Síntese dos diálogos de Platão com vista a título de doutorado em ensino de filosofia pela FE Unicamp. Autor: Robson Gabioneta
Górgias
447a. Cálicles: na guerra deve-se agir assim. Sócrates e Querefonte procuram Górgias.
449b-b. Sócrates: pede que Górgias responda de maneira concisa sobre o que sua arte.
454b. Górgias: é a persuasão nos tribunais sobre o justo e injusto.
455bc. Sócrates: a cidade recorre a entendidos seja na construção de portos seja na guerra.
455de. Górgias: porém, Atenas, para construir sua muralha, recorreu a Temístocles e a Péricles e não a construtores. Isso mostra a força da oratória.
456d-457b. Górgias, o professor não pode ser responsabilizado pelo erro do aluno, apenas o aluno. Ex. pugilista que ataca familiar. (problema atual)
459ab. Sócrates: o orador só conquista uma multidão de ignorante, não aquela com conhecimento. Ex. médico.
462b-463. Polo pede e Sócrates define a retórica como a parte ruim da política que visa o prazer das pessoas, como a culinária.
Comentário: o papel do professor e do Estado na circulação do conhecimento. Inversão entre Sócrates e Górgias, Sócrates é que define a retórica.
465ab. Sócrates: sofistica está para legislação como a indumentária (que engana como se tivesse feito ginastica) para a ginastica (boa constituição do corpo pelo treino constante); a culinária (deleite e prazer) está para medicina (cura doenças) como a retórica para justiça; sofistas e oradores se misturam sem distinção.
Comentário: Portanto a filosofia, em contraposição, deve preparar o corpo político pela legislação e retirar deste corpo o que causa seu mal pela justiça.
466bc. Polo: os oradores são influentes como os tiranos, podem matar, confiscar os bens e expulsar.
470c. Polo: muitos que comentem injustiça são felizes.
469c. Sócrates: prefere sofre injustiça do que sofrer.
472e. Sócrates: o homem que comete injustiça é infeliz e mais infeliz é quem não for punido por cometer uma injustiça.
474de. Sócrates: as belas coisas devem ter utilidade.
475a. Sócrates: o contrário do belo é feio e causa dor e mal.
475b. Sócrates: quem comete injustiça sofre mais do que quem sofre.
476e-477a. Sócrates: a ação é de mesma proporção do seu efeito; assim, o castigo quando justo, livra a alma da maldade; o doente vai ao médico, o injusto aos juízes; há aqueles que tem medo do castigo e acumulam riquezas, amigos e truques para persuadir os juízes.
480cd. Sócrates: Cada um deve acusar-se a si mesmo, depois parentes e amigos e aceitar a pena estipulada. (imperativo da verdade kantiana?)
Comentário: proposta de explicitação pública do que as pessoas entendem por injustiça.
480e-481a. Sócrates: no oposto, onde se rouba o ouro do inimigo, a persuasão (retórica) pode ser usada para não levar o injusto ao juiz para que ele não seja punido.
Comentário: critica a hegemonia de Atenas; motivo das investigações dos diálogos. A América Latina, África e Asia foram colonizadas nesses moldes.
481cd. Sócrates: os homens possuem sentimentos em comum; é difícil é explicar esses sentimentos; a filosofia diz sempre a mesma coisa; Cálicles muda o discurso diante do povo.
483a-486c. Cálicles: oposição entre natureza e lei; as leis são instituídas pelos fracos; é justo o nobre ter mais que o vilão e os mais fortes dominem os mais fracos; deixe a filosofia e aprenda a linguagem dos tribunais; não fique cochichando com os moços, mas faça um discurso grande; alguém pode te acusar de algo e o levar a morte; cultive a ciência da vida prática.
488a. Sócrates: o assunto é como o homem deve ser e se aplicar.
489a-490b. Sócrates: ações da maioria (contra a tirania): a lei deve ser seguida por todos; é feio cometer injustiça; ter posses equânimes; partir da opinião do especialista.
491b-492b. Cálicles e Píndaro: os melhores são os que governam bem as cidades, conquistam impérios, estes podem ter mais para saciar seus apetites.
493b. Sócrates: o sarnento não deve se coçar mesmo com vontade.
496c-e. Sócrates: na supressão das carências dor e prazer são simultâneos, logo eles não podem ser idênticos a felicidade.
499cd. Sócrates: alguns prazeres devem ser medidos (bom ou mau) pelos efeitos que produzem (utilidade, bem).
500c. Sócrates: o que importa é o modo que vivemos.
501ab. Sócrates: medicina estuda a natureza da doença e sua atuação.
501e-502c. Sócrates: culinária, poética, oratória: agradam a multidão como se fosse criança sem se preocupar em deixar eles melhores. Sem a música a poética torna-se uma oratória popular.
502e-503e. Sócrates: como os artesões que fazem as peças para se encaixarem harmonicamente, é preciso fazer isso com a multidão.
504c-505b. Sócrates: harmonia do corpo é a saúde; da alma a lei, a justiça e a temperança; a alma doente precisa que os apetites sejam refreados.
505cd. Cálicles quer encerrar a conversa e propõe que Sócrates dialogue sozinho.
506c-507e: Sócrates faz uma recapitulação, organizando e acrescentado coisas: agradável e bom são distintos; agradável deve visar o bem; a virtude é uma certa ordem a partir da natureza de cada um; a alma bem regulada em relação aos homens é justiça, aos deuses é temperança; o corajoso evita o que convém e procura o que deve; fazer o bem com perfeição leva a felicidade, o contrário a infelicidade; caso aja mal, com os apetites desenfreados, deve ser castigado; daí a amizade para se viver em sociedade. 507e-512de: pela amizade que o universo chama cosmo, ordem; usar a retórica para mostrar a sua própria injustiça e de seus familiares, assim, será mais vergonhoso ser injusto e mais ainda não ser punido; para não sofrer injustiça é preciso força, e para não cometê-la é preciso capacidade ou arte; amizade se dá entre semelhantes, logo o tirano não é amigo de quem é melhor ou pior que ele, mas de quem tem os mesmos gostos e se submete, ele pode matar e roubar os bens impunimente (estrutura do Estado brasileiro e das empresas?); o verdadeiro homem não se apega a vida, querendo viver mais, mas viver o melhor possível, se adaptando as instituições, como diz as mulheres (discurso feminista?).
513bc. Sócrates: os atenienses gostam de ouvir sobre seus hábitos; não gostam de ser criticados.
514a-515e. Sócrates: o administrador público precisa saber cultivar a alma, para tanto é preciso saber sua arte, com quem aprendeu e se já aplicou. Péricles fez os atenienses preguiçosos e ávidos por dinheiro quando instituiu pagamento para juiz. 520b. Tanto ele, como os oradores e sofistas não podem reclamar se as pessoas são ruins com eles, eles que educaram elas.
521d-522e. Sócrates cogita ser levado ao tribunal e condenado a morte pois se dedica a verdadeira arte política (não elogiar, mas criticar), como um médico acusado diante de crianças por um cozinheiro; só o insensato teme a morte (como Sócrates morreu, ele não pode teme-la).
523a-523e. Sócrates reconta uma história de Homero: depois da morte de Crono, Zeus, Posido e Plutão dividem o poder; desde de Crono quem é justo e pio vai para a ilha da bem-aventurança e o contrário vai ao Tártaro pra ser castigado; Plutão reclama que muitos vão para ilha sem serem justos; Zeu acha que é por causa da roupa que camufla as marcas de caráter e estabelece: o homem não deve saber da morte e todos, juiz e réu, serão julgados nus e mortos.
524b-527e. Sócrates interpreta o mito que foi o melhor que ele achou nesse momento: o corpo e alma são os mesmos depois da morte: carregam marcas da vida; por isso da pena, em especial para quem governa a cidade; a aceitação da pena justa atua: expiação da alma, evitando a adulação; pratica da justiça e demais virtudes para se achar a melhor maneira de se viver.
70a. Menão: a virtude se ensina ou é natural?
70c. Sócrates: Górgias ensinou os tessalienses a responder, mas não os atenienses. Comentário: Sócrates esteve com ele e não se lembra (ler Menão depois de Górgias).
70e. Menão: virtude do homem: governar a cidade; da mulher: governar o lar e obedecer ao marido; todos tem uma virtude.
72d-73b. Sócrates: qual a forma única de virtude? elas precisam ser acrescidas da justiça, temperança e outras.
73c. Menão: virtude é a capacidade de governar homens com as virtudes.
75d-76a. Sócrates pede para Menão usar de paradigma as definições de figura: aquilo que acompanha a cor (eflúvios que saem do corpo, como diz Empédocles) e limite do sólido. Sócrates na condição de modelo é superior a Menão (professor instrutor).
75de. Sócrates: diferente da disputa onde o que importa é refutar, aqui, entre amigos (inferiores?) importa a verdade a partir do interlocutor.
77b. Menão: virtude é o desejo e capacidade de conseguir coisas belas.
77b-78d. Sócrates: as pessoas desejam o mal por acha-lo bom; coisas belas podem ser substituídas por coisas boas e por bens. Os bens são: saúde, riqueza, prestígio e poder.
Comentário: procedimento metodológico de Sócrates: substituição de palavras com significado semelhante; acréscimo de palavras nas definições. Diferente do Górgias onde vemos a disputa, aqui vemos o acordo e a construção conjunta dos termos.
80a-d. Menão: Sócrates confunde as pessoas; (inclusive o próprio Menão) que apresenta a sua aporia (paradoxo): como procurar o que não se sabe e como saberá se o encontrar?
80e. deslocamento de Sócrates: dois não procuram o conhecimento: o que tem e o que não sabe.
Comentário: Sócrates aqui recupera o ‘só sei que nada sei’ da Apologia; desenvolvido no Líside: os inteiramente bons e os inteiramente ruins não são amigos do saber (218ab) e no Cármides a temperança é o conhecimento do que se sabe e do que não se sabe (165b).
81c-82a. teoria da reminiscência de Sócrates: a alma, por reencarnar muitas vezes, aprendeu tudo, assim basta lembrar uma coisa para lembrar do resto; aprender é recordar.
82c-83e; 85b. Sócrates demostra a rem. no escravo de Menão: um quadrado de 2 pés de superfície de 4 pés: qual o lado de uma superfície de 8 pés? Não é 2, 3 nem 4 pés, mas a diagonal do primeiro quadrado quando reproduzimos mais 3 quadrados.
84a; 85c-86c. Sócrates explica a rem.: 1. S mostra que o escravo respondia errado a pergunta, mesmo achando que sabia; 2. passando pelo interrogatório o escravo conhece como qualquer pessoa, a partir de si e não de alguém; 3. a alma tem opiniões verdadeira no tempo que não era homem, logo a alma é imortal; 3. essa teoria é melhor do que achar que não podemos encontrar conhecimento (pela aporia de Menão).
Comentário: o saber e o não saber são os limites para a busca pelo saber; basta esta recordação (que estamos entre o saber e o não saber; não se fixando neles) para ocorrer a busca por meio de perguntas e teorização das respostas.
87a-88b. Sócrates: usar o procedimento dos geômetras para discutir o ensino das virtudes. Procedimento 1: duplicação da superfície do quadrado pela quadriplicação dele e construção da diagonal; procedimento 2: para inscrever um triangulo no círculo deve-se comparar o diâmetro com o maior lado do triângulo. Assim: coragem precisa de prudência; temperança e perspicácia de inteligência.
91a-95a. Conversa entre Sócrates e nito, hospedeiro de Menão: Sócrates diz que Menão quer a virtude de governar a casa e a cidade, cuidar dos pais e receber as pessoas (como Hípias) e, para tanto, poderia pagar os sofistas. nito, mesmo sem experiência com os sofistas, diz que eles destroem os jovens. Sócrates acho estranho não notarem isso; Protágoras morreu aos 70 anos e ensinou por 40. Sócrates pede indicação para nito, ele recusa, então Sócrates de alguns renomados, como Péricles e Tucídides, que não transmitiram suas virtudes aos seus filhos. nito interrompe a conversa dizendo para Sócrates não falar mal dos outros.
97c. Menão: a ciência sempre acerta, a opinião correta às vezes.
99bc. Sócrates: se a virtude não é ciência, ela pode ser opinião correta; os políticos são como profetas, adivinhos e poetas, são divinos (e não racionais).
99e-100b. Sócrates: virtude é uma disposição divina sem inteligência (nous); é hora de ira a outra parte.
Comentário: com a definição de virtude como disposição divina sem nous, é hora de investigar a ciência? Se estamos corretos, os próximos diálogos seriam o Eutidemo e Teeteto. Porém, o diálogo Fedão faz referencia a reminiscência, por isso é preciso lê-lo na sequência do Menão.
57a-59b. Fedão descreve para Equécrates como foi a última conversa de Sócrates. Fedão acha que Platão estava doente e por isso não foi.
61e. Sócrates irá falar da morte como especialista, pois irá morrer.
Comentário: Benoit (1994; 2005; 2017) julga que isso é indicio de uma obra sem autor; nos pensamentos que isso significa que os diálogos é uma produção coletiva. Platão apresenta os assuntos a partir dos contextos, aqui, a morte.
64a. Sócrates irá explicar sua tranquilidade frente a morte, uma vez que se dedicou a filosofia.
65a. o filósofo deve se libertar do que dá prazer ao corpo (comida, bebida, sexo, luxo), pois assim a alma estaria por si, como o justo o belo e o bem, são por si. Buscar a verdade.
66c. os prazeres do corpo geram coisas ruins, como as doenças e as guerras. Estas são causadas pelo amor ao dinheiro. Investigar a grandeza, a saúde e a força, qualidades necessárias a guerra.
68bc. O indivíduo com medo da morte deve ser o amante do corpo e do dinheiro.
69b. a alma deve se purificar com a sabedoria, temperança, justiça e coragem. (só assim terá fim à guerra)
70cd. Sócrates recorre a uma antiga tradição (orfismo) para dizer que as almas estão no Hades, elas reencarnam e depois voltam para lá. Assim, tudo que nasce vem do seu contrário, e também o belo e o justo.
71d-72b. os processos são concomitantes e circulares: a vida vem da morte e a morte vem da vida. Tudo que nasce tem alma e passam por esse processo.
Comentário: a ganancia também trouxe os europeus para as américas, Platão nos ajudaria e leva-los de volta. Teorização sobre o ofismo: os contrários se alternam de modo circular, a vida vem da morte e a morte vem da vida. Kopenawa (2015) defende algo nesse sentido. Porém, tudo tem alma? O ciclo engloba tudo ou só o homem?
72e-73c. Cebete lembra da reminiscência tal como é apresentada no Menon.
72d e 75cd. Sócrates: reminiscência é lembrar de algo a partir de outrem e o conhecimento do em si (igual, grandeza, belo, bem).
77b e 77e. Simias: e se a alma for destruída quando sai do corpo? Cebete: como não ter medo da morte?
77e. Sócrates: encantar (exorcizar) diariamente a alma para ela perder o medo.
78d. Sócrates: o belo, o bem e a alma não são compostos, por isso não se dissolvem.
81e.82a. Sócrates: a alma ligada ao corpo reencarna em animas desta natureza; a alma livre do corpo reencarna em animais sociáveis, como as formigas, podendo tornar-se divinas.
Comentário: temos aqui modificações a teoria órfica (?): a reencarnação ocorre a partir das semelhanças físicas; mas para aquisição de qualidades da alma (ser por si, justiça) necessita da filosofia (platônica?).
85cd. Orientações para o diálogo: Símias: deve-se adotar a opinião mais difícil de contestar; 91bc. Sócrates: o que não parecer verdade deve ser refutado; a maioria das pessoas são medianas, poucos são bons ou ruins.
85c. Símias: somos como a lira, a alma é harmonia.
91cd. Sócrates: reminiscência e harmonia são contrárias, logo alma não pode ser harmonia.
94b. Sócrates: para a alma ser prudente, ela deve agir contra o corpo, se tiver sede não beber. Tal como é dito na Odisseia (canto XIX, versos 17-18).
96ab. Sócrates: investigava a história natural na juventude, as coisas se juntam formam uma unidade? (como no Hípias Maior 297a) Anaxágoras dizia que a mente era causa de tudo, porém atribuía tudo a ordem dos elementos naturais.
99d. Sócrates: metodologia para 2 navegação: quando não puder olhar as coisas, como o sol no eclipse, deve-se olhar sua imagem.
103-104. Sócrates: depois de nascer (e se constituir) o gerado torna-se contrário a seu gerador.
105b. Sócrates: método (para analisar o orfismo?): repetir tudo com outras palavras, seguindo o modelo.
110-112. Sócrates: a terra é um ser vivo. Azevedo (1998) como no Timeu (81ab) e em Empédocles (frag.100).
112-114. Sócrates vê o mundo de cima e o vê como um ser vivo; vê também a morada das divindades e o Tártaro. Aqueles purificados com a filosofia (platônica?), adquirindo a sabedoria e a virtude, possuem privilégios.
Comentário: A concepção da Terra como um organismo aparece no Timeu (81ab), no Empédocles (frag.100) (Azevedo, 1998) e no idealismo alemão (Vitte, 2010; 2011)
117a-118b. Sócrates se banha e segue as instruções para tomar o veneno: toma-lo inteiro, caminhar e deitar-se. Sócrates morre, Criton fecha-lhe a boca, Fedão encerra a narrativa dizendo que Sócrates foi o mais sábio que conheceu.
309ad. Sócrates encontra um amigo e lhe conta como foi seu encontro com Protágoras, em desprezo a Alcebíades.
310ab. Hipócrates foi de madrugada a casa de Sócrates e o pediu para leva-lo a Protágoras. Sócrates chama para passear e por a prova sua intenção.
311b-312ab. Sócrates diz que se pode aprender para ser profissional ou ter uma liberdade pessoal frente a sociedade.
312c. Hipócrates diz que o sofista tem sabedoria, em especial na arte de falar bem, porém não sobre o que.
313c. Sócrates diz que o sofista é um mercador de ensinamentos para a alma, por isso, tal como o alimento para o corpo, é preciso consultar um sabedor amigo. Com esse cuidado e sabendo que o mercador elogia em demasia, pode-se comprar ensinamento de qualquer um.
Obs: Sócrates e seu amigo são as pessoas de confiança; aqueles que leem os diálogos e comentam, também se tornam pessoas de confiança; a escrita aqui é útil para testar o ensinamento.
314de. Sócrates e Hipócrates chegam a casa de Calias, lugar onde está Protágoras. Sócrates compara Protágoras a Orfeu por encantar as pessoas e descreve quem está na casa, entre outros, Carmides, alguns filhos de Péricles, Erixímaco, Fedro, Hípias, Pródigo de Ceos, Pausânias, Agatão (muito deles serão personagens do Banquete).
316bc. Sócrates diz a Protágoras que Hipócrates quer ser figura de relevo (que um lugar ao sol); decide se isso deve ser tratado em público ou em particular.
316bc. Protágoras: como os jovens abandonam suas famílias para conviver com ele, isso causa inveja; diferente dos poetas que não falam que ensinam, o sofista diz abertamente; atua a muito tempo e poderia ser pai de todos
Obs: Lopes (2017): data dramática: 433 a.C.; Protágoras: 57 anos; Sócrates 36 anos. Pesquisa da academia platônica sobre a Paideia: poesia e sofistica. Sócrates e Protágoras se preocupam com os familiares do educando.
318ad. Sócrates aceita deliberar na presença de todos e pergunta qual a vantagem do ensino de Protágoras. Protágoras diz que a cada dia ele voltará melhor para casa. Sócrates insiste: em que e a respeito de que Hipócrates ficará melhor.
319a. Protágoras diz que outros sofistas repetem as lições de cálculo, astronomia, geometria e música, ele ensina prudência nas relações familiares para administrar a casa e a cidade.
319a-320c. Para Sócrates isso é a arte política que forma bons cidadãos e que não pode ser ensinada, pois na assembleia quando o assunto é técnico se consulta um especialista, de modo que se ri de quem fala sem ser técnico; quando o assunto é sobre a administração da cidade todos podem falar. Nem os mais sábios conseguem transmitir a virtude que lhes é própria, exemplo disso é que Péricles não transmitiu a ninguém seu saber (morreu em 429 a.C.). Demostre o contrário.
320c. Protágoras pergunta se Sócrates prefere um mito ou argumentos. Sócrates diz que a maioria deixou a cargo de Protágoras que escolhe o mito.
320d-322d. Mito de Prometeu: só haviam deuses; os mortais surgem da mistura de terra, ferro e fogo e outros. Epimeteu distribui as qualidades para garantir a existência (compensação, não destruição recíproca, estações, alimento conforme a constituição) e Prometeu fiscaliza. Prometeu dá ao homem a técnica do fogo de Hefesto e Atena, porém é castigado. Com isso o homem louva os deuses, mas não consegue guerrear contra outros animais, pois não possui a arte política de Zeus. Zeus manda Hermes levar o pudor e a justiça. Hermes pergunta se deve dar a todos ou a alguns. Zeus determina que seja dado a todos e diz que quem não receber deve morrer.
Obs: pudor e justiça de Epimeteu, bem como sua soberba; o ser humano possui qualidades divinas; qual a arte de Atenas e a arte política de Zeus?; a guerra, a luta pela existência com outros mortais, gera a necessidade da sociedade que precisa de uma porção de pudor e justiça.
322d-328d. Grande discurso de Protágoras
322d. Protágoras diz que irá responder a Sócrates: a virtude é ensinável e ele é capaz disso.
323a-c. Protágoras: comparação entre o músico (arte, técnica) que se não falar a verdade causa riso e intervenção dos parentes e o injusto que se falar a verdade é expulso.
323c-324b. Protágoras: A virtude não é dom natural ou efeito do acaso, mas é adquirida pelo estudo e aplicação. Um defeito físico não é repreendido, mas é repreendido aquilo que necessita estudo, exercício e aplicação, pois nesse caso surgem a indignação, as repreensões e os castigos. “Punir os culpados” vem daí, não com vistas a correção do passado, mas ao futuro.
325a-326d. Protágoras: A cidade para existir precisa da virtude do homem (a justiça, sensatez e a piedade); para tanto, toda a cidade deve participar: pais e familiares, escola (ensinamento moral nas histórias e ações dignas de imitação); professor de música; professor de ginástica em preparação para a guerra; e cidade com leis que sirvam de paradigmas.
327a-d. Protágoras: numa cidade de flautistas e melhor será aquele que possui o dom de tocar flauta e consegue ensinar e aprender do maior número de pessoas. Nesse lugar, mesmo o mais humilde tocador será melhor do que aquele que nada toca.
327e-328c. Protágoras: Devemos nos alegar e pagar quem ensina a virtude, como eu. Estabeleço assim: combinemos um valor; depois das aulas me pague; caso não concorde vá a um tempo e deposite o valor que julga que vale.
328d-329d. Sócrates agradece a Hipócrates, diz que Protágoras, diferente dos oradores e dos livros que não respondem perguntas, responde com discurso ou de maneira concisa. Então pergunta: as virtudes (justiça, piedade, temperança) são partes do todo como um rosto ou como ouro?
Obs: nada é dito sobre o pagamento de Protágoras.
329d. Protágoras diz que é como um rosto e acrescenta sabedoria e coragem, sendo a primeira mais importante.
330c. Sócrates insere uma terceira personagem que pergunta para ele e Protágoras, como no Górgias.
330a-332c. Sócrates investiga as relações das virtudes: são semelhantes ou dessemelhantes; são em si; possuem propriedades em comum; são feitas pelo mesmo princípio ou por princípios contrários? (se a justiça não for pia, será ímpia?). Qualidades dos temperantes: pensar bem, revolver pelo melhor, ser bem sucedido. As coisas boas são uteis aos homens.
333ac. Protágoras distingue 3 modos como os homens se relacionam com as coisas: nada aproveitam; as proveitosas; nem danam nem aproveitam. Elas podem não aproveitar o homem, mas outro animal ou planta. As que são proveitosas exigem um uso específico.
334cd-338d. Sócrates diz que todos aplaudiram, então S pede a P a fazer um discurso curto pois tem pouca memória e tem um compromisso. P não aceita que S ser o critério. S levanta para sair mas Cálias o segura dizendo que P tem razão; Alcibíades acha que a solicitação de S é pertinente; Crítias diz que devemos ouvir os dois; Pródico ouvir os dois, mas maior interesse ao mais sábio, pois entre amigos há aprovação, alegria e aprendizado e não o elogio; Hípias diz que somos parentes por natureza e não pela lei que violenta os homens, escolham um juiz para determinar a medida do meio termo. S diz que o juiz não pode ser inferior ou igual a Protágoras, superior não há; troquemos as perguntas e respostas com todos como juízes.
Obs: reações do público: acordo com uma das partes; neutralidade; normativas; critérios.
339a-d. Protágoras propõem a S analisar o poema de Simônides a Escopas, dizendo que é mal feito e se contradiz.
342b-343d. Sócrates: Creta e Lacedemônia praticam a filosofia em segredo: induzindo erros aos imitadores; conversam com sofistas sem estrangeiros; não deixam os jovens visitar outras cidades; homens e mulheres tem conhecimento; o mais rude lacedemônio conhece a sabedoria antiga.
344b-346d. Sócrates: em relação ao poema: o virtuoso se mantém por um tempo; só o virtuoso, quando algo externo age, deixa de ser virtuoso; o homem vil ofende sua pátria, o homem de bem elogia; o virtuoso não faz mal a ninguém.
Obs: lugares-comuns da lírica grega: só os deuses são perfeitos e não os homens (Lopes, 2017, p.214); Platão é um grande conhecedor da poesia grega, trazendo aqui seus tópicos, em conjunto com a sofistica.
347c-348d. S: abandonemos a poesia e partamos de nós mesmos para testar a verdade e nosso engenho; como diz Homero: dois veem melhor o caminho, ou seja, uma precisa da confirmação do outro.
349b. Recapitulação de S: sabedoria, temperança, coragem, justiça e santidade, tal como o rosto, é algo que possui partes. P diz que o corajoso é diferente, pode não possuir as outras; para S os audaciosos são loucos e corajosos tem conhecimento. P: os corajosos são audaciosos, mas nem todos audacioso são corajosos, como a capacidade (conhecimento, loucura, cólera) e a força (natureza e alimentação da alma).
Obs: ideias semelhantes são confrontadas pelo é para saber qual é mais abrangente; para tornar-se (e não ser) corajoso é preciso audácia (por arte, cólera, loucura) e uma boa alimentação da alma).
351b-352c. S: viver de modo agradável é bom, e desagradável é mau; P: há três opções (como em 333ac): boas, más e nem boas nem más. S: agradável: ligado ou causa do prazer; prazer é em si; o conhecimento (noção de bem e mal) deve comandar o homem e não a cólera, prazer, dor, amor e medo.
353d-354e. S: “ser vencido pelos prazeres” causam pobreza, doenças e outros males; outras (exercícios físicos, expedições militares, tratamento médico) são boas, mas dolorosas. Prazer é um bem se acaba ou nos preserva da dor; prazer é um mal se nos priva de maiores prazeres ou causa sofrimentos; do mesmo modo a dor é um bem se nos livra de sofrimentos maiores e gera gozo.
Obs: o conhecimento do bem ou o mal se dá pela comparação entre o efeito das coisas imediatamente e a projeção dos efeitos num tempo posterior. E a cólera, amor e medo, como Platão as investiga, com o mesmo método ou outro?
355a-356c. S: por ser levado pelo prazer, o homem faz o mal mesmo conhecendo o bem; substituição das palavras: bem e mal (as pessoas praticam o mal sendo vencida pelo bem, pois são mais numerosos); agradável e desagradável (as pessoas praticam o desagradável por ser vencida pelo agradável, pelo excesso ou falta). Explicação de S, comparação: agradáveis (deve ser considerada em maior número); em relação as desagradáveis (deve considerar as em menor número); agradáveis com as desagradáveis (comparação dos sofrimentos sobre os prazeres, interromper a ação se os sofrimentos forem maiores).
356d-357e. S: a arte de medir (neutraliza a ilusão, mostra a relação, tranquilidade da alma) salva o homem da força da aparência (inverte as relações, modifica os propósitos, gerando arrependimentos); esse conhecimento aritmético é ciência e arte, sem ele há erro e ignorância, da qual Protágoras cura como médico.
Obs: Sidnei nogueira: busquemos o caminho suave...
357e-360d. S: critica aquele que quer que o filho aprenda a virtude e não paga o sofista. Todos querem vida agradáveis e sem sofrimento; atos belos são bons e úteis. Todos escolhem serem melhores que si e o que julga um bem, e não o mal; os corajosos agem inspirados na confiança, como os covardes. Protágoras: os corajosos são dispostos a ir para guerra, os covardes fogem. S: os corajosos não revelam medo vergonhoso nem ousadias condenáveis, como os covardes, cuja causa é a ignorância e a falta de conhecimento; coragem é o conhecimento do que é perigoso e do que não é.
360e-361c. P: diz que S quer a vitória e concede que estava errado quando dizia que há corajosos carentes de outras virtudes. S quer examinar os problemas relativos a virtude e o que é a virtude por ela mesma. S: a conclusão iria zombar de nós pois invertemos os papeis: S achava que virtude não era ensinada, mas demostra que ela é conhecimento; P dizia que era ensinada, mas critica que ela seja conhecimento.
361d-362a. S: é necessário examinarmos de novo; Epimeteu pregou uma peça; louvo Prometeu. P: S se tornará celebre, noutro momento podemos continuar pois preciso tratar de outro assunto. Eles se despedem.
Obs: Sócrates ganhou a disputa? (Benoit, 2004); ou terminou empatado, com os dois tendo suas razões? (Gabioneta, 2013); ou mesmo Protágoras ganhou, pois, sua posição foi desenvolvida por Sócrates? Ou Hipócrates que recebeu uma aula grátis? Na verdade, nós ganhamos: de Protágoras/Epimeteu os dons naturais da convivência; de Sócrates: os modos de investiga-los; porém agora precisamos nos corrigir mutualmente na aplicação deles, para que o planeta, e nos também, tenhamos uma vida suave e plena.
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