sexta-feira, 22 de março de 2024

Unesp-Historia.e.Filosofia.da.Educação.4semana

Unesp-Historia.e.Filosofia.da.Educação.4semana
Sobre as atividades: semana que vem, 29/03, não teremos aula e, na semana seguinte, 05/04, está agendado as apresentações e entregas de resenhas dos grupos 01, 02 e 03. Se possível entreguem as resenhas alguns dias antes da apresentação. Lembrem-se também que aqueles que assistirem as apresentações deverão formular perguntas e fazer comentários, por isso procurem não faltar. Revejam os critérios de avaliação na postagem de 29/02: https://umaconversasobrefilosofia.blogspot.com/2024/02/unesp-historiaefilosofiadaeducacao1sema.html
Só destaco que as perguntas ao profissional precisam levar em consideração aquilo que estudamos, por isso, em alguns casos, é preciso explicar os conceitos que vocês estão usando. Além disso, é preciso considerar o profissional que vocês estão conversando a partir da sua especificidade. Até agora vou pedir a vocês: 3 questões inspiradas em Platão; 1 nos povos indígenas; 1 nos afrodescendentes; 2 refutações (ou objeções ou críticas, porém com cuidado).
Notem que em cada filosofia (Platão, Povos indígenas, afro-descendentes) há concepções educacionais distintas, às vezes elas se conectam, se cruzam, ou se contradizem. 

Na aula de hoje, 22/03, conversamos sobre algumas concepções do divino e depois sobre alguns modos de se contrapor a teses e argumentos.
A partir do Hibridos: estamos numa nova era onde é preciso a mentalidade de abundância (A Barquinha, Philippe Bandeira); o candomblé desperta o deus interior (Afoxé Alafin Oyó, Fabiano do Santos Silva); “ele está querendo acabar tudo, pois o homem branco está acabando com a natureza por ambição e dinheiro” (Chapada dos Veadeiros, Tanonè Kariri-Xocó); tudo é espiritual, tudo é sagrado; toda cultura vem do culto, a música brasileira, as comidas, vem dos terreiros ( Festa de Iemanjá na Bahia, Mateus Aleluia); a crise ambiental é uma crise espiritual (Centro Eclético Flor de Lótus Iluminado, Sérgio de Carvalho); no Círio de Nazaré, quando todos estamos juntos, todos são um (Círio de Nazaré, Gaby Amarantos); o sagrado é humano e vice-versa assim há um sagrado para cada humano, porém alguns tentam fixar o sagrado na tradição, no Br a abertura (miscigenação) é possível,  porém nenhuma tradição é fixa; a tradição é híbrida (Fraternidade de Kayman, Adriano Bitarães); a Jurema é indigena onde o caboclo é o dono da terra; alguns candomblés cultuam o caboclo antes de Exu; a terra é uma divindade e é assim que os índios agem; os Europeus apagaram os saberes indígenas que é sustentável; a jurema (uma acácia) é sagrada; a jurema permite a cura e ela não se ensina; religião mais antiga do br (Quilombo Cultural Malunguinho, Alexandre L’Omi L’Odò & Ricardo Nunes).
Santo Agostinho (354-430): a alma vem e volta para deus, mas para isso o corpo deve obedecer a alma; o mal não existe é ‘apenas’ o afastamento de deus.
Santo Anselmo de Canterbory (1033-1109): Deus é justiceiro e castiga a humanidade pelo pecado original e pela morte de Cristo; só a Igreja e o Império, pela lei salva.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274): a razão deve servir a fé; Suma de Teologia: 1. demonstrando os preâmbulos da fé; 2. aclarando as verdades da fé; 3. rebatendo as objeções; uso das 4 causas de Aristóteles: é preciso que aquele que primeiro móvel o mundo seja imóvel; a primeira causa eficiente é deus; deus é a causa necessária de si e dos outros; deus é causa de toda a perfeição; deus é inteligente e ordena todas as coisas.
Santo Agostinho: 
a alma vem de deus e volta para deus (referência a tudo é um de Parmênides), porém para que essa volta aconteça é preciso que o homem deixa a soberba onde o corpo manda na alma. assim, controlando suas paixões os homens podem agir de maneira boa e voltando a deus.
o mal não existe; o mal é o afastamento de deus
Santo Anselmo de Canterbory: Anselmo nasceu em 1033 e morreu em 1109 na cidade Cantuária (Canterbory), onde hoje é a Inglaterra. 
“Anselmo confunde, em primeiro lugar, o ‘resgate’ exigido por Satanás como uma ‘divida’ contraída pelo pecador. Em segundo lugar, inverte o destinatário que ‘cobra’ o ‘resgate’ ou ‘dívida’: de Satanás se passa ao Deus justiceiro da cristandade; do Pai de bondade do fundador do cristianismo se passa agora ao sádico que pede a morte do Filho. Em terceiro lugar, declara que a ‘dívida’ não pode ser perdoada, porque perdoá-la seria injusto. Em quarto lugar, mostra que a dívida é impagável, infinita. Em quinto lugar, embora a dívida seja impagável, é preciso pagá-la. Por isso, em sexto lugar, é necessário que o próprio Deus, o Filho, se ofereça em sacrifício de sangue ao Pai (e não a Satanás), para pagar a dívida com sua vida: nasce para morrer. Em sétimo lugar, uma vez sacrificado (sadicamente pelo Pai), o Filho produz, com o seu sangue, um ‘depósito’ e, por isso, ‘mediação necessária da salvação’, devia fazer conhecer explicitamente a mensagem cristã como condição de distribuição do ‘tesouro’. Em nono lugar, os ‘deveres’ ou pecadores se salvariam pelo cumprimento da ‘lei’ (de Deus, da Igreja e do Império; aparece, assim, uma teoria complexa da Lex) e ex opere operato, pela recepção dos sacramentos.” (Dussel, 2014, p.124).
Santo Tomás de Aquino - Tomás nasceu na região de Roccasecca, próximo a Roma, em 1225, foi frade católico, estudou e deu aulas em Paris e morreu em 1274 com apenas 49 anos. 
Assim como Agostinho, Tomás procurou também conciliar a razão (filosofia) e a fé (revelação), porém com uma argumentação distinta. Para Tomás a razão deve servia a fé do seguinte modo: 1. demonstrando os preâmbulos da fé; 2. aclarando as verdades da fé; 3. rebatendo as objeções. Podemos ver esse procedimento na sua obra prima - Suma de Teologia - onde é apresentado uma pergunta (normalmente a um problema teológico); os argumentos em torno de possíveis respostas; os argumentos contrários e as respostas ao problema inicial (Nascimento, 2008, p.93, nota 1).
Tomás de Aquino, Suma Teológica, vol. IV
521. Questão 90
Preâmbulo: o mal vem do diabo; o bem de Deus.
521-523. ARTIGO 1 A lei é algo da razão? 
Negativas: 1. a lei não é racional pois há pessoas que não possuem leis; 2. não sendo razão a lei não é potência, hábito ou ato (atributos da razão); 3. cumprir a lei é um ato da vontade e não da razão.
Respostas: como a lei é uma regra e uma medida, ela é fruto da razão; 1. idem; 2. as ações práticas vem da razão, portanto da lei; 3. a vontade deve ser regulada pela razão.
523-525. ARTIGO 2 A lei ordena-se sempre ao bem comum?
Negativas: a lei não se ordena pelo bem comum; 1. os preceitos podem ser particulares (singulares); 2. como a ação é singular, a lei também pode visar um bem particular; 3. como a razão pode ser particular, também a lei pode ser particular.
Respostas: a lei é para a utilidade comum dos cidadãos. “O último fim da vida humana é a felicidade ou bem-aventurança”, e como diz o filósofo (Aristóteles), a cidade é a comunidade perfeita. 1. sendo a lei comum a todos ela também se aplica a particulares; 2. as ações particulares podem visar o bem comum; 3. a razão visa o fim último, o bem comum. 
525-527. ARTIGO 3 A razão de qualquer um pode fazer leis?
Negativas: qualquer um pode fazer as leis. 1. Paulo diz que os gentios não têm lei; 2. se, como diz A., a lei deve induzir o homem a virtude, qualquer um pode fazê-las; 3. como o príncipe, o pai de família pode fazer a lei da sua casa. 
Respostas: a lei é feita pelo povo ou por alguém que age em seu nome. 1. tanto para quem faz a lei como quem é regulado por ela devem seguir a lei, ela é para todos; 2. o particular não produz a virtude pois só pode se corrigir, apenas a multidão ou a figura pública pode; 3. como a casa não é o fim último do homem, mas apenas a cidade, este deve ordenar-se para o bem comum desta. 
527-528. ARTIGO 4 A promulgação é da razão de lei?
Negativas: “e a promulgação não é da razão de lei”. 1. sendo a lei natural maior e não promulgada, todas não precisam ser promulgadas. 2. se a lei deve ser cumprida por quem estava presente e também os outros, sua promulgação não é razão. 3. se a lei vale para o futuro e sua promulgação é feita num momento pelos presentes, a promulgação não é necessária.
Resposta: "as leis se instituem quando são promulgadas". a promulgação precisa ser conhecida por todos. 1. a lei natural é promulgada por Deus nas mentes dos homens; 2. quando conhecida a lei deve ser cumprida; 3. depois de escrita a lei deve ser cumprida.


BIASOLI, L. F. Terceiras objeções feitas pelo Sr. Hobbes contra as seis meditações. Modernos & Contemporâneos - International Journal of Philosophy [issn 2595-1211], [S. l.], v. 5, n. 11, 2021. Disponível em: https://ojs.ifch.unicamp.br/index.php/modernoscontemporaneos/article/view/4481. Acesso em: 15 mar. 2024.
288. 1 Objeção de Hobbes (H): Descartes (D) está correto em dizer não há critério para distinguir o sono da vigília, só por meio dos sentidos, como diz Platão e outros, o sensível traz incertezas (ou seja, D só repetiu)
288-289. Resposta de D a 1 obj.: usei os antigos para preparar para meditações seguintes, distinguindo as coisas corporais das intelectuais.
289-290. 2 Objeção de H: do mesmo modo que não se segue que quando estou caminhando eu sou uma caminhada, também por eu pensar não se segue que eu sou “ um espírito, uma alma, um entendimento, uma razão”. “O Sr. Descartes, então, toma a coisa inteligente e a intelecção, que é seu ato, por uma mesma coisa”. “porque um ente é uma coisa, e outra coisa é sua essência;”. Aquilo que pensa também é corporal, é material.
288-289. Resposta de D a 2 obj: o pensamento, diferente de caminhada, pode significar: a ação mesma, a faculdade ou o local. Um pensamento pode ser sujeito de outro pensamento. 
292. 3 Objeção de H: D caiu no linguajar escolástico: “o entendimento entende, a vista vê, a vontade quer; e por uma justa analogia, a caminhada ou, ao menos, a faculdade de caminhar, caminha: todas as coisas que são obscuras, impróprias e muito indignas da nitidez ordinária”.
292. Resposta de D a 3 obj: diz que os modos de pensar “não podem ter alguma existência fora de mim”.
293. 4 Objeção de H: D não explicou a diferença entre imaginar (ter uma ideia) e entender (concluir). Da sequência de palavras aleatórias não se conclui nada. “o espírito não é nenhuma outra coisa, senão um movimento em certas partes do corpo orgânico”.
293. Resposta de D a 4 obj: o que importa não é o nome, mas o que ele significa. Se nossas palavras são arbitrárias, H se refuta a si mesmo uma vez que usa essas palavras. O movimento e o espírito são coisas diferentes.
294-295. 5 Objeção de H: não adoramos a imagem de Deus pois ela é inconcebível.  “Agora, dá muito suspeita premissa: que temos em nossa alma a ideia de Deus, Descartes vem provar este teorema: que Deus (um ser onipotente, muito sábio, criador do universo, etc.) existe. Ele deve conseguir explicar melhor como temos a ideia de Deus em nossa alma, e disso como podemos concluir não apenas sua existência, mas, também, a criação do mundo.”
295. Resposta de D a 5 obj: H não entendeu o sentido que dou as minhas palavras. Sendo Deus poderoso, se há mundo, ele foi criado por Deus.
295-296. 6 Objeção de H: D não explica direito quando diz que algum pensamentos geram outras coisas, como o querer, o ter, o medo, a afirmação e a negação.
296. Resposta de D a 6 obj: ver um leão não é o mesmo que ter medo. Não preciso responder.
296-297. 7 Objeção de H: Como D não provou a ideia de Deus, também não pode dizer que possui uma ideia inata de si.
297. Resposta de D a 7 obj: temos ideia de deus e a alma é inferida pela razão.
297. 8 Objeção de H: às ideias da astronomia não estão internas (mas foram adquiridas ao longo dos séculos?)
297. Resposta de D a 8 obj: D reclama que H não está de acordo com o nome que ele dá a ideia.
297-298. 9 Objeção de H: H crítica que as ideias de substâncias são maiores, pois não há ideia de deus nem de alma nem de substância. No caso da substância H defende que se elas não alteradas por acidentes não é possível uma ideia 
298. Resposta de D a 9 obj: “denomino ideia isto mesmo que a razão nos faz conhecer”. Para D o infinito e o independente tem mais realidade que o finito e o dependente.
299-300. 10 Objeção de H: como somos finitos e do dependentes não podemos conceber o infinito e o independente. Do mesmo modo para os atributos soberanamente inteligente e poderoso. Não há ideias inatas.
300-301. Resposta de D a 10 obj: “pois não há nada em Deus de semelhante às coisas exteriores, ou seja, às coisas corporais”. [...] “pois por ideia, quero dizer qualquer coisa que seja a forma de alguma percepção”.
301. 11 Objeção de H: nem a ideia de Deus nem a criação foi demonstrada.
301. Resposta de D a 11 obj: D defende que Deus é perfeito e total.
301-302. 12 Objeção de H: para H é contraditório o que D diz: o erro vem da faculdade de conhecer e do livre-arbítrio. Este último em particular ele recorre ao calvinismo (o homem não é parâmetro para deus, mas o contrário).
302. Resposta de D a 12 obj: as objeções não são bem deduzidas sobre os princípios. Não é o mesmo vontade (voluntário) e liberdade (livre). Não irei discutir o calvinismo.
302-303. 13 Objeção de H: a verdade e o consentimento não dependem da vontade.
303. Resposta de D a 13 obj: o conhecimento precisa da clareza para acontecer.
302-303. 14 Objeção de H: se não existissem triângulos não haveria ideia dele; do mesmo modo se ele deixasse de existir, não existiria sua forma. Só há essência onde há existência.
303. Resposta de D a 14 obj: D diz que rejeita nome, conceitos ou ideias eternas. 
304-305. 15 Objeção de H: que deus não me pode enganar não se conclui que coisas corpóreas existem.
305. Resposta de D a 15 obj: Deus, por sua essência, não pode nos enganar, ainda que o erro é possível.
305. 16 Objeção de H: o conhecimento de Deus não pode ser critério para o conhecimento de estar acordado pois um ateu pode saber se está acordado.
306. Resposta de D a 16 obj: um ateu não pode estar certo de que não está enganado sem admitir que foi criado por Deus e que Deus não o engana.

Descartes (1596-1650). Conhecer para possuir a natureza (como Bacon) e não para especular (p.322). Projeto: metafísica é base para a medicina, a mecânica e a moral. Assim, antes da experimentação e das hipóteses, é preciso o método e a dúvida. O primeiro: evidência, análise, síntese e enumeração; o segundo: duvidar de tudo e suspender o juízo (p.323-324). A dúvida permite a Descartes chegar na certeza: penso, logo existo. Assim, as ideias que estão em mim existem, entre elas a ideia de Deus (notem que é o eu pensante que dá existência a Deus, e não o contrário, além do mais o Deus de Descartes é um Deus que ordena tudo matematicamente) (p.325). Moral provisória: obedecer às leis e à religião; ser firme nas ações; modificar-se a si mesmo e não o mundo.

Hobbes (1588-1679). Adota as leis do movimento de Galileu e a tese dos estóicos de que só há corpos, assim, pela lei da inércia, o desejo, busca satisfação infinitamente. O ser humano busca o prazer e foge da dor (em especial a morte violenta). O homem não tem a concórdia recíproca, mas o temor recíproco; este é o Estado de Natureza, um momento sem governo, nele ocorre a guerra de todos contra todos (p.307-308). Só há um jeito de evitar a guerra: ceder sua violência para um terceiro, o Leviathan (o Estado), que usará para mediar as relações (p.309)

Kant, um tempo depois, vai dizer que deus, alma e mundo, não podem ser discutidos na teoria do conhecimento, mas na teoria moral e estética.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Filosofia.Afonso.Pena-4semana

EE Afonso Pena Prof. de filosofia Robson. Sobre as leis 10.639/2003 e a 11.645/2008. Há 5 tipos de discursos sobre a diáspora africana e povos indígenas: 1. Viajantes; 2. Missionários; 3. Agentes do império; 4. Antropólogos (semelhante ao anterior); 5. Dos próprios povos.
Eduardo Viveiros de Castro, O mármore e a murta (2002). 126. Sermão do Espírito Santo (1657 de Antonio Vieira compara os indígenas (em especial os Tupinambá da costa) a murta, planta decorativa, pois eles são maleáveis, e os europeus ao mármore que, apesar de sólida (ou mesmo por isso) gera estátuas que duram no tempo. 127. Devido a essa inconstância dos indígenas, justificou-se a importação de mão-de-obra africana. 128. Vieira reclama os impedimentos da conversão dos indígenas: tem muitas mulheres, bebem vinhos e fazem guerra. Estratégia catequética: reunião, fixação, sujeição, educação. Castro EV de. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. 117. “Tipicamente, os humanos, em condições normais, vêem os humanos como humanos, os animais como animais e os espíritos (se os vêem) como espíritos; já os animais (predadores) e os espíritos vêem os humanos como animais (de presa), ao passo que os animais (de presa) vêem os humanos como espíritos ou como animais (predadores).”
No livro História dos índios no Brasil, de 1992, p.15, na introdução, Manuela apresenta a partir do texto do viajante francês Abbeville (1614) a fala de um velho tupinambá: “vi a chegada dos peró em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós, franceses, fazeis agora. De ínício, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar residência [...] mas tarde, disseram que nos devíamos acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, e cidades, para morarem conosco [...] mais tarde afirmaram que nem eles nem os paí podiam vivem sem escravos para os servirem e por eles trabalharem [...]”. Gersem Baniwa, no seu doutorado (2011), defende que são as populações indígenas, e não o Estado, precisam organizar a transmissão dos conhecimentos de suas comunidades às futuras gerações. Jerá Guarani disse que sua comunidade levou 6 anos para ‘tornar-se selvagem’, e propõem que façamos o mesmo. Outras referências indígenas: Ailton Krenak; Davi Kopenawa; Rádio Yandê
Silva (org.), Bantu no Br, 2023. 21-28. Carta do Povo Bantu: “terra não é objeto de negócio”; “Ntu — Sou porque somos!”. cap.2. Mello e Souza. 37. as informações da escravidão vêm de documentos administrativos; relatos de viajantes; atas de irmandades pretas. 37; presença banto: batuques, os jongos, os lundus, o samba, os calundus, macumbas e umbandas, a capoeira. cap.3. Kabengele Munanga (USP). 43. parte da documentação da escravidão foi destruída. 45-47. os bantu criaram o quilombo, fugindo para áreas de difícil acesso; inspiração foi o quilombo africano era o ritual de amadurecimento para a guerra. O quilombo dos Palmares em Alagoas (1597-1692).
A “Dança de negros” de Zacharias Wagener (1634- 1641). “a divindade suprema, os arquipatriarcas, os espíritos da natureza, os ancestrais e os antepassados. No segundo grupo, estão situados os reis, os chefes de reino, tribo, clã ou família, os especialistas da magia, os anciãos, a comunidade, o ser humano, os animais, os vegetais, os minerais, os fenômenos naturais e os astros” (p.225-226). Maior arquivo sobre a escravidão: Transatlantic Slave Trade Database (www.slavevoyages.org)
Almeida (2019) diz que há racismo estrutural; já Moniz Sodré diz que o racismo é a imagem que ficou do tempo da escravidão. Sra. Aldacir diz que eles (os quilombos) não podem fazer nada, ou seja, eles continuam escravos (Botão, 2019, p.52). Sobre as religiões de matriz africana ver Reginaldo Prandi. Outros autores: Baba King; Sidnei Nogueira; Marcio de Jagun; Muniz Sodré. Sobre samba ver textos no academia.edu. Outras referências: Gabi Guedes; instituto Tambor do mestre Caçapava. Nancy Frazer (2001) sintetiza as reivindicações da diáspora africano nos EUA a partir da redistribuição e do reconhecimento, ou seja, a cidadania plena. Bruno Latour, certa vez (Danowski e Castro, 2013), disse certa vez que “estaríamos numa ‘guerra’ entre os humanos e os terráqueos. Os primeiros seriam os europeus modernos e todas as suas parafernálias (computador, telefone, cães de guarda, transgênicos etc.), o segundo seriam as populações tradicionais, as populações indígenas, os quilombolas (na sua maioria descendentes de africanos), os agricultores tradicionais, os ribeirinhos, entre outros” (Gabioneta, 2019). Sintetizando as duas reinvindicações (lembrando que não podemos de antemão dizer o que cada comunidade quer): temos que lutar por um Estado mais democrático, que nos permita participação efetiva ao mesmo tempo precisamos garantir a nossa sobrevivência sem a interferência do Estado, ou melhor, temos que lutar para que o Estado não nos impeça que as comunidades vivam da sua relação com a terra. (ex. privatização do setor elétrico)
Questões de múltipla: a) com suas palavras escreva a pergunta da questão / b) escreva o significado da principal palavra da pergunta /c) escreva o que o enunciado diz dessa pergunta
1. (Unicamp2019) O texto a seguir foi retirado de um cartaz da campanha promovida pela FUNAI, em 2017, para combater o preconceito contra os povos indígenas. Leia-o e responda à pergunta: “Não há desenvolvimento que se perpetue sem meio ambiente preservado. Os saberes ecológicos indígenas, desenvolvidos geração a geração, são tecnologias essenciais para a proteção das matas, dos animais silvestres, dos mananciais de água, do solo e do subsolo. O índio não atrapalha o desenvolvimento. Como guardião da biodiversidade, gera condições para que ele aconteça. A um só tempo, o índio torna possível a preservação e o desenvolvimento.” Qual das ideias preconceituosas abaixo o texto procura combater?
a) “Eu queria ser índio também... ele é visto como ‘coitadinho’ e ainda tem terra de graça!”. b) “Não tem mais índios de verdade, essa é a grande questão... esses que estão aí são todos falsos!” c) “O Brasil precisa progredir... e os índios são um obstáculo ao desenvolvimento do país!” d) “Nada contra os índios, mas eles são muito preguiçosos, não gostam de trabalhar!”
2. (Unicamp2019) (1) Invasão de propriedade: Projetos de lei que tramitam no Congresso pretendem endurecer as regras contra as invasões de propriedades rurais no Brasil. Pelas propostas, as invasões vão ser classificadas como terrorismo, com pena de até 30 anos de prisão e uso imediato da força policial.
(2) 


Considerando o que se afirma no texto (1), as perguntas feitas pela menina indígena no texto (2) revelam
a) a sua surpresa com o fato de que o Congresso brasileiro vai, finalmente, se preocupar com as terras indígenas. b) a contradição demonstrada pelo Estado brasileiro no que se refere à questão da ocupação de terras. c) o interesse dos políticos brasileiros em zelar pelo direito de todos os cidadãos do país à propriedade. d) a sua esperança de que também os invasores de terras indígenas venham a ser considerados terroristas.
3. (Enem 2012) Próximo da Igreja dedicada a São Gonçalo nos deparamos com uma impressionante multidão que dançava ao som de suas violas. Tão logo viram o Vice-Rei, cercaram-no e o obrigaram a dançar e pular, exercício violento e pouco apropriado tanto para sua idade quanto posição. Tivemos nós mesmos que entrar na dança, por bem ou por mal, e não deixou de ser interessante ver numa igreja padres, mulheres, frades, cavalheiros e escravos a dançar e pular misturados, e a gritar a plenos pulmões “Viva São Gonçalo do Amarante”. (TINHORÃO. As festas no Brasil Colonial. 2000). O viajante francês, ao descrever suas impressões sobre uma festa ocorrida em Salvador, em 1717, demonstra dificuldade em entendê-la, porque, como outras manifestações religiosas do período colonial, ela
a) seguia os preceitos advindos da hierarquia católica romana. b) demarcava a submissão do povo à autoridade constituída. c) definia o pertencimento dos padres às camadas populares. d) afirmava um sentido comunitário de partilha da devoção. e) harmonizava as relações sociais entre escravos e senhores
(Unicamp, 2024) “Dos pretos é tão própria e natural a união que a todos os que têm a mesma cor, chamam parentes; a todos os que servem na mesma casa, chamam parceiros; e a todos os que se embarcam no mesmo navio, chamam malungos.” (VIEIRA, 1688.) Sobre as comunidades de malungos no período da escravidão, é correto afirmar, de acordo com o texto, que são formadas a) nos laços entre africanos de múltiplas etnias, os quais haviam atravessado juntos o Atlântico. b) no encontro dos africanos nas senzalas, no exercício de ofícios e no trabalho da lavoura. c) no Novo Mundo por pessoas de uma mesma etnia que se reconheciam como iguais. d) nos quilombos rurais e urbanos, formados por escravizados fugidos de muitas etnias.
(Unicamp, 2023) “[O STF] tem que votar contra. Estão desrespeitando o que está escrito na Constituição Federal. Não é hora do marco temporal sair como cobra grande para acabar com a gente. Os garimpeiros estão doidos para o Congresso Nacional aprovar essa lei do marco temporal, para eles continuarem a garimpar e botar máquina em terra indígena. [...] [O] marco temporal significa continuar a roubar a terra”. Considerando seus conhecimentos e as informações apresentadas, assinale a alternativa correta.
a) O marco temporal é uma tese jurídica pela qual os povos indígenas têm direito à demarcação das terras que ocupam desde 22 de abril de 1500. b) O marco temporal é, nas palavras de Davi Kopenawa, uma cobra grande, porque vai permitir que os povos indígenas sejam donos de suas terras tradicionais. c) Segundo a tese jurídica do marco temporal, a demarcação de terras indígenas não está vinculada ao tempo de ocupação da terra pelo povo que a está reivindicando. d) O marco temporal é uma tese jurídica pela qual os povos indígenas têm direito apenas às terras que ocupavam ou já disputavam em 5 de outubro de 1988.

Unesp-Historia.e.Filosofia.da.Educação.3semana

Unesp-Historia.e.Filosofia.da.Educação.3semana
3 aula: leis 10.639 e 11.645 (diáspora africana e povos indígenas)
Discursos sobre os povos. De um modo geral pode-se falar que há 4 tipos de discursos sobre os povos tradicionais (em especial nas américas): 
1º dos viajantes, missionários, agentes dos impérios (séc. XV-XVII). Com cartas ou relatórios comunicavam aos europeus o que vinham no novo mundo.
2º dos agentes do Estado (séc. XVII-XIX). Realizam estudos para implementar a colonização e a comercialização
3º dos Antropólogos (séc. XX). Realizaram estudos sobre populações fora da dita civilização ocidental. Destaques para: Malinowski no Pacífico; Evans-Pritchard e Radcliffe-Brown na África; Lévi-Strauss com os povos indígena no Brasil; Equipe de Roge Bastide no estudo do negro no Brasil (Florestan Fernandes, Pierre Verger). Em geral, a partir da etnografia, tentam apresentar os modos de vida dessas populações, porém a referência são os modos de vida da população européia.
4º dos próprios povos (final do séc. XX e séc. XXI). Baba King; Sidnei Nogueira; Marcio de Jagun; Muniz Sodré; na música há os sambistas; os rappers; os afoxés da Bahia; funk no Rio de Janeiro. Neste caso a comunicação se dá por meio da correção do que já foi dito tendo como interlocutor o dito Ocidente (Estado, Catolicismo).
Há um 5º discurso que é a comunicação interna de cada povo e uma 6º que seria a comunicação entre esses povos.
Antropólogos de destaques: Manuela Carneiro Cunha e Eduardo Viveiros de Castro
“Bruno Latour, certa vez (ref. a partir de Danowski e Castro, 2013), disse que estaríamos numa “guerra” entre os humanos e os terráqueos. Os primeiros seriam os europeus modernos e todas as suas parafernálias (computador, telefone, cães de guarda, transgênicos etc.), o segundo seriam as populações tradicionais, as populações indígenas, os quilombolas (na sua maioria descendentes de africanos), os agricultores tradicionais, os ribeirinhos, entre outros” (Gabioneta, 2019). Ver:  https://www.academia.edu/40149339/Para_al%C3%A9m_do_humano
Indígenas de destaque: Ailton Krenak; Davi kopenawa
No livro “a queda do céu” Davi Kopenawa mostra como os Xapiri (células espirituais) se juntam para criar um ser vivo. Essa descrição é semelhante à concepção de alma das religiões de matriz africana e da descrição dos itinerários das almas feitas por Platão no Fedro. 
Na sua tese de doutorado, Gersem Baniwa defende que é um erro as comunidades indígenas deixarem a educação de seus filhos apenas sob a responsabilidade do Estado.
Destaques: Rádio Yandê: https://radioyande.com/
Sobre os tambores africano segue uma oficina de Gabi Guedes: https://www.youtube.com/watch?v=R8pzOwZ5S78&t=25s. Nessa oficina, Guedes destaca que a organização geral dos tambores vindos da África: há dois que fazem a marcação (um no tempo e outro no contratempo) e um outro que dialoga com esses dois, é mais livre para improvisar, para brincar. Outras duas pessoas ligadas a cultura afrobrasileira, Lucia Castro do jongo Dito Ribeiro e Tião Carvalho, em contextos distintos, disseram a mesma coisa.
O instituto Tambor do mestre Caçapava apresenta diversos toques básicos: https://www.youtube.com/watch?v=ANgPSRM8DxA&list=PL0bC1X8i1uLZpdmR5zOMWN_m70FSGcuCq
Silva (Salloma Salomão) fala das multiplicidades de instrumentos musicais encontrados na África. https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/13185
Pesquisa sobre os rituais que acontecem no Brasil (os Espíritos do Brasil) a partir da plataforma: https://hibridos.cc/po/rituals/
Em primeiro lugar, é preciso dizer que não há unidade quando se fala de população brasileira. O que há é uma disputa que às vezes é mais evidente, sendo outras mais difusas. Do mesmo modo com os povos da diáspora africana e com os povos indígenas, e mesmo os povos de origem europeia que vieram colonizar aquilo que chamamos América. Apesar disso, e aqui estamos seguindo o método de Platão de fazer sínteses provisórias que, depois de investigadas, serão alteradas, há alguns consensos. A população africana foi retirada a fora da África e escravizada ajudou a construir o Brasil, as américas (e mesmo o mundo), quer cidadania plena, quer usufruir aquilo que ela ajudou a produzir; por outro lado, os povos indígenas querem manter seu modo de vida, suas culturas, exigindo que invasores saiam do seu território. Unindo as duas reivindicações, podemos dizer que os dois grupos defendem o direito à terra para garantir a sua sobrevivência.
Nancy Frazer sintetiza isso em redistribuição e reconhecimento (2001). Mas observem que ela nada fala sobre a sobrevivência pela terra, me parece que sua preocupação é com os ambientes urbanos.
Porém, e essa é a questão das nossas vidas, somos todos terráqueos, uma vez que (pelo menos por enquanto) vivemos daquilo que vem da terra. 
Jerá Guarani disse que sua comunidade (ou pelo menos parte dela) levou 6 anos para ‘tornar-se selvagem’, e nós, quantos anos precisamos para nos tornarmos selvagens e vivermos sem a dependência do Estado?
Castro EV de. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana [Internet]. 1996Oct;2(2):115–44. 117. Tipicamente, os humanos, em condições normais, vêem os humanos como humanos, os animais como animais e os espíritos (se os vêem) como espíritos; já os animais (predadores) e os espíritos vêem os humanos como animais (de presa), ao passo que os animais (de presa) vêem os humanos como espíritos ou como animais (predadores). Em troca, os animais e espíritos se vêem como humanos: apreendem-se como (ou se tornam) antropomorfos quando estão em suas próprias casas ou aldeias, e experimentam seus próprios hábitos e características sob a espécie da cultura — vêem seu alimento como alimento humano (os jaguares vêem o sangue como cauim, os mortos vêem os grilos como peixes, os urubus vêem os vermes da carne podre como peixe assado etc.), seus atributos corporais (pelagem, plumas, garras, bicos etc.) como adornos ou instrumentos culturais, seu sistema social como organizado do mesmo modo que as instituições humanas (com chefes, xamãs, festas, ritos etc.). 134. As cosmologias ameríndias dedicam igual ou maior interesse à caracterização do modo como os mortos vêem o mundo que à visão dos animais, e, como no caso destes, comprazem-se em sublinhar as diferenças radicais em relação ao mundo dos vivos. Os mortos, a rigor, não são humanos, estando definitivamente separados de seus corpos. Espírito definido por sua disjunção com um corpo humano, um morto é então atraído logicamente pelos corpos animais; por isso, morrer é se transformar em animal (Pollock 1985:95; Vilaça 1992:247-255; Turner 1995:152), como é se transformar em outras figuras da alteridade corporal, os afins e os inimigos. Dessa forma, se o animismo afirma uma continuidade subjetiva e social entre humanos e animais, seu complemento somático, o perspectivismo, estabelece uma descontinuidade objetiva, igualmente social, entre humanos vivos e humanos mortos. (As religiões fundadas no culto de ancestrais parecem fazer a postulação inversa: a identidade espiritual atravessa a barreira corporal da morte, os vivos e os mortos são semelhantes na medida em que manifestam o mesmo espírito — ancestralidade sobre-humana e possessão espiritual, de um lado, animalização dos mortos e metamorfose corporal, do outro...)
CASTRO, Eduardo V. 2002. “O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem”. In: ______. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac Naify. pp. 181-264. (estou citando a partir desta). Síntese
126. Sermão do Espírito Santo (1657 de Antonio Vieira compara os indígenas (em especial os Tupinambá da costa) a murta, planta decorativa, pois eles são maleáveis, e os europeus ao mármore que, apesar de sólida (ou mesmo por isso) gera estátuas que duram no tempo. 127. Devido a essa inconstância dos indígenas, justificou-se a importação de mão-de-obra africana. 128. Vieira reclama os impedimentos da conversão dos indígenas: tem muitas mulheres, bebem vinhos e fazem guerra. Estratégia catequética: reunião, fixação, sujeição, educação. 130. Os europeus viam a religião como sistema cultural. Nóbrega diz que os indígenas “dizem que querem ser como nós” (1959). 132. Porém eles não perceberam que o fundamento dos Tupinambá era a relação com os outros. A questão é que as narrativas europeias se fundam na dicotomia absorção ou resistência. 135. Os xamãs-profetas tupinambá chamavam os padres e depois todos os portugueses de karaiba. 137. Os europeus viam os indígenas como animais úteis ou cristãos em potência; os Tupi viam os europeus como uma possibilidade de “alargar a condição humana”. 138. a inconstância era uma abertura para a troca. 139. cultura é “um conjunto de estruturas potenciais da experiência, capaz de suportar conteúdos tradicionais variados e de absorver novos”. 139. Os missionários usaram a mesma estratégia dos xamãs: pregação matinal; uso do canto; promessa. 144. os selvagens não obedeciam ninguém: não tinham fé, lei ou rei. 150. vingança guerreira: canibalismo, poligamia, bebedeiras, acumulação de nomes, honras. Os homens eram responsáveis pela captura e morte dos inimigos; as mulheres pela produção de cauim; sem isso eles não se consideravam adultos. 152-153. cumplicidade entre os cativos e captores, bebiam, dançavam, tornaram-se cunhados. 155. a memória do passado (onde o cativo matou) e do futuro (os meus vão vingar). 182 nota 47 ninguém fugia pois se o fizesse não era aceito pela comunidade. 160. os padres convenceram os governadores-gerais a definirem o canibalismo como crime; inicia-se a guerra contra os indígenas. 164. a opinião dos jesuítas sobre as bebidas assemelha-se aos discursos modernos sobre as drogas. 171. os jesuítas internaram os jovens índios para os doutrinar.
Vagner Gonçalves Silva (org.), Através das águas: os bantu na formação do Brasil, 2023. Síntese. Cap.1. Katuvanjesi, Bantu no Br. 16. bantu foi o primeiro povo trazido para o br. 26. a  “terra não é objeto de negócio”. 28. Ntu — Sou porque somos! cap.2. Mello e Souza, bantu na Af. e Br. há muitas coisas escritas em arabe no norte da Af. desde o sec. IX e em línguas europeias desde o sec. XV. 36. entre os escravizados vindo de 1580 a 1850, 75% era banto. 37. as informações vêm de: documentos administrativos, relatos de viajantes e atas de irmandades pretas. 37. a presença bantu na cultura: samba, jongo, capoeira, umbanda. cap.3 Kabengele Munanga, resistências. 43. parte da documentação foi destruída. 44. Nina Rodrigues começou a pesquisa no br e Arthu Ramos deu continuidade; povos que foram trazidos para o br:  1) yoruba ou nagô, jêje, fons, ewê, fanti-ashanti; 2) A área dos povos de línguas bantu; 3) negros malês — peul ou fula, mandinga, haussa, tapa, gurunsi etc. 45. os bantu criaram o quilombo (em Af. era um lugar de iniciação a guerra); é um modelo plurirracial. 47. Clóvis Moura levantou 44 quilombos em PE, Ba, SP, Ma, MG, Am; o maior foi em Alagoas, o quilombo dos Palmares, existiu de 1597 a 1692; líderes  Ganga Zumba e Zumbi. 49 a partir de Placide Tempels “a relação das forças vitais reserva uma posição de destaque ao culto dos ancestrais ou antepassados”. Outro pesquisador importante foi Roger Bastide. 52. José Ramos Tinhorão destaca a “eleição do Rei do Congo” tornou-se “Reinados de Congos”, “Congadas”, Congados” e “Congos” em MG. cap.4 Slenes, segunda escravidão 1781-1888. 57. protesto negro depois da abolição: “Dona Raínha me deu cama / Não me deu banco p´ra me sentar”. 58. entre 1781-1850, foi o período que mais trouxeram escravizados para o sudeste, a sua maioria da África Centro-Ocidental. se estuda pouco a agencia dos escravizados. 66. depois de 1850, com a proibição do tráfico, houve comércio interno. nota 25 Transatlantic Slave Trade Database (www.slavevoyages.org). 69. cogita-se que os bantu eram uma sociedade de “caçadores-coletores [que] viviam em sociedades igualitárias e cooperativas”. 72. o primeiro contato portugues com o reino do Kongo foi em 1483, trocando armas por mercadorias, em especial escravos, promovendo a guerra. 77. nota 51 “De acordo com o censo de 1872, nas províncias de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente 68,5, 57,0 e 37,9% da população de cor (categorias “preto” e “pardo” do censo) eram “livres”.” 2 APORTES LINGUÍSTICOS. 123. 2.1 O português afro-banto-brasileiro Margarida Petter. Coube aos missionários (padres) o trabalho de entender as línguas africanas e indígenas. 127. apesar de não haver registros de línguas africanas no sec. XIX e XX, os terreiros e os quilombos guardam essa tradição. 134. “As palavras são do português, mas a fonologia, a semântica e a sintaxe têm a marca africana.”. Cap.2.2. Yeada P. Castro, redescoberta bantu no br. 141. a população vinda da Af. é a maior do br. 146. formam o portugês: linguas romanicas (portugues); línguas indígenas (tupi); línguas nigero-congolesa (bantu primeiro depois ewe-fon e yorubá). 3 COSMOLOGIAS CENTRO-AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS. 3.1. Bunseki Fu-Kiau, o “V”. 152. V é a vida em si, o big bang explodiu em V. 153. “No plano horizontal, ele se pode mover em quatro direções: para frente, para trás, para a esquerda e para a direita [...] O plano vertical permite ao ser humano andar para baixo, para cima, e, para a saúde “perfeita”, verdadeiro autoconhecimento e autocura, permite-lhe que caminhe para dentro.” 156. “o corpo não pode ser curado, a menos que o estado “primitivo” do núcleo seja restabelecido.” “nossos “Vs” individuais e coletivos, nós as estreitamos ou destruímos, e a nós mesmos, instantaneamente, por meio de abusos, tais como drogas, aprisionamento mental, comida, vulgaridade e ignorância. 157. “Ademais, esses pontos de demarcação, no pensamento Bântu-Kôngo, são os quatro grandes “sóis” de todos os processos de formação de mudança. O primeiro (sol Musoni) é o sol do “ir para” [lutumu lwa mvangumunu] todos os começos; o segundo (sol Kala) é o sol de todos os nascimentos; o terceiro (sol Tukula) é o sol da maturidade, liderança e criatividade; o quarto (sol Luvèmba) é o sol da última e maior mudança de todas, a morte (Fu-Kiau, 1980).” 163-164. Tem formato de V as plantas, montanhas, rios, pássaros, peixes, animais, nossas máquinas. cap.3.3. Wyatt MacGaffey, Fetichismo. 177. Nse-mi Isaki (1915) explica o nkisi: coisas para ajudar um doente (amuleto), esconderijo das almas, tem vida mas é diferente das pessoas; sua composição (ingredientes e cantos) devem ser originais. cap.3.4. Marcussi, o vento em salvador (1753). Bastide acha que as religiões bantu só poderiam ser praticadas na Af., por isso elas teriam sido absorvidas por outras, como a iorubá. 203-204. relato de como os ventos do calundu é passado pelas gerações. cap.3.5. Robert Daibert Junior, A “Dança de negros” de Zacharias Wagener (Recife 1634-1641)
223. Figura 1. Dança de Negros. WAGENER, Zacharias. Prancha 105. In: TEIXEIRA, Dante Martins. (org.). Brasil Holandês: “Thierbuch” e a “Autobiografia” de Zacharias Wagener. v. 2. Rio de Janeiro: Index, 1997, p. 193
Junior critica a interpretação de Wagener sobre o ritual negro. 225-227. A cosmovisão banto é dividida entre: “[... divindade suprema (Kalunga, Zambi, Lessa, Mvidie, entre outros nomes), os arquipatriarcas, os espíritos da natureza, os ancestrais e os antepassados. No segundo grupo, estão situados os reis, os chefes de reino, tribo, clã ou família, os especialistas da magia, os anciãos, a comunidade, o ser humano, os animais, os vegetais, os minerais, os fenômenos naturais e os astros (Altuna, 1985, pp. 58- 61).” 227. no br, em respeito aos ‘donos da terra’, invocavam os caboclos. 229. valores positivos: fecundidade, caça, colheitas, segurança, prosperidade; valores negativos: doença, morte, escravidão, entre outros. a energia vital é transmitida por deus a todos. 231. enterram seus mortos com aquilo que usavam em vida para poder fazer a passagem. 233. ofereciam aos mortos oferendas; nos rituais de possessão tinha a adivinhação (conversas) e a cura de doenças (com ervas para a pessoa vomitar e/ou defecar o mal). cap.3.6. Esmeraldo Emetério de Santana, nação angola. 253. “angola é uma mistura de cambinda, moçambique, munjola, quicongo”. Na senzala as nações se misturaram. 254. Toques da nação angola: munjola, cabula, barravento, rebate.

Queto Angola

Ogum Incoce

Ossaim         Catendê

Oxóssi o Odé Mutacalombo, Burugunço, nome de dois Oxóssi

Xangô, Obacossô Zaze, Lumbondo, Luango… que nome bonito!

Obaluaiê, Xapanã (jeje) Insumbo, Tingongo. Para que nome mais bonito que Tingongo?

Logum Edé Gongobira, espécie de Oxóssi, mas é a mesma coisa que Logum Edé

Aro-Aro         Tempo dia Baganga, Caiti Quindimbanda, Cuqueto

Oxumarê, Bessem (jeje)  Angorô

Erê, Beji          Vúnji

Oxalá Lemba, Lembarenganga, e outros nomes
cap.3.7. Valdina Pinto, nação angola. 266. no terreiro, antes de governar o sujeito deve ser criança, iniciado. 268-270. palavras chaves: futu (caixa com remédios; objetos pessoas); nkisi (conteúdo secreto do futu; remédio); kanga (sela, fecha o futu); kalunga (o todo, Zambi); Mu-diambu-dia (“em intenção de”); Moyo (poder vital, mãe universal). 271 “O Nkisi que tem domínio dos caminhos, das estradas, que tem a função de mensageiro que usualmente chamamos de Unjila, Unjira, Bombonjira, Cariapemba, Padilha vindo dos termos Nboombo Nzila, Mpoombo Nzila, Mpaambo Nzila, Nkadi a Mpemba, Madya Mpadya; este Nkisi é equivalente a Exu da nação queto e Elegbara da nação jeje.” “Um outro Nkisi que também divide o domínio das estradas com Unjira é Nkosi ou Hoji Mukumbi que também domina os metais, é o [ 272 ] patrono, o protetor dos ferreiros, dos que dominam a arte de fabricar instrumentos agrícolas e armas; é o condutor de caravanas nas florestas, é o que dá caminho, que vai na frente; é o patrono dos combates, das lutas por justa causa. É o equivalente a Ogum do queto e Gu do jeje.”. 272. “O Nkisi das matas, o dono do segredo, da essência das folhas é Katendê também chamado de Kaité, Kaitumba. Katendê, como os Nkisi ligados à água, à terra, tem uma importância muito grande para nós do candomblé porque folhas, plantas e água são fundamentais para a nossa religião; Katendê é o equivalente a Ossaim no queto e Agué do jeje.” “O domínio dos céus, dos astros fica por conta de Zazi ou Zaji, do termo Nzazi, o raio, o trovão; Zazi é equivalente a Xangô do queto e Badé do jeje.” “O domínio das águas, sobretudo dos lagos, das fontes, dos regatos é do Nkisi Dandalunda, de Kisiimbi, equivalente ao orixá Oxum. [...] Lemba (Oxalá) é o Nkisi da reunificação, da paz, da conciliação, da geração, o pai ancestral dos demais Nkisi.”
historiadores de destaque sobre a questão da escravidão: Luis Felipe de Alencastro (O trato dos Viventes); Carlos Gabriel Guimarães (A presença britânica no Império do Brasil); Sidney Chalhoub (Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque). 
bibliografia básica (obrigatória)
Castro EV de. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana [Internet]. 1996Oct;2(2):115–44.
Gabioneta, R. Raízes do povo brasileiro: O que é o Brasil, qual é a origem de sua riqueza? Revista Humanitas no. 14145. São Paulo: Escala. 2021, p. 32-37. 
GUARANI, Jerá. Tornar-se selvagem. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 14, p. 12-19, jul. 2020. Disponível em: https://piseagrama.org/artigos/tornar-se-selvagem/. Acesso em: 10 de mar. de 2024.
Ojuara, Hugo e Bastos, Fernanda. Preto Demais . Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1uxXYkWfIpE. Acesso em: 10 de mar. de 2024.
Bibliografia complementar
ALMEIDA, S. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019. 264 p.
BOTÃO. U. Dos S.; SILVA, S. Narrativas Quilombolas. p. 38 – 55. São Paulo. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. 2017. Disponível em: https://www.educacao.sp.gov.br/material-didaticonarrativas-quilombolas-e-apresentado-para-rede/. Acesso em: 30.01.2023.
CASTRO, E. V. de. O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem. Revista de Antropologia, [S. l.], v. 35, p. 21-74, 1992. DOI: 10.11606/2179-0892.ra.1992.111318. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/111318. Acesso em: 22 fev. 2024.
CASTRO, Eduardo V. 2002. “O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem”. In: ______. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac Naify. pp. 181-264. (estou citando a partir desta).
FRASER, N. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça da era pós-socialista. In: SOUZA, J. (Org.) Democracia hoje Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
Gabioneta, R. Filosofia na busca pelo diálogo: atividades físicas, plantas, história e ancestrais. Filosofia e Educação, Campinas, SP, v. 12, n. 3, 2021.
__________. HUMANO: uma volta aos seres naturais (e espirituais) da floresta. Filosofia Ciência & Vida, out/2019, ed.153, p.78-80.
__________. Antropologia: novos mundos possíveis: pensando a teoria antropolótica como ciência da mediação de sociedades. Filosofia Ciência & Vida, Abril/2019, ed.149, p.34-39.  
__________. Ética e Camdomblé: ética pensada com a religião, em especial com Reginaldo Prandi, mito, música e ensino de Filosofia. 
GOMES, Arilson dos Santos; BAKOS, Margaret Marchiori. Aspectos históricos da lei 10.639/03 e a história e cultura afro-brasileira a partir de relatos dos viajantes europeus. Momento - Diálogos em Educação, [S. l.], v. 22, n. 2, p. 19–38, 2014. Disponível em: https://periodicos.furg.br/momento/article/view/4405. Acesso em: 11 mar. 2024.
PRADO, B.M.S. ; PEDRO, R.C. ; GOMES, M. O. . Um olhar sobre a Lei Fed n 11645/08:antecedentes, concepções e evolução. LEOPOLDIANUM (UNISANTOS), v. 44, p. 17-34, 2018.
SILVA, Vagner Gonçalves da et al. Através das águas: os bantu na formação do Brasil. ( Coleção Viramundo). Universidade de São Paulo. Faculdade de Educação, 2023. DOI: https://doi.org/10.11606/9786587047522 Disponível em: www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/1189 . Acesso em 22 fevereiro. 2024.
SILVA, “Salloma” Salomão Jovino da. Memórias sonoras da noite: musicalidades africanas no Brasil oitocentista. 431 f. Tese (Doutorado em História). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.
SODRÉ, Muniz. O fascismo da cor: uma radiografia do racismo nacional. Rio de Janeiro: Vozes, 2023.

Sobre as Leis:  Dois artigos interessantes apresentam o histórico das leis: a primeira de 2003, Gomes e Bakos em 2014; a segunda, de 2008, Prado, Pedro e Gomes em 2008. Vejamos um trecho do primeiro: “Para Maria Aparecida da Silva Bento, a ideologia da democracia racial passou a se constituir como sinônimo da ideologia da cultura brasileira, naquele momento. Essa ideologia surgiu justamente a partir da publicação de Casa-grande e Senzala, de Gilberto Freyre lançado em 1933. ‘Ao postular a conciliação entre as raças e suavizar o conflito (Gilberto Freyre) ele nega o preconceito e a discriminação (...)’ (BENTO, 2002, p. 48). Munanga (2004) acredita que a contribuição de Freyre foi ter demonstrado que negros, índios e mestiços tiveram contribuições positivas na cultura brasileira: influenciaram profundamente no estilo de vida da classe senhorial em matéria de alimentos, indumentária e sexo, dando origem à mestiçagem cultural. Essa exaltação de convivência harmoniosa impediu os membros das comunidades não brancas de terem consciência dos sutis mecanismos de exclusão sociais, sem consciência de suas características culturais e de uma identidade própria são expropriados, dominados e convertidos em símbolos nacionais pelas elites dirigentes (MUNANGA, 2004, p. 88-89).” (Gomes e Bakos, 2014, p.25)