quarta-feira, 27 de agosto de 2014

filosofia da arte - 2 A (todas as turmas) - continuação

segue o texto completo da análise que fiz com uns amigos sobre a obra de adoniran barbosa

As psiques de João Rubinato
Desde Freud – com o inconsciente – e depois com Foucault – com a formação dos discursos filosóficos e literários – quando da tentativa de compreensão da obra de arte, a análise sobre o papel do autor assumiu um relevância muito maior em relação à própria obra de arte. Ou, ao menos, ele – o autor – passou a ser uma importante entrada para a análise de uma obra. Assim, identificar as opções políticas, a história pessoal, os gostos, os comportamentos e os pensamentos do autor, passou a ser um importante elemento na crítica de qualquer obra de arte.  Por exemplo, quando um artista se diz “de esquerda”, os críticos procuram em sua obra elementos que representem esta posição, excluindo o que é contraditório, isto é, o que não combina com o que se entende por esquerda. Desse modo, ocorre uma classificação da obra de arte e do artista que a criou. Outra prática corrente é reduzir o artista à sua obra “mais importante”. É o caso de Platão. A história da filosofia privilegiou a República como a sua obra mais importante. Para ser mais exato, o momento em que Sócrates defende que, para uma cidade ser justa, é preciso que o filósofo seja rei ou o rei filósofo. A partir desse momento, Platão é tido como autoritário e todas as suas obras são lidas com esse viés.
Porém, a caracterização do homem e do cidadão Platão não é tão fácil de ser definida, uma vez que o próprio Platão sequer aparece em seus diálogos: as falas sempre pertencem aos seus personagens. Do mesmo modo, com João Rubinato – também conhecido como Adoniran Barbosa, ou como o autor de Trem das Onze – a classificação também não é imediata. A partir de determinado momento de sua carreira, inclusive, passou a utilizar, preponderantemente, o nome de um de seus personagens: Adoniran Barbosa. Certamente abandonou seu nome de batismo, que julgava “macarrônico demais para um sambista”; e por muitas vezes se apresentou como Zé Conversa, Barbosinha Mal-Educado da Silva ou Charutinho – alguns de seus mais famosos personagens. Aliais, ele próprio se classificava mais como ator do que qualquer outra profissão que ele tenha exercido, inclusive a de cantor e compositor. Paradoxalmente, é próprio de um ator essa característica de representar – quando não, viver –  várias vidas em apenas uma. Se for assim, João Rubinato também é cantor, compositor, músico, carpinteiro, etc. Mas podemos ver na obra do ator confesso algo que seja próprio do homem João Rubinato?
Para ajudar-nos nessa difícil tarefa vamos ouvir alguns comentários acerca de outros autores, que como Adoniran criam seus personagens. Primeiro vejamos o que Marques fala de Platão:
“Os personagens criados por Platão, mais do que simples recurso de expressão, constituem um esforço para tornar explícitas e inteligíveis atitudes éticas e posições teóricas fundamentais, detectáveis entre os cidadãos, artesãos, homens políticos, poetas e pensadores de sua época.” (p.40)
E mais adiante ele completa:
“A ‘alterização de si’, através da (re)invenção de personagens, é um modo de desdobrar e desenvolver os logos (teses, discurso, argumentos) que falam, sem voz, em sua alma.”
Assim, para Marques, a criação de personagens não é apenas um recurso literário de Platão. Ele não está fazendo literatura – muito menos para nós, leitores do século XXI. Platão quer apresentar os ‘personagens’ da sua época, ou mais que isso, ele quer relacionar os pensamentos com as ações. Ele quer nos mostrar não só como pensa um político, um sofista, um orador, ele também quer que possamos reconhecer na nossa sociedade e em nós mesmos. Claro que para isso ele precisou reconhecer que nele próprio havia algo de cada um deles. Platão foi um pouco político, sofista, orador, filósofo, poeta. Ele pretendeu, com sua obra – os diálogos – dar voz a todos, não só para pensar, mas também para agir, ou melhor, para que a linguagem torne-se ação e a ação possa ser clareada pela linguagem.
Bakhtin, noutro contexto, diz algo nessa mesma linha quando afirma que:
“é nesse sentido que um autor modifica todas as particularidades de um herói, seus traços característicos, os episódios de sua vida, seus atos, pensamentos, sentimentos, do mesmo modo que na vida.” (2000, p.25)
E depois que:
“o autor reflete a posição emotivo-volitiva de seu herói e não a sua própria atitude para com o herói... o herói daí em diante tornou-se independente de seu criador, e o autor, por sua vez, também se tornou independente dele – homem, crítico, psicólogo ou moralista.” (2000, p.28 e 29)
Para Bakhtin o autor cria seu herói com aquilo que lhe é particular, porém, nessa construção, o herói cria vida própria, ganha uma psique que não coincide com a psique do autor. Assim as ações, os pensamentos, a linguagem, as relações e a vida do herói  são diferentes das de seu autor.
Assim, tanto Platão para Marques, como um bom autor – no caso Dostoievski – para Bakhtin – como o criador dos ‘Sambas das Malocas’ – não transferem simplesmente para seus personagens os seus próprios pensamentos, mas, ao contrário, utilizam-se de outros para pensar por si mesmos. É claro que neste movimento de pensar pelo outro algo de si permanece. Portanto, o outro, mesmo sendo um outro, não deixa de ser o próprio.
Vejamos um exemplo disso na música Despejo na Favela. Nessa música, o narrador, um morador de uma favela, narra que o oficial de justiça, a mando de um Juiz – e que,  portanto, não pode participar da decisão, que entregou para seu Narciso – provavelmente o líder da comunidade – por meio de uma petição: “Vocês tem dez dias para desocupar este terreno que não é propriedade de vocês”. Com essa petição seu Narciso – ou o narrador, não podemos determinar de modo absoluto – diz para o oficial de justiça que eles não precisam de 10 dias, um dia basta para eles deixarem a única coisas que possuíam.
Tudo parecia terminar bem, a comunidade, na voz do seu representante – ou do narrador que a representa aqui para a posteridade, fazendo história – indicava para o representante do Juiz que eles iriam acatar a ordem, quando porém que surpreendentemente o narrador – ou seu Narciso – diz o seguinte: “eu sei que construímos nosso barracão numa área que ainda não tinha dono, sabemos disso, a questão não é quem é o dono da terra, a questão é esse povo aí que veio de todos os lugares desse Brasilsão em busca de um lugarzinho para descansar depois de um dia inteiro de trabalho em prol do desenvolvimento do Brasil, nosso Brasil, essas pessoas vão para onde? Me responde dotô?”
Essa fala desesperada é de quem? Será a fala do filho de Francesco Rubinato e Emma Ricchini, imigrantes italianos? É de algum João da Silva? É do João Rubinato transfigurado em Adoniran Barbosa? É da Beth Carvalho, que tantas vezes interpretou Adoniran? É do tio Beiço, cantor campineiro da nossa época que tantas vezes cantou essa música? É minha, porque a escrevi? É sua, porque a lê e a canta? De quem é a porra da frase que pergunta para uma suposta autoridade para onde vai o povo brasileiro???!!!
Antes de qualquer coisa temos que dizer algo obvio mas que nem sempre é dito: esta frase está dentro de uma música, por isso, quando cantada, pertence aquele que a canta. Talvez Adoniran pensasse e sentisse que ela representa um morador de favela que tenha para onde ir. Talvez Beth Carvalho interprete com outro sentido: talvez ela, como boa marxista, ache que se não abolirmos a propriedade privada não seja possível ir a lugar algum. Talvez o Tio Beiço cante pensando nos amigos favelados que conheceu e que não tenham para onde ir. Talvez eu cante pensando no desespero de migrantes, como meu pai e minha mãe, que viram a situação das favelas de São Paulo e por isso optaram em comprar um terreninho em Campinas para construir sua casa. Talvez você pensa nas milhares de pessoas que estão vivendo em condições desumanas.
Percebemos que a letra de João Rubinato vai além da simples opinião de algum morador de uma favela. Não que ele não tenha que ser escutado, todos temos. Mas Adoniran vai além quando mistura as falas do narrador e do seu Narciso e surpreende o oficial de justiça perguntando algo que exige uma resposta que não pode ser respondida.
 Os espelhamentos das psiques de Adoniran
Se Adoniran só fizesse isso que apontamos acima, isto é, universalizar as falas de tipos paulistanos, dando a eles voz e vez, já seria considerado um grande artista. Poderíamos dizer que ele atente às exigências de Bakhtin e por isso poderia ser comparado a Dostoievski[1]. Porém, nosso paulistano caipira não fica só nisso, ele consegue fazer esses tipos se relacionarem. Antes de vermos isso em sua obra, vamos repetir o procedimento de comparação anterior e observar o que já foi dito sobre Dostoievski e sobre Platão.
No primeiro, Bakhtin diz o seguinte:
“os heróis são distribuídos pelo enredo e apenas numa base concreta determinada podem reunir-se uns aos outros. As relações de reciprocidade entre eles são criadas pelo enredo e concluídas pelo próprio enredo” (1997, p.104).
E depois:
“O parodiar é a criação do duplo destronante, do mesmo ‘mundo às avessas’. Por isso a paródia é ambivalente. A antiguidade, em verdade, parodiava tudo: o drama satírico, por exemplo, foi inicialmente um aspecto cômico parodiado da trilogia trágica que o antecedeu... isso parecia construir um autêntico sistema de espelhos deformantes: espelhos que alongam, reduzem e distorcem em diferentes sentido e em diferentes graus... Os duplos parodiadores tornaram-se um elemento bastante freqüente, inclusive na literatura carnavalizada. Isto se manifesta com nitidez especial em Dostoievski: quase todas as personagens principais dos romances dostoievskianos têm vários duplos, que as parodiam de diferentes maneiras. Raskolnikov tem como duplos Svidrigailov, Lujin, Libezyalnikov.” (1997, p.127-128)
Bakhtin, ao analisar os personagens de Dostoievski, aponta que em primeiro lugar o herói, o personagem principal, precisa ser colocado dentro de um enredo onde haja reciprocidade entre ele e os outros personagens. Para tanto, as características do personagem central precisam ser espelhadas nos outros personagens, isto é, cada uma das particularidades do herói precisa de um outro personagem para se tornar evidente. O ator principal sempre precisa de atores coadjuvantes, cujas personalidades correspondam a fragmentos da personalidade do primeiro.
Também isso ocorre em Platão. Vejamos dois exemplos. No diálogo Protágoras o personagem principal, Sócrates, tem como duplo o próprio Protágoras. Eles discutem acerca da possibilidade de ensino da virtude política. Cada um deles, inicialmente, representa uma posição acerca da possibilidade ou não da virtude ser ensinada, Protágoras, a primeira; Sócrates, a segunda. No final do diálogo, eles já não sabem qual é a posição de quem. Isso leva Sócrates a concluir que eles trocaram de posição: ele, Sócrates, passara a achar que a virtude política pode ser ensinada; aquele, Protágoras, muda de opinião, e passa a achar que a virtude não pode ser ensinada. Poderíamos dizer que na disputa argumentativa dos dois o resultado foi o empate, mas, na verdade, quem ganha é o leitor que pode ver duas posições acerca do ensino da virtude, suas conseqüências, suas limitações, seus desdobramentos.
Achamos que nos diálogos de Platão há espelhos por todos os lados, onde Sócrates talvez seja o maior refletor. Talvez o diálogo onde isso é mais explicito seja o diálogo Alcebíades. No final desse diálogo, Sócrates fala para Alcebíades se espelhar nele e procurar o conhecimento antes de ir à Ágora. Na verdade, Sócrates pede para Alcebíades procurar com ele, por meio do diálogo, o conhecimento de si. O conhecimento de si é procurado na medida em que ambos, Sócrates e Alcebíades, constroem um ou mais saberes, entre eles a arte, a ciência, os valores morais e as leis necessárias para cidade.
Vejamos um exemplo de um espelhamento criado pelo nosso paulistano de Valinhos.
A música Triste Margarida evidencia o relacionamento de um homem e uma mulher que, ao que tudo indica, estão na mesma ‘classe’ social. Ele, percebendo que ela não o namoraria se dissesse que sua profissão era de jardineiro, mente para moça dizendo que é engenheiro. Ela, por desconhecimento das características de um engenheiro, acredita inicialmente na mentira. A mentira dura até a moça ver o jardineiro no exercício da sua profissão. A música diz que a moça não quer mais saber do jardineiro, saber por quê? Talvez ela tenha tomado consciência de que havia acreditado numa mentira estúpida e que um engenheiro de metrô, aquele que traz o progresso e a velocidade no deslocamento para a cidade, não poderia se interessar por uma moça simples. O jardineiro representaria, assim, o limite das relações amorosas que essa moça poderia ter. Talvez, por outro lado, ela não tenha ficado com raiva dele, mas tenha ficado com raiva de si mesma e Adoniran, com essa música, estaria evidenciando a mulher que quer um status social diferente do que tem e o homem que para ‘ganhar’ a moça do seu status social precisa dizer que está em outro. Qual dos dois é mais orgulhoso? Qual dos dois é mais convencido? Qual dos dois é mais mentiroso?
Para concluir voltemos a pergunta: podemos ver na obra do ator confesso algo que seja próprio do homem João Rubinato? 
Um grande autor, como notou Bakhtin não fala em nome próprio, ele fala algo que não poderia deixar de ser falado, ele fala o óbvio, ele fala em nome de todos. E como ele consegue isso?
João Rubinato, ao longo de sua vida, foi se relacionando com diversas pessoas. A cada uma delas ele foi absorvendo o jeito, o modo de pensar, os trejeitos, não apenas para imitar, mas também para pensar, para sentir, para viver. Podemos até dizer mais, talvez até inconscientemente, ele procurava espelhos de referência. Ele talvez procurasse nas pessoas aquilo que lhe faltava. Como Sócrates, talvez Adoniran procurasse construir com as pessoas que se relacionava – entre eles, Ernesto, o grupo Demônios da Garoa, o produtor Osvaldo Molles, a cantora Elis Regina – uma arte, um modo de vida. E a recíproca também é verdadeira, todos os que se relacionaram com o Barbosinha Mal-Educado da Silva talvez também buscassem nele esse propósito.
Se assim o for, o João Rubinato, que nasceu em 6 de agosto de 1910 em Valinhos não é o mesmo Adoniran que morreu em 23 de novembro de 1982 em São Paulo. Ou melhor, a psique do jovem paulista não é a mesma do velho paulistano. Ela foi absorvendo outras psiques e deixando suas marcas, suas obras. O leitor que quiser ter mais clareza de cada uma delas pode agora buscá-las em biografias, ouvindo os discos, ouvindo ou lendo os diálogos que ele ajudou a criar, pode procurar amigos que o conheceram.
Gostaríamos, por fim, de destacar que quando desejamos absorver uma obra de arte, duas situações podem ser notadas. A primeira é que não estamos satisfeitos com nossa psique, por isso, precisamos buscar em outras psiques algo que nos completa. A segunda, que ao absorvermos algo que outra psique produziu, nossa psique fica diferente. Tornamo-nos um outro que não nós mesmos. Ou, para sermos mais precisos e menos alarmistas: nos tornamos um “nós mesmos” diferentes Nesta situação temos dificuldade de nos reconhecer e daí a necessidade de  outros espelhos, de outras psiques que nos digam o que somos. Há quem chame isso de aprendizado


[1]             Inclusive Fernando Faro no programa Mosaico da TV Cultura fala que as músicas de Adoniran representam para nós brasileiros o que Dostoievski representa para os russos.

filosofia da arte (música) - 2 A (todas as turmas)

Filosofia da arte (com destaque para a música)
aula para os alunos do 2 A, mas os alunos das outras séries podem pedir esta aula ou mesmo fazer os exercícios.

pensando então nos comentários que podem ser feitos a uma obra de arte, em especial, uma letra de música, penso que três categorias podem ajudar na discussão: o autor, a tradição e a recepção.
  • o autor:
    • qual a ideia central do autor?
    • como a obra analisada se relaciona com outras obras do mesmo autor?
    • o que o próprio autor diz da sua obra de arte?
  • tradição:
    • como a obra analisada dialoga com outras obras da mesma natureza?
      • quais as semelhanças?
      • quais as diferenças?
  • recepção:
    • o que as pessoas em geral (e você) sentem ao estar em contato com a obra de arte em questão?
    • o que as pessoas em geral (e você) falam (comentam) ao estar em contato com a obra de arte em questão?
    • como as pessoas usam (dançam, onde ouvem, etc) a obra de arte em questão?
  • quando há narrativas outras categorias podem ser consideradas:
    • quem são os personagens?
      • qual é o principal?
      • qual é o coadjuvante?
      • como é a relação entre eles?
    • enredo
    • desfecho
sugestões de algumas músicas para análise:
samba do aprendiz de luis carlos da vila
bom conselho de chico buarque
canto das três raça de paulo cesar pinheiro
jeito moleque de zeca pagodinho

análise de algumas músicas:
despejo na favela de adoniran barbosa
Vejamos um exemplo disso na música Despejo na Favela. Nessa música, o narrador, um morador de uma favela, narra que o oficial de justiça, a mando de um Juiz – e que,  portanto, não pode participar da decisão, que entregou para seu Narciso – provavelmente o líder da comunidade – por meio de uma petição: “Vocês tem dez dias para desocupar este terreno que não é propriedade de vocês”. Com essa petição seu Narciso – ou o narrador, não podemos determinar de modo absoluto – diz para o oficial de justiça que eles não precisam de 10 dias, um dia basta para eles deixarem a única coisas que possuíam.
Tudo parecia terminar bem, a comunidade, na voz do seu representante – ou do narrador que a representa aqui para a posteridade, fazendo história – indicava para o representante do Juiz que eles iriam acatar a ordem, quando porém que surpreendentemente o narrador – ou seu Narciso – diz o seguinte: “eu sei que construímos nosso barracão numa área que ainda não tinha dono, sabemos disso, a questão não é quem é o dono da terra, a questão é esse povo aí que veio de todos os lugares desse Brasilsão em busca de um lugarzinho para descansar depois de um dia inteiro de trabalho em prol do desenvolvimento do Brasil, nosso Brasil, essas pessoas vão para onde? Me responde dotô?”
triste margarida de adoniran barbosa
A música Triste Margarida evidencia o relacionamento de um homem e uma mulher que, ao que tudo indica, estão na mesma ‘classe’ social. Ele, percebendo que ela não o namoraria se dissesse que sua profissão era de jardineiro, mente para moça dizendo que é engenheiro. Ela, por desconhecimento das características de um engenheiro, acredita inicialmente na mentira. A mentira dura até a moça ver o jardineiro no exercício da sua profissão. A música diz que a moça não quer mais saber do jardineiro, saber por quê? Talvez ela tenha tomado consciência de que havia acreditado numa mentira estúpida e que um engenheiro de metrô, aquele que traz o progresso e a velocidade no deslocamento para a cidade, não poderia se interessar por uma moça simples. O jardineiro representaria, assim, o limite das relações amorosas que essa moça poderia ter. Talvez, por outro lado, ela não tenha ficado com raiva dele, mas tenha ficado com raiva de si mesma e Adoniran, com essa música, estaria evidenciando a mulher que quer um status social diferente do que tem e o homem que para ‘ganhar’ a moça do seu status social precisa dizer que está em outro. Qual dos dois é mais orgulhoso? Qual dos dois é mais convencido? Qual dos dois é mais mentiroso?
ver os links
http://www.umaconversasobrefilosofia.blogspot.com.br/2013/08/sobre-o-amor.html
http://www.umaconversasobrefilosofia.blogspot.com.br/2013/05/banquete.html
http://www.umaconversasobrefilosofia.blogspot.com.br/2014/08/filosofia-da-arte-2-todas-as-turmas.html

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

educação da alma - todas as turmas (1, 2 e 3)

Leia o texto e escreva o que pensa sobre sua educação (educação no sentido amplo, o que você aprendeu dos seus pais, dos seus parentes, nas escolas que estudou)
Este comentário é extraído do diálogo Protágoras
Andando pelo pátio, Sócrates pergunta a Hipócrates o que ele quer se tornar com o suposto ensino de Protágoras, ou seja, que profissão seria adquirida se Protágoras o ensinasse o que sabe (311c). Sofista, responde imediatamente Hipócrates. Sócrates então pergunta se ele não sente vergonha em querer ser sofista (312a). Diante da confirmação de Hipócrates, Sócrates insere uma distinção quanto à finalidade da aprendizagem. Pode-se aprender para ser tal como o professor ou “para fins educativos, como convém a um jovem particular e livre” (312b). Essa educação, aponta Sócrates, foi adquirida com “os professores de gramática, de cítara e de ginástica” (312b), que não ensinam seus alunos a serem professores, mas ensinam aos seus alunos o saber de suas respectivas disciplinas.
Sócrates questiona Hipócrates acerca do saber do sofista. Hipócrates responde: “é um indivíduo cheio de sabedoria” (312c). Mas isso, indaga Sócrates, não revela muita coisa, outros profissionais, como os pintores, também podem julgar-se sábios. Hipócrates, por sua vez, afirma que os sofistas ensinam a arte de falar bem. Mas o problema continua, indaga Sócrates, falar bem do quê? Sobre este ponto Hipócrates não sabe o que dizer (312e).
Tendo preparado Hipócrates com a dúvida e a vergonha, Sócrates pode enfim orientá-lo acerca daquilo que é necessário para a aprendizagem com um professor sofista, por isso pergunta Sócrates: “sabes o perigo a que vais expor tua alma?” (313a), e continua dizendo que se fosse expor o corpo ao risco de estragá-lo ou deixá-lo mais forte, deveria refletir sobre o assunto e também consultar parentes e amigos, porém, como o que está em jogo na aprendizagem com Protágoras é a alma, estes e outros cuidados devem ser tomados. Um deles decorre do fato do sofista ser um comerciante, uma vez que ele vende um produto. Desse modo, como todo comerciante, o sofista elogia em demasia o que vende (313d). Outro cuidado que deve ser observado é verificar se entre os vendedores há aqueles que sabem como exercitar a alma, tal como ocorre com um professor de ginástica; ou curá-la, no caso de já ter sido adquirido algum conhecimento que a prejudique, tal como ocorre quando procuramos um médico para cuidar do nosso corpo (314d).
No caso de conhecer, continua Sócrates, o que “é vantajoso ou prejudicial para a alma, poderás comprar conhecimento sem perigo nenhum, não só de Protágoras como de qualquer outro sofista” (313e). A compra de alimento para a alma, alerta Sócrates, é diferente da compra de alimento para o corpo, pois este último pode ser transportado em potes e levado para casa e antes do alimento ser consumido, podemos consultar um especialista para nos informar sobre a quantidade e o tempo em que o alimento precisa ser ingerido. De maneira diferente, o alimento da alma precisa ser adquirido no momento da aula, uma vez que é a própria alma o pote (314ab). Porém, ainda que transportado direto na alma do aluno, este conhecimento deve passar pela avaliação de pessoas mais velhas (314b).

Resumo do Protágoras - para 2 e 3 séries

Resumo do diálogo Protágoras de Platão - para 2 e 3 séries.

Mito
No início só haviam deuses. Então, eles derem existência a todos os seres a partir do fogo, da terra e de tudo que se misturava a eles. (320c)
Os deuses incumbiram Prometeu e Epimeteu de dar as capacidades aos seres.  Epimeteu pede para Prometeu para fazer tudo sozinho de modo que depois do termino do trabalho Prometeu o fiscalizasse. (320d)
Epimeteu deu as capacidades do modo equilibrado a todos os seres, porém esqueceu-se do homem. (321b)
Prometeu viu isto e quis salvar o homem, roubou de Atena e Hefesto a sabedoria das artes e o fogo e deu aos homens.
Assim o homem começou a adorar os deuses, e também a coordenar as palavras, construir roupas e casas, e a plantar. (322a)
Apesar disso os homens viviam dispersos e morriam, ora pelo ataque dos animais ora por eles mesmos.
Zeus como medo que o homem fosse extinto pede a Hermes para levá-los o pudor e a justiça. (322c)
Hermes pergunta: devo levar-lhes estes dons do mesmo modo que as artes onde um só homem basta para muitos ou a todos igualmente. Zeus ordena que seja dadas a todos com a seguinte lei: quem não receber deverá ser expulso da comunidade. (322d)

Grande Discurso
Numa assembleia, quando a cidade discute problemas que exige conhecimento técnico (como a medicina) quando alguém fala sem conhecimento é motivo de riso, porém quando se trata da VP todos devem falar como se tivesse VP. (323bc)
A VP não é efeito do acaso ou um dom natural já que a cidade castiga aquilo que depende do estudo, exercício aplicação, prova disso é a expressão: ‘punir os culpados’. Além do mais ninguém pune por causa do que aconteceu, mas para que o crime não mais aconteça. (324c)
Por que os homens virtuosos não conseguem ensinar a VP para os seus filhos? (porque a cidade ainda não é virtuosa)
Os pais devem se preocupar em ensinar e mesmo forçar a que seus filhos aprendam a VP. Do mesmo modo a escola, no ensino da ginástica, poesia e música. Mas também a cidade com suas leis. (325 seg.)
Numa cidade de flautistas (esta fábula uni a VP e a VT, une o mito e o discurso) o melhor flautista será aquele que tem habilidade e aprendeu com os melhores flautistas da cidade. Comparando esta cidade com aquela onde ninguém toca este instrumento, mesmo o pior flautista será melhor do que qualquer um desta cidade que ninguém toca. Do mesmo modo ocorre com a VP, numa cidade onde todos se preocupam com ela, mesmo o menos virtuoso será mais virtuoso do que qualquer individuo de uma cidade que não se preocupa com ela. (326 seg.)

Conexões
Distribuição da VP
No discurso não é dito nada, mas no mito quando Hermes pergunta a Zeus como devem ser distribuídas as dádivas, ele pergunta se elas devem ser distribuídas como a medicina onde um só homem com VT basta para muitos. Outra referencia é a distribuição das capacidades feitas por Epimeteu.
Castigo no mito é dado àquele que não quer receber a dádiva de Zeus. No discurso ele é justificado.
O mito fala da primeira geração de cidadãos e o discurso da transmissão da primeira para a segunda por meio do ensino.

Problemas ou aprofundamento
Relações deste trecho com outras partes do diálogo: fala inicial de Sócrates, comentário ao poema de Simônides.
Unidades das Virtudes
O personagem Protágoras
A relação de Protágoras com Sócrates
O conceito Sofista e sua relação com o filósofo.
Relação entre os mitos

terça-feira, 19 de agosto de 2014

textos soltos

Partilhamos com estes historiadores das suas reticências. Não obstante, apoiamo-nos nos dignos exemplos de historiadores que não se furtam à urgente tarefa1; e mãos à obra: vamos tentar aqui conversar sobre o hoje, procurando “(...) reencontrar o jogo múltiplo da vida, todos os seus movimentos, todas as suas durações, todas as suas rupturas, todas as suas variações.”2Vivemos o tempo dos acirramentos da polarização latente, e – ainda mais nesses momentos – não tomar partido é tomar o partido da ordem. E essa ordem é nefasta, injusta e deve ser derrubada. Temos aqui, portanto, um objetivo declarado: tecer algum tipo de discurso que possa servir hoje para a constituição de uma sociedade mais igualitária e mais livre3.
1Hobsbawm, Wallerstein, etc
2Fernand Braudel – História e Ciências Sociais. A longa duração, [Annales E.S.C. Nº4 out-dez 1958]republicado em Escritos sobre a História [1ª ed. 1969: Flamarion Paris] trad. J. Guinburg e Tereza Cristina Silveira da Mota. São Paulo. Ed. Perspectiva, 2005. 1ª reimp. da 2ª ed. De 1992. p. 71

3Foucault e Deleuze, Os intelectuais e o Poder.

e

No início do diálogo Hipócrates, jovem ateniense, convence Sócrates, não tão jovem, a intervir junto a Protágoras para que o sofista ensinasse a ele a ser sábio. Antes, porém de ir à casa de Cálias, lugar onde Protágoras está ensinando, Sócrates o convida para passear e conversar. A primeira pergunta que Sócrates faz para Hipócrates usando o exemplo do médico que também chama-se Hipócrates é: “com qual intenção vais pagar salário a Hipócrates?” (311c) Hipócrates parece que não entende a pergunta, então Sócrates esclarece: “para que vires a ser o quê?” (311c) Hipócrates parece que agora entendeu e responde que é para ser médico. Sócrates com outros exemplos insiste na questão da profissão daquele que quer ensinar algo: o escultor ensina a fazer esculturas, um poeta poesia. Porém e um sofista, indaga Sócrates (311e-312a). Diante da vergonha do jovem que parece não saber o que faz um sofista, Sócrates insere uma distinção quanto fim alcançado pelo ensino:

Sócrates – Mas talvez, Hipócrates, sejas de parecer que os teus estudos com Protágoras visem a outra finalidade, como se deu com os que fizeste com os professores de gramática, de cítara e de ginástica? Não tomaste lições com cada um deles por amor à técnica, com o fito de exercer determinada profissão, mas apenas para fins educativos, com convém a um jovem particular e livre. (321b-c)

As possibilidades de trabalhar este trecho na escola são inúmeras. Notem que a própria estrutura do diálogo remete ao ambiente escolar. Protágoras ensina na casa de Cálias, uma casa adaptada para o ensino.1 Percebam também que é o aluno, Hipócrates, que quer aprender com Protágoras e não Protágoras que quer ensinar algo a Hipócrates ou Sócrates. Porém este jovem reconhece que a distância entre ele e Protágoras é enorme e, por isso, pede que Sócrates o auxilie, dada sua proximidade com Hipócrates. Um dos efeitos da educação é aproximar o aluno do professor, ou seja, o aluno pode aprender com o professor para ser como ele, se o professor for médico o aluno pode ser médico; se for escultor, escultor; se poeta, poeta. Mas não é só para isso que se aprende, pode-se aprender também para ser alguém particular e livre, ou, nos nossos termos, para ser um cidadão conhecedor da sociedade em que vive.2
Outro trecho interessante é:

Sócrates – sabes o que estás na iminência de fazer, ou não o percebes?
Hipócrates – a respeito de quê?
Sócrates – Pois resolveste entregar tua própria alma aos cuidados de um homem que, conforme disseste, é sofista; mas o que seja, de fato, sofista, muito me admiro se o souberes. Ora, se ignoras isso, também não poderás saber a quem entregas tua alma, nem se é para teu bem ou para mal. ()

Sócrates, percebendo que Hipócrates não sabe muito bem o que ensina um sofista, problematiza a relação entre professor e aluno: o aluno entrega sua alma para que o professor possa preenchê-la de conhecimentos. Porém, continua Sócrates, quando se entrega o corpo a um professor de ginástica temos que estar atentos se ele será capaz de deixá-lo mais forte e consultar amigos que nos ajude nesta avaliação. Do mesmo modo para com um médico ou um comerciante de alimentos. No caso destes últimos, diz Sócrates:

Os mantimentos e bebidas adquiridos nalgum vendedor ou traficante podem ser transportados em qualquer vasilha, e antes de passarem para o corpo, com serem comidos e bebidos, remanesce sempre a possibilidade de poderem ser guardados em casa e de ser chamado algum conhecedor do assunto, para opinar sobre quais devam ser ingeridos e quais não, a quantidade e o tempo certo, de forma que não há grande perigo nessa compra. Os conhecimentos, porém, não podem ser transportados em vasilha alguma; um vez pago o preço, forçoso é que, com as aulas, os recolhas na própria alma e que te retires, ou grandemente prejudicado ou beneficiado. Aconselhemos-nos com pessoas mais velhas do que nós; ainda somos muito moços para tomarmos qualquer deliberação sobre assunto de tamanha relevância (314ab)
1 Bolzani descreve discute a descrição que é feita da casa de Cálias.
2 Este talvez seja o maior desafio para um professor de filosofia: como entender nosso mundo e explicá-lo para o aluno. Claro que esta tarefa não é exclusiva para um professor de filosofia, pelo contrário, todos os professores de todas as áreas do saber humano devem contribuir. O que talvez seja particular do professor de filosofia seja a capacidade de encontrar conexões entre as áreas do saber, assim a aula de filosofia pode ser um momento de junção, ou como gostam alguns educadores, um momento de interdisciplinaridade. O momento onde todos os conhecimentos adquiridos até aquele momento podem ser juntados e pensados de um modo mais real e não artificial e fracionado.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

3 anos (A e B) - 2 aula

aula de Platão

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República é o texto mais importante de platão

Uma introdução à República de Platão de Giovanni Casertano:
Casertano, logo no início aponta uma característica importante da República: ela é uma discussão sobre as formas de governo existentes em sua época, a saber, a oligarquia e a democracia. (na verdade Platão trabalha com os limites de cada uma delas e os governos intermediários entre elas)
“o ambiente no qual se recria a discussão é misto: estão presentes de forma significativa defensores quer da parte democrática quer da oligárquica, e ambos são criticados por Sócrates” (p.12)

Livro I
  • O velho Céfalo conversa com Sócrates sobre as vantagens e desvantagens da velhice. Eles discutem como a riqueza pode ajudar ou atrapalhar a vida justa.
Os alunos podem discutir isso ou as vantagens e desvantagens de ser jovens, ou de ser criança, ou mesmo de ser adultos. Podem também entrevistar crianças, adolescestes, jovens, adultos e velhos. Podem também pesquisar como eles vivem.
  • Céfalo diz que não se deve ficar em dívida com os deuses e com os homens. Sócrates dá o exemplo do louco para mostrar que nem sempre deve-se pagar uma dívida: um louco que te emprestou uma arma não deve tê-la de volta. Polemarco entra na conversa e diz que justiça é “fazer bem ao amigo e mal ao inimigo (327a-332b)”. Sócrates diz que é preciso discutir quem de fato é amigo, daquele que apenas se parece.
Podemos discutir a definição de justiça de Polemarco. Pode-se olhar retrospectivamente sua história individual e identificar quem foram seus amigos e seus inimigos. Como você se relacionou com cada um deles? Pode-se consultar os diálogos Lísias e Alcebíades I.
  • Trasímaco defini justiça como “’o útil do mais forte’, e por mais forte entende-se o governo que detém o poder numa cidade (332b-339b). Sócrates: o mais forte também pode enganar-se, por isso, obedecer-lhe pode significar prejudicá-lo e não fazer aquilo que lhe é útil.
Quem são as alteridades da nossa época? Quais são suas ordens e quais seus objetivos? Quando podemos discutir suas orientações? Faça uma retrospectiva da sua vida e lembre-se quando seus pais acertaram e quando eles erraram?
  • Trasímaco diz que como um artesão não erra também o governador não erra. Assim, cada técnica não visa a satisfação do executor, mas a perfeição daquilo que é executado.
A discussão aqui pode ir para a diferença entre o público e o privado. Olhe para sua vida e escreva: quais das suas atitudes se referem apenas a você e quais têm impacto nas pessoas a sua volta. Pode-se usar o diálogo Protágoras e Menon.
  • O I livro termina com Sócrates defendendo que o homem justo é feliz e o injusto é infeliz.
Pode-se pesquisar quem é feliz e quem não é e qual a relação da felicidade com a justiça na vida dessas pessoas.

Livro II
  • É preciso discutir o que é justiça. Gláucon diz que há três espécies de bens: “os que se desejam por si mesmos, como, por exemplo, a alegria e os prazeres que dão só alegria; os que se desejam quer por si mesmos, quer pelas vantagens que nos dão, como, por exemplo, a saúde e a inteligência; os que se desejam não por si mesmos, mas pelas vantagens que nos dão, como,  por exemplo, ser curados em caso de doença e exercer as atividades que dão riqueza material.” (p.15) A justiça está onde? Sócrates acha que é na segunda, Gláucon na terceira.
Você concorda com quem? Argumente. Quais são os bens que você quer ter? tente listar e depois usar a  classificação de Gláucon para caracterizar os bens que você quer.
  • Adimanto diz que a maioria e os poetas pensam que ser justo é difícil e cansativo e por outro lado a injustiça é fácil e agradável, assim é melhor a injustiça mascarada do que a injustiça. Sócrates pede para parar com a abstração e dizer qual o efeito da justiça e da injustiça.
O que dizem os poetas (artistas, músicos, pintores, etc.) da nossa época sobre a justiça? E sobre nossa organização social? Quais as características das pessoas justas e injustas? Quais suas ações? O que aparenta a justiça e a injustiça? Quais seus efeitos?
  • Sócrates propõe que examinem a justiça num quadro maior: em vez de procurar a justiça no individuo, eles devem procurá-la na cidade. Nenhum homem basta-se a si mesmo. Suas necessidades são: comida, habitação e vestimenta. Cada cidadão pode fazer uma atividade.
Quais são suas necessidades básicas? Quais as pessoas que suprem estas suas necessidades? Como você se relaciona com elas?
  • Gláucon quer uma cidade mais rica, isso implica que teve haver outros tipos de pessoas. Sócrates diz que é preciso que haja guerreiros para guardar a cidade. Eles devem ser educados e entre eles, o melhor, deve ser filósofo e ter uma excelente educação. Este que será o melhor deverá aprender poesia, música, ginástica, retórica, enfim tudo.
Quais são as profissões da nossa época? Quais são as características das pessoas da nossa época a partir das profissões que exercem? Como cada uma delas é educada? Como são educados nossos governantes? O que eles sabem de diferente das outras pessoas?
  • Para educar esses homens é preciso que os poetas não falem mentiras e que os heróis não tenham vícios, apenas virtudes para que os melhores dos homens possam imitá-los.
Quais são os poetas que nos educam? O que eles nos ensinam? Quais são os poetas (as personalidades) que você admira? O que você aprende com eles? Quais suas semelhanças e diferenças em relação aos seus ídolos?
Livro III
  • Para educar os guardiões na coragem é preciso eliminar da poesia aquilo que causa o medo da morte, bem como as representações dos heróis que choram, sofrem e mentem. Só os médicos e os governantes podem mentir para o bem dos pacientes ou dos governados.
Quais são os valores morais da nossa época? O que precisaria ser eliminado da nossa arte para que aqueles que fossem educados com ela pudessem ter essa virtude? Exemplo: hoje se diz que ser um bom cidadão é fundamental, o que uma obra de arte precisa ter para ensinar isso? O que ela não pode ter?
Discuta sobre a mentira e a verdade na educação, na medicina, na política.
  • Há três formas de narrativas: o simples, a imitativa e a mista. Exemplos: 1ª poesia lírica; 2ª tragédias e comédias; 3ª poemas homéricos (também os próprios diálogos de Platão). Os guardiões só devem imitar homens virtuosos. “em suma, todos os artistas e os poetas devem imitar só o bem e o belo, e toda a educação se deverá adequar a um ideal de beleza, honestidade, harmonia e elegância, porque o fim último da educação musical é precisamente o amor pelo belo (396e-403c)” (p.18). assim o poeta que não se adequar a essa exigência deve ser expulso da cidade.
O tema da expulsão dos poetas da cidade justa é polêmico e extenso dentro da história da filosofia. Aqueles que quiserem podem pesquisar o tema. Mas o que acho pertinente é pensar na força da arte na modelação de nossa alma. Pesquise músicas infantis e comente-as pensando no impacto na estrutura psíquica delas cada frase, cada melodia, cada ritmo.
  • Mito dos nascidos da terra: “a mãe terra deu à luz todos os homens de uma cidade, e que portanto são todos irmãos, mas os deuses misturaram ouro junto com a terra para a geração dos que têm disposição para defender a cidade, ou misturaram ferro e bronze para os agricultores e os artesões.” (p.19) aqueles que tem ouro ou prata são os guardiões da cidade e não deve ter propriedade privada. “a propriedade privada é causa de submissão, cria senhores e súditos, em vez de irmãos e aliados” (414b-417b)
Quais as divisões de classes que há em nossa sociedade? Qual a função de cada um? como se dá a manutenção dessa sociedade a partir da educação?
A propriedade privada é muito discutida por Marx, um filósofo do sec. XIX, pesquise este assunto. Hoje em dia discute-se muito o problema da propriedade intelectual, pesquise também isso.

Aula sobre Religião

A religião é algo que permite aos homens se relacionarem (ou se re-ligarem) a deus (ou aos deuses). Há várias religiões e elas são diferentes umas das outras. Mesmo quando pensamos em uma religião, notamos que ao longo dos séculos está religião nem sempre foi a mesma. Uma primeira pesquisa que pode ser feita é a comparação: escolha duas ou mais religiões e compare seus rituais:
nascimento / passagem da vida infantil para a adulta / casamento / doença / morte
as religiões também possuem cerimônias para a relação do homem com a natureza:
a platação / a colheita / a chuva / o trovão / a caça / a pesca / os animas / as plantas
as religiões também preocupam-se com a relação do homem de uma dada religião com o outro:
guerras / conversão

pesquise cada um desses temas. O cap. 24 do livro da Marilena Chauí pode ajudar.
veja o link
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veja a resenha abaixo, se você interessar-se por algo, peça maiores explicações para seu professor:
Resenha curta da Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Introdução
1 – uma característica importante para Weber do capitalismo é o desenvolvimento em prol do universal. O registro, a história e o eterno aprimoramento são categorias importantes.
4, 8 e 9 – outras categorias: o cálculo na troca, na administração pública. Nas empresas a separação do domestico e do empresarial. O conceito de cidadão, de burguesia e o conflito operário e empresário.
12 – a pesquisa completa de Weber é “o moderno ethos econômico e a ética racional do protestantismo ascético” dos quais este livro apenas o segundo.
Cap. 1
19 – há algumas diferenças entre os protestantes e os católicos. A primeira diferença evidente está na tradição, os católicos são tradicionais, os protestantes não. Além disso, os protestantes estudam e trabalham mais.
20 – os protestantes se acostumaram a criticar a autoridade.
As reformas mudaram a sociedade.
23 – uma característica do católico é a busca por outro mundo e o abandono deste.
Cap. II
29-31 frases de Benjamim Franklin – tempo é dinheiro, crédito é dinheiro, tudo custa, inclusive não trabalhar, é preciso ter dinheiro para investir, para a possibilidade.
31 – temos aqui um ethos. Todas as características pessoais, todas as virtudes são deslocadas com vista deste ethos, porém não há lugar para o egoísmo e para a irracionalidade.
37 – o maior oponente do Espírito do Capitalismo é o tradicionalismo, ou seja, trabalhar para sobreviver.
45 – o capitalista é um intermediário entre o trabalhador e o comprador, entre o pobre e o rico; ele manipula um lado para o baixo custo e o outro para um grande giro.
48 – o capitalismo se a alia ao protestante para romper com o cristianismo católico (tradicional), depois se alia ao Estado para superar a Reforma, e por fim, dispensa o Estado.
50 – o trabalho é o que dá sentido a vida e a divisão do trabalho na sociedade, quem está forma esta excluído do ‘projeto’ do reino dos céus.
Cap. III
52 – Lutero foi o responsável de igualar as palavras vocação e profissão. Isto não está nas traduções antigas da Bíblia.
1 Corinto VII, 20: “permaneça cada um na sua vocação para o qual foi chamado”.
53 – o trabalho assegura o controle sobre o corpo e sobre o pecado.
Ainda assim Lutero é semelhante aos escolásticos. A sua função foi, a partir da sua crítica, dar abertura para os outros protestantes serem diferentes.
56 – Lutero acha que a ordem social atual é a vontade de Deus. Os católicos são adversários de Calvino e não de Lutero.
Cap. IV
A – Calvinismo – ocorreu nos Países Baixos, Inglaterra e França nos sec. XVI e XVII. Seu principal dogma é a predestinação. Cap. IX 3, 5 e 7: deus escolhe os que vão se salvar e os que vão morrer, nada o homem pode fazer. Deus dá a graça a quem quiser (o problema é quem conhece a vontade de divina).
Não é apenas o destino que está nas mãos de Deus, mas as características psíquicas das pessoas.
70 – dois modos de falar da graça: 1) Santo Agostinho e Lutero: a palavra de deus renova o homem. 2) o homem existe por causa de Deus, assim o homem não pode ser justo como Deus. O modelo volta a ser o Velho Testamento.
72 – conseqüências disso: “uma inacreditável solidão interna do indivíduo”. Nada pode salvar o indivíduo, só seu coração. Não se pode confiar no homem, só em Deus. Máxima: olho por olho, dente por dente. Tira-se as músicas dos ritos.
75 – o mundo existe para a glória de Deus. A questão de quem é o eleito e qual a verdadeira Igreja que conduz para a graça.
174 – todas as religiões possuem como tema central a orientação para a certeza da salvação.
81 e 82 – católicos: pecado, arrependimento, reparação, relaxamento, novo pecado. Calvinistas: a ação boa, que tinha que se manter pela vida toda, não era suficiente para a salvação. Começou aqui o ódio ao pecador e uma certa ‘contabilidade’ da vida religiosa.
B – Pietismo
93 – foi quase uma seita dentro do calvinismo. Tentaram se excluir do mundo. Se aproximaram do empirismo racional.
C – Metodismo
98 – é o Pietismo do EUA e Inglaterra. São metódicos para conseguir a salvação.
D – Seitas Batistas
102 – seita, para Weber, tem um sentido de distanciamento com o Estado. Gostam do sermão da montanha. Desvalorizaram os sacramentos. 199 – a vocação é revelado por Deus na consciência.
106 – são ponderados nos negócios, foram apolíticos e anti-políticos.
109 – cada indivíduo passou a supervisionar seu próprio estado de graça.
Cap. V
110 – a atuação dos sacerdotes (pastores) é fundamental. O exemplo é Richard Baxter.
111 – o perigo da riqueza não está no seu uso mas na desistência da procura da vida santa. A perca de tempo é pecado. Quem media o tempo eram os monges.
113 – para Baxter o trabalho: 1) instrumento contra a tentação. 2) finalidade da vida, quem não trabalhar não deve comer(São Paulo). Sem trabalho não há graça.
115 – Baxter. O melhor para todos é que cada um siga a sua vocação para a ordenação do mundo. Deus quer isso.
116 – parábola do servo que não rendeu seus dons. O pobre é criticado, não possui a Graça. Nota 50: o problema é: o que é de Deus e o que não é.
117 – pobreza na arte, apesar dos líderes serem cultos.
121 – começou a se padronizar a vida.
124 – a restrição ao consumo e a liberação da riqueza causou o acúmulo de capital.

2 série - 3 aula (vale também para a 3 série)

Sugestões gerais de como inserir a investigação sobre Ética no Ensino Médio
Algumas perguntas se fazem necessárias quando pensamos em filosofia ética: quais são os valores de nossa época? Quais os costumes que temos? Como nascemos, crescemos, nos alimentamos, passamos para a vida adulta, casamos, temos filhos e por fim morremos? O que justifica esses costumes? Quais as teorias que os sustentam? Ou, em outros termos, quais são as éticas do nosso tempo?
Depois de investigarmos nossos costumes a partir dessas perguntas, podemos pesquisar a origem filosófica de cada uma das éticas praticadas na nossa época. Identificado o filósofo, podemos pesquisá-lo e discutir quando dele foi absorvido e manteve-se em nossa época e, talvez, criticar os valores de nossa época pelo olhar deste filósofo. Isso com o máximo de filósofos possíveis. Depois disso podemos classificá-los. Para tanto precisamos encontrar elementos que permitam uma certa aproximação, algum elemento que nos permita medi-los. Depois podemos confrontá-los e investigar o resultado do enfrentamento dessas teorias éticas.

Reconstrução do momento inicial do diálogo Protágoras pensando em como ele nos ajudaria nas discussões sobre Ética
O diálogo Protágoras apresenta uma narração de Sócrates a um amigo que quer saber o motivo dele ter deixado de lado a beleza de Alcebíades para conversar com o sofista Protágoras. Sócrates então começa a narrar que um amigo jovem, Hipócrates, pediu para que ele o acompanhasse no seu intuito de aprender com Protágoras. Sócrates aceitou o desafio, mas antes testou o jovem aprendiz. A primeira pergunta de Sócrates que podemos também fazer aos nossos alunos é: você vai pagar Protágoras para que ele te ensine o que? Que profissão Protágoras te ensinaria? Como o jovem Hipócrates se acanha, Sócrates problematiza ainda mais a questão: é possível aprender não para ser um profissional, mas para fins educativos, para ser um grego cidadão e livre.[1]
Depois de uma última questão constrangedora, Sócrates apresenta elementos que vão ajudar a Hipócrates a verificar os conhecimentos aprendidos com Protágoras. Sócrates constrange o jovem perguntando se ele sabe o que está fazendo ao entregar sua alma a Protágoras. O cuidado com a alma, começa a apontar Sócrates, pode ser o mesmo que temos quando cuidamos do corpo: procuramos alguém que é capaz de deixá-lo mais forte, além de consultarmos amigos que tenham se exercitado com ele. Outro ponto importante para Sócrates decorre do fato do sofista ser um comerciante e, como tal, nem sempre ele sabe se aquilo que está vendendo é útil ou não. Diferente do alimento para o corpo que pode ser transportado para casa e lá podemos com calma consumi-los, o alimento para a alma, isto é, o conhecimento, precisa ser adquirido na hora, no momento em que está sendo comprado. Por isso, do mesmo modo que com o alimento para o corpo nos preocupamos com a forma que vamos igerí-lo, a quantidade e em que momento, e para tanto consultamos os mais velhos, para o alimento da alma o cuidado precisa ser o mesmo.
Se continuássemos na leitura do diálogo veríamos que muitas são as entradas para discuti-lo no universo escolar, vamos aqui indicar algumas, uma vez que nosso projeto é desenvolve-las com mais calma pensando na aplicação em sala de aula.

Sócrates no livro da Marilena Chauí
Marilena Chauí em seu manual voltado ao Ensino Médio destina a décima unidade para tratar da Ética.[1] Esta unidade é composta de 3 capítulos. No primeiro, ela apresenta os conceitos fundamentais para este tema; no segundo, investiga algumas teorias filosóficas sobre este tema; no terceiro, ela desenvolve uma discussão sobre o tema liberdade.
Como nosso interesse aqui é mostrar, por um lado, a simplificação e, conseqüentemente, a diminuição da filosofia platônica, como critica Benoit em seus textos, e por outro lado, a sua potência para uma proposta de ensino de filosofia para nossa época, vamos ficar restritos ao capítulo 27, ou melhor, para sermos mais precisos, vamos discutir a reconstrução e o uso que ela faz da filosofia de Platão no tema em questão. Ela inicia a parte destinada a exposição da filosofia ética de Platão assim:

Percorrendo praças e ruas de Atenas – contam Platão e Aristóteles -, Sócrates perguntava aos atenienses, fossem jovens ou velhos, o que eram os valores nos quais acreditavam e que respeitavam ao agir. As perguntas socráticas terminavam sempre por revelar que os atenienses respondiam sem pensar no que diziam. Repetiam o que lhes fora ensinado desde a infância. (2010, p.271)

Ela continua sua exposição dizendo que cada um daqueles que Sócrates interrogava falava coisas diferentes sobre os costumes da cidade de Atenas. Assim, para ela, aquele que dialogava com Sócrates ou se zangava com ele ou reconhecia que não sabia.[2] Àqueles que conseguia dialogar, examinava em conjunto as essências das virtudes.
Se, por um lado, continua ela, Sócrates questionava os costumes, por outro, também indagava acerca do caráter do individuo. Assim, “a indagação ética socrática dirige-se, portanto, à sociedade e ao indivíduo” (2010, p.271).
Sem dizer, Chauí parece trabalhar aqui com a República, lugar onde Platão desenvolve uma complexa teoria sobre a alma e a cidade que, para nos, poderia ser muito melhor aproveitada.
Por fim, ela termina sua rápida exposição da filosofia ética platônica que, para ela, coincide com a de Sócrates:

As questões socráticas inauguram a ética ou filosofia moral porque definem o campo no qual valores e obrigações morais podem ser estabelecidos pela determinação de seu ponto de partida: a consciência do agente moral. É sujeito ético ou moral somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais. Sócrates afirma que apenas o ignorante é vicioso ou incapaz de virtude, pois quem sabe o que é bem não poderá deixar de agir virtuosamente. (2010, p.271)

Já aqui, nos parece que ela está trabalhando com o diálogo Protágoras, ou, para sermos mais precisos, com uma dada interpretação deste diálogo. Esta interpretação ignora o final aporético do diálogo e, recortando-o de maneira arbitrária, tenta provar que Platão defende que o conhecimento das virtudes é necessário para a prática delas. Adiante voltaremos a este diálogo.
Voltando a Chauí, pensamos que no capítulo primeiro ela apresenta uma técnica interessante para nossos propósitos, ela usa Platão para discutir nossa época. Assim, neste capítulo intitulado A atitude filosófica, ela, usando o mito da caverna e o filme Matrix, afirma que a filosofia visa criticar nossas crenças costumeiras. Usando o que expôs de Platão nas páginas anteriores, ela apresenta algumas questões da nossa época:

E se, em vez de afirmar que gosta de alguém porque esse alguém possui as mesmas idéias que ela, os mesmos gostos, as mesmas preferências e os mesmos valores, preferisse analisar: ‘O que é um valor?’, ‘O que é um valor moral?’, ‘O que é um valor artístico?’, ‘O que é a moral?’, ‘O que é a vontade?’, ‘O que é a liberdade?’ (2010, p.17)

Ela então encerra este capítulo com a seguinte pergunta: ‘Explique o que são as nossas crenças costumeiras’ (2010, p.17).
Apesar de acharmos fundamental esta abordagem, ou seja, usar as categorias criadas por um determinado filósofo para discutir questões da nossa época, nos parece que ela poderia ir além do que foi. Nos parece que os diálogos de Platão num primeiro lugar apresentam quais são os valores morais de sua época, para só depois procurar quem melhor poderia responder por eles. Isto é, depois de selecionar os valores, Platão o personifica criando uma personagem para representá-lo, usando, para tanto, pessoas conhecidas da cidade de Atenas de sua época. Num segundo momento, Platão utiliza-se de Sócrates para criticar tanto os valores como seus representantes. Assim, um exercício correspondente a essa prática poderia ser: ‘quais são os valores de nossas crenças costumeiras?’; ‘Quem as representa? ou ‘quem pode falar sobre elas?’; ‘Quais seriam as posições contrárias a elas?’; ‘Como seria um diálogo entre estas posições?’

Vejamos como o Caderno do Estado aborda o tema. O Caderno do Estado introduz o diálogo Protágoras na situação 6 do volume 1 da 3ª série do Ensino Médio com o título ‘O homem como ser político’.[3]
A justificativa para o uso dele é:

Um dos diálogos de Platão (428 a.C.-347 a.C.) apresenta uma das teses mais antigas sobre a arte política. Além de antiga, ela tornou-se um marco na história da Filosofia. O diálogo chama-se Protágoras, e a tese sobre a virtude política encontra-se no trecho que ficou conhecido como o Mito de Protágoras. (livro do professor, 2014-2017, p. 53)

Uma imprecisão nos chama a atenção: qual é a tese mais antiga sobre a arte política? Talvez o texto esteja se referindo a possibilidade de ensino da virtude política, posição que o personagem Protágoras defende no diálogo de Platão que leva seu nome. Em nenhum momento do livro do professor nem do aluno o autor apresenta a temática principal do diálogo, a saber, a possibilidade ou não do ensino da virtude política. Se o caderno do Estado não se refere a isso, muito menos ele diz que a primeira opção é defendida por Protágoras, enquanto a segunda é defendida por Sócrates. Assim, sem explicar o texto e com um comentário pobre e por vezes equivocado, o autor deste material didático apresenta alguns trechos das falas iniciais de Protágoras. O texto recortado ficou conhecido como Mito de Prometeu e Grande Discurso.
Além das críticas apontadas acima, pensamos haver inúmeros os problemas neste livro didático, entre eles: problema de tradução, a diferença de exposição de Platão frente a outros filósofos, o não aproveitamento de partes importantes do texto, a não extensão dos problemas apresentados pelo diálogo que poderiam ser aprofundados, entre outros.
Vejamos, com um pouco mais detalhe, estas últimas críticas: no início do diálogo Hipócrates, jovem ateniense, convence Sócrates, não tão jovem, a intervir junto a Protágoras para que o sofista ensinasse a ele a ser sábio. Depois de conversarem um pouco sobre quais os objetivos da educação Sócrates diz o seguinte:

Sócrates – sabes o que estás na iminência de fazer, ou não o percebes?
Hipócrates – a respeito de quê?
Sócrates – Pois resolveste entregar tua própria alma aos cuidados de um homem que, conforme disseste, é sofista; mas o que seja, de fato, sofista, muito me admiro se o souberes. Ora, se ignoras isso, também não poderás saber a quem entregas tua alma, nem se é para teu bem ou para mal. (321b-c)

Gabioneta (2013, p.17-18) comenta este trecho e o seguinte deste modo:

Sócrates continua dizendo que se fosse expor o corpo ao risco de estragá-lo ou deixá-lo mais forte, deveria refletir sobre o assunto e também consultar parentes e amigos, porém, como o que está em jogo na aprendizagem com Protágoras é a alma, estes e outros cuidados devem ser tomados. Um deles decorre do fato do sofista ser um comerciante, uma vez que ele vende um produto. Desse modo, como todo comerciante, o sofista elogia em demasia o que vende (313d). Outro cuidado que deve ser observado é verificar se entre os vendedores há aqueles que sabem como exercitar a alma, tal como ocorre com um professor de ginástica; ou curá-la, no caso de já ter sido adquirido algum conhecimento que a prejudique, tal como ocorre quando procuramos um médico para cuidar do nosso corpo (314d). No caso de conhecer, continua Sócrates, o que “é vantajoso ou prejudicial para a alma, poderás comprar conhecimento sem perigo nenhum, não só de Protágoras como de qualquer outro sofista” (313e). A compra de alimento para a alma, alerta Sócrates, é diferente da compra de alimento para o corpo, pois este último pode ser transportado em potes e levado para casa e antes do alimento ser consumido, podemos consultar um especialista para nos informar sobre a quantidade e o tempo em que o alimento precisa ser ingerido. De maneira diferente, o alimento da alma precisa ser adquirido no momento da aula, uma vez que é a própria alma o pote (314ab). Porém, ainda que transportado direto na alma do aluno, este conhecimento deve passar pela avaliação de pessoas mais velhas (314b).

Pensamos que uma característica fundamental da educação é a manipulação de almas, ou se preferirmos uma linguagem menos metafísica, a transmutação, e não uma simples transmissão, de conhecimentos que a humanidade produziu. O professor supostamente possui um conhecimento que a sociedade julga que deve ser ofertado ao aluno. Se for isso, o diálogo alerta para algo importante: aquele que quer transmitir um saber ou é reputado para tanto, nem sempre sabe como este saber vai ser absorvido pelo seu aluno, assim, o aluno precisa se precaver e consultar o máximo de pessoas possíveis para atestar se aquilo será um mal ou um bem; se aquilo deixá-lo-á mais forte ou mais fraco; se este ‘produto’ deve ser ‘comprado’ ou não; se aquilo pode curá-lo de uma doença psíquica ou deixá-lo mais doente. Isso porque, conclui Sócrates e Gabioneta, o saber precisa ser ‘consumido’ na hora que ele é apresentado, ainda que o aluno deva, como qualquer outra pessoa, verificar aquilo que é ensinado, principalmente com os mais velhos.

ver link
http://www.umaconversasobrefilosofia.blogspot.com.br/2013/05/protagoras.html



[1] Uma primeira crítica a ser feita seria a ordem deste assunto. No nosso entender esse é o tema mais urgente da nossa época, por isso, para nos, deveria vir em primeiro lugar.
[2] Se lermos os diálogos por eles mesmos, como aponta Benoit, veremos que a reconstrução platônica da personagem Sócrates não é bem essa. Chauí dá a entender que Sócrates conversava com seus interlocutores do mesmo jeito e sobre os mesmos assuntos, o que não nos parece verdadeiro. Na verdade tanto os assuntos, como o modo de dialogar de Sócrates, bem como outras personagens criadas por Platão, eram variadas.
[3] A mesma critica que fizemos a Chauí cabe ao Estado.



[1] O primeiro termos, ser cidadão, é desenvolvido um pouco a frente deste trecho, já o segundo, a liberdade, é desenvolvido com mais detalhes no diálogo República.