para sermos curados.
Obs: Aristófanes completa o discurso de Erixímaco; é menor apenas que o discurso de Pausânias. Santoro (2014): Platão faz reverência a Dionísio: interpretação simbólica (Aristófanes); ascese contemplativa (Diotima); revelação epóptica (Alcebíades); faz paródia da paródia de Aristónes fez na Aves com o mito de morte e ressurreição de Dionísio. 
Discurso de Agatão (194e-197e): antes de falar é preciso dizer como: ninguém louvou eros (sua natureza), falou apenas de como ela beneficia os homens; eros é o mais belo e foge da velhice, por isso Fedro erra quando diz que é o mais velho. Os deuses brigam por necessidade e não por amor que gera amizade e paz; eros é maleável (úmido) e não resistente (seco). Eros e deformidade estão sempre em guerra, porém eros não ofende nem é ofendido. Participa da justiça, temperança e sabedoria (geração e crescimento dos seres vivos). Deuses estão sob direção do amor: Apolo com arco, medicina e adivinhação; melodia das Musas; forja de Hefesto; tecer de Atena; domínio de Zeus. Aos homens eros gera: solidariedade; reuniões; festas, coros, sacrifícios. Diz a Fedro que o discurso foi sério e brincalhão.
Obs: do mesmo tamanho do discurso de Erixímaco, maiores apenas que do Fedro. De fato, explicitamente só ele falou da natureza de eros (jovem, maleável, não se relaciona com a ofensa; participa da virtude); porém é semelhante a Pausânias (idade de eros, virtude); Erixímaco (amor está em tudo). 
188de. Sócrates fala em particular com Erixímaco: não sabe elogiar; os outros discursos só qualificam eros como belo sem verificar a realidade dos fatos. 
199ab. Sócrates pergunta a Fedro se pode discursar como se fala, fazendo perguntas a Agatão.
Discurso de Sócrates (199c-212b): Conversa com Agatão (199c-201c); conversa com Diotima (201d-203a); mito do nascimento de eros contado e explicado por Diotima (203b-204a); volta a conversa entre Sócrates e Diotima (204b-109e); Diotima apresenta o caminho para o amor (210a-2011c). 
Conversa com Agatão (199c-201c): elogia método de Agatão (o que é eros e suas obras); quem ama, ama algo (como o pai e mãe só o são por causa do filho); quem ama deseja, quem deseja não tem e quem tem não deseja (como o grande e forte); quem possui deseja continuar possuindo. Quem não possui, almeja o que: não tem; não existe (não é ele próprio); o que carece. Relembra fala de Agatão: só se ama o belo, não o feio (197bc: o amor não pousa no feio); porém concordaram que amor é desprovido do belo e do bom. 
Conversa com Diotima (201d-203a): método de Agatão (modificado) (o que seja amor, como se manifesta, suas obras). Diotima não concorda que eros seja belo ou feio, mas intermediário, como a opinião verdadeira (reta) que está entre a sabedoria e a ignorância. Para ela eros é um tipo de demônio (gênio), entre o imortal e mortal, que une deuses (ordena) e mortais (preces e sacrifícios), ligando o todo a si, pelo diálogo. 
Mito do nascimento de eros contado e explicado por Diotima (203b-204a): os deuses festejam o nascimento de Afrodite; Recurso bebe néctar e adormece; Pobreza deita-se com Recurso e gera Eros, servidor de Afrodite. Eros é pobre, mendigo, mas procura o belo e o bom, amigo da sabedoria, filósofo e sofista, adquire hoje e perde amanhã. Nem é sábio ou ignorante, mas intermediário (como o ‘só sei que nada sei’).
Volta a conversa entre Sócrates e Diotima (204b-109e): só se dedica a filosofia quem não é ignorante ou sábio. O amado é belo e perfeito, o amante é de natureza distinta. S: como eros é útil aos homens? Quem ama o belo e o bom visa possuí-lo com vista a felicidade. S: porque uns amam e outros não? D: criação é a passagem do não-ser para a existência, trabalho dos criadores, que recebem vários nomes, como os amores. A busca da metade só se dá quando o todo for bom; pela geração a humanidade participa da imortalidade, é o poder fecundante do jovem. Com os animais, sem a reflexão humana, na fecundação e na criação dos filhos, eles tornam-se fortes contra a adversidades (outros animais, fome). Na geração o novo substitui o velho, tanto nos elementos do corpo (sangue, ossos), como nos elementos da alma (costumes, opiniões), as coisas não são permanentes, como o conhecimento. A imortalidade é buscada pela glória e pela fama. Os fecundos pelo corpo geram filhos; os fecundos da alma a sabedoria e as virtudes, em especial o governo da casa e da cidade com a prudência e a justiça, procuram jovens para doutrinar, como vemos em Homero, Hesíodo e nos legisladores. 
Diotima apresenta o caminho para o amor (210a-2011c): frequentar belos corpos e produzir belos discursos; beleza da alma para formação dos jovens; contemplação das leis e tradições; estudo da ciência; o que existe por si e em si mesma que não nasce nem morre, não se modifica. Do belo corpo para todos os corpos; destes para a belas ações que gera os belos conhecimentos; e deste para o belo em si. 
Obs: o discurso de Sócrates e Diotima é mais que o dobro do discurso de Pausânias, que era o maior discurso. Recupera e corrige outros discursos: Fedro: eros leva a virtude e felicidade (180b); Pausânias: relação entre eros e Afrodite e a passagem do amor vulgar para o celeste (180de), explica a motivação do amor vulgar (181b); Erixímaco: relação entre o cheio e o vazio (186cd); Aristófanes: a busca pela metade só se for bom (191d); Agatão: explicar o modo que se fala (194e), o que eros é (195a), suas manifestações e suas obras. Ordenação dos discursos anteriores para descrever o caminho para o amor: gerar discursos de belas corpos – amor vulgar de Pausânias (180de); pela beleza de todos os corpos contribuir para formação dos jovens – Pausânias (182-184); contemplar leis e tradições – Pausânias (182-184); estudo das ciências - Erixímaco (186cd); contemplação do em si – Fedro (178d). Procedimento investigativo de Platão e seus amigos: conhecimento as pessoas; das tradições e leis; das ciências; do que não precisa de modificação. 
212e-214d. Alcibíades chega embriagado para coroar Agatão, mas ao ver Sócrates coroa ele também. Sócrates pede para Agatão o protege-lo pois Alc causa-lhe incômodos. Exixímaco informa o combinado: elogio a Eros; Alcibíades diz que elogiará S a partir da verdade.
Discurso de Alcibíades (214e-222b): pede para interromper o discurso se não falar a verdade. Sócrates é como silenos que no seu interior guardam as divindades; e como Mársias que com suas composições comovem os homens mostrando a necessidade de se iniciarem ao divino. S o envergonha ao mostrar que ele sem se conhecer quer ocupar-se dos negócios da cidade, o fazendo apenas por popularidade. Sócrates procura jovens se dizendo ignorante e nada sabe, desprezando aquilo que o vulgo aprecia (beleza, riqueza). Alc quer aprender com S entregando-se a ele, como os amantes fazem, porém, S não fez isso e disse a ele que se ‘vê com o espirito quando o os olhos do corpo estão enfraquecidos’. Alc então se deita encima dele, mas dorme como se fosse o irmão mais velho. Isso gerou desorientação e admiração. Na expedição em Potidéia Sócrates era superior em ficar sem comer, ou em comer e beber e andar no gelo; uma vez ficou parado meditando um dia inteiro. S salvou Alcibíades numa batalha sem querer medalha. Na batalha de Délio saiu sem ser molestado pelos inimigos. Sócrates é único, comparável a silenos e sátiros, que dendro de si possuem imagens de virtude. S se finge de amante, mas é simples amigo, enganado muitos, como Cármides, Eutidemo, e agora Agatão. 
Obs: o discurso de Alc é inferior apenas a combinação S/D, sendo o maior em extensão feito por uma só pessoa. Altera os discursos elogiando um mortal; mas mantem os anteriores: S (ao descrever um intermediário); fala de como Eros atua em si. Santoro (2014): Alcibíades é sátiro, porta voz de Dioniso no último estágio: a revelação epóptica. Disputa pela imagem de S na história. S procura jovens eminentes para expedições de guerra (?), e Platão também (?). 
222c-223e. Fim do diálogo: S: a intenção de Alc é me indispor com Ag para que os dois se sujeitem a ele. S pede para Agatão vir ao seu lado para elogia-lo, seguindo o caminho inverso, porém surgem outros convidados. Aristodemo dorme e quando acorda vê Ag, Aris e S bebendo; S defende que o mesmo homem é capaz de fazer comédias e tragédias; os dois dormem; S e Aristodemo partem para suas ocupações habituais.
Fedro
227a-230a. Fedro vem da casa de Lísias com seu discurso sobre o amor que diz deve entregar a quem não se ama. Sócrates sugere um tipo de leitura: ler várias vezes, anotar o mais interessante, espairecer, contar a outro. F e S escolhem um lugar onde Bóreas raptou Oritia. S examina sua natureza pela história. 
Obs: Simultaneidade do tempo; S não é analfabeto, mas louco por discurso, fazendo indicações que são aquelas que praticamos hoje. Continuação das discussões do Banquete: o efeito do amor nas pessoas.
Discurso de Fedro (231a-234c): os amantes, quando cessa o desejo, se arrependem, calculam os prejuízos e trabalho que fizeram; os não amantes não, pois: deliberam sobre o bem ao outro, pensam no próprio interesse. Os amantes, quando trocam de amado, prejudicam o anterior, não aprovando os próprios atos estando perturbados. Os amantes são invejosos e querem mostrar a todos que foram bem sucedidos, inclusive seus apetites são evidentes; os não amantes escolhem o melhor, encontram-se para trocar afeição e para espairecer. Os amantes, por ciúmes, geram inimizades e solidão; os outros observam a vantagem da convivência. Os amantes amam apenas o corpo e não o carácter e os hábitos; os que não amam a união melhora a amizade. O amante elogia sem discernimento coisas sem valor, por isso são mais dignos de piedade do que de inveja; ele, Lísias, se preocupa com o futuro e diz que o amor de filhos, pais e amigos não é desejo. Sugere Lísis: de aos necessitados e não aos merecedores, pois os primeiros demostrarão gratidão, não gozando apenas na mocidade, mas da velhice. Não gere prejuízos, mas amizades recíprocas.  
Obs: relações com o Banquete; tamanho similar aos de Erixímaco e Pausânias; Pausânias: correção do amor julgar pelo celeste (184-185); o que não amam devem corrigir os amantes; Erixímaco: o amor popular (desejo dos amantes) precisa de moderação (187-188); Aristófanes: os amantes devem procurar amigos de mesmas aspirações (192-193); Agatão: benefícios do amor (196-197), aqui prejuízos; Diotima: prática consciente do nascimento de eros (203-204).
234d-236e. Avaliação do discurso de Lísias: S é demoníaco (como no Banquete 202e), porém diz a mesma coisa duas ou três vezes, por dificuldade, por outros interesses ou por ostentação. Fedro ele é muito consistente e não há outro, faça S um melhor.
Discurso de Sócrates (primeiro) (237a-238c): tampa a cabeça de vergonha e chama as musas. Havia um jovem que pela beleza tinha muitos admiradores. Um deles, se fazendo de não apaixonado, tenta convencer o jovem a preterir o que não ama em detrimento do que ama. Ele faz isso com um discurso: quem quer aconselhar deve conhecer o assunto; as pessoas acham que conhecem as essências, mas não estão de acordo. Não cometemos esse erro, vamos investigar o que é o amor. Quem ama deseja, quem não ama deseja o belo, porém como distinguir. Temos em nós dois princípios: a busca pelo prazer (intemperança) e a busca pelo bem (temperança). Há vários tipos de desejos desenfreados, o da comida, da bebida, e o da aparência física, que se chama Eros.
Obs: o discurso de Sócrates (primeiro) é mais curto que o do Fedro. Jogo entre o ‘desinteressado’ e o assediado, ele são: Sócrates e Diotima; Sócrates e Alcibíades, nós e Platão?
Discurso de Sócrates (segundo) (238e-241d): qual proveito ou desvantagens em se dedicar ao apaixonado ou quem não é. O escravo do desejo detesta o igual ou superior, procura rebaixar o amado, para que ele não seja sábio, assim o amor não é proveitoso. Dai ele escolher um sujeito franzino e afeminado, gerando prejuízos em situações de guerra. A companhia do amante é prejudicial ou vantajosa: o apaixonado tem medo da censura dos parentes do amado; como agem o adulado e a cortesã. Os de mesma idade se saciam; já os de idade diferente geram incômodos pois o mais velho, quando volta a si não cumpre as promessas, invertendo a perseguição. Meditemos: a busca pela saciedade não gera amizade, como os lobos aos carneiros (como na Genealogia da Moral de Nietzsche?).
Obs: 2º discurso de S é maior que o 1º e similar ao de Erixímaco. Desigualdade entre amante e amado, como no nascimento de Eros de Diotima. Aqui é o superior que busca ou provoca a inferioridade, lá é o inferior que busca a superioridade gerando Eros (e a filosofia). A inferiorização gera prejuízo em tempos de guerra.
241d-243d. intervalo entre o 2 e 3 discurso de S. Fedro esperava que S fale das vantagens de se entregar a quem não ama; S o que reprovei em um é vantagem do outro. S que sair dali, porém F diz que é 12h e partirão quando refrescar. S diz que recebeu sinal divino para se retratar, por Eros é filha de Afrodite, e como deus não é mal. Lísias deve corrigir seu discurso: o jovem precisa se dedicar a quem ama.
Discurso de Sócrates (terceiro) (244a-257b): S se dirige ao belo jovem com muitos pretendentes: o discurso anteiror é de Fedro, esse de Estesícoro; é mentira dizer que não se deve entregar a quem te ama, pois o delírio não é um mal, mas uma dádiva, tal como Delfos e Dodona beneficiaram Hélade; já Sibila endireitou a vida das pessoas. Manifestações do delírio de da possessão: manikê (prever o futuro); purificar-se diante de um mal; vem das musas com a poesia, ensinando pela celebração do passado. Não cabe discutir se deve preferir o ponderado ou o apaixonado, mas que o delírio dado pelos deuses traz felicidade. Alma humana: é imortal pois se move. Princípio não é gerado e é indestrutível. Imagem da alma: dois cavalos e um cocheiro. Quando a alma cai torna-se mortal ao compor o corpo; quando alada segue os deuses. Zeus abre a macha seguido por 11 deuses na contemplação da verdade (justiça, temperança, conhecimento). As almas que se alimentam da opinião: passam uma na frente das outras; lutam e perdem as asas. Ordem das almas: 1ª Amigo da sabedoria, das Musas e do amor; 2ª rei ou guerreiro; 3ª político, economista ou comerciante; 4ª ginasta ou curador do corpo; 5ª adivinho ou iniciado nos mistérios; poeta ou artista da imitação; 7ª artista ou lavrador; 8ª sofista ou demagogo; 9ª tirano. A alma humana pode ir para um animal ou vice versa, porém homem é capaz de compreender a ideia (unidade reflexiva das sensações); a lembrança de viajar com a divindade é reminiscência. Ela, a rem., causa entusiasmo e falta de domínio. Os inexperientes querem procriar; os iniciados de pouco: se emocionam, venerando a divindade; abrem os poros para o surgimento das asas; quer o amado a qualquer custo. Os homens chamam isso de amor, os deuses não. Cada deus exige um culto e uma imitação, tanto do amante como do amado; Zeus suporta o fardo; Ares comete crimes. Volta do cocheiro e dos dois cavalos: o primeiro é ereto e moderado, obedece de primeira; o segundo teimoso, obedece no chicote. Este, diante do mancebo, leva os outros dois para o amor; o cocheiro puxa, gerando sofrimento e o pavor diante da imagem. O amado é honrado como um deus, mesmo com conselhos de que tal relação é vergonhosa aceita o afeto; ambos esquecem do sofrimento; refletem um o amor do outro; um exige do outro recompensas e na impiedade da desproporção tornam-se inimigos. Os deuses proíbem aos iniciados a descido no subterrâneo. Sócrates pede desculpa a Eros, oferece o discurso como expiação para que continue conhecendo a arte de amar e o prestígio entre os jovens.
Obs: 2º discurso de S é longuíssimo, um pouco maior que o discurso que S fez em conjunto com Diotima. Diálogo com Banquete: S lembra que Eros é filho de Afrodite como Pausânias (182-184) e Diotima (203-204); Pausânias: o amor celeste corrige o vulgar (183-185); Agatão: Eros participa das potencialidades divinas (195-196); Pausânias: moderação da bebido (176) devido a inexperiência das partes da alma (256); Diotima a contemplação junto com os deuses é o ultimo estágio do caminho do amor (ascensão dialética) (210-211); S, no final, quer a imortalidade (glória) apresentado por Diotima (208-209) pois quer conhecer o amor e prestígio entre os jovens (257ab). Dialogo com Fedro: o amante no Lísias é um dos cavalos; 1º de S os dois princípios são os dois cavalos; 2º a desigualdade dos amantes refere-se aos cavalos.
Síntese do 3º discurso de S: a alma humana, o cortejo divino e a relação entre eles. Alma humana: acompanha os deuses, mas pode cair e gera o mortal, em humano ou animal (semelhante aos xapiri de Kopenawa); reminiscência é lembrar disso (Menão, 81c-82a: uma lembrança desencadeia as outras; Fedão, 72d, 75cd: a comparação faz lembrar o em si, a igualdade, o belo); inexperientes querem procriar, os iniciados de pouco veneram a imagem da contemplação; cocheiro e os dois cavalos. Enumeração dos delírios: manikê (futuro), purificação (correção) e composição de poesia (relações pretéritas com o divino). Princípio não tem origem (é imortal?). Marcha dos deuses, cada deus exige um culto (semelhante as religiões afro-brasileiras, ver Prandi, 1991;2007; Gabioneta, 2019).
257c-264e. Diálogo entre Sócrates e Fedro sobre oratório e retórica. S os políticos gostam de citar seus admiradores (votantes) e quando a cidade o imortaliza, julga-se como os deuses. F o orador fala o que a maioria considera certo. S discorda, pois se a retórica conduz as almas pela palavra e se o orador ilude sem se iludir, ele precisa conhecer a semelhança e a des. entre as coisas, em especial os caminhos que conduz ao erro, e, em cada caso, determinar o gênero. Um desses gêneros é o amor, então eles analisam o discurso de Lísias. Para S ele começa pelo fim, não distinguindo os elementos, como a lápide de Midias. Deixam o amor e discutem a eloquência. S: o discurso precisa ser como um organismo vivo, com proporções adequadas; uma única ideia para ensinar e com divisões naturais; eis o dialético.
Obs: organização de Platão e seus amigos: a cidade é um organismo, daí saber de onde ela vem, onde está e para onde vai. É preciso dividi-la corretamente. Os deuses se dividem: Apolo (adivinhação), Dioniso (iniciações), Musas (poética) e Afrodite e Eros (loucura amorosa); Zeus é protetor da Amizade (234e) e grande condutor (246e); Héstia cuida da casa dos deuses (246e). Processo da loucura: descobre o caminho; se prepara na iniciação a ele; na poesia aprende a louvar; gera-se um novo ser. O horizonte sempre é a guerra, prova disso é o guerreiro, na hierarquia das almas estar em segundo lugar.
266d-272d). S examina quem já escreveu sobre oratória e retórica. Ordem do discurso: proêmio, exposição, testemunhas, provas, probabilidades, confirmação e superconfirmação; recapitulação. Inovações dos autores: Teodoro: refutação; Eveno: insinuação (elogio indireto e censura indireta); Tísias e Górgias: probabilidade; Pródico e Hípias: medida certa: Polo: uso de máximas e imagens; Protágoras: regras para falar com correção; gigante de Calcedònia: envaidecer e acalmar multidões. F como adquirir a persuasão? S: dom da natureza, estudo (ou conhecimento) e exercício (como Protágoras, 323cd e 327a-e). A retórica é semelhante a medicina que atua no corpo com alimentação e remédios, porém atua na alma gerando instituições, convicções e virtude. O estudo de algo se exige: indicar se é simples (propriedades, sua ação e como sofre) ou complexo (como se formou, sua ação e como sofre). Idem a alma: 1. Simples ou complexa; 2. Como afeta e é afetada; 3. Distinguir e relacionar os gêneros da alma e dos discursos; 4. Transportar o problema para vida prática e observar; 5. Identificar a ocasião de se calar ou falar (e em que estilo). Examinar o que já foi dito para encontrar o caminho mais fácil e direto.
Obs: procedimento platônico: 1º estudo as pessoas e seus textos (os oradores e retóricos); 2º classificação do sem. e dess.; 3º o que é próprio de cada; 4º exposição clara e com propósito. Platão e seus amigos, a essa altura, virão que a guerra e o desacordo entre o humano e divino precisa ser conhecido. Fedro inicia como o discurso altera a relação amorosa; o amor (Banquete) leva os homens ao divino, a criação (não ser ao ser), mas precisa de iniciação; os deuses vagueiam, erram e acertam, os homens, se errar, precisa de correção; o discurso ensina as pessoas a se relacionar com o divino que lhe é próprio e com outras divindades de outras pessoas. Platão não tem tempo, por isso, precisa do caminho mais fácil, direto e eficaz: a alma homogênea (propriedades) e polimórfica (composição); como afetam e são afetadas; discursos que afetam os tipos de alma e seu divino, com silêncios e estilos; observar as ações que os discursos geram.
272c-274e. S: os entendidos da oratória dizem que nos tribunais não se preocupam com a verdade, apenas com a verossimilhança; porém é preciso: adequar o discurso a natureza dos ouvintes; reduzir várias ideias em uma; agradar os deuses em palavras e ações.
274c-276e. Mito de Teute e Tamuz: Teute, demônio inventor dos números, cálculos, jogos e escrita, disse ao rei Tamuz que a escrita iria fazer os egípcios mais sábios, sendo ele um remédio para memória. Tamuz diz que quem inventa não sabe avaliar a utilidade; as pessoas não podem confiar no externo para produzir suas reminiscências; esse é um remédio para a rememoração e não para memória; a escrita não deixa as pessoas sábias. Sócrates explica: um livro não oferece conhecimento claro e duradouro; semelhante a pintura, seus produtos parecem vivos, mas não dialogam.
Obs: exemplos: escrita musical (não é a música); os mapas (apresentam apenas informações e não totalidades) e fazer filosofia (proposta de vida compartilhada).
276e-279c. Fim do diálogo. S: tal como um agricultor que precisa de tempo para germinar a semente preparando a terra, também o orador precisa de tempo, uma vez que esses discursos precisam defender-se e defender quem os produziu, fazendo nascer outros discursos com o princípio da imortalidade. S recapitula o critério para dizer se o discurso de Lísias foi feito com arte: conhecer a constituição das coisas, até o indivisível; os tipos de alma e os discursos para convencê-las. S: as leis devem distinguir o bem do mal, o justo do injusto. S: propõem a Fedro ir a Lísias, Homero, Sólon e a todos oradores para dizer o conteúdo do diálogo. S: Lísias e Isócrates são filósofos, e não sábios. Oração a Pã: beleza interna em consonância a externa; busca por sábio; ouro que um homem temperante carregue.

Sínteses.Platão.2-diálogos.médios.1

Síntese dos diálogos de Platão com vista a título de doutorado em ensino de filosofia pela FE Unicamp. Autor: Robson Gabioneta

Górgias
447a. Cálicles: na guerra deve-se agir assim. Sócrates e Querefonte procuram Górgias.
449b-b. Sócrates: pede que Górgias responda de maneira concisa sobre o que sua arte.
454b. Górgias: é a persuasão nos tribunais sobre o justo e injusto.
455bc. Sócrates: a cidade recorre a entendidos seja na construção de portos seja na guerra.
455de. Górgias: porém, Atenas, para construir sua muralha, recorreu a Temístocles e a Péricles e não a construtores. Isso mostra a força da oratória.
456d-457b. Górgias, o professor não pode ser responsabilizado pelo erro do aluno, apenas o aluno. Ex. pugilista que ataca familiar. (problema atual)
459ab. Sócrates: o orador só conquista uma multidão de ignorante, não aquela com conhecimento. Ex. médico.
462b-463. Polo pede e Sócrates define a retórica como a parte ruim da política que visa o prazer das pessoas, como a culinária.
Comentário: o papel do professor e do Estado na circulação do conhecimento. Inversão entre Sócrates e Górgias, Sócrates é que define a retórica.
465ab. Sócrates: sofistica está para legislação como a indumentária (que engana como se tivesse feito ginastica) para a ginastica (boa constituição do corpo pelo treino constante); a culinária (deleite e prazer) está para medicina (cura doenças) como a retórica para justiça; sofistas e oradores se misturam sem distinção.
Comentário: Portanto a filosofia, em contraposição, deve preparar o corpo político pela legislação e retirar deste corpo o que causa seu mal pela justiça.
466bc. Polo: os oradores são influentes como os tiranos, podem matar, confiscar os bens e expulsar.
470c. Polo: muitos que comentem injustiça são felizes.
469c. Sócrates: prefere sofre injustiça do que sofrer.
472e. Sócrates: o homem que comete injustiça é infeliz e mais infeliz é quem não for punido por cometer uma injustiça.
474de. Sócrates: as belas coisas devem ter utilidade.
475a. Sócrates: o contrário do belo é feio e causa dor e mal.
475b. Sócrates: quem comete injustiça sofre mais do que quem sofre.
476e-477a. Sócrates: a ação é de mesma proporção do seu efeito; assim, o castigo quando justo, livra a alma da maldade; o doente vai ao médico, o injusto aos juízes; há aqueles que tem medo do castigo e acumulam riquezas, amigos e truques para persuadir os juízes.
480cd. Sócrates: Cada um deve acusar-se a si mesmo, depois parentes e amigos e aceitar a pena estipulada. (imperativo da verdade kantiana?)
Comentário: proposta de explicitação pública do que as pessoas entendem por injustiça.
480e-481a. Sócrates: no oposto, onde se rouba o ouro do inimigo, a persuasão (retórica) pode ser usada para não levar o injusto ao juiz para que ele não seja punido.
Comentário: critica a hegemonia de Atenas; motivo das investigações dos diálogos. A América Latina, África e Asia foram colonizadas nesses moldes.
481cd. Sócrates: os homens possuem sentimentos em comum; é difícil é explicar esses sentimentos; a filosofia diz sempre a mesma coisa; Cálicles muda o discurso diante do povo.
483a-486c. Cálicles: oposição entre natureza e lei; as leis são instituídas pelos fracos; é justo o nobre ter mais que o vilão e os mais fortes dominem os mais fracos; deixe a filosofia e aprenda a linguagem dos tribunais; não fique cochichando com os moços, mas faça um discurso grande; alguém pode te acusar de algo e o levar a morte; cultive a ciência da vida prática.
488a. Sócrates: o assunto é como o homem deve ser e se aplicar.
489a-490b. Sócrates: ações da maioria (contra a tirania): a lei deve ser seguida por todos; é feio cometer injustiça; ter posses equânimes; partir da opinião do especialista.
491b-492b. Cálicles e Píndaro: os melhores são os que governam bem as cidades, conquistam impérios, estes podem ter mais para saciar seus apetites.
493b. Sócrates: o sarnento não deve se coçar mesmo com vontade.
496c-e. Sócrates: na supressão das carências dor e prazer são simultâneos, logo eles não podem ser idênticos a felicidade.
499cd. Sócrates: alguns prazeres devem ser medidos (bom ou mau) pelos efeitos que produzem (utilidade, bem).
500c. Sócrates: o que importa é o modo que vivemos.
501ab. Sócrates: medicina estuda a natureza da doença e sua atuação.
501e-502c. Sócrates: culinária, poética, oratória: agradam a multidão como se fosse criança sem se preocupar em deixar eles melhores. Sem a música a poética torna-se uma oratória popular.
502e-503e. Sócrates: como os artesões que fazem as peças para se encaixarem harmonicamente, é preciso fazer isso com a multidão.
504c-505b. Sócrates: harmonia do corpo é a saúde; da alma a lei, a justiça e a temperança; a alma doente precisa que os apetites sejam refreados.
505cd. Cálicles quer encerrar a conversa e propõe que Sócrates dialogue sozinho.
506c-507e: Sócrates faz uma recapitulação, organizando e acrescentado coisas: agradável e bom são distintos; agradável deve visar o bem; a virtude é uma certa ordem a partir da natureza de cada um; a alma bem regulada em relação aos homens é justiça, aos deuses é temperança; o corajoso evita o que convém e procura o que deve; fazer o bem com perfeição leva a felicidade, o contrário a infelicidade; caso aja mal, com os apetites desenfreados, deve ser castigado; daí a amizade para se viver em sociedade. 507e-512de: pela amizade que o universo chama cosmo, ordem; usar a retórica para mostrar a sua própria injustiça e de seus familiares, assim, será mais vergonhoso ser injusto e mais ainda não ser punido; para não sofrer injustiça é preciso força, e para não cometê-la é preciso capacidade ou arte; amizade se dá entre semelhantes, logo o tirano não é amigo de quem é melhor ou pior que ele, mas de quem tem os mesmos gostos e se submete, ele pode matar e roubar os bens impunimente (estrutura do Estado brasileiro e das empresas?); o verdadeiro homem não se apega a vida, querendo viver mais, mas viver o melhor possível, se adaptando as instituições, como diz as mulheres (discurso feminista?).
513bc. Sócrates: os atenienses gostam de ouvir sobre seus hábitos; não gostam de ser criticados.
514a-515e. Sócrates: o administrador público precisa saber cultivar a alma, para tanto é preciso saber sua arte, com quem aprendeu e se já aplicou. Péricles fez os atenienses preguiçosos e ávidos por dinheiro quando instituiu pagamento para juiz. 520b. Tanto ele, como os oradores e sofistas não podem reclamar se as pessoas são ruins com eles, eles que educaram elas.
521d-522e. Sócrates cogita ser levado ao tribunal e condenado a morte pois se dedica a verdadeira arte política (não elogiar, mas criticar), como um médico acusado diante de crianças por um cozinheiro; só o insensato teme a morte (como Sócrates morreu, ele não pode teme-la).
523a-523e. Sócrates reconta uma história de Homero: depois da morte de Crono, Zeus, Posido e Plutão dividem o poder; desde de Crono quem é justo e pio vai para a ilha da bem-aventurança e o contrário vai ao Tártaro pra ser castigado; Plutão reclama que muitos vão para ilha sem serem justos; Zeu acha que é por causa da roupa que camufla as marcas de caráter e estabelece: o homem não deve saber da morte e todos, juiz e réu, serão julgados nus e mortos.
524b-527e. Sócrates interpreta o mito que foi o melhor que ele achou nesse momento: o corpo e alma são os mesmos depois da morte: carregam marcas da vida; por isso da pena, em especial para quem governa a cidade; a aceitação da pena justa atua: expiação da alma, evitando a adulação; pratica da justiça e demais virtudes para se achar a melhor maneira de se viver.
 
Menão
70a. Menão: a virtude se ensina ou é natural?
70c. Sócrates: Górgias ensinou os tessalienses a responder, mas não os atenienses. Comentário: Sócrates esteve com ele e não se lembra (ler Menão depois de Górgias).
70e. Menão: virtude do homem: governar a cidade; da mulher: governar o lar e obedecer ao marido; todos tem uma virtude.
72d-73b. Sócrates: qual a forma única de virtude? elas precisam ser acrescidas da justiça, temperança e outras.
73c. Menão: virtude é a capacidade de governar homens com as virtudes.
75d-76a. Sócrates pede para Menão usar de paradigma as definições de figura: aquilo que acompanha a cor (eflúvios que saem do corpo, como diz Empédocles) e limite do sólido. Sócrates na condição de modelo é superior a Menão (professor instrutor).
75de. Sócrates: diferente da disputa onde o que importa é refutar, aqui, entre amigos (inferiores?) importa a verdade a partir do interlocutor.
77b. Menão: virtude é o desejo e capacidade de conseguir coisas belas.
77b-78d. Sócrates: as pessoas desejam o mal por acha-lo bom; coisas belas podem ser substituídas por coisas boas e por bens. Os bens são: saúde, riqueza, prestígio e poder.
Comentário: procedimento metodológico de Sócrates: substituição de palavras com significado semelhante; acréscimo de palavras nas definições. Diferente do Górgias onde vemos a disputa, aqui vemos o acordo e a construção conjunta dos termos.
80a-d. Menão: Sócrates confunde as pessoas; (inclusive o próprio Menão) que apresenta a sua aporia (paradoxo): como procurar o que não se sabe e como saberá se o encontrar?
80e. deslocamento de Sócrates: dois não procuram o conhecimento: o que tem e o que não sabe.
Comentário: Sócrates aqui recupera o ‘só sei que nada sei’ da Apologia; desenvolvido no Líside: os inteiramente bons e os inteiramente ruins não são amigos do saber (218ab) e no Cármides a temperança é o conhecimento do que se sabe e do que não se sabe (165b).
81c-82a. teoria da reminiscência de Sócrates: a alma, por reencarnar muitas vezes, aprendeu tudo, assim basta lembrar uma coisa para lembrar do resto; aprender é recordar.
82c-83e; 85b. Sócrates demostra a rem. no escravo de Menão: um quadrado de 2 pés de superfície de 4 pés: qual o lado de uma superfície de 8 pés? Não é 2, 3 nem 4 pés, mas a diagonal do primeiro quadrado quando reproduzimos mais 3 quadrados.
84a; 85c-86c. Sócrates explica a rem.: 1. S mostra que o escravo respondia errado a pergunta, mesmo achando que sabia; 2. passando pelo interrogatório o escravo conhece como qualquer pessoa, a partir de si e não de alguém; 3. a alma tem opiniões verdadeira no tempo que não era homem, logo a alma é imortal; 3. essa teoria é melhor do que achar que não podemos encontrar conhecimento (pela aporia de Menão).
Comentário: o saber e o não saber são os limites para a busca pelo saber; basta esta recordação (que estamos entre o saber e o não saber; não se fixando neles) para ocorrer a busca por meio de perguntas e teorização das respostas.
87a-88b. Sócrates: usar o procedimento dos geômetras para discutir o ensino das virtudes. Procedimento 1: duplicação da superfície do quadrado pela quadriplicação dele e construção da diagonal; procedimento 2: para inscrever um triangulo no círculo deve-se comparar o diâmetro com o maior lado do triângulo. Assim: coragem precisa de prudência; temperança e perspicácia de inteligência.
91a-95a. Conversa entre Sócrates e  nito, hospedeiro de Menão: Sócrates diz que Menão quer a virtude de governar a casa e a cidade, cuidar dos pais e receber as pessoas (como Hípias) e, para tanto, poderia pagar os sofistas.  nito, mesmo sem experiência com os sofistas, diz que eles destroem os jovens. Sócrates acho estranho não notarem isso; Protágoras morreu aos 70 anos e ensinou por 40. Sócrates pede indicação para  nito, ele recusa, então Sócrates de alguns renomados, como Péricles e Tucídides, que não transmitiram suas virtudes aos seus filhos.  nito interrompe a conversa dizendo para Sócrates não falar mal dos outros.
97c. Menão: a ciência sempre acerta, a opinião correta às vezes.
99bc. Sócrates: se a virtude não é ciência, ela pode ser opinião correta; os políticos são como profetas, adivinhos e poetas, são divinos (e não racionais).
99e-100b. Sócrates: virtude é uma disposição divina sem inteligência (nous); é hora de ira a outra parte.
Comentário: com a definição de virtude como disposição divina sem nous, é hora de investigar a ciência? Se estamos corretos, os próximos diálogos seriam o Eutidemo e Teeteto. Porém, o diálogo Fedão faz referencia a reminiscência, por isso é preciso lê-lo na sequência do Menão.
 
Fedão:
57a-59b. Fedão descreve para Equécrates como foi a última conversa de Sócrates. Fedão acha que Platão estava doente e por isso não foi.
61e. Sócrates irá falar da morte como especialista, pois irá morrer.
Comentário: Benoit (1994; 2005; 2017) julga que isso é indicio de uma obra sem autor; nos pensamentos que isso significa que os diálogos é uma produção coletiva. Platão apresenta os assuntos a partir dos contextos, aqui, a morte.
64a. Sócrates irá explicar sua tranquilidade frente a morte, uma vez que se dedicou a filosofia.
65a. o filósofo deve se libertar do que dá prazer ao corpo (comida, bebida, sexo, luxo), pois assim a alma estaria por si, como o justo o belo e o bem, são por si. Buscar a verdade.
66c. os prazeres do corpo geram coisas ruins, como as doenças e as guerras. Estas são causadas pelo amor ao dinheiro. Investigar a grandeza, a saúde e a força, qualidades necessárias a guerra.
68bc. O indivíduo com medo da morte deve ser o amante do corpo e do dinheiro.
69b. a alma deve se purificar com a sabedoria, temperança, justiça e coragem. (só assim terá fim à guerra)
70cd. Sócrates recorre a uma antiga tradição (orfismo) para dizer que as almas estão no Hades, elas reencarnam e depois voltam para lá. Assim, tudo que nasce vem do seu contrário, e também o belo e o justo.
71d-72b. os processos são concomitantes e circulares: a vida vem da morte e a morte vem da vida. Tudo que nasce tem alma e passam por esse processo.
Comentário: a ganancia também trouxe os europeus para as américas, Platão nos ajudaria e leva-los de volta. Teorização sobre o ofismo: os contrários se alternam de modo circular, a vida vem da morte e a morte vem da vida. Kopenawa (2015) defende algo nesse sentido. Porém, tudo tem alma? O ciclo engloba tudo ou só o homem?
72e-73c. Cebete lembra da reminiscência tal como é apresentada no Menon.
72d e 75cd. Sócrates: reminiscência é lembrar de algo a partir de outrem e o conhecimento do em si (igual, grandeza, belo, bem).
77b e 77e. Simias: e se a alma for destruída quando sai do corpo? Cebete: como não ter medo da morte?
77e. Sócrates: encantar (exorcizar) diariamente a alma para ela perder o medo.
78d. Sócrates: o belo, o bem e a alma não são compostos, por isso não se dissolvem.
81e.82a. Sócrates: a alma ligada ao corpo reencarna em animas desta natureza; a alma livre do corpo reencarna em animais sociáveis, como as formigas, podendo tornar-se divinas.
Comentário: temos aqui modificações a teoria órfica (?): a reencarnação ocorre a partir das semelhanças físicas; mas para aquisição de qualidades da alma (ser por si, justiça) necessita da filosofia (platônica?).
85cd. Orientações para o diálogo: Símias: deve-se adotar a opinião mais difícil de contestar; 91bc. Sócrates: o que não parecer verdade deve ser refutado; a maioria das pessoas são medianas, poucos são bons ou ruins.
85c. Símias: somos como a lira, a alma é harmonia.
91cd. Sócrates: reminiscência e harmonia são contrárias, logo alma não pode ser harmonia.
94b. Sócrates: para a alma ser prudente, ela deve agir contra o corpo, se tiver sede não beber. Tal como é dito na Odisseia (canto XIX, versos 17-18).
96ab. Sócrates: investigava a história natural na juventude, as coisas se juntam formam uma unidade? (como no Hípias Maior 297a) Anaxágoras dizia que a mente era causa de tudo, porém atribuía tudo a ordem dos elementos naturais.
99d. Sócrates: metodologia para 2 navegação: quando não puder olhar as coisas, como o sol no eclipse, deve-se olhar sua imagem.
103-104. Sócrates: depois de nascer (e se constituir) o gerado torna-se contrário a seu gerador.
105b. Sócrates: método (para analisar o orfismo?): repetir tudo com outras palavras, seguindo o modelo.
110-112. Sócrates: a terra é um ser vivo. Azevedo (1998) como no Timeu (81ab)  e em Empédocles (frag.100).
112-114. Sócrates vê o mundo de cima e o vê como um ser vivo; vê também a morada das divindades e o Tártaro. Aqueles purificados com a filosofia (platônica?), adquirindo a sabedoria e a virtude, possuem privilégios.
Comentário: A concepção da Terra como um organismo aparece no Timeu (81ab), no Empédocles (frag.100) (Azevedo, 1998) e no idealismo alemão (Vitte, 2010; 2011)
117a-118b. Sócrates se banha e segue as instruções para tomar o veneno: toma-lo inteiro, caminhar e deitar-se. Sócrates morre, Criton fecha-lhe a boca, Fedão encerra a narrativa dizendo que Sócrates foi o mais sábio que conheceu.
 
Protágoras:
309ad. Sócrates encontra um amigo e lhe conta como foi seu encontro com Protágoras, em desprezo a Alcebíades.
310ab. Hipócrates foi de madrugada a casa de Sócrates e o pediu para leva-lo a Protágoras. Sócrates chama para passear e por a prova sua intenção.
311b-312ab. Sócrates diz que se pode aprender para ser profissional ou ter uma liberdade pessoal frente a sociedade.
312c. Hipócrates diz que o sofista tem sabedoria, em especial na arte de falar bem, porém não sobre o que.
313c. Sócrates diz que o sofista é um mercador de ensinamentos para a alma, por isso, tal como o alimento para o corpo, é preciso consultar um sabedor amigo. Com esse cuidado e sabendo que o mercador elogia em demasia, pode-se comprar ensinamento de qualquer um.
Obs: Sócrates e seu amigo são as pessoas de confiança; aqueles que leem os diálogos e comentam, também se tornam pessoas de confiança; a escrita aqui é útil para testar o ensinamento.
314de. Sócrates e Hipócrates chegam a casa de Calias, lugar onde está Protágoras. Sócrates compara Protágoras a Orfeu por encantar as pessoas e descreve quem está na casa, entre outros, Carmides, alguns filhos de Péricles, Erixímaco, Fedro, Hípias, Pródigo de Ceos, Pausânias, Agatão (muito deles serão personagens do Banquete).
316bc. Sócrates diz a Protágoras que Hipócrates quer ser figura de relevo (que um lugar ao sol); decide se isso deve ser tratado em público ou em particular.
316bc. Protágoras: como os jovens abandonam suas famílias para conviver com ele, isso causa inveja; diferente dos poetas que não falam que ensinam, o sofista diz abertamente; atua a muito tempo e poderia ser pai de todos
Obs: Lopes (2017): data dramática: 433 a.C.; Protágoras: 57 anos; Sócrates 36 anos. Pesquisa da academia platônica sobre a Paideia: poesia e sofistica. Sócrates e Protágoras se preocupam com os familiares do educando.
318ad. Sócrates aceita deliberar na presença de todos e pergunta qual a vantagem do ensino de Protágoras. Protágoras diz que a cada dia ele voltará melhor para casa. Sócrates insiste: em que e a respeito de que Hipócrates ficará melhor. 
319a. Protágoras diz que outros sofistas repetem as lições de cálculo, astronomia, geometria e música, ele ensina prudência nas relações familiares para administrar a casa e a cidade.
319a-320c. Para Sócrates isso é a arte política que forma bons cidadãos e que não pode ser ensinada, pois na assembleia quando o assunto é técnico se consulta um especialista, de modo que se ri de quem fala sem ser técnico; quando o assunto é sobre a administração da cidade todos podem falar. Nem os mais sábios conseguem transmitir a virtude que lhes é própria, exemplo disso é que Péricles não transmitiu a ninguém seu saber (morreu em 429 a.C.). Demostre o contrário.
320c. Protágoras pergunta se Sócrates prefere um mito ou argumentos. Sócrates diz que a maioria deixou a cargo de Protágoras que escolhe o mito.
320d-322d. Mito de Prometeu: só haviam deuses; os mortais surgem da mistura de terra, ferro e fogo e outros. Epimeteu distribui as qualidades para garantir a existência (compensação, não destruição recíproca, estações, alimento conforme a constituição) e Prometeu fiscaliza. Prometeu dá ao homem a técnica do fogo de Hefesto e Atena, porém é castigado. Com isso o homem louva os deuses, mas não consegue guerrear contra outros animais, pois não possui a arte política de Zeus. Zeus manda Hermes levar o pudor e a justiça. Hermes pergunta se deve dar a todos ou a alguns. Zeus determina que seja dado a todos e diz que quem não receber deve morrer.
Obs: pudor e justiça de Epimeteu, bem como sua soberba; o ser humano possui qualidades divinas; qual a arte de Atenas e a arte política de Zeus?; a guerra, a luta pela existência com outros mortais, gera a necessidade da sociedade que precisa de uma porção de pudor e justiça.
322d-328d. Grande discurso de Protágoras
322d. Protágoras diz que irá responder a Sócrates: a virtude é ensinável e ele é capaz disso.
323a-c. Protágoras: comparação entre o músico (arte, técnica) que se não falar a verdade causa riso e intervenção dos parentes e o injusto que se falar a verdade é expulso.
323c-324b. Protágoras: A virtude não é dom natural ou efeito do acaso, mas é adquirida pelo estudo e aplicação. Um defeito físico não é repreendido, mas é repreendido aquilo que necessita estudo, exercício e aplicação, pois nesse caso surgem a indignação, as repreensões e os castigos. “Punir os culpados” vem daí, não com vistas a correção do passado, mas ao futuro.
325a-326d. Protágoras: A cidade para existir precisa da virtude do homem (a justiça, sensatez e a piedade); para tanto, toda a cidade deve participar: pais e familiares, escola (ensinamento moral nas histórias e ações dignas de imitação); professor de música; professor de ginástica em preparação para a guerra; e cidade com leis que sirvam de paradigmas.
327a-d. Protágoras: numa cidade de flautistas e melhor será aquele que possui o dom de tocar flauta e consegue ensinar e aprender do maior número de pessoas. Nesse lugar, mesmo o mais humilde tocador será melhor do que aquele que nada toca.
327e-328c. Protágoras: Devemos nos alegar e pagar quem ensina a virtude, como eu. Estabeleço assim: combinemos um valor; depois das aulas me pague; caso não concorde vá a um tempo e deposite o valor que julga que vale.
328d-329d. Sócrates agradece a Hipócrates, diz que Protágoras, diferente dos oradores e dos livros que não respondem perguntas, responde com discurso ou de maneira concisa. Então pergunta: as virtudes (justiça, piedade, temperança) são partes do todo como um rosto ou como ouro?
Obs: nada é dito sobre o pagamento de Protágoras.
329d. Protágoras diz que é como um rosto e acrescenta sabedoria e coragem, sendo a primeira mais importante.
330c. Sócrates insere uma terceira personagem que pergunta para ele e Protágoras, como no Górgias.
330a-332c. Sócrates investiga as relações das virtudes: são semelhantes ou dessemelhantes; são em si; possuem propriedades em comum; são feitas pelo mesmo princípio ou por princípios contrários? (se a justiça não for pia, será ímpia?). Qualidades dos temperantes: pensar bem, revolver pelo melhor, ser bem sucedido. As coisas boas são uteis aos homens.
333ac. Protágoras distingue 3 modos como os homens se relacionam com as coisas: nada aproveitam; as proveitosas; nem danam nem aproveitam. Elas podem não aproveitar o homem, mas outro animal ou planta. As que são proveitosas exigem um uso específico.
334cd-338d. Sócrates diz que todos aplaudiram, então S pede a P a fazer um discurso curto pois tem pouca memória e tem um compromisso. P não aceita que S ser o critério. S levanta para sair mas Cálias o segura dizendo que P tem razão; Alcibíades acha que a solicitação de S é pertinente; Crítias diz que devemos ouvir os dois; Pródico ouvir os dois, mas maior interesse ao mais sábio, pois entre amigos há aprovação, alegria e aprendizado e não o elogio; Hípias diz que somos parentes por natureza e não pela lei que violenta os homens, escolham um juiz para determinar a medida do meio termo. S diz que o juiz não pode ser inferior ou igual a Protágoras, superior não há; troquemos as perguntas e respostas com todos como juízes.
Obs: reações do público: acordo com uma das partes; neutralidade; normativas; critérios.
339a-d. Protágoras propõem a S analisar o poema de Simônides a Escopas, dizendo que é mal feito e se contradiz.
342b-343d. Sócrates: Creta e Lacedemônia praticam a filosofia em segredo: induzindo erros aos imitadores; conversam com sofistas sem estrangeiros; não deixam os jovens visitar outras cidades; homens e mulheres tem conhecimento; o mais rude lacedemônio conhece a sabedoria antiga.
344b-346d. Sócrates: em relação ao poema: o virtuoso se mantém por um tempo; só o virtuoso, quando algo externo age, deixa de ser virtuoso; o homem vil ofende sua pátria, o homem de bem elogia; o virtuoso não faz mal a ninguém.
Obs: lugares-comuns da lírica grega: só os deuses são perfeitos e não os homens (Lopes, 2017, p.214); Platão é um grande conhecedor da poesia grega, trazendo aqui seus tópicos, em conjunto com a sofistica.
347c-348d. S: abandonemos a poesia e partamos de nós mesmos para testar a verdade e nosso engenho; como diz Homero: dois veem melhor o caminho, ou seja, uma precisa da confirmação do outro.
349b. Recapitulação de S: sabedoria, temperança, coragem, justiça e santidade, tal como o rosto, é algo que possui partes. P diz que o corajoso é diferente, pode não possuir as outras; para S os audaciosos são loucos e corajosos tem conhecimento. P: os corajosos são audaciosos, mas nem todos audacioso são corajosos, como a capacidade (conhecimento, loucura, cólera) e a força (natureza e alimentação da alma).
Obs: ideias semelhantes são confrontadas pelo é para saber qual é mais abrangente; para tornar-se (e não ser) corajoso é preciso audácia (por arte, cólera, loucura) e uma boa alimentação da alma).
351b-352c. S: viver de modo agradável é bom, e desagradável é mau; P: há três opções (como em 333ac): boas, más e nem boas nem más. S: agradável: ligado ou causa do prazer; prazer é em si; o conhecimento (noção de bem e mal) deve comandar o homem e não a cólera, prazer, dor, amor e medo.
353d-354e. S: “ser vencido pelos prazeres” causam pobreza, doenças e outros males; outras (exercícios físicos, expedições militares, tratamento médico) são boas, mas dolorosas. Prazer é um bem se acaba ou nos preserva da dor; prazer é um mal se nos priva de maiores prazeres ou causa sofrimentos; do mesmo modo a dor é um bem se nos livra de sofrimentos maiores e gera gozo.
Obs: o conhecimento do bem ou o mal se dá pela comparação entre o efeito das coisas imediatamente e a projeção dos efeitos num tempo posterior. E a cólera, amor e medo, como Platão as investiga, com o mesmo método ou outro?
355a-356c. S: por ser levado pelo prazer, o homem faz o mal mesmo conhecendo o bem; substituição das palavras: bem e mal (as pessoas praticam o mal sendo vencida pelo bem, pois são mais numerosos); agradável e desagradável (as pessoas praticam o desagradável por ser vencida pelo agradável, pelo excesso ou falta). Explicação de S, comparação: agradáveis (deve ser considerada em maior número); em relação as desagradáveis (deve considerar as em menor número); agradáveis com as desagradáveis (comparação dos sofrimentos sobre os prazeres, interromper a ação se os sofrimentos forem maiores).
356d-357e. S: a arte de medir (neutraliza a ilusão, mostra a relação, tranquilidade da alma) salva o homem da força da aparência (inverte as relações, modifica os propósitos, gerando arrependimentos); esse conhecimento aritmético é ciência e arte, sem ele há erro e ignorância, da qual Protágoras cura como médico.
Obs: Sidnei nogueira: busquemos o caminho suave...
357e-360d. S: critica aquele que quer que o filho aprenda a virtude e não paga o sofista. Todos querem vida agradáveis e sem sofrimento; atos belos são bons e úteis. Todos escolhem serem melhores que si e o que julga um bem, e não o mal; os corajosos agem inspirados na confiança, como os covardes. Protágoras: os corajosos são dispostos a ir para guerra, os covardes fogem. S: os corajosos não revelam medo vergonhoso nem ousadias condenáveis, como os covardes, cuja causa é a ignorância e a falta de conhecimento; coragem é o conhecimento do que é perigoso e do que não é.
360e-361c. P: diz que S quer a vitória e concede que estava errado quando dizia que há corajosos carentes de outras virtudes. S quer examinar os problemas relativos a virtude e o que é a virtude por ela mesma. S: a conclusão iria zombar de nós pois invertemos os papeis: S achava que virtude não era ensinada, mas demostra que ela é conhecimento; P dizia que era ensinada, mas critica que ela seja conhecimento.
361d-362a. S: é necessário examinarmos de novo; Epimeteu pregou uma peça; louvo Prometeu. P: S se tornará celebre, noutro momento podemos continuar pois preciso tratar de outro assunto. Eles se despedem.
Obs: Sócrates ganhou a disputa? (Benoit, 2004); ou terminou empatado, com os dois tendo suas razões? (Gabioneta, 2013); ou mesmo Protágoras ganhou, pois, sua posição foi desenvolvida por Sócrates? Ou Hipócrates que recebeu uma aula grátis? Na verdade, nós ganhamos: de Protágoras/Epimeteu os dons naturais da convivência; de Sócrates: os modos de investiga-los; porém agora precisamos nos corrigir mutualmente na aplicação deles, para que o planeta, e nos também, tenhamos uma vida suave e plena.