EE Ana Maria Prof. Robson. Filosofia 1 ano 2 bimestre. Mito / História / Filosofia
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O
Mito é uma história que não pode ser verificada. Nos Mitos, muitas vezes, é
apresentado a relação entre os humanos e seres não humanos, contando como
surgiram o cosmos (universo), o planeta Terra, os elementos da natureza (sol,
mar, trovão, ar, chuva, etc.), os seres humanos, os animais, as plantas. Esses Mitos
são chamados de Mitos da criação. Muitos Mitos falam sobre a luta dos seres
humanos para sobreviver e os problemas sociais que eles causam. Por isso eles
são fonte de conhecimento das sociedades, tanto as sociedades antigas como as
sociedades atuais.
A
História, saber humano que estuda os fatos ocorridos, se baseia nos Mitos, mas
busca se distinguir deles. Vejamos uma ilustração desta distinção:
Mito |
História |
Surgimento
do mundo a partir de Omama contado por Davi Kopenawa |
O
modo de vida dos Ianomamis no Am |
A
humanidade é criada a partir da lama de Nanã, sendo moldada por Oxalá |
O
modo como os afrodescendentes cultuam seus deuses. |
O
modo como weõe (preá) pegou o xiãwn (fogo) de itxiateié (velha) |
Como
os Ofaié de TL fazem fogo |
Travessia
do mar vermelho do povo hebreu na saída do Egito |
Migração
do povo hebreu do Egito para Canãa |
Descrição
da guerra de Troia por Homero |
Guerra
real entre troianos e gregos a partir de resquícios arqueológicos |
O
fim do mundo para os Maias (21/12/2012) |
Como
os Maias se organizavam |
Hesíodo,
poeta grego, na Teogonia (1995), diz que as Musas o ensinaram que no inicio
nasceu o Caos, depois Urano (céu) Eros e Gaia (terra). Urano e Gaia geram
Oceano e Cronos. Este último tira o poder de Urano mas é destronado por seu
filho Zeus. Este, para acabar a guerra, divide o poder entre seus irmãos
Posidão (águas) e Hades (submundo).
Mito
do surgimento do mundo para os Iorubás (contada por
Prandi, 2007, um antropólogo): “[...] antes do início dos tempos, Olorum, o ser
supremo, já habitava a eternidade. Ele vivia só, e tudo á sua volta era igual,
sem diversidade e sem movimento. Acabou se cansando de tanto nada, de tanta
mesmice, e decidiu fazer um mundo onde seu olhar pudesse pousar a cada instante
numa coisa diferente [...] Olorum criou os orixás e atribuiu a cada um deles um
de seus poderes [...] Olorum entregou o saco da criação para Oxalá, seu filho
mais velho e disse: ‘vá e crie mas antes faça uma oferenda a Exu que ele te
ajudará na criação do mundo’. Como Oxalá se esqueceu de Exu, este lhe preparou
três incidentes: primeiro fez Oxalá cair e sujar as vestes na lama da estrada
[...]; mais adiante Oxalá tropeçou numa cabaça de azeite de dendê, e de novo
sua roupa teve que ser substituída. [...] na terceira vez, foi com carvão que
Oxalá se sujou. E lá foi ele de novo se trocar [...] Odudua, outro irmão de
Oxalá, resolveu tirar proveito da situação [...] e foi se aconselhar com seu
irmão Ifá. [...] Ifá jogou seus dezesseis búzios mágicos no chão e disse a
Odudua que suas pretensões poderiam se concretizar. Antes de mais nada deveria
oferecer a Exu [...] Oxalá parou sob um dendezeiro e com seu cajado fez um furo
no caule da palmeira [...] Oxalá bebeu do vinho-de-palma até matar a sede, mas
a bebida lhe deu muito sono. Ali mesmo, na estrada, Oxalá adormeceu, embriagado
[...] Odudua pegou o saco da Criação e foi no local adequado. Lá ele tirou do
saco da Criação um punhado de terra que atirou sobre as águas [...] Em seguida
soltou a galinha de pés de cinco dedos, e ela se pós a ciscar, espalhando por todos
os lados a terra do montículo. Uma grande superfície sólida foi se formando
sobre os pés da galinha. [...] Oxalá acordou e viu que o mundo já existia,
então voltou a casa de Olorum que o repreendeu: ‘nunca mais beberá
vinho-de-palma [...] ainda falta o mais importante no mundo. Eu pus na sua
cabeça a semente de uma ideia que não pus no saco da Criação’. Olorum mandou
Exu acompanhar Oxalá. [...] Oxalá depositara na primeira encruzilhada presentes
para Exu. [...] Com as próprias mãos, Oxalá amassou o barro e com ele modelou
os bonecos aos quais deu a vida com o sopro de Olorum, transformando-os em
seres humanos.
Mito
do surgimento do mundo para os Yanomami (contada por Davi
Kopenawa, 2015, um indígena): “[...] no começo, Omama e seu irmão Yosi vieram à
existência sozinhos. [...] Então, foi a vez de Omama vir a existir e recriar a
floresta, pois a que havia antes era frágil. Virava outra sem parar, até que,
finalmente, o céu desabou sobre eles. Seus habitantes foram arremessados para
debaixo da terra [...] Por isso Omama teve de criar uma nova floresta, mais
sólida, cujo nome é Hutukara. [...] Depois, para evitar que desabasse, plantou
nas suas profundezas imensas peças de metal, com as quais também fixou os pés
do céu. Mais tarde, com o metal que ficou, depois de fazer com que ficasse
inofensivo, Omama também fabricou as primeiras ferramentas de nossos
ancestrais. [...] Também desenhou o primeiro sol, para nos dar luz. Mas era por
demais ardente e ele teve de rejeitá-lo, destruindo sua imagem. Então, criou
aquele que vemos até hoje no céu, bem como as nuvens e a chuva, para poder
interpô-los quando esquenta demais. Isso ouvi os antigos contarem. Omama criou
também as árvores e as plantas, espalhando no solo, por toda parte, as sementes
de seus frutos. [...] Certo dia, Omama trabalhava em sua roça com o filho, que
começou a chorar de sede. Para matar-lhe a sede, ele perfurou o solo com uma
barra de metal. Quando a tirou da terra, a água começou a jorrar violentamente
em direção ao céu e jogou para longe o menino que se aproximara para bebê-la.
[...] No início, nenhum ser humano vivia ali. Omama e seu irmão Yoasi viviam
sozinhos. Nenhuma mulher existia ainda. [...] Nós saímos, mais tarde, da esposa
de Omama, Thuëyoma, a mulher que ele tirou da água. [...] O sol e a lua têm
imagens que só os xamãs são capazes de fazer descer e dançar. Elas têm a
aparência de humanos, como nós, mas os brancos não são capazes de conhecê-las.
Mito
do nascimento dos seres (contado por Platão, séc. IV a.C., 1980): “Houve
um tempo em que só havia deuses, sem que ainda existissem criaturas mortais.
Quando chegou o momento determinado pelo Destino, para que estas fossem
criadas, os deuses as plasmaram nas entranhas da terra, utilizando-se de uma
mistura de ferro e de fogo, acrescida dos elementos que o fogo e à terra se
associam. Ao chegar o tempo certo de tirá-los para a luz, incumbiram Prometeu e
Epimeteu de provê-los do necessário e de conferir-lhes as qualidades adequadas
a cada um. Epimeteu, porém, pediu a Prometeu que deixasse a seu cargo a
distribuição. Depois de concluída, disse ele, farás a revisão final. Tendo
alcançado o seu assentimento, passou a executar o plano. Nessa tarefa, a alguns
ele atribuiu força sem velocidade, dotando de velocidade os mais fracos, a
outros deu armas; para os que deixara com natureza desarmada, imaginou
diferentes meios de preservação [...] Destarte agiu com todos, aplicando sempre
o critério de compensação. Tomou essas precauções, para evitar que alguma
espécie viesse a desaparecer. Depois de haver providenciado para que não se
destruíssem reciprocamente [...] De seguida, determinou para todos eles
alimentos variados, de acordo com a constituição de cada um: a estes, erva do
solo; a outros, frutos das árvores; a terceiros, raízes, e a alguns, ainda, até
mesmo outros animais como alimento, limitando porém, a capacidade de reprodução
daqueles, ao mesmo tempo que deixava prolíficas suas vítimas, para assegurar a
conservação da espécie. [...] Prometeu para inspecionar a divisão e verificou
que os animais se achavam regularmente providos de tudo; somente o homem se
encontrava nu, sem calçados, nem coberturas, nem armas [...] Prometeu para
assegurar ao homem a salvação, roubou de Hefesto e de Atena a sabedoria das
artes juntamente como fogo e os deu ao homem. [...] o homem, em virtude de sua
afinidade com os deuses, o único dentre os animais a crer na existência deles,
tendo logo passado a levantar altares e a fabricar imagens dos deuses. Não
demorou, e começaram a coordenar os sons e as palavras, a engenhar casas,
vestes, calçados e leitos, e a procurar na terra os alimentos. [...] quando se
juntavam, justamente por carecerem da arte política, causavam-se danos
recíprocos, com o que voltavam a dispersar-se e a serem destruídos como antes.
Preocupado Zeus com o futuro de nossa geração, não viesse ela a desaparecer de
todo, mandou que Hermes levasse aos homens o pudor e a justiça, como princípio
ordenador das cidades e laço de aproximação entre os homens”.
Uma
história sobre o xiãwn (recontada pelos Ofaié a partir de Darcy Ribeiro, 2021):
“Tinha uma itxiateié (velha). Ela era a xiãwnteié (mãe do fogo). Todos queriam
o xiãwn (fogo) porque no inverno todos passavam muito frio e, também porque
sabiam que o xiãwn tinha outras utilidades. Então eles se juntaram para tomar o
tição da itxiateié. [...] o chefe dos tikãnhé mandou o känawra (tatu) tomar o
xiãwn da itxiateié. O känawra deitou-se. Depois ele começou a coçar a itxiateié
para ela dormir. [...] Aí o känawra pegou o tição e saiu correndo. Mas a
itxiareié acordou, assoviou alto para seu filho que era uma ohti (onça) muito
ágil. Aquela ohti pegou o rastro do känawra, saiu correndo atrás dele e,
facilmente tomou o tição. [...] esta história é muito comprida, porque foi lá
roubar o xiãwn, tudo quanto foi tikã: a fwitaié, o kregrai, o häto, tudo. Mas
ninguém podia com a ohti. Por incrível que pareça, quem conseguiu pegar o xiãwn
foi um bichinho atoa. Foi o weõe (preá). [...] quando ele chegou lá, foi
diretamente ao assunto: ‘bom dia vó! Como vai por aqui? Eu já vim para levar
este xiãwn’. E foi pegando o tição e foi amarrando no pescoço [...] o weõe deu
uma volta, passou por trás da ohti e foi cortando o mato por outro caminho.
[...] (depois de dias a ohti encontrou o weõe e então conversaram como amigos).
A ohti ensinou tudo, até fazer xiãwn quando acabasse o tição. Ela falou: ‘você
mesmo pode fazer xiãwn. É só pegar um pauzinho bem seco e esfrega-lo com a mão
em cima de outro pau, esfrega bastante que sai xiãwn”.
Análises
dos mitos:
1. Escolha
um mito e com suas palavras descreva os principais acontecimentos;
2. Imagine
e escreva, a partir do mito escolhido, o que aconteceu antes e depois do
acontecimento principal;
3. Quem
é o eu lírico do mito? Quem viu ou ouviu o mito que está sendo contado?
4. Quem
são os personagens e como eles se relacionam?
5. Que
elemento da natureza é apresentado no mito? Qual a importância desse elemento
hoje? Como as pessoas na nossa época se relaciona com esse elemento?
6. Qual
o princípio ou os princípios que estão por trás do mito?
7. Quais
frases genéricas podemos fazer a partir do mito?
8. Que
perguntas podemos fazer para o mito?
9. Escolha
outro mito e faça a sequencia de 1 a 7, depois compare-os.